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terça-feira, 24 de setembro de 2019

O isolamento de Bolsonaro - O Globo

José Casado

Presidente começa a descobrir o custo da opção pelo papel de vilão ambiental

Qual é o plano de Jair Bolsonaro para a Amazônia ou o meio ambiente? Se existe, ninguém sabe, ninguém viu nessas 37 semanas de governo. Até agora, se limitou ao vitimismo, muito conveniente a quem atola mas não quer se responsabilizar pela própria inépcia.  Hoje, na ONU, ele vai constatar a dimensão do seu isolamento, inédito para um chefe de Estado brasileiro. Pode tentar revertê-lo, mas isso, exige competência — mercadoria rarefeita na atmosfera do Palácio do Planalto, onde só florescem intrigas, perfídias e anacronismo. [insistimos em destacar o caráter autocrático da Organização das Nações Unidas, uma democracia comandada por uma ditadura da minoria.
Exemplo: teve uma solenidade antes da abertura da Assembleia-Geral e os ministros brasileiros que já estavam em New York não foram convidados  sob o pretexto de que o evento era apenas para chefes de Estado e/ou de Governo.
Pois bem: os representantes da Rússia e China participaram do evento - sendo que nenhum deles era o presidente da Rússia ou da China, países que integram o seleto grupo dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e que são os verdadeiros DONOS daquela organização.]

O presidente começa a descobrir o custo da opção pelo papel de vilão ambiental. Foi Bolsonaro quem se apresentou como alvo no centro de uma renovada forma de ação política global, o ativismo climático. A obsessão com uma conspiração internacional contra a soberania brasileira na Amazônia diz mais sobre o deserto de ideias do governo do que a respeito dos objetivos de países, ONGs e empresas na região. [pergunta boba: se um chefe de Estado declarar em alto e bom tom que internacionalizar parte do território dos Estados Unidos, da China ou da URSS é uma boa medida. Ele será aplaudido pelos países citados?
O presidente da França defendeu tal medida para a Amazônia brasileira.]
A tática de criação de inimigos com interesses ocultos sobre o território amazônico é datada do período da Guerra Fria. Ocupou alguns na Escola do Comando e Estado-Maior do Exército na formatação dos novos subversivos (ambientalistas, índios e estrangeiros) na Rio-92, a primeira conferência mundial sobre meio ambiente.
O Brasil da época importava alimentos, hoje é o terceiro maior exportador. Bolsonaro revigorou o anacronismo. Extirpou a palavra “clima” do Itamaraty, desmontou políticas ambiental, fundiária, indigenista e acabou com o Fundo Amazônia. Também desdenhou da diplomacia com Europa, China e Rússia, optando por ficar refém da Casa Branca de Donald Trump.

O tempo passou e ele não viu. O novo ativismo climático levou 230 fundos de investimentos a perceber nesse negacionismo riscos de reputação, operacionais e regulatórios. Na sequência, 130 bancos — Bradesco e Itaú incluídos— anunciaram pressão conjunta para ação rápida contra “o catastrófico aquecimento global”. E governadores de nove estados que perderam o Fundo Amazônia iniciaram negociações diretas com quem quiser investir na região. O custo Bolsonaro ficou alto demais. Para todos. 


 
José Casado, jornalista - O Globo
 
 

sábado, 7 de setembro de 2019

O isolamento de Bolsonaro


Jair Bolsonaro é produto de um fenômeno, o processo eleitoral de 2018. Nada indica que vá se repetir. Para se manter competitivo — já que tem a reeleição como ideia fixa —, ele deveria modificar radicalmente sua prática política, além de dar outro rumo ao governo. Certamente não fará uma coisa nem outra. Acredita que deve justamente fazer o contrário: intensificar a retórica belicista e aprofundar a ação econômica ultraconservadora. Desconsidera que é um caso único na história recente. Desde 1989 nenhum presidente perdeu tão rápido o capital político obtido na eleição. No caso de Bolsonaro, a tendência é que chegue ao final deste ano com um índice de reprovação superior a 50%, só para ficar naqueles que consideram seu governo ruim ou péssimo.

[detalhes que não podem ser esquecidos:
- pesquisa que vale é a das urnas, e as pesquisas tipo Datafolha e outros do gênero tem algum valor a dois ou três meses das eleições - coisa para julho de 2022;
- quem assistiu o desfilhe de 7 de setembro percebeu que Bolsonaro tem amplo apoio popular e junto com Moro - Bolsonaro comandou o desfile das tropas (o cívico-militar) e do 'teste de popularidade', se saiu bem nos dois.
- Bolsonaro e Moro finalmente se entenderam, Moro será o vice em 2022 e Bolsonaro o titular. Já em 2020 com o processo de recuperação da economia se consolidando, só Deus impedirá Bolsonaro de um segundo mandato, Moro como vice.]

Como consequência, poucos serão os políticos que buscarão seu apoio nos principais colégios eleitorais do País para a eleição de 2020. A tendência é de intensificação do desgaste, o que fará Bolsonaro caminhar para o isolamento político. Mas, em vez de reconhecer seus erros, o mais provável é um aumento da estridência do discurso autoritário, o que levará o presidente a falar a cada dia — até para ocupar espaço no noticiário e demonstrar força — para menos adeptos. E esta relação inversa tensionará ainda mais a situação, com sérias consequências para o funcionamento do Estado democrático de direito.

O presidente Bolsonaro tem enorme dificuldade para conviver com a democracia. Não faz questão de esconder. Em um cenário de tensão crescente vai, com certeza, pressionar os meios de comunicação. Usará de todos os recursos possíveis. Jornalistas vão ser ameaçados e as redes sociais deverão funcionar abertamente como braços do autoritarismo neofascista, espalhando mentiras. É esta a sua forma de agir. Deverá atacar o Congresso Nacional e as cortes superiores de Justiça. Contudo, os maus resultados econômicos vão limitar sua ação. A radicalização vai produzir mais isolamento. Sem apoio popular, restará sonhar com uma intervenção militar. Vai perder. As Forças Armadas não vão embarcar em nenhuma aventura política.

O cenário é preocupante. Mais uma vez as instituições serão testadas. Pelo ritmo das contradições é provável que isto ocorra em breve, pois nada indica que Bolsonaro vá mudar. E será melhor para o Brasil. Um ciclo deverá se encerrar. Algumas alterações constitucionais no campo político vão nascer para dar maior solidez às instituições contra aventureiros simpáticos ao autoritarismo.
Com sua popularidade despencando, o presidente perde apoio. Incapaz de um discurso conciliador, deve apelar para o autoritarismo

Marco Antonio Villa, historiador e escritor - Isto É