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domingo, 6 de maio de 2018

Novo estelionato em construção

Dizer que aumento do gasto público é autofinanciável é populismo explícito

O professor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas, “meca” do pensamento heterodoxo brasileiro) Marcio Pochmann, responsável pelo programa do candidato do PT, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo no domingo passado (29), afirmou: “O fundamental no início do governo é um programa de emergência, que permita ao país sair da crise e voltar a crescer. Nós entendemos que a questão fiscal se resolve com volta do crescimento”.

É tanta bobagem que tenho dificuldade de acreditar que Pochmann de fato acredita no que falou. O crescimento já voltou —no ano passado, crescemos 1%, e, neste ano, a expansão será próxima de 2,6%—, além de sabermos que a economia não atende as condições do moto-perpétuo. Isto é, impulso fiscal não gera crescimento suficientemente forte para reduzir a dívida como proporção da renda nacional.  A política do pé na máquina foi empregada inúmeras vezes no Brasil. Antonio Delfim Netto no fim dos anos 1970, Dilson Funaro em 1985 e, mais recentemente, Dilma Rousseff em seu primeiro mandato. Sempre com resultados desastrosos.  Donald Trump aparentemente concordaria com cada palavra de Pochmann. Também o governo de Cristina Kirchner aplicou a ideia do moto-perpétuo. Mauricio Macri luta até hoje, sem grande sucesso, para reduzir inflação que insiste em rodar a 25% ao ano. Sem falar do caso da Venezuela.
Por outro lado, Pochmann foi contra o ajuste fiscal promovido pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, que está na raiz do bom desempenho dos oito anos daquela administração.

Ou seja, Pochmann está simplesmente errado. A estultice contida na fala dele não está associada a proposições que tipicamente polarizam esquerda e direita. Pode-se defender maior progressividade dos impostos para combater a desigualdade. Seria uma proposição de esquerda, segundo Norberto Bobbio. Pode-se argumentar que a maior progressividade teria efeitos perversos sobre a eficiência e, consequentemente, o crescimento. Seria proposição de direita, segundo Norberto Bobbio. Ambas as proposições são defensáveis, e um economista, além de medir os custos e os benefícios de cada uma delas, nada teria mais a dizer sobre elas. São temas eminentemente políticos. É necessário um juízo de valor subjetivo para decidir. Somente a política tem essa delegação.

Já a proposição de que o aumento do gasto público é automaticamente autofinanciável é simplesmente errada.  Não estamos no terreno do debate de ideias esquerda versus direita. Trata-se de populismo explícito. Há profissionais de economia que se prestam a esse serviço. Tanto na esquerda quanto na direita. Assim, minha interpretação é que o grupo político ao qual Pochmann está associado tem a avaliação de que é de seu interesse embarcar em uma campanha eleitoral escondendo da população, como fizera em 2014, os reais desafios do país. Um novo estelionato eleitoral encontra-se em gestação.

Tudo o que um político deseja é um profissional de economia, com alguma credencial acadêmica, que diga que os problemas se resolvem estimulando o crescimento. Nos meus 55 anos de vida, já vi esse discurso, pela direita e pela esquerda, inúmeras vezes. Nunca terminou bem.  Vale lembrar que Pochmann foi também contrário à focalização do gasto social nas famílias de menor renda, embrião do programa Bolsa Família. Era política pública dos neoliberais do Banco Mundial.

Samuel Pessôa, pesquisador do Ibre-FGV

domingo, 9 de abril de 2017

O erro monumental do PT


Uma imensa fogueira consumiu razoável parte da imagem do Partido dos Trabalhadores nas últimas duas décadas

Depois de fundado em 10 de fevereiro de 1980, o PT envergou a bandeira de mudanças nos costumes políticos, na administração pública e até nos comportamentos sociais.

Encarnava o ideário da moral e da ética. Simbolizava uma fortaleza contra as injustiças. Tornou-se o protagonista, por excelência, da luta do bem contra o mal.  Lutou destemidamente para chegar ao assento principal no Palácio do Planalto. Depois de algumas derrotas, Luiz Inácio Lula da Silva, o pernambucano que comandou as lutas operárias no ABC paulista, na época da ditadura, chegou, ufa, ao comando da Nação.

Depois da grande vitória de 2002, o PT conseguiu outras em 2006, 2010 e 2014. Até que, sob o governo Lula, o partido começou a naufragar nas águas do mensalão e, mais adiante, afogou-se nos dutos da Petrobras. A Operação Lava Jato atingiu em cheio as principais lideranças do partido, incluindo ele mesmo, Lula, a ex-presidente Dilma, e os ex-poderosos ministros José Dirceu e Antônio Palocci.

