Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
Suntuosa sede do TSE, órgão máximo da Justiça Eleitoral, cuja existência custa ao contribuinte mais de R$ 10 bilhões por ano, mesmo nos anos em que não ocorrem eleições
Recentemente, em vídeo, contei um “causo” antigo,repetido aqui no Rio
Grande do Sul sobre o acontecido em pequena comunidade de granjeiros.
Gente séria, trabalhadora, partilhava suas experiências e se apoiava
mutuamente. A cada safra, promovia uma exposição de seus produtos, com
premiação por qualidade e produtividade, em eventos festivos que atraíam
visitantes e favoreciam a comercialização.
Com o
passar do tempo, dois proprietários começaram a disputar a primazia
nessas premiações fazendo com que, entre ambos, a solidariedade inicial
se transformasse em competitividade e gerasse um certo antagonismo.
Foi
nesse ambiente que se deu o tal “causo” quando um desses granjeiros foi à
casa do outro pedir um favor.
- Compadre! Buenos dias! Me emprestas teu serrote que estou cortando umas estacas pra tomateiro e o meu quebrou?
O dono do serrote pensou no que dizer e saiu-se assim:
- Pois
tu sabe que hoje de manhã, cedinho, minha mulher tinha que comprar uma
batedeira pros doces que ela faz, pegou a caminhonete e se tocou pra
cidade com meu guri que precisava vê os dente. Se foram os dois.
Disse isso e parou. O outro esperou um pouco e, diante daquele estranho silêncio, indagou:
- Que mal pergunte, compadre, o que tem a ver uma coisa com a outra?
A resposta veio seca e direta::
- Nada, quando a gente não quer emprestar qualquer desculpa serve.
Tenho me
lembrado muito dessa história diante do que vejo acontecer em nosso
país.
Qualquer desculpa serve, qualquer explicação serve, qualquer
motivo serve quando as cortes veem a si mesmas como missionárias de uma
nobilíssima causa e essa causa vai para a capa dos processos e dos
inquéritos.
As situações “excepcionalíssimas” se tornaram rotineiras e o
ar que todos respiramos impregnou-se pela fuligem tóxica das exceções e
sua torrente de ameaças, censuras, multas, restrições de direitos e
desforras pessoais.
Será uma
conspiração em desfavor de nossos tribunais superiores,esse sentimento
generalizado de que Bolsonaro será considerado inelegível porque se
reuniu com os embaixadores ou porque não se vacinou e um cartão forjado
diz o contrário?
Ou seja lá por que for?
Como pode ser tão previsível a
opinião de um órgão colegiado?
Não duvido de que, em breve, alguns nomes
estejam disponibilizados em sites de apostas e que todos integrem o
lado direito do arco ideológico contra o qual investem os missionários
da democracia e do estado de direito para lá de esquerdo.
Há uma
estranha coincidência entre o ânimo desses colegiados, que sobressai do
farto manancial de suas manifestações públicas, e os confessados
devaneios erótico-vingativos de Lula na prisão.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Em julho de 2020, por exemplo, um jornalista explicou no título de sua coluna "Por que torço para que Bolsonaro morra" [tem um outro, que curte um merecido ostracismo, sugeriu que o 'capitão do povo' se suicidasse.]
“É num ambiente assim que um
bolsonarista pega uma arma, vai à festa de aniversário de um petista e
mata o petista”, afirmou uma jornalista, na manhã desta quinta-feira,
21, durante um programa de rádio. O “ambiente” ao qual ela se refere é o
estupro de uma mulher grávida pelo anestesista na sala de parto, o
cirurgião plástico que deformava as pacientes e as mantinha em cárcere
privado e o espancamento de uma procuradora-geral por um colega de
trabalho durante o expediente, entre outras atrocidades. Segundo a
analista, “tem uma onda de loucura do mal neste país”. O culpado, claro,
é o presidente Jair Bolsonaro.
Foto: Reprodução/Shutterstock
Uma semana antes, na sexta-feira 15, Alexandre de Moraes havia concedido 48 horas para Bolsonaro manifestar-se sobre uma ação impetrada por partidos de oposição contra “discursos de ódio”. Rede, PCdoB, PSB, PV, Psol e Solidariedade acham que“as falas do presidente se configuram em estímulos psicológicos que vão construindo no imaginário de seus apoiadores e seguidores a desumanização do opositor”.
