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quinta-feira, 17 de junho de 2021

Dirigentes partidários [daqueles partidos que sempre perdem] apostam em ‘maioria silenciosa’ - O Estado de S. Paulo

Marcelo de Moraes

'Se discutíssemos nomes hoje, a gente não se reunia pela segunda vez', disse o presidente do Cidadania, Roberto Freire

Um almoço reunindo dirigentes de sete partidos de correntes de centro avançou no compromisso de buscar unidade na construção de uma candidatura presidencial de terceira via para 2022. Sem ainda definir o nome de quem disputará a eleição, a ideia é apostar na "maioria silenciosa" do eleitorado que não quer votar nem no presidente Jair Bolsonaro nem no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os dois nomes que polarizam a disputa nesse momento.  "O número de brasileiros que se posiciona hoje torcendo para que surja uma nova alternativa é maior do que o eleitorado de Bolsonaro e Lula. Mas essa é uma maioria silenciosa. Uma maioria que nem está com bandeira na rua, nem está em cima de uma moto no final de semana. É para esses brasileiros que nós queremos falar e dizer que a democracia vai oferecer alternativa. E o nosso grande esforço é que essas alternativas estejam concentradas", afirmou o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo. 

A decisão de não discutir ainda quem será o candidato foi estratégica. Nesse momento, a ideia é agregar o maior número possível de partidos em torno do projeto da terceira via contra Bolsonaro e Lula e falar num candidato, nesse momento, poderia atrapalhar essa costura política. "Se discutíssemos nomes hoje, a gente não se reunia pela segunda vez", disse o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire. Participaram do encontro representantes do PSDB, DEM, MDB, Cidadania, Podemos, PV e Solidariedade. 

Na prática, porém, a corrida por essa indicação está se restringindo cada vez mais. Hoje estão na lista o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), que propôs a reunião, além dos quatro nomes do PSDB que disputarão as prévias tucanos: João DoriaEduardo LeiteTasso Jereissati e Arthur Virgílio. [ao ex-ministro da Saúde, o Luiz, sugerimos que continue treinando sinuca, talvez consiga vencer em alguma coisa; o 'joãozinho', o avô do Biden, o Leite e o Virgílio, quanto mais unidos ficam, mais dificil fica um acerto = a vontade de trair se faz presente.

 O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta  sem máscara em bar em SP

 O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta foi visto sem máscara em bar - CNN

A conversa acabou servindo também como uma espécie de acomodação de terreno depois da saída de cena de algumas possíveis opções, como Luciano Huck, que decidiu renovar contrato com a Globo e vai assumir o horário de domingo do apresentador Fausto Silva, e João Amoêdo, do Novo, que desistiu de concorrer. O ex-ministro Sérgio Moro já nem é mais considerado como opção, embora o grupo deseje seu apoio político. "Dessa reunião, saiu um conceito de unidade, de pacificação de País, de zelo pela democracia", disse Mandetta. "Acho que isso foi o mais importante. Os partidos todos falando a mesma língua. Agora, tem um caminho. A construção de uma agenda, a construção de uma unidade. Os partidos estão em momentos diferentes. Você tem um PSDB que tem prévias. Você tem outros partidos que estão analisando internamente. Mas esse conceito de perceber que os dois extremos não pacificam o País, que agravam a crise brasileira, esse foi o ponto principal dessa conversa hoje", avaliou.

"Há um compromisso desse conjunto de partidos de, no primeiro turno, não participarem dessas alternativas que estão aí postas e apostar que há uma chance real de colocar no segundo turno alguém que faça parte desse projeto. Dentro das candidaturas que vão começar a se afunilar. Algumas dessas candidaturas foram diluindo ao longo desses últimos meses. E outras vão se confirmar. A gente vai ter um quadro até o fim das prévias do PSDB em 21 de novembro", acrescentou Araújo.  "Hoje claramente foi definido que o consenso é esse: buscar construir uma alternativa contra Bolsonaro e contra Lula. E que não será contra porque será um projeto para o Brasil. Mas não é nem Lula, nem Bolsonaro", completou o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire.