Os escândalos em série corroeram a imagem do partido ético. Mas o PT cometeu um monumental erro ao longo de sua história. Não foram apenas os deslizes e desvios que tiraram o partido do caminho das vitórias. Foi também um discurso errático, voltado para dividir a sociedade brasileira: o discurso do “Nós e Eles”, trombeteado por Lula e seu entorno desde a criação do partido no colégio Sion, em Higienópolis, São Paulo.

Os bons e os maus
Só agora os petistas se dão conta da burrada que cometeram ao tentar erigir um muro entre as classes sociais. Uma recente pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, do próprio PT, e conduzida pelo competente professor Marcio Pochmann, exibiu o resultado que deve ter assombrado a cúpula partidária: não há cisão entre a “classe trabalhadora” e a “burguesia”, entre o que Lula e companhia designavam de “Eles”, os impuros e bandidos, e “Nós”, os éticos e mocinhos.

O grande vilão do povo é o Estado, apontou a pesquisa. E a política é um território locupletado de sujeira, de gente sem caráter. E figuras como Lula, João Doria e Silvio Santos são admirados menos pelo que pregam e mais pela condição de pessoas vitoriosas, que escalaram com sucesso os degraus da vida.  Por essa rápida leitura da pesquisa, pode-se aduzir que o PT, ao instigar a luta de classes, derramou tonéis de ódio pelos espaços das classes sociais, plantando no solo sementes de desagregação. Daí a rejeição que o próprio Lula possui, hoje, em torno de 60%.

Se exibe, ainda, o melhor índice de aceitação, leva, em contrapartida, a mais alta rejeição. Essa é a lição sobre a qual o petismo está debruçado no momento em que arruma a casa para tentar resgatar a força estiolada do seu partido.  Na verdade, a fera que ameaça a sociedade, pobres e ricos, feios e bonitos, é o Estado brasileiro, que ainda não se libertou das mazelas que assolam sua estrutura: o patrimonialismo e seus filhotes, o grupismo, o familismo, o caciquismo, o fisiologismo.        

As pessoas se queixam da inexistência de serviços públicos de qualidade, particularmente em áreas prioritárias como saúde, educação, mobilidade urbana, segurança pública. Quando o Estado implanta programas de maior impacto, como Bolsa Família, Prouni, Fies, utilização de recursos em contas inativas do FGTS, é reconhecido e aplaudido.  Ao contrário, quando aumenta a carga tributária, que é uma das mais altas do planeta, passa a ser execrado. Afinal, a elevação de impostos e tributos não resulta em melhores serviços à população. A reivindicação numero 1 das classes sociais é na direção do Estado eficiente, menos lerdo e burocrático, mais afeito às demandas das massas.

Todos são iguais
Já os partidos políticos são considerados todos iguais. O espaço partidário está contaminado pelo vírus da corrupção, razão pela qual os eleitores defendem a ideia de existência de um partido único, capaz de agregar os melhores quadros entre as siglas. Seria uma opção para evitar brigas entre partidos, a par da união de todos em prol das demandas do povo.

Os políticos são, na percepção dos pesquisados, usurpadores, eis que trabalham por seus interesses pessoais. Essa leitura é devastadora para o terreno da representação parlamentar. Sinaliza para a necessidade urgente e premente de uma reforma na política, a partir da reorganização partidária, hoje composta por 35 siglas. O fato é que o nosso sistema político-partidário reflete a instabilidade insti­tucional, com partidos que mais se assemelham a um ônibus em que qualquer pessoa pode entrar e sair, a qualquer hora e em qualquer estação. A criação de partidos é uma tarefa muito facilitada por nossa legislação, a ponto de termos mais de 30 pedidos de formalização, o que poderá duplicar a planilha partidária. Não mais que 5 ou 6 partidos representam as visões da sociedade. 

Nesse desenho, assume força o espaço da fulanização política, que transforma as entidades em blocos repartidos entre perfis pessoais. Essa é uma radiografia 3x4 da nossa política. O que fazer para corrigir tantas distorções? Dará tempo até 2 de outubro próximo de fazer algo para realizar o pleito de 2018 com padrões mais éticos e legitimadores da vontade social? Tempo daria, mas o que falta é vontade política. É possível que a Comissão de Reforma Política, cujo relator é o deputado petista Vicente Cândido, chegue a um consenso em torno de aspectos fundamentais. O fato é que o ciclo da velha política está morto, mas não foi enterrado.