Mesmo depois de a Polícia Civil concluir quenão houve motivação políticano assassinato de Marcelo Arruda, tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, os partidos — assim como a jornalista — exigem que Bolsonaro condene o crime publicamente. “Não há provas de que foi um crime de ódio pelo fato de a vítima ser petista”, afirmou Camila Cecconello, delegada responsável pelo caso.
No dia seguinte ao ultimato, começaram a circular pelas redes sociaisimagens de um filme em que um boneco idêntico a Bolsonaro, vestindo um terno e usando a faixa presidencial, morre durante uma motociata. O cineasta Ruy Guerra, responsável pela gravação, afirmou que “as cenas foram retiradas de contexto”. Elas farão parte de A Fúria, filme da trilogia completada por Os Fuzis (1964) e A Queda (1977).
Estão encenando a morte do presidente numa motociata. Filmando. Fazendo disso um ato cultural. Quem é que espalha e sente o ódio? ACUSE-OS do que você faz, CHAME-OS do que você é. #ManifestoQueSouContrapic.twitter.com/Cw0bYYjI78
Não foi a primeira vez em que ecoou a lira do delírio. Faz parte da rotina nacional desejar, sugerir ou estimular a morte do presidente. Em julho de 2020, por exemplo, o jornalista Hélio Schwartsman escreveu um artigo na Folha de S.Paulo com o título “Por que torço para que Bolsonaro morra”. Na época, o presidente havia sido diagnosticado com covid-19.
Dois anos antes, durante a campanha presidencial, Bolsonaro sofrera um atentado à faca que quase realizou o desejo do jornalista. Alega-se que Adélio Bispo sofre de problemas mentais. Mas ele sabe explicar com muita clareza por que já foi militante do Psol. Adélio pode ganhar a liberdade a qualquer momento. Basta o juiz responsável entender que ele não sofre mais “dos transtornos que o levaram à internação”.
Em setembro de 2020, o autodenominado coletivo de arte In Declinegravou um vídeo em que uma reprodução ultrarrealista da cabeça de Jair Bolsonaro é usada como bola de futebol. No filme, uma jovem retira de um túmulo o que seria o crânio do presidente. Na sequência, o objeto vira bola e, por fim, é mordido por um cachorro. Entre incontáveis chutes, aparecem menções à vereadora Marielle Franco, morta em 2018, e ao movimento LGBT+. = [LGBTQUIABO]
Seis meses depois, o procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, da Procuradoria da República no Distrito Federal, arquivou o inquérito policial aberto contra a produtora Gorila Company,responsável pela produção do vídeo. Pedro Millas Souza e Marcello Tamaro Yamaguchi, donos da Gorila, haviam sido indiciados pela Polícia Federal por incitação aos crimes de lesão corporal, homicídio, violação de sepultura e destruição, subtração ou ocultação de cadáver. O Ministério Público Federal, entretanto, argumentou que era um exagero classificar de ato ilícito o que seria“uma piada, uma crítica social ou uma peça publicitária”. [enquanto o ato de simular futebol com a 'cabeça' do presidente da República é minimizado, até ironizado, pelo MP, um ministro de Estado do governo Bolsonaro quase é preso por apenas ter expressado desejar a prisão de alguns ministros do STF.]
“No Brasil, os petistas cansaram de dar provas dessa ética peculiar inerente à imaginação revolucionária”, afirma o antropólogo Flávio Gordon, em seu artigo publicado nesta edição.“É por isso que, com a cumplicidade do partido que outrora lhe fazia oposição, bem como da grande maioria da imprensa e dos bem-pensantes, essa esquerda raskolnikoviana protagonizada pelo lulopetismo finge se escandalizar com o ódio e a violência supostamente inaugurados no país por Bolsonaro e seus apoiadores, chegando ao ponto de desacreditar investigações policiais para concluir que a causa de todo e qualquer crime ocorrido no Brasil é uma só: o ‘bolsonarismo’”.
Gordon sustenta que o ódio e a violência são intrínsecos ao pensamento da esquerda desde os tempos de Friedrich Engels e Karl Marx. “O Partido dos Trabalhadores e seus partidos e movimentos satélites encarnaram perfeitamente essa tradição”, ressalta Gordon. “Sob uma aparência de normalidade democrática e organização regular, o partido jamais cessou de promover a violência política contra adversários e pregar a sua extinção social ou física.”
