"Se algo acontecer comigo, o próprio governo
pode ser prejudicado", diz ministro do TCU
Augusto
Nardes, relator das contas de Dilma de 2014 no Tribunal, se diz ameaçado e
pediu reforço de sua segurança em Brasília
O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU),
Augusto Nardes, relator
das contas do governo de 2014, tem afirmado que está recebendo ameaças - e que,
se algo ruim acontecer a ele, o governo pode sair prejudicado. "Não estou
acusando ninguém, mas temos que trabalhar com tranquilidade," afirmou, em
entrevista por telefone. "Não tenho nada contra nenhum presidente. Meu
trabalho é prestar contas à sociedade." Em nota, a assessoria de imprensa
do Tribunal informou que já chegaram ao gabinete de Nardes mais de 13.000
e-mails. "A grande maioria com mensagens solicitando a rejeição das
contas, mas muitas ofensas pessoais, palavras de baixo calão, ofensas aos
familiares e ameaças, como a frase 'vamos acabar com você.'"
Em meio à
pressão, o ministro solicitou à Secretaria Geral da Presidência do TCU que seu
deslocamento em Brasília fosse acompanhado por uma escolta. Além disso, em vez
de um, dois seguranças fazem a proteção da residência do Ministro. Segundo ele,
seus familiares também são alvo de ameaças, o que o faz estudar medidas para
protegê-los. "Ainda que tenha segurança em casa, talvez, no futuro,
solicite a segurança pessoal deles", diz. A Polícia Federal e a Polícia
Rodoviária Federal, diz o ministro, foram acionadas para que, em cidades onde
haja risco ou alta criminalidade, também haja escolta.
Nardes
afirma que, no última fim de semana, houve uma série de ataques voltados à
equipe técnica do tribunal. "Eu, pessoalmente, já vinha sofrendo ameaças,
mas os auditores técnicos ainda não. Também pedi para a presidência do tribunal
reforçar a segurança deles", citou. Em conversa com um secretário, cujo
nome Nardes preferiu não citar, o auditor disse que chegou a ser sabatinado com
diversas questões pessoais pela internet. "A pressão faz parte do jogo
democrático, mas a equipe técnica não podia sofrer esse tipo de
consequência", diz. O relator já manifestou a intenção de votar pela
rejeição das contas de Dilma. Na sexta-feira passada, a defesa da presidente
apresentou a última defesa para os indícios de irregularidades levantados pelo
TCU, entre eles, as chamadas "pedaladas fiscais". No total, o
Tribunal questionou 15 pontos sobre as contas da presidente. Após uma análise
técnica, o voto de Nardes será levado a julgamento em plenário, que deve
ocorrer na sessão de 14 ou 21 de outubro
Entre as
principais acusações a Dilma estão as pedaladas e a liberação de créditos
orçamentários sem a aprovação do Congresso. A primeira manobra consiste no
represamento de recursos da União a bancos públicos, que ficaram obrigados a
arcar com o pagamento de benefícios como seguro-desemprego e o Bolsa Família. A
defesa do governo nega irregularidades, alegando que a prática já existia em
anos anteriores.
Zelotes - Citado na Operação Zelotes,
que apura esquema de corrupção e tráfico de influência no Conselho
Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), o ministro voltou a afastar
acