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quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Boas indicações

Bolsonaro assumiu compromissos importantes, que independem do quanto utilizou dos 45 minutos que tinha

Criticar o discurso do presidente Jair Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial em Davos pelo tamanho não é uma medida correta. Melhor seria dizer que o presidente brasileiro perdeu a oportunidade para se aprofundar nos temas que realmente importam ali, mas assumiu compromissos importantes, que independem de quanto tempo utilizou dos 45 minutos que tinha. O discurso de oito minutos foi montado para incentivar os investidores estrangeiros. Falou em reformas, Previdência incluída, em abertura da economia, simplificação da burocracia para melhorar ambiente de negócios, diminuição da carga tributária, abertura para o mundo e ainda se comprometeu com preservação do meio ambiente.
A emoção revelada no início foi indevida, mas Bolsonaro é um estreante em eventos internacionais, não tem nem o carisma nem a popularidade entre os estrangeiros que tinham Fernando Henrique ou Lula. E nem é um orador-ator como seu ídolo Trump. Ao contrário, pelo escândalo de corrupção do governo Lula, e por causa de suas opiniões emitidas durante toda a vida parlamentar, como a defesa da tortura, a imagem do Brasil no exterior nunca esteve tão ruim. Por isso, fez bem o presidente em assumir compromissos com a redução da emissão de CO2, e a preservação do meio ambiente, depois de ter mantido o Brasil, talvez a contragosto, no Acordo de Paris sobre o clima.
Bolsonaro também defendeu a agropecuária brasileira, o principal fator a impulsionar nossa economia, explicando que, no seu modo de ver, agricultura e meio ambiente devem estar juntos. Caberá ao presidente Bolsonaro mostrar na prática que sua tese é viável. Mas os ambientalistas temem que o agronegócio seja prioritário para o governo.Ao se referir às reformas que pretende promover, Bolsonaro citou a da Previdência, mas foi convencido por parte de sua assessoria de que os investidores não se preocupam com os detalhes, por isso não os deu.
O presidente do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, também não pediu mais detalhes. Fez perguntas genéricas e generosas, como anfitrião do encontro. Coube a Paulo Guedes tratar do assunto em outros debates. O presidente citou os dois ministros que são os sustentáculos de seu governo, Sergio Moro e Paulo Guedes, os que realmente contam para os investidores, um que promete garantir as relações econômicas livres de corrupção e lavagem de dinheiro, dando segurança jurídica aos investidores, e o outro com a bandeira de liberalizar a economia. O fato de Bolsonaro ter admitido que o Brasil ainda é um país fechado economicamente valoriza esses compromissos da equipe econômica. Um discurso rápido, mas com compromissos importantes.
Ao reafirmar que não montou seu Ministério por pressões políticas, e que o método anterior só causou ineficiência e corrupção, o presidente Bolsonaro pode ter comprado uma briga com setores importantes do Congresso, que terá que dar a autorização para as reformas prometidas. Bolsonaro parece se basear em sua popularidade para pressionar os congressistas, o que é arriscado. Ele pode vir a ser um líder de direita tão popular quanto Lula, mas não será nunca um formulador de projetos. E, pelo que apresentou em Davos, precisa de um ghost writer que dê aos seus discursos oficiais uma lustrada, retirando deles a excessiva carga de simplicidade, boa para campanhas eleitorais, ruim para mensagens internacionais.
Lula também não era um formulador, mas captava a mensagem com rapidez, e tinha quem no PT formulasse por ele. José Dirceu foi o grande estrategista político, Celso Amorim inventou o líder mundial capaz até de mediar a crise do Oriente Médio. Lula, como já definiu o cineasta Fernando Meirelles, é um grande ator. Deu certo por muitos anos, e até hoje engana setores da intelectualidade brasileira e mundial. Bolsonaro, se pretende ter um papel na direita mundial, como sonha seu filho Eduardo, que o acompanhou a Davos, precisaria de um mentor com ideias menos retrógradas e rocambolescas que as do chanceler Ernesto Araújo. Ao confirmar que o Brasil seguirá as normas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as maiores economias do mundo, está também abrindo mão de combater a globalização, que seu chanceler chama depreciativamente de globalismo. Seria uma boa indicação. Como foi seu discurso de Davos.
 
Merval Pereira - O Globo
 

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

‘Detratores estão na cadeia’, diz Temer

O presidente Michel Temer disse na quarta-feira, 24, em Davos, onde participa do Fórum Econômico Mundial, que “não aceita mais” ser alvo de dúvidas sobre suspeitas de corrupção em seu governo. “Os meus detratores estão na cadeia e quem não está na cadeia está desmoralizado. Foram desmascarados pelos fatos”, declarou o presidente. 

No discurso no Fórum Mundial, Temer não fez referência ao julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4). Ele, porém, comemorou o resultado positivo do mercado, registrado durante o dia, como um sinal de “confiança” nas instituições nacionais. 

Na interpretação dele, o discurso diante dos empresários em Davos, garantindo a continuidade da política econômica, teria neutralizado uma eventual turbulência por causa do julgamento do petista.  “Acabei de receber uma boa notícia”, disse Temer, referindo-se ao movimento de alta na Bolsa. “De modo que o discurso intercedeu com a repercussão, pelo que estou vendo. E foi muito exitosa nossa vinda para cá”, declarou o presidente.

Questionamento
Após o discurso no fórum, porém, Temer foi alvo de um questionamento por parte do fundador do evento, Klaus Schwab, sobre como a corrupção poderia ter um impacto nas eleições de outubro no País. Temer minimizou a questão. “Acho que será um tema natural, já que há um combate pesado contra a corrupção no País”, respondeu. O presidente enfatizou que as instituições estão funcionando com “toda tranquilidade” e que há uma “separação absoluta” dos Poderes. “Isso dá segurança jurídica para o investimento no País”, disse. 

Justiça
Horas mais tarde, quando voltou a ser questionado por jornalistas sobre a pergunta de Schwab, Temer reagiu com irritação. “Eu tive a oportunidade de dizer, assim como eu fiz no Brasil, que agora eu não vou mais tolerar essas coisas”, afirmou.
Ele voltou a evitar comentários sobre o julgamento de Lula, mesmo depois de o resultado estar dois votos a favor da condenação. “Vamos aguardar a decisão final”, afirmou. “É uma decisão que cabe à Justiça e, em particular, ao Tribunal Regional Federal”, argumentou.
O presidente foi informado do resultado do julgamento, que manteve a condenação de Lula por 3 a 0, com aumento de pena, quando já estava no jantar oferecido pelo fórum.

Temer havia orientado os ministros a não comentar publicamente a ampliação da pena de Lula. O objetivo seria despolitizar a decisão e evitar que os aliados de Lula usem as eventuais falas dos integrantes do governo como sinal de que não há independência no Judiciário.

No jantar oficial, no hotel Derby, porém, a condenação de Lula por unanimidade foi comemorada como uma final de jogo de futebol. À mesa do jantar, a comitiva brasileira acompanhava e Temer e seus principais ministros, como Henrique Meirelles (Fazenda) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), eram informados a cada voto. Com celular na mão, alguns anunciavam, quase aos gritos, “três a zero, três a zero”.

O jantar foi bastante concorrido, com as presenças de Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), Pedro Parente (Petrobrás), Candido Bracher (Itaú), entre outros. Na hora em que o desembargador Victor Laus proferiu o voto, encerrando o julgamento, foi um sem parar de toques de celular. Já em Zurique, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse que a decisão “não contaminará” a economia. 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.