Há poucos dias, Lula agradeceu ao ex-vereador Manoel Eduardo Marinho, o Maninho do PT, por ter provocado a colisão da cabeça do empresário Carlos Alberto Bettoni com o para-choque de um caminhão. “Esse companheiro Maninho, por me defender, ele ficou preso sete meses, porque resolveu não permitir que um cara ficasse me xingando na porta do Instituto Lula”,fantasiou o ex-presidente. “Então, Maninho, eu quero em teu nome agradecer à toda solidariedade do povo de Diadema. Porque foi o Maninho e o filho dele que tiveram (sic) nessa batalha.”
Em 2018, Bettoni foi empurrado por Maninho,ao criticar o então senador petista Lindbergh Farias, em frente ao Instituto Lula. Ele sofreu traumatismo craniano e ficou 20 dias internado na UTI. Em 2017, ao lado do ex-senador paranaense Roberto Requião, a deputada federal petista Benedita da Silva afirmou que“sem derramamento de sangue não haverá redenção”.
Em maio de 2000, 12 anos antes de ser capturado no pântano do Mensalão,José Dirceu conclamou os militantes do partido a castigarem fisicamente os adversários. “Mais e mais mobilização, mais e mais greve, mais e mais movimento de rua”, gritou o presidente nacional do PT em cima do palco. “Porque eles têm de apanhar nas urnas e nas ruas.”
Horas depois do discurso,Mário Covas foi agredido e apedrejado por professores em greve. O crime aconteceu quando o governador de São Paulo tentava atravessar a Praça da República, tomada pelos grevistas, depois de sair da Secretaria de Educação. O ódio contra Bolsonaro não se restringe ao presidente, atinge também seus eleitores.
As deformações da democracia brasileira hoje não admitem que se vote em outro candidato — ou mesmo que se vote em branco.
O Cuia Café, por exemplo, localizado no térreo do Edifício Copan, um dos cartões-postais de São Paulo, ostenta no balcão uma placa com as palavras “Fora Genocida”. Obviamente, os “genocidas” incluem também aqueles que votam no presidente.
Durante a gravação de um podcast, a chef de cozinha Paola Carosella disse que os eleitores de Bolsonaro são“escrotos” e “burros”. Para a argentina Paola, “é muito difícil se relacionar com quem apoia Bolsonaro. Ou porque é um escroto ou porque é burro”.
Num podcast, o humorista Fábio Porchat também destilou ódio contra quem defende a reeleição do presidente. “Imagina: você cria um filho e ele vota no Bolsonaro”, disse o comediante. “Deus me livre! Ele virou um débil mental. Eu morro de medo de ter filho idiota, filho burro. Imagina ter um filho babaca?”. Porchat fica igualmente indignado quando alguém estranha a sua preferência por um candidato comprovadamente corrupto.
Nesta quarta-feira, 20, o juiz Antonio Carlos Santoro Filho, da 45ª Vara do Foro Central Cível de São Paulo, decidiu que acusar de nazista um simpatizante de Bolsonaro não tem nada de mais.Santoro Filho negou um pedido de indenização feito por 11 pessoas contra o historiador Marco Antônio Villa,candidato a deputado federal pelo Patriotas. O juiz concluiu que Villa, ao afirmar que bolsonaristas são “nazistas”, em vídeos publicados no YouTube, criticou, “a partir de fatos históricos, de maneira absolutamente genérica, sem qualquer individualização, o modo de atuação dos apoiadores do presidente”.
Eleito presidente da República, com 58 milhões de votos, Jair Bolsonaro é insistentemente rotulado de homofóbio, misógino, genocida, racista, fascista, ladrão e ditador, fora o resto.
Já foi igualado a Hitler na capa de uma revista semanal, em faixas e camisetas. Também é responsabilizado pelas mortes de Marielle Franco, no Rio de Janeiro, Bruno Pereira e Dom Phillips, na Amazônia, e, agora, pela de Marcelo Arruda, em Foz de Iguaçu. Ainda não foi acusado de provocar o terremoto no Acre.
Diante desse quadro, é muito pertinente a pergunta feita por J.R. Guzzo na Gazeta do Povo: “Quem está agindo com ódio na política e na campanha eleitoral?”