Na conversa, o presidente do DEM, ACM Neto, adotou a mesma linha dos demais, apoiando a unidade na montagem da candidatura de terceira via, apesar de seu partido ter três ministros no governo Bolsonaro. A preocupação com uma possível posição dúbia de ACM Neto foi posta de lado por Mandetta. "Ele já deixou bem claro que não vai estar com Bolsonaro", garantiu.  

Apesar de concordarem em não se aliar com Bolsonaro e Lula no primeiro turno, os dirigentes partidários reconhecem que não é possível descartar que surja mais uma candidatura desse grupo de centro. Mas que será feito um esforço para que todos estejam juntos no primeiro turno. "Se possibilitar uma candidatura única, melhor. Se não for possível, que seja reduzido a um número mínimo de candidaturas. Há um nítido espaço na sociedade que hoje se incomoda com os extremos que estão estabelecidos. E há uma obrigação institucional nossa, há uma compreensão que temos uma responsabilidade institucional de dizer à sociedade brasileira que há um esforço para um projeto diferente desses dois. E para que permita mais alternativas. Estamos confiantes que vamos conseguir", afirmou Bruno Araújo. 

Presidente do MDB, Baleia Rossi não pôde ir no encontro porque tinha um almoço agendado previamente com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, onde também conversou sobre a agenda política nacional. Presidente do Solidariedade, o deputado Paulinho Pereira está acompanhando um irmão doente. Outra ausência foi a do presidente do PSL, deputado Luciano Bivar, que também está doente. Carlos Lupi, do PDT, também foi convidado mas tinha uma outra agenda para cumprir. 

A ideia é que o grupo passe a se reunir regularmente para construir uma agenda de trabalho. A próxima conversa deve acontecer daqui a 15 dias. "Agora, você tem um compromisso de caminhada. Vamos ver se a gente chega ao fim com essa unidade toda construída. Isso é só um primeiro momento. Outras conversas virão. Isso vai se tornar rotina", disse Mandetta.

 Marcelo de Moraes - O Estado de S. Paulo


segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Em pesquisa pós-atentado, Bolsonaro chega a 30%

Subiu de 26 para 30%


Em pesquisa registrada pelo BTG, o candidato do PSL Jair Bolsonaro subiu 4 pontos porcentuais, passando de 26 para 30% das intenções de voto.


Essa foi a primeira pesquisa pós-atentado. Bolsonaro subiu também na intenção de voto espontânea, saindo de 21 para 26%.

Ciro Gomes vem em segundo lugar, com 12%, o mesmo porcentual que tinha no levantamento anterior.

Marina Silva, Fernando Haddad e Geraldo Alckmin estão empatados com 8%. Na pesquisa anterior, Marina tinha 11%, Alckmin estava com os mesmos 8% e Haddad, 6%.

João Amoêdo, Álvaro Dias e Henrique Meirelles estão com 3%. Do trio, o único com trajetória ascendente é Meirelles. No levantamento anterior, ele teve 2%. Antes, cravava 1%.

Amoêdo, na pesquisa anterior, estava com 4%. A pesquisa foi feita pela FSB entre os dias 8 e 9 de setembro, com 2000 eleitores, e está registrada no TSE com o número 01522/2018. A margem de erro é de 2%, com intervalo de confiança de 95%.
 
Voto definitivo
A pesquisa também questionou se o voto era definitivo, ou seja, se havia chance de mudar até outubro. Nesse sentido, Bolsonaro também é quem lidera a fidelidade do eleitor, com 78% de “certeza”. Em seguida, vem Haddad, com 68%. 

Rejeição
Marina Silva (Rede) é a candidata com mais rejeição, com 64%, seguida por Alckmin, com 61%, e Meirelles, com 52%. 

Desconhecimento 
Guilherme Boulos (PSol), Vera Lúcia (PSTU) e João Goulart Filho (PPL) seguem como candidatos menos “conhecidos” entre o público.
 

sábado, 18 de agosto de 2018

O patrimônio de João

Essa semana os candidatos a presidente começaram a declarar seus bens ao TSE. 


