[candidatura Ciro sobe no telhado.]
Depois de ver o centrão se aproximar de Alckmin,
candidato faz discurso para atrair PSB e PCdoB e, se der, o PT
Menos de
24 horas depois de ver o centrão se bandear para o lado do tucano Geraldo
Alckmin, Ciro Gomes tomou o único caminho que lhe restava. Na
convenção do PDT que o lançou candidato à Presidência, hoje, em Brasília, fez um discurso cujo conteúdo agrada aos partidos e aos
eleitores que se identificam como de esquerda. É o que lhe resta no
momento – e não é um campo pequeno. Nele estão PT, com seu principal candidato
preso e impedido de concorrer, PSB, sem candidato, e PCdoB, cuja candidata tem
desempenho muito aquém do registrado por Ciro. Neste lado estão especialmente
os órfãos do ex-presidente Lula, um cobiçado contingente do eleitorado.
Em sua
fala, Ciro fez os acenos necessários. Apesar de a presidente do PT, senadora
Gleisi Hoffmann, dizer que seu partido não vai com ele “nem que a vaca tussa”,
Ciro falou bem do ex-presidente Lula, preso em Curitiba. Ele sabe que vacas não
tossem e frases de efeito valem pouco, mas sabe que Lula entende mais de
política do que a maior parte dos seus comandados. Ficar bem com ele não vai
render apoio agora, mas pode trazer no futuro, caso o candidato ungido por Lula
não emplaque no segundo turno. Ciro foi
esperto ao dizer que a ausência de Lula na eleição joga mais responsabilidade
sobre “nossos ombros” – no caso, os seus e dos aliados. Ao fazer isso, Ciro se
coloca como alternativa de voto para o eleitor lulista, que já mostrou certa
simpatia por ele em pesquisas. Por enquanto, isso só mostra que Ciro tem uma
boa auto estima. Mas ele foi o primeiro a vestir a camisa de “candidato do
Lula” e mostrar ao eleitor.
Ciro joga
também na resistência em torno do PT. Ele sabe que dificilmente o partido de
Lula atrairá PSB e PCdoB para uma aliança. Seu papel com o discurso é continuar
o trabalho de atração destes partidos, o que vem fazendo há tempos. Sem o peso
do centrão a seu lado e com a postura do PT em torno da candidatura de Lula,
seu trabalho fica mais fácil.
É óbvio
que Ciro se daria bem se tivesse o centrão, formado por DEM, Solidariedade, PR
PRB e PP, em sua aliança. A turma é heterogênea e complicada de lidar, mas tem
força. Sem ela, Ciro pelo menos tem a vantagem de não precisar fazer ginástica
verbal para moderar seu discurso, em especial na área econômica. Um sinal de
que ele ficou à vontade, foi que se permitiu até a fazer um mea culpa sobre
seus últimos deslizes verbais. Ciro sabe que perdeu com o que falou e que
perdeu sem o centrão, por isso já joga para outro público.