Até agora, nenhuma violência contra o chefe do Poder Executivo foi enquadrada na categoria“discursos de ódio”. Pelo jeito, só existe ato antidemocrático quando o alvo da ofensa é dirigente do PT. Ou ministro do STF.
Ex-ministro criticou ainda o Supremo Tribunal Federal
O ex-ministro da DefesaAldo Rebelo
afirmou que a linguagem neutra é um “atentado à sociedade nacional”.
Segundo ele, trata-se de uma tentativa de criar outra língua e inventar
palavras para impor à sociedade outra forma de cultura.
“É algo importado. Não é linguagem neutra, o que estão querendo impor
é outra língua”, disse, durante um seminário organizado pelo instituto
do ex-comandante do Exército Eduardo Villas-Boas, na sexta-feira 19. “O que estão querendo fazer não é o uso das palavras existentes. É a
criação de uma outra língua, de um outro idioma”, observou Rebelo. “Não é
o problema do gênero, é a tradição, a cultura”, acrescentou o
ex-ministro.
Rebelo
criticou ainda o Supremo Tribunal Federal (STF). Na semana passada, o
ministro Luiz Edson Fachin restabeleceu o uso do“dialeto não binário”
em escolas públicas e privadas de Rondônia. Para Rebelo, o STF age como“uma corte dos costumes, dos
comportamentos”. “Aqui no Brasil, essa agenda tomou conta do mercado,
pelas corporações que estão nisso, da mídia, de certa forma o
Legislativo vai entrando nisso e o Judiciário nem se fala.”
Comunista crítico da linguagem neutra Ex-PCdoB, PSB e Solidariedade, Rebelo disse que o país mergulhou em um processo de desorientação quando a agenda do crescimento perdeu sentido diante da “agenda identitária e da guerra cultural”.
Unidos na eleição de 2018, diferenciações e divergências vão se tornando mais nítidas
Jair
Bolsonaro, em sua eleição, conseguiu encarnar a força do antilogismo,
congregando em torno de si três correntes de ideias que, naquele então,
apareceram juntas na luta contra um inimigo comum: a extrema direita, os
conservadores e os liberais. Compareceram amalgamados, unidos, mesmo
indistintos, prometendo uma regeneração nacional, contra a corrupção e os
políticos que a ela tinham aderido.
A
concepção propriamente de extrema direita, embora já presente, foi
progressivamente ganhando forma, exercendo forte influência graças à família
presidencial e à captura de ministérios importantes. Os conservadores, bem
delineados, surgiram na defesa de valores morais, tendo como representantes
principais os evangélicos. Os liberais apresentaram-se, principalmente, sob a
pauta do liberalismo econômico e menos sob a forma do liberalismo político.
No
entanto, nestes mais de dois anos transcorridos, as diferenciações e
divergências internas foram se tornando mais nítidas, embora algumas ainda não
se tenham configurado completamente. Por exemplo, o liberalismo econômico já
foi praticamente deixado de lado, apesar de o ministro da Economia continuar no
poder como figurante de um governo de extrema direita, afeito a intervenções em
empresas públicas, abandono das reformas, irresponsabilidade fiscal e ausência
de privatizações. Sobra apenas um fiapo de discurso e práticas liberais.
No
que diz respeito ao conservadorismo, ele continua ainda aderido à extrema
direita, apesar de fissuras se fazerem cada vez mais presentes. Os evangélicos
prezam a solidariedade, a compaixão, os valores morais, são reconhecidos como
pessoas que reverenciam as virtudes e o trabalho, logo, não podem compactuar
com o tratamento que o bolsonarismo dispensa à morte, à doença, o seu desprezo
pela vida. Quando a morte e a doença batem à porta, pelo descaso e pela inépcia
governamentais, um limite está sendo ultrapassado. Não há nenhuma gracinha na
“gripezinha” e nos efeitos da vacina criando caudas de jacaré. O que há, sim, é
um completo menosprezo por valores religiosos e morais.
Os
traços principais da extrema direita no poder são:
1) A concepção da política
baseada na distinção entre amigos e inimigos. Todo aquele que não segue as
ordens do clã presidencial é considerado inimigo efetivo ou potencial, seja ele
real ou imaginário. Afirma-se, assim, o ódio ao próximo.