Chamou a atenção de muitos o patrimônio de João Amoêdo, do Partido Novo: R$ 425 milhões. A fortuna foi apresentada como um fator negativo: Amoêdo seria representante de uma elite endinheirada  que, no Brasil, é praticamente sinônimo de pecadora ou quiçá criminosa. É inegável que muitos são ricos por conta de esquemas ou conluios com o Estado. Esse tipo de riqueza é mesmo condenável. Mas no Brasil, onde o sucesso individual é pecado, qualquer riqueza é vista com desconfiança a priori. A menos, claro, que o rico seja um esquerdista que fala em nome da igualdade…

Em The Ethics of Redistribution, Bertrand de Jouvenel mostra com sólidos argumentos como a inveja pode estar por trás das políticas de redistribuição de renda por meio do aparato estatal. Ele cita comunistas franceses que deram caros presentes para seu líder, aparentemente indo contra os próprios valores comunistas, explicando que as pessoas têm sido mais generosas com aqueles que julgam melhores e com seus líderes.

O burguês apresentaria duas convicções básicas que diferem desse sentimento popular: sente que não deve sua riqueza a favores e se considera livre para gastá-la consigo mesmo, da forma que preferir. É precisamente o reverso da atitude que justificaria uma renda excepcional sob a ótica popular. O povo quer sentir que essa renda é um presente seu, e quer demandar que os beneficiários façam um espetáculo de gala.
Por isso que o empresário que compra um iate é menosprezado, enquanto um presidente que vive no luxo, com roupas caras feitas de tecido egípcio, carro próprio para a cadela e viagens com avião novo é admirado. Mesmo que seja um operário eleito com o discurso de redução da desigualdade material.

A mensagem de Jouvenel fica mais clara nessa passagem: “A ingrata brutalidade dos reis em direção aos financiadores que os ajudaram sempre ganhou os aplausos populares. Isso talvez esteja relacionado ao profundo sentimento de que indivíduos não têm direito de serem ricos por eles mesmos e para eles mesmos, enquanto a riqueza dos governantes é uma forma de gratificação pessoal para as pessoas que pensam neles como o ‘meu’ governante”.

O que deveria ser espantoso, portanto, não é o patrimônio de João, mas alguém que tem esse dinheiro todo, conquistado de forma honesta com seu trabalho, querer entrar para a política para melhorar as coisas, em vez de encará-la como trampolim para a riqueza ilegal, como tantos fazem.  Outra coisa que deveria chocar é um bandido preso que destruiu o País e defende ditadores ainda ser tratado por tantos como um líder legítimo, e muitos reclamarem que seu nome não estará nas urnas. Isso é o retrato de uma nação doente.

Em The Ethics of Redistribution, Bertrand de Jouvenel mostra como a inveja pode estar por trás das políticas de redistribuição de renda por meio do aparato estatal


Rodrigo Constantino - IstoÉ

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Como vota, candidato?




Não basta ser realista e, logo, favorável ao modelo de reforma da Previdência proposto. Não basta discursar. Não se for alguém com meios para fazê-la prosperar


Todo candidato a presidente deveria ser desafiado a responder: é a favor ou contra a reforma da Previdência? Uma questão concreta, especificada ao máximo — a ser respondida sem desvios: é a favor ou contra a reforma da Previdência conforme oferecida, hoje, pelo governo?  Isso porque quem quer presidir o Brasil precisa ser provocado a pisar no mesmo chão daquele ao qual pedirá voto, a se ajustar aos dados da existência objetiva, a se posicionar sobre a proposta que é possível agora. Não é o projeto dos sonhos, nem sequer é o original formulado pelo Executivo, mas um — negociado e mitigado — que, ainda assim, uma vez aprovado, representará economia de R$ 480 bilhões em dez anos. Uma enormidade.

E aí? Falo de realismo e sensatez. Quem pretende governar o fará somente sob as condições que idealiza, ou aplicará o ideal às circunstâncias do tráfego institucional e da atividade política? No caso em que a resposta não for a opção autoritária, pergunta-se: por que a composição — a própria essência do trânsito democrático — que serviria ao hipotético governante não pode ser aceita para aquele que de fato governa? Falo de lógica e discernimento.

