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O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, anunciou que enviará um documento para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até terça-feira, 21, questionando as urnas eletrônicas usadas nas eleições deste ano, que terminaram com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva sobre o candidato do seu partido, Jair Bolsonaro.
O presidente nacional do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto ao lado do presidente Jair Bolsonaro - EFE
Em um vídeo compartilhado por apoiadores de Bolsonaro nas redes sociais, Valdemar diz, sem entrar em detalhes ou apresentar provas, [alô repórter militante, detalhes, evidências, provas destinadas a sustentar denúncias, questionamentos, não são apresentadas para a imprensa e sim para a Justiça - no caso o TSE.] que o partido encontrou cerca de 250 mil urnas (quase metade do total, que é de 536 mil), fabricadas antes de 2020, que possuem o mesmo número de patrimônio e, por isso, não poderiam ser consideradas na eleição.
O Presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, afirma que no início da semana apresentará denúncia sobre as urnas no TSE. Encontramos problemas graves e o TSE terá que apresentar uma solução, diz ele. pic.twitter.com/URLY1MVvMe
— Bia Kicis (@Biakicis) November 19, 2022
“Vamos mostrar que essas urnas não podem ser consideradas. Não queremos propor novas eleições ou agitar o país, mas o TSE tem que decidir o que vai fazer”, disse o ex-deputado.
A declaração foi feita dez dias após a divulgação do relatório das Forças Armadas confirmando a lisura do processo eleitoral. O documento era a principal esperança dos apoiadores de Bolsonaro que não aceitaram a derrota do presidente.
O corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, afirmou que a auditoria divulgada pelo PL, partido de Jair Bolsonaro, foge da fiscalização permitida sobre as urnas, cita narrativas já derrotadas e tenta desacreditar o pleito às vésperas do primeiro turno.
Em despacho assinado nesta sexta-feira (30), o ministro também acionou o MPE (Ministério Público Eleitoral) para avaliar se foram divulgadas informações sabidamente falsas para atingir o sistema eletrônico de votação.
Gonçalves afirma que o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também é responsável pelo documento. Em ofício enviado ao tribunal, o dirigente partidário havia dito que apenas da equipe contratada na auditoria deveria responder pelo trabalho.
No mesmo ofício, o PL declara que não usou recursos públicos na elaboração do relatório, mas verba própria do partido.
A Folha mostrou que o IVL (Instituto Voto Legal) recebeu ao menos R$ 225 mil da sigla de Bolsonaro.
Segundo o ministro Gonçalves, o partido decidiu realizar "atividade paralela aos procedimentos de fiscalização" previstos pelo TSE. "Capta atenção o fato de que o conteúdo do documento não se detém sobre supostos aspectos técnicos do sistema eletrônico de votação, mas, sim, passeia por temas variados, muito deles a envolver narrativas derrotadas quando da rejeição, pelo Congresso Nacional, da proposta de adoção do voto impresso", afirma Gonçalves.
"Os pontos são tratados sem aprofundamento, tendo por linha mestra o esforço de apresentar um quadro especulativo de descrédito institucional da Justiça Eleitoral, às vésperas do pleito", diz ainda o corregedor.
Gonçalves ainda diz que os resultados da auditoria nem sequer poderiam ser aproveitados nas eleições deste ano, pois o PL planejava divulgar os dados em datas próximas ao primeiro e segundo turno.
Na quarta-feira (28) integrantes do partido de Bolsonaro divulgaram documento chamado "resultado da auditoria de conformidade do PL no TSE", de duas páginas, afirmando que há risco de invasão nos sistemas eleitorais. O papel tem o timbre do partido, mas não é assinado, e seria resumo de um relatório de mais de cem páginas.
O documento foi divulgado quatro dias antes do pleito, no momento em que Bolsonaro repete insinuações golpistas e aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto a presidente, atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O TSE chamou o papel de fraudulento, mentiroso e disse que a ideia da legenda era tumultuar as eleições. O presidente da corte eleitoral, Alexandre de Moraes, mandou o caso ser investigado no inquérito das fake news, que é relatado por ele mesmo no STF (Supremo Tribunal Federal).
O corregedor do TSE também pede para a área de tecnologia da informação do TSE informar sobre como foi a participação do PL nos procedimentos de auditoria que são liberados aos partidos. Ele também determinou envio das informações prestadas pelo partido ao inquérito no STF.
Os partidos políticos podem fiscalizar as eleições, mas há regras. É liberado, por exemplo, analisar o código-fonte das urnas.O PL chegou a enviar representantes ao TSE para avaliação do código, mas eles só assinaram uma lista de presença e não fizeram a inspeção.
Em maio, Bolsonaro disse que o PL contrataria uma empresa para auditar as eleições. Em tom de ameaça ao TSE, o mandatário afirmou, à época, que os resultados da análise poderiam complicar o tribunal se a empresa constatasse que é "impossível auditar o processo".