2) A sociedade e o
mundo em geral são vistos pelo prisma de uma teoria conspiratória, com inimigos
invisíveis urdindo um grande complô internacional, sendo o atual governo o
bastião de “valores”, evidentemente os seus.
3) O presidente considera-se
investido de uma missão de caráter absoluto, como se tudo por ele proferido
devesse ser simplesmente acatado, no estilo ele manda e os outros obedecem.
4)
Deduz-se daí um culto à personalidade, particularmente presente em sua
apresentação de si como se fosse um mito, uma espécie de messias, numa
deturpação dos valores religiosos.
5) A destruição e a morte tornam-se traços
principais dessa arte de (des)governar, com as instituições representativas,
liberais, sendo atacadas e dando livre circulação ao coronavírus, com atrasos,
incompetência e tergiversações sobre vacinas, apregoando o contágio por
aglomerações e ausência do uso de máscaras. A morte pode circular livremente!
Ora,
o conservadorismo no Brasil, fortemente ancorado em valores morais de cunho
religioso, está baseado no amor ao próximo, e não em sua exclusão ou potencial
eliminação. Sua expressão política na representação parlamentar se faz pelo
diálogo e pela negociação, o outro não podendo ser tomado como inimigo. Mais
precisamente, não haveria como aceitar o culto à personalidade, muito menos
ordens a serem simplesmente acatadas, pois, nesse caso, o poder laico estaria
adotando uma forma religiosa. E conforme assinalado, a vida é algo sagrado, não
pode ser tratada com incúria e desprezo. Torna-se nítido que o conservadorismo
começa a distanciar-se do bolsonarismo, embora sua imagem continue atrelada a
ele.
Quanto
ao liberalismo, se o seu componente econômico já está sendo relegado a uma
posição secundária, se não irrelevante, outro valor seu começa a ser
contaminado, a saber, a sua feição propriamente política. Vocações autoritárias
do bolsonarismo são inadmissíveis para um liberal. A política enquanto
distinção amigo/inimigo é o contraponto de tudo o que essa concepção defendeu
no transcurso de sua história. O culto à personalidade lembra tanto o
stalinismo quanto o nazismo e o fascismo, com a glorificação e a santificação
do líder máximo. A distinção dos Poderes, tão cara, está sendo cotidianamente
testada, como se as instituições representativas fosse um obstáculo ao
exercício do poder que devesse ser eliminado.
Eis
alguns aspectos que serão centrais nas próximas eleições e para o destino do
País, cujas distinções aparecerão mais claramente numa abertura para o futuro –
isso se algumas dessas correntes não optarem por um jogo de esconde-esconde, do
qual o bolsonarismo sairá vencedor.
"O drama que
pesa sobre a cabeça de prefeitos, governadores e presidente também exige
que, solidários, cumpramos uma agenda de bom senso, com racionalidade e
cabeça fria"
Enquanto se discute no Supremo se a responsabilidade pelo isolamentoé
do Presidente ou é de governadores e prefeitos, quem está mesmo na ponta
do Brasil real são os prefeitos. À exceção de prefeitos de grandes
cidades, mais de 95% deles são quem sofrem literalmente na pele e,
também, na consciência, a responsabilidade sobre a saúde física e
econômica de seus munícipes. E, ainda, cada dia mais perto da eleição
municipal. Aqui, em Brasília, o presidente sofre pressões de todos os
lados, mas quem é mais alvo de cobrança é o prefeito. Assim como o
presidente tem que se sujeitar a decisões do legislativo e judiciário,
os prefeitos também sofrem essas restrições.
Vou citar um exemplode um dos maiores centros de produção agrícola
do país, Sinop, em Mato Grosso. Cito Sinop, porque lá estive quando o
município tinha apenas cinco anos de idade. Hoje, aos 45 anos da
fundação, tem quase 150 mil habitantes. Nesta crise sanitária, teve
pouco mais de 10 casos confirmados e apenas um hospitalizado. E além da
pandemia, mantém um alerta de dengue. Há poucos dias, com base em
decreto do governador, a Prefeita foi para a TV anunciar, tendo como
metas a saúde e a preservação da economia, a reabertura do comércio.