Sim, o candidato Fulano pode ter uma proposta melhor. Espero mesmo que a tenha. Mas, se a preparou, se a tem na conta de prioridade, é porque sabe que o sistema previdenciário atual logo colapsará — e que é da ordem da responsabilidade esgrimir com as armas disponíveis no presente. É a posição declarada de João Amoêdo, do Partido Novo: crê que a transformação poderia ser maior, mas apoia o que é ora factível. É isso mesmo: às vezes, muitas vezes, tudo o que se pode fazer é um remendo (de R$ 480 bilhões!), e assim ganhar tempo — talvez cinco anos — para criar as condições a uma intervenção estrutural sobre o problema.

Não há muitas outras formas de avançar. Não numa República; não numa democracia representativa. E certamente, neste debate, não há lugar para mistificação. Ou melhor: Lula já tem espaço; já tomou esse território; já ocupa o latifúndio da inconsequência. A ele — sujeito que não opera senão com o cálculo da oportunidade eleitoral — não interessa que o projeto tenha como cerne o combate à desigualdade, uma vez que enfrenta, sobretudo, os privilégios do funcionalismo público, notadamente daquela porção que ganha mais, trabalha menos e se aposenta cedo. Não importa. Ao ex-presidente, homem condenado pela Justiça, a verdade tem de ser inconveniente — e então temos a pregação mentirosa de que o governo golpista vai mais uma vez espoliar a classe trabalhadora etc.

Lula depende historicamente — do “quanto pior, melhor”. Quererá mesmo o senador Álvaro Dias (Podemos-PR) disputar esse terreno — o da empulhaçãocom o petismo e suas linhas auxiliares? É o que parece. Ou haverá outra forma de encaixar o comentário demagógico que divulgou nas redes sociais segundo o qual a reforma não será a “salvação do Brasil” porque não geraria renda, emprego e crescimento econômico? Votará contra, senador?

Não basta, porém, ser realista e, logo, favorável ao modelo de reforma proposto. Não basta discursar. Não se for alguém detentor de meios para fazê-la prosperar. É preciso botar a mão na massa. Refiro-me a Geraldo Alckmin. Pré-candidato tucano ao Planalto e recém-eleito presidente do PSDB, o governador de São Paulo tem obrigação política de conduzir seu partido a que feche questão pela reforma. Falo de antevisão e liderança. 

Nada a ver com coragem. Falo de uma obviedade. A modernização do sistema previdenciário é bandeira histórica do PSDB. Falo também, pois, de coerência. Um postulante tucano à Presidência que não seja capaz de unir o partido em prol de elemento fundador de sua própria identidade não passará boa mensagem a que forças de centro — ali onde se resolverá a eleição — agrupem-se por ele em 2018.

E Jair Bolsonaro? É contra ou a favor? É com senso de urgência que a sociedade precisa cobrar alguma resposta do candidato relativa a temas do mundo real. Sua posição sobre a reforma previdenciária é especialmente significativa. Afinal, é deputado federal — e, ao contrário de seus prováveis futuros adversários, o único que terá de votar a matéria na Câmara.
E aí?

Teremos o Bolsonaro real, o da prática estatista, provado e comprovado em seus votos sempre contrários a qualquer mudança que possa afetar os interesses corporativos que representa, aquele que quase sempre, como parlamentar, votou junto com os petistas? Ou o da teoria, o recente, de laboratório, esse do discurso pró-mercado, o que se acercou de economistas liberais e que tateia um papo de redução do tamanho do Estado?

E aí? É tempo de responsabilidade. Não cabem abstenções como “minha equipe trabalha num projeto melhor, que apresentarei no ano que vem”. O país não pode esperar, e o eleitor liberal seduzido por Bolsonaro quer saber: o deputado vai votar como? Contra? E, nesse caso, usando o mesmo argumento do filhote, também deputado federal, que chegou a negar a existência de déficit na Previdência?

Essa resposta — a ser inscrita no painel da Câmara — é decisiva para que o brasileiro saiba se Jair Bolsonaro venceu mesmo a paixão pelo privilégio de classe, ou se está apenas, como creio, empilhando o lustro dos economistas liberais como escada para ascender.
E aí, deputado: como vota? Citará Ustra ou Mises na hora H?

Por: Carlos Andreazza é editor de livros