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terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Como vota, candidato?




Não basta ser realista e, logo, favorável ao modelo de reforma da Previdência proposto. Não basta discursar. Não se for alguém com meios para fazê-la prosperar


Todo candidato a presidente deveria ser desafiado a responder: é a favor ou contra a reforma da Previdência? Uma questão concreta, especificada ao máximo — a ser respondida sem desvios: é a favor ou contra a reforma da Previdência conforme oferecida, hoje, pelo governo?  Isso porque quem quer presidir o Brasil precisa ser provocado a pisar no mesmo chão daquele ao qual pedirá voto, a se ajustar aos dados da existência objetiva, a se posicionar sobre a proposta que é possível agora. Não é o projeto dos sonhos, nem sequer é o original formulado pelo Executivo, mas um — negociado e mitigado — que, ainda assim, uma vez aprovado, representará economia de R$ 480 bilhões em dez anos. Uma enormidade.

E aí? Falo de realismo e sensatez. Quem pretende governar o fará somente sob as condições que idealiza, ou aplicará o ideal às circunstâncias do tráfego institucional e da atividade política? No caso em que a resposta não for a opção autoritária, pergunta-se: por que a composição — a própria essência do trânsito democrático — que serviria ao hipotético governante não pode ser aceita para aquele que de fato governa? Falo de lógica e discernimento.

Sim, o candidato Fulano pode ter uma proposta melhor. Espero mesmo que a tenha. Mas, se a preparou, se a tem na conta de prioridade, é porque sabe que o sistema previdenciário atual logo colapsará — e que é da ordem da responsabilidade esgrimir com as armas disponíveis no presente. É a posição declarada de João Amoêdo, do Partido Novo: crê que a transformação poderia ser maior, mas apoia o que é ora factível. É isso mesmo: às vezes, muitas vezes, tudo o que se pode fazer é um remendo (de R$ 480 bilhões!), e assim ganhar tempo — talvez cinco anos — para criar as condições a uma intervenção estrutural sobre o problema.

Não há muitas outras formas de avançar. Não numa República; não numa democracia representativa. E certamente, neste debate, não há lugar para mistificação. Ou melhor: Lula já tem espaço; já tomou esse território; já ocupa o latifúndio da inconsequência. A ele — sujeito que não opera senão com o cálculo da oportunidade eleitoral — não interessa que o projeto tenha como cerne o combate à desigualdade, uma vez que enfrenta, sobretudo, os privilégios do funcionalismo público, notadamente daquela porção que ganha mais, trabalha menos e se aposenta cedo. Não importa. Ao ex-presidente, homem condenado pela Justiça, a verdade tem de ser inconveniente — e então temos a pregação mentirosa de que o governo golpista vai mais uma vez espoliar a classe trabalhadora etc.

Lula depende historicamente — do “quanto pior, melhor”. Quererá mesmo o senador Álvaro Dias (Podemos-PR) disputar esse terreno — o da empulhaçãocom o petismo e suas linhas auxiliares? É o que parece. Ou haverá outra forma de encaixar o comentário demagógico que divulgou nas redes sociais segundo o qual a reforma não será a “salvação do Brasil” porque não geraria renda, emprego e crescimento econômico? Votará contra, senador?

Não basta, porém, ser realista e, logo, favorável ao modelo de reforma proposto. Não basta discursar. Não se for alguém detentor de meios para fazê-la prosperar. É preciso botar a mão na massa. Refiro-me a Geraldo Alckmin. Pré-candidato tucano ao Planalto e recém-eleito presidente do PSDB, o governador de São Paulo tem obrigação política de conduzir seu partido a que feche questão pela reforma. Falo de antevisão e liderança. 

Nada a ver com coragem. Falo de uma obviedade. A modernização do sistema previdenciário é bandeira histórica do PSDB. Falo também, pois, de coerência. Um postulante tucano à Presidência que não seja capaz de unir o partido em prol de elemento fundador de sua própria identidade não passará boa mensagem a que forças de centro — ali onde se resolverá a eleição — agrupem-se por ele em 2018.

E Jair Bolsonaro? É contra ou a favor? É com senso de urgência que a sociedade precisa cobrar alguma resposta do candidato relativa a temas do mundo real. Sua posição sobre a reforma previdenciária é especialmente significativa. Afinal, é deputado federal — e, ao contrário de seus prováveis futuros adversários, o único que terá de votar a matéria na Câmara.
E aí?

Teremos o Bolsonaro real, o da prática estatista, provado e comprovado em seus votos sempre contrários a qualquer mudança que possa afetar os interesses corporativos que representa, aquele que quase sempre, como parlamentar, votou junto com os petistas? Ou o da teoria, o recente, de laboratório, esse do discurso pró-mercado, o que se acercou de economistas liberais e que tateia um papo de redução do tamanho do Estado?

E aí? É tempo de responsabilidade. Não cabem abstenções como “minha equipe trabalha num projeto melhor, que apresentarei no ano que vem”. O país não pode esperar, e o eleitor liberal seduzido por Bolsonaro quer saber: o deputado vai votar como? Contra? E, nesse caso, usando o mesmo argumento do filhote, também deputado federal, que chegou a negar a existência de déficit na Previdência?

Essa resposta — a ser inscrita no painel da Câmara — é decisiva para que o brasileiro saiba se Jair Bolsonaro venceu mesmo a paixão pelo privilégio de classe, ou se está apenas, como creio, empilhando o lustro dos economistas liberais como escada para ascender.
E aí, deputado: como vota? Citará Ustra ou Mises na hora H?

Por: Carlos Andreazza é editor de livros


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