“Foi preciso coragem para tomar decisões”, disse ela. Reabertura sem
aglomerações, com distanciamento de 2 metros, máscaras, higienização de
mãos e lugares, com a recomendação de ficar em casa quem não tiver
absoluta necessidade de sair. Hotéis, feiras livres, lanchonetes e
restaurantes reabertos, mas não escolas. A Justiça restringiu a
abertura, que não atinge missas e cultos, academias e ginásios. Na
decisão, o Juiz argumentou “uma agenda de bom senso”.
Imagino
quantas são as noites mal-dormidas de prefeitos exigidos por todos os
lados, neste momento crucial de pressão de um vírus que não se conhece
bem, mas se sabe que está entre nós, e de uma crise econômica que se
agrava a cada dia de parada no comércio, serviços e sobretudo nos
avulsos e informais. Também quantas noites mal-dormidas de pais e mães
de família a pensar na alimentação dos filhos no dia seguinte, muitos
dependendo da merenda na escola fechada.
Nós,
brasileiros, nos qualificamos como solidários. E é o que o momento
exige. Solidariedade nos cuidados para não sermos vítimas ou condutores
do contágio. E solidariedadepara não sermos instrumentos do caos
econômico que pode virar caos social. O drama que pesa sobre a cabeça de
prefeitos, governadores e presidente também exige que, solidários,
cumpramos uma agenda de bom senso, com racionalidade e cabeça fria.
O flagelo dos refugiados venezuelanos, que parecia apenas dramático,
tornou-se trágico.
Mesmo quem não entende nada de política é capaz de
enxergar a politicagem por trás do surto de violência que empurrou de volta para a Venezuela cerca de 1.200 refugiados
da ruína bolivariana de Nicolás Maduro. Os governos federal e de
Roraima meteram-se num jogo de empurra que condiciona o socorro
humanitário à superação da mesquinharia política.
Premido pela má
repercussão da explosão de irracionalidade que devastou o que restava de
solidariedade na cidade de Pacaraima (RR), Michel Temer reuniu um grupo
de ministros em pleno domingo. Ao final do encontro, o Planalto
divulgou uma nota para informar, essencialmente, que o presidente e seus
auxiliares avaliam que realizam um ótimo trabalho no gerenciamento da
crise dos refugiados. O texto esclarece que Brasília “já tomou providências que somam mais de R$ 200 milhões.”Anuncia novas medidas.
Mais do mesmo: abrigos, reforço policial, isso, mais aquilo e,
sobretudo, a intensificação do processo de “interiorização” dos
refugiados, distribuindo-os por outros Estados.
A certa altura, a
nota que Temer mandou divulgar insinua que o Planalto só não ajuda mais
porque o governo de Roraima, comandado pela governadora Suely Campos
(PP), não deixa. “O governo continua em condições de empregar as
Forças Armadas para a Garantia da Lei e da Ordem em Roraima”, escreveu a
assessoria de Temer na nota. “Por força de lei, tal iniciativa depende
da solicitação expressa da senhora governadora do Estado.” [a governadora Suely Campos está certa em não solicitar GLO - caso ela solicite soldados das FF AA do Brasil serão utilizados contra brasileiros. Notem que os brasileiros suportaram perder empregos para os imigrantes venezuelanos; ter serviços de saúde, já precários, divididos com os nosso vizinhos da Venezuela; ter ajuda humanitária, que muitos moradores de Roraima também necessitam, dividida com as vítimas do Maduro; mas, agora ser assaltados por venezuelanos é dificil - até este momento não foi apresentada nenhuma prova, nenhum indicio de que os assaltantes não são venezuelanos.] A
senhora governadora subiu no caixote. Mandou dizer, por meio de um
assessor: “Essa nota é infeliz e eleitoral. Nós já pedimos inúmeras
vezes o envio das Forças Armadas, e fomos ignorados. Surpreende o
desconhecimento do governo federal do problema em Roraima.” Candidata
à reeleição, Suely Campos é adversária ferrenha de Romero Jucá
(MDB-RR), o líder do governo Temer no Senado. A portas fechadas, a turma
do Alvorada destilou a suspeita de que Suely e seus correligionários
estimulam reações xenófobas contra os venezuelanos. Em Roraima, a
governadora e seus auxiliares acusam a União de omissão. Quem
observa à distância o empurra-empurra, com seus reflexos sobre a vida
dos venezuelanos pobres que pedem socorro, fica sem saber para onde
caminha a humanidade. Mas observa com muita atenção, porque, quando
souber, correrá para o outro lado.