A ideia do chefe do Executivo era contratar o IVL, mas a empresa não conseguiu credencial do TSE. O PL, então, chamou para o serviço uma equipe comandada pelo engenheiro Carlos Rocha, o fundador do mesmo instituto.
À Folha Rocha disse que os achados da auditoria recomendam que o tribunal adote medidas de precaução.
Questionado sobre a chance de Bolsonaro usar o documento para levantar a tese de fraude no pleito, Rocha disse que "o objetivo do PL é colaborar de forma construtiva com a Justiça Eleitoral".
"Quem audita constrói valor para a organização auditada. O objetivo do PL é colaborar de forma construtiva com a Justiça Eleitoral. Com esta intenção positiva foi marcada uma audiência com o Ministro Alexandre de Moraes ontem, para apresentar os resultados e propor uma auditoria independente do funcionamento da urna eletrônica", disse o engenheiro.
Após a repercussão negativa sobre a auditoria, aliados de Valdemar Costa Neto tentaram desfazer a versão de que o presidente do partido havia embarcado nas investidas de Bolsonaro para tumultuar o pleito.
O corregedor do TSE, porém, apontou que o presidente do PL também é responsável pelo documento. "O relatório foi produzido e divulgado por iniciativa do PL, contando com a participação de seus dirigentes máximos, sendo lógico extrair do contexto a ciência e a anuência da agremiação com o conteúdo", escreveu Gonçalves.
Em tom de alerta, o TSE disse, ao reagir à auditoria, que já cassou parlamentares que divulgaram informações falsas sobre as eleições. A repercussão sobre o documento ainda marca novo episódio de atrito entre Moraes e Bolsonaro.
Às vésperas da eleição, Bolsonaro promove nova onda de ataques ao presidente do TSE.
Essa ofensiva começou após reportagem da Folha ter revelado que Moraes autorizou quebra de sigilo bancário do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, principal ajudante de ordens de Bolsonaro, por suspeitas levantadas pela Polícia Federal sobre transações financeiras feitas no gabinete do presidente da República.
Eleições 2022 - Folha de S. Paulo
PL vai divulgar documento que retoma estratégia bolsonarista de questionar as urnas eletrônicas, preparando o terreno para que o presidente conteste o resultado em uma eventual derrota
A quatro dias da eleição, a campanha de Jair Bolsonaro vai começar a divulgar nesta quarta um documento do PL que retoma a estratégia de questionamento da segurança do sistema eleitoral do TSE. O documento de duas páginas é visto na campanha bolsonarista como “o plano B” do presidente, caso seja derrotado por Lula no domingo. Em português claro, Bolsonaro já começou a preparar o terreno para questionar o resultado da votação. “Grandes organizações, com alto investimento em segurança da informação, frequentemente, têm sido alvo de sequestro dos seus sistemas, por organizações criminosas com objetivo de extorsão. O quadro de atraso encontrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), referente à implantação de medidas de segurança da informação mínimas necessárias, gera vulnerabilidades relevantes. Isto poderá resultar em invasão interna ou externa nos sistemas eleitorais, com grave impacto nos resultados das eleições de outubro”, diz o documento batizado de “Resultados da Auditoria de Conformidade do PL no TSE”.
O texto do PL afirma claramente que o resultado da eleição do próximo domingo pode ser manipulado dentro do TSE. “Somente um grupo restrito de servidores e colaboradores do TSE controla todo o código fonte dos programas da urna eletrônica e dos sistemas eleitorais. Sem qualquer controle externo, isto cria, nas mãos de alguns técnicos, um poder absoluto de manipular resultados da eleição, sem deixar qualquer rastro”, diz o texto. “Não foram encontrados os procedimentos necessários para proteger estas pessoas expostas politicamente (PEP) contra a coação irresistível, gerando outro risco elevado”, segue o documento do PL.
O partido de Bolsonaro também afirma que a “cadeia de fornecedores” de serviços de tecnologia ao TSE, formada por “terceiros”, oferece “risco substancial” de violação do sistema eleitoral. “A gestão de fornecedores da cadeia de tecnologias de informação e comunicação (TIC) mostra-se precária, segundo a autoavaliação enviada pelo TSE ao TCU e a constatação de que o TSE não possui, nem definida e nem implementada, uma política de segurança da informação no relacionamento com fornecedores. Considerando que cerca de dois terços da força de trabalho compõe-se de terceiros, trata-se de um risco substancial”, diz o documento.
O PL também sustenta que até os boletins de urna podem ser falsos na eleição do próximo domingo: “Sem a assinatura eletrônica qualificada, com um certificado digital da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil), os documentos gerados pela urna eletrônica, incluindo a zerésima, o registro do voto e o boletim de urna, não têm a garantia da presunção legal de que o seu conteúdo é legítimo e verdadeiro, definida em lei”.
Os principais trechos do documento do PL que será usado por Bolsonaro para rejeitar o resultado das eleições de domingo, caso ele seja derrotado
Radar - Coluna em Revista VEJA