O Estado de S.Paulo
Após estrago no meio ambiente, metralhadora ideológica mira a cultura
Quando surgiu a notícia de que o Ministério da Cidadania havia demitido
19 funcionários do Centro de Artes Cênicas da Funarte, a primeira reação
foi de aplauso. Afinal, o governo afastava o diretor Roberto Alvim,
que, entre outras barbaridades, ofendeu Fernanda Montenegro como
“mentirosa” e “sórdida”. Ledo engano. Era bom demais para ser verdade. Logo ficou claro o contrário: foram demitidos os coordenadores, gerentes
e subgerentes, menos... o chefe Alvim! Ou seja, o governo “limpou a
área” para Alvim fazer o que bem entender. [está certa a afirmação de que o governo limpou a área, visto que os demitidos compunham um parte da corja lulopetista, da esquerda, que tenta manter a política petista da Ancine prestigiar a contracultura,aquela que valoriza a pornografia, [o que inclui, sem limitar, artistas voltado a produções 'culturais' que atentam contra valores básicos da FAMÍLIA.]
Esse é apenas mais um capítulo da nova guerra ideológica do governo Jair
Bolsonaro, com o mundo todo já espantado com sua visão e suas
declarações sobre meio ambiente – aliás, o tema central do Sínodo que
ocorre neste momento no Vaticano, sob a liderança do papa Francisco. É enorme o estrago à imagem do Brasil no exterior, por desmatamento,
queimadas e, agora, a gravíssima mancha de óleo [até os animais que estão morrendo sabem que a mancha de óleo não surgiu por acaso e nem é fruto da irresponsabilidade do comandante de algum navio e sim um ato de sabotagem, na tentativa, felizmente inútil, de comprometer o governo Bolsonaro com política de agressão a vida marinha.] nas praias de todo o
Nordeste, mas principalmente pela nova política para o setor. Ainda
enfrentando essa frente, o governo já aprofunda os ataques, investidas e
ingerências na área da cultura, onde habitam velhos fantasmas do
bolsonarismo, embolados no tal “marxismo cultural”.
A expressão, sempre presente nos escritos e nas falas do chanceler
Ernesto Araújo, é também frequente no mundo e nas fantasias do diretor
Roberto Alvim, que também vê inimigos esquerdistas e perigosos por toda a
parte, prontos a implodir a “cultura judaico-cristã do Ocidente”. Alvim, que quer transformar o Teatro Glauce Rocha em “teatro
evangélico”, seja lá o que isso seja, também já vinha conclamando
“profissionais conservadores” a integrarem uma “máquina de guerra
cultural” na Funarte. Ai, que medo! Imaginem só o que vai virar o Centro
de Artes Cênicas. Um amontoado de críticos à nossa produção cultural,
nossos diretores, nossos atores.
A Funarte, porém, é só mais um dos alvos do Planalto e do Ministério da
Cidadania, que engoliu o da Cultura já na posse. A artilharia contra a
cultura se expande por todas as áreas do governo, até a financeira. No
mesmo dia do anúncio das demissões na Funarte, veio a notícia de que a
produção cultural da Caixa Econômica Federal agora é sujeita ao crivo
ideológico da presidência do órgão e da Secom do Planalto. Isso remete ao veto de Bolsonaro a uma peça publicitária do Banco do
Brasil dedicada ao público jovem, porque incluía a diversidade racial e
sexual. Ou ao ataque que ele fez à Ancine, condenando seus “filmes
pornográficos” e defendendo que deveriam enfocar os “heróis nacionais” –
leia-se, os heróis do próprio Bolsonaro, como o coronel Brilhante
Ustra, fartamente apontado como torturador?[sugestão anotada - está entre os dez primeiros heróis nacionais.]
Do outro lado, Chico Buarque, excelente escritor e ícone da música de
várias gerações, além de não ser “herói”, é tratado como inimigo: a
embaixada brasileira em Montevidéu acaba de suspender um documentário
sobre o Chico. O Chico! É inacreditável, mas pode acreditar. A reação já começa, com manifestações de apoio e a devida reverência à
diva Fernanda Montenegro e com decisões judiciais como a de ontem, da
juíza Laura Bastos de Carvalho, da 11.ª Vara do Rio, que suspendeu por
liminar uma portaria do Ministério da Cidadania sobre projetos da Ancine
para TVs públicas. [trata-se de liminar que pode ser cassada;
caso a decisão judicial seja mantida, nada impede que outras medidas sejam tomadas para impedir o uso de dinheiro público para promover obras inadequadas - mantendo sempre o devido respeito ao Poder Judiciário, sem abrir mão do direito de contestar legalmente suas decisões.]
A juíza atendeu a um pedido do Ministério Público, que apontou na
portaria, além de prejuízo ao erário, “inequívoca discriminação por
orientação sexual e identidade de gênero”. O STF, diga-se, acaba de
criminalizar a homofobia. Demissões, perseguições e censura, além de asfixia financeira da cultura... Isso, sim, é muito “sórdido”.
Eliane Cantanhêde, jornalista - O Estado de S. Paulo