Vídeo revela que o partido Solidariedade foi criado
com a ajuda de uma gigantesca falsificação que usou os dados de milhares de
desempregados
Fundar um
partido político é tarefa relativamente simples. Basta redigir um estatuto (um
conjunto de normas a ser seguidas pelos futuros filiados e dirigentes) e reunir
500 000 assinaturas de apoio. Depois, deve-se enviar o pedido de registro à
Justiça Eleitoral, que inicia a fase de checagem dos dados apresentados. Esse
processo, ao menos em teoria, é rigoroso. As fichas dos eleitores são separadas
por região e encaminhadas aos cartórios para conferência. Os técnicos analisam
o material, cruzam os dados cadastrais e verificam a autenticidade das
assinaturas, uma a uma — tarefa que pode durar meses. O partido
Solidariedade passou pelo escrutínio. Em 2013, o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) decidiu conceder o registro à legenda, apesar da descoberta pelos
ministros da corte de “problemas pontuais” em algumas fichas. Problemas,
sabe-se agora, que não tinham nada de pontuais. Eram, na verdade, indícios de
uma enorme fraude.
Para
conseguirem o número de assinaturas necessárias, os criadores do Solidariedade
recorreram à falsificação. Um vídeo obtido por VEJA revela que milhares de
“apoiadores” do partido eram falsos. O pessoal do partido teve acesso ao
cadastro de desempregados do Ministério do Trabalho e, usando identidades
reais, colocou-os como se fossem apoiadores do Solidariedade. Funcionava assim:
um grupo ligado ao atual presidente do partido, o deputado Paulinho da Força,
recebia cópia das guias preenchidas por desempregados que queriam obter o
seguro-desemprego. Com os dados, os falsificadores entravam em ação. No vídeo,
com dois minutos e vinte segundos de duração, um homem aparece explicando como
o trabalho era feito. “Estamos aqui com fichas do seguro-desemprego para dar
continuidade ao partido Solidariedade”, diz ele.
Na sequência, ele preenche a
ficha de criação do partido com as informações de um desempregado. Com o
auxílio de uma prancheta de luz, ele copia a assinatura: “Jogamos essa folha
aqui sem assinatura (mostra a ficha de apoio) e pegamos a folha com a
assinatura da pessoa (mostra a cópia da guia do seguro-desemprego). Vem a
transparência e conseguimos executar a assinatura, com 90% de qualidade”,
arremata o falsificador.
O
seguro-desemprego é um benefício administrado pelo Ministério do Trabalho,
pasta em que Paulinho da Força exerce influência desde o governo Lula e que
também foi alvo de um escândalo recente sobre venda de registros sindicais. Foi
do ministério que saiu o cadastro de desempregados, como informa o vídeo.
“Mandaram mais (guias do seguro-desemprego) para nós, umas 10 000 aí, para a
gente estar assinando”, conta o falsificador, deixando evidente que aquele lote
não era o primeiro pacote de documentos que lhe fora entregue. E prossegue: “Esse
é o trabalho que fazemos aqui no Solidariedade. Estamos exaustos. É dia e noite
fazendo isso aqui para o partido sair”.Uma segunda pessoa, que provavelmente
gravava as imagens, comenta em tom de protesto: “Para ganhar 200 contos”. E o
falsificador completa: “Pessoas grandes estão por trás disso”. Mas não diz quem
são elas.
O
falsificador não aparece nas imagens, e sua voz foi propositalmente distorcida
para proteger sua identidade. Portanto, é natural considerar a hipótese de a
denúncia ser parte de uma armação para prejudicar o partido. Ampliando a
imagem, porém, a reportagem de VEJA identificou a vítima do golpe e reconstituiu
a fraude. É a professora Camila Souza, que mora em Suzano, no interior de São
Paulo. Em dezembro de 2011, ela foi demitida da escola em que lecionava inglês
e deu entrada no pedido de seguro-desemprego no posto do Ministério do Trabalho
que funciona na cidade. Hoje, ela está desempregada. Ao ver sua assinatura na
ficha de criação do Solidariedade, Camila se espantou. “Nunca assinei isso.