Erro (Foto: Arquivo Google)
Urge que os partidos, a partir do próprio PT, que mastiga os ingredientes pinçados da pesquisa que mandou fazer, decidam realizar um programa mínimo de mudanças. Sem as quais, veremos o pleito de 2018 correr ainda nas águas sujas do ódio, da polarização entre classes, dos discursos bolorentos e do individualismo voltado para os votos em sicranos e beltranos. Ou será que Lula, por exemplo, ainda pensa em se apresentar como o Salvador da Pátria? Se olhar a fundo os anseios da sociedade, não se aventurará a querer ser o líder messiânico pregando a luta de classes.

Fonte:  Gaudêncio Torquato - Blog do Noblat


quarta-feira, 2 de março de 2016

Renuncia, Dilma!



Marcio Pochmann, fantasioso intelectual petista, escreve no nº 32 (janeiro a março de 2016) da revista Interesse Nacional artigo intitulado "Virada Neoliberal?". Lá pelas tantas, afirma: "Assim como o resultado das eleições presidenciais de 2014 não foi suficiente para viabilizar o programa econômico vencedor nas urnas, a federação brasileira segue sem um geográfico centro dinâmico e articulador político e econômico nacional". Não copiei errado, não. A reflexão sobre a federação brasileira entra aqui como o garçom na Santa Ceia.  

Já a "reflexão" sobre eleições revela bem a esquizofrenia do lulopetismo desnorteado. Todos sabem, inclusive eles, que o resultado das eleições de 2014 foi um megaestelionato eleitoral. Tanto que, no dia seguinte, o governo já estava paralisado, incapaz de viabilizar o programa do estelionato por uma simples razão: tinham quebrado o Brasil!

Desde então, o lulopetismo desagrega-se em quase todas as frentes, numa abrangência correspondente à gravidade dos crimes cometidos. Na economia simplesmente não sabem o que fazer. Suas fabulações não resistem aos fatos. O "novo" ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, é uma irrelevância. Nada consegue fazer para criar qualquer alternativa à ruína causada pela desastrada gestão de Dilma, a Exterminadora de Futuro. Mas a fantasia persiste nas elocubrações de seus intelectuais, como Pochmann e outros. Suas viseiras, suas confortáveis posições na academia impedem-nos de firmar um compromisso elementar com a realidade do desemprego, da paralisia, do retrocesso, da desorganização das contas públicas e suas nefastas consequências para a vida da população.

Sob qualquer ângulo que se analise, vivemos dia a dia a iminência de descobrir se realmente existe ou não um alçapão no fundo do poço. Em 2015, ano em que amargamos uma retração de 4% na economia, cerca de 100 mil lojas fecharam no país, 1 milhão de alunos tiveram que trocar as escolas privadas pelas públicas e pelo menos 100 mil pessoas deixaram seus planos de saúde porque não tinham mais condições de pagar pelos serviços. O país perdeu 1,5 milhão postos de trabalho, o que produziu o número recorde de 9 milhões de desempregados.

A paralisia é generalizada, e o impasse a que chegamos atinge fortemente, também, os gestores públicos do Brasil. Estão vivendo um cotidiano próximo ao pânico diante da escassez de recursos e, sobretudo, das incertezas quanto a cumprir suas obrigações inadiáveis nos próximos meses. Sabem que já não podem alimentar nem mesmo a ilusão de contar com qualquer socorro do governo federal. Este, depois de fantasiar sobre as contas públicas deste ano, que serão fortemente deficitárias, brinca com o fogo de um endividamento que pode ser insustentável. A tal ponto que já começa a despertar desconfiança quanto à capacidade do governo de, mesmo com reiteradas pedaladas, manter o precário equilíbrio da economia.

A melancólica comemoração do aniversário do PT, com a ausência deliberada e reveladora de Dilma, foi mais um ato a confirmar a desagregação política, o isolamento e o descrédito do petismo. Destaque para a fala derrotada de Lula e a ameaça de seu quimérico retorno em 2018. Um insulto aos brasileiros empobrecidos e desiludidos por suas transgressões sem limites.

Sabemos que Dilma está só. Mal se movimenta. Passa o tempo tramando urdiduras palacianas para prolongar seu desmoralizado mandato e com ele a agonia a que submete os brasileiros. Estamos retrocedendo em todas as frentes. Desafios urgentes se agravam pela inação, descrédito e incompetência do governo. O Congresso Nacional, aqui e ali, tenta construir caminhos alternativos. Não faltam ideias sobre o que é preciso fazer para recuperar a economia e sanear a vida pública. Mas será tudo em vão, enquanto Dilma permanecer.

No próximo dia 13, vamos novamente às ruas. Que as manifestações sejam grandiosas por todo o Brasil! Quem sabe Dilma se anime a fazer o único gesto pelo qual os brasileiros vão aplaudi-la: a renúncia pelo bem do Brasil!

Fonte: José Aníbal