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quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

O ESTADO BRASILEIRO ESTÁ GRAVEMENTE ENFERMO - Percival Puggina

É dos bons parlamentares que vamos precisar, sempre, para apoiar os bons governos e obstar os maus.
Um mau sistema político adoece suas instituições e perturba a sociedade a que elas deveriam servir. Para compreender isso talvez nos sirva uma analogia. Responda: você acha que de uns anos para cá nascem mais bandidos no Brasil? 
O aumento da criminalidade nas últimas décadas decorre de algum bug genético que se infiltrou na sociedade brasileira? 
Claro que não. A criminalidade aumenta, estimulada por outros fatores, principalmente em virtude da impunidade.

Do mesmo modo, então: você crê que foi espontâneo o processo de degradação da política brasileira percebido de uns anos para cá? Claro que não. Há uma causa estrutural para isso, relacionada às características do modelo político vigente no país. Realmente espontânea, nessa realidade, é a tendência ao agravamento, pois o modelo estimula seus agentes a legislar, agir e julgar em favor da própria má conduta e de suas perversas motivações.

Certamente sem ter isto em conta, escreveu-me uma leitora discorrendo sobre a inutilidade de se pedir ao eleitor que vote bem, visto que ele só pode escolher entre aqueles que os partidos indicam e na cidade dela, os dois candidatos a prefeito etc. etc.. Pois essa mensagem expressa talvez o núcleo da dificuldade que se enfrenta para resolver gravíssimo problema estrutural da política em nosso país, dando causa aos malefícios que tanto nos atingem. Numa eleição, em qualquer eleição, seja municipal (como a recente), estadual, ou federal, toda a atenção e a esperança nacional converge para a escolha daquele que irá governar. E quase nenhuma preocupação com a qualidade da composição do respectivo parlamento, órgão mais importante do poder político em qualquer democracia.

Observe quanta frustração causou às expectativas nacionais a reação negativa do Congresso ao presidente eleito em 2018. As razões do voto presidencial vencedor não foram as mesmas dos votos parlamentares vitoriosos, e foi a partir daí que as raposas retomaram o comando do galinheiro
As medidas provisórias passaram a falecer nas gavetas, os projetos do governo começaram a ser desfigurados, não raro, transformados no seu inverso, a pressão pelo aumento do gasto público disparou e os partidos robusteceram seu caixa. A grave enfermidade institucional do Estado brasileiro tende a se acentuar e não serão os homens de governo que o irão sarar com a varinha de condão da “vontade política”, quer sejam prefeitos, governadores ou presidentes. Os que o conseguirem, nos seus âmbitos de gestão, só o farão se e quando suas virtudes pessoais encontrarem ecos majoritários igualmente virtuosos nos respectivos parlamentos. Ou seja, é dos bons parlamentares que vamos precisar para apoiar os bons governos e para obstar os maus governos. Fácil de entender.

Mas difícil de fazer, não? Claro. Quem disse que a democracia é fácil? Ela ficaria menos enrolada mediante um conjunto de reformas que incluam pelo menos, no caso brasileiro, voto impresso, distrital e facultativo e separação entre as funções de estado, governo e administração. Enquanto isso não ganhar urgência na pauta do eleitor, continuaremos a soprar contra o vento e a comemorar vitórias de Pirro.

Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.


domingo, 11 de dezembro de 2016

O Impa oferece uma aula de má aritmética

Ministro da Educação reconhece ‘tragédia’ e diz que investimentos precisam ter ‘qualidade’

Diante dos resultados desastrosos da Educação brasileira, o ministro Mendonça Filho reconheceu que se vive uma “tragédia” e ensinou: “Não basta só investir mais, tem que investir com qualidade”. Até aí tudo bem, mas seria o caso de ele estudar um fato em que, tendo investido em qualidade, o governo desmontou um sucesso. (Em tempo: não foi o governo dele, mas o da doutora Dilma). 

Em 2015, o país soube da emocionante história das trigêmeas Fábia, Fabiele e Fabíola Loterio, de 15 anos, que viviam em Santa Leopoldina, município de 12 mil habitantes da zona rural do Espírito Santo. Morando numa casa sem internet, inscreveram-se na Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas, e duas empataram no primeiro lugar entre os concorrentes capixabas, levando medalhas de ouro, a terceira ficou em segundo com a prata

A garotada da cidade fez um pedágio e arrecadou dinheiro para custear a viagem das três ao Rio, onde receberiam suas medalhas no Teatro Municipal. Foi a primeira vez que entraram num avião.   A cereja desse bolo era o acesso de todos os medalhistas ao Programa de Iniciação Científica (PIC). Dez vezes por ano elas iam a Vitória, onde durante um dia assistiam a aulas dadas por professores da Federal do Espírito Santo.