Nunca mexi com partido nenhum. Minha assinatura foi falsificada”, disse. No
cartório eleitoral de Suzano, a ficha falsificada de Camila está no mesmo
pacote de outras 256 fichas de apoio ao Solidariedade — possivelmente, também
falsas.
A ficha
de Camila — que aparece no vídeo a que VEJA teve acesso — passou pelo crivo dos
funcionários da Justiça Eleitoral e foi considerada regular no processo que
viabilizou o registro do partido. Levando em conta o que relatam os
falsificadores no vídeo, outros milhares de pessoas também tiveram sua
assinatura falsificada como raspador da legenda. Durante a tramitação do
processo de registro do Solidariedade, a Procuradoria-Geral Eleitoral chegou a
defender uma investigação mais rigorosa diante dos indícios de fraude que já
haviam surgido. Em Brasília, por exemplo, os técnicos encontraram fichas com
nomes de dezenas de servidores públicos e até de um ministro do Tribunal de
Contas da União. Durante a checagem, descobriu-se que as assinaturas eram
falsas. Um detalhe chamou a atenção dos fiscais:tanto os servidores quanto o
ministro eram filiados a um sindicato comandado pela Força Sindical.
Diante do
que se sabe hoje, pode-se imaginar o que aconteceu, mas, na época, a Justiça
Eleitoral aceitou a explicação de que tudo se resumia a“problemas pontuais” e
deferiu o pedido de registro. As investigações, no entanto, prosseguiram pelo lado
criminal. Em março passado, o Ministério Público do Distrito Federal denunciou
seis pessoas como responsáveis pela falsificação das fichas dos servidores
públicos. Uma delas, Francisca Gleivaní Gomes Silva, é sogra do deputado
Paulinho da Força. Segundo os promotores, ela recebeu os dados dos servidores
que estavam no cadastro do sindicato da categoria, preencheu as fichas de apoio
e falsificou as assinaturas, usando exatamente o mesmo método descrito no
vídeo.
O Brasil
tem 35 partidos políticos registrados na Justiça Eleitoral. Poucos têm
identidade, programas definidos e uma linha ideológica mais ou menos clara,
como o PT e o PSDB, que governaram o país nas últimas duas décadas.
A maioria das demais legendas funciona como plataforma de negócios. Depois
de criado, o Solidariedade se alinhou a um grupo notório que reúne siglas como
PR, PP, PRB, PTB e Pros — agremiações que vivem de mercadejar apoio a
presidentes da República e, em tempos de eleição, a candidatos. Em troca de
seus segundos na propaganda eleitoral, cobram espaços generosos na máquina
pública. Quase sempre conseguem. Não há discussão de programas. Fecham-se
negócios.
O
Solidariedade tem onze deputados federais, 21 deputados estaduais, 65 prefeitos
e 1 500 vereadores. Tem direito a mais de 20 milhões de reais do fundo
partidário por ano e a 44 segundos na propaganda de TV. O Solidariedade e o
grosso desses partidos de aluguel tendem a se juntar à campanha de Geraldo
Alckmin (PSDB). Esse arco de alianças vai render ao tucano seis minutos diários
a mais no tempo de propaganda eleitoral — um empuxo e tanto em qualquer
campanha, mas que também pode se transformar numa grande dor de cabeça pela
simples razão de que esses partidos são quase sinônimos perfeitos de
escândalos.
Comprovada
a falsificação do Solidariedade, dirigentes do partido e servidores do
Ministério do Trabalho que manipularam as guias do seguro-desemprego podem
responder a processos criminais. Um ex-ministro do TSE ouvido por VEJAentende
que, demonstrada a fraude, o partido pode ser punido com a cassação do
registro, a medida mais extrema que a lei eleitoral prevê. Em maio, a Polícia
Federal realizou buscas no gabinete do deputado Paulinho da Força. Ele é
suspeito de comandar o esquema de corrupção no Ministério do Trabalho. Procurado
por VEJA, o parlamentar disse que desconhece qualquer fraude e responsabiliza
prováveis desafetos: “Alguém certamente montou esse vídeo para tentar denegrir
a imagem do partido”. O vídeo foi entregue à Procuradoria-Geral Eleitoral pelo
advogado e ex-deputado João Caldas da Silva, que até 2015 ocupou o cargo de
secretário-geral do próprio Solidariedade.