Havia um detalhe meio girafa nessa iniciativa. Ela nascera de uma ideia da Sociedade Brasileira de Matemática, mas tanto a Olimpíada quanto o PIC foram anexados ao Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, um dos centros de excelência da academia brasileira. O que uma coisa tinha a ver com a outra, nunca se soube. Em 2016, o orçamento da Olimpíada (R$ 53 milhões) ultrapassou em muito o do Impa (R$ 36,5 milhões). O rabo ficou maior do que o cachorro. 

Num passe de mágica, os educatecas sumiram com a alma do PIC, substituindo-o por um programa de incentivo a professores. Pode ser a melhor ideia do mundo, mas não tem nada a ver com o objetivo inicial do PIC. Uma das explicações diz que o programa era caro (R$ 12 milhões), e a ida dos medalhistas a universidades foi substituída por aulas em escolas locais. Além disso, criou-se um sistema de ensino à distância. Esse PIC 2.0 custa R$ 9 milhões. 

Neste ano, as trigêmeas de Santa Leopoldina, hoje matriculadas num Instituto Federal, não tiveram aulas presenciais, e o gatilho da internet não ficou à altura do programa anterior. Mesmo assim, na Olimpíada deste ano Fabiele ganhou mais um ouro, Fabíola teve prata, e Fábia, bronze.  Sem o PIC, a Olimpíada de Matemática é apenas um evento, tão ao gosto da marquetagem. 

Toda essa história chega a um grande final quando a coordenação do programa informa que no ano que vem, com a verba de R$ 9 milhões, o PIC 1.0 será restabelecido (sem o custeio do transporte, típica malvadeza de burocrata), convivendo com o 2.0. Daqui a alguns meses o Instituto de Matemática informará como R$ 12 milhões caberão em R$ 9 milhões. Caso único em que o todo será menor do que a soma das partes.


O MARECHAL FLORIANO E O DOUTOR RENAN
Muita gente não gosta de Floriano Peixoto, o Marechal de Ferro. Em 1892, um senador-almirante e políticos sediciosos desafiaram-no. Ele avisara: “Vão discutindo, que eu vou mandando prender”. Encheu a cadeia, e o advogado Rui Barbosa bateu às portas do Supremo Tribunal Federal para soltá-los. Floriano avisou: “Se os juízes concederem habeas corpus aos políticos, eu não sei quem amanhã lhes dará o habeas corpus de que, por sua vez, necessitarão”. 

Patrioticamente, como diria Renan Calheiros, o Supremo negou o habeas corpus por dez votos a um.  Renan, como Floriano, é alagoano, e prevaleceu sem comandar um único soldado fardado. 

PISCOU
Durante a crise dos mísseis russos colocados em Cuba, o mundo esteve com um pé na Terceira Guerra Mundial, e, quando Moscou deu meia volta diante do bloqueio naval imposto pelo presidente John Kennedy, o secretário de Estado, Dean Rusk, disse:
Eles piscaram.
Por seis votos a três, o Supremo piscou.


DE PIRRO@EDU
Senador Renan.
Sou o rei Pirro e ganhei uma grande batalha contra os romanos em 279 A.C. Depois, ferrei-me.

Sua vitória deu-me inveja. Fiquei a pensar no que o Supremo Tribunal Federal fará com o senhor quando chegar a hora do julgamento de seus processos.

Seu amigo solidário,
Pirro, rei de Épiro e da Macedônia.

EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e mora ao lado da Borracharia São Jorge, de seu amigo Geraldão.
Ele acha que Geraldão vai em cana se passar um dia inteiro recusando-se a assinar um documento trazido por um oficial de Justiça. 

BODE
O piso de 65 anos como idade mínima para a aposentadoria das mulheres, equiparando-as aos homens, é um bode. Está lá para sair da sala. 

Quando o ministro Henrique Meirelles afirmou que “nada é inegociável” no projeto, não quis dizer que tudo é negociável, mas a idade das mulheres foi posta lá para ser cavalheirescamente retirada.

REGISTRO
O presidente Michel Temer não militou na articulação da anistia do caixa dois. Discutia a possibilidade de vetá-la, caso chegasse à sua mesa. 
Fonte: Elio Gaspari - O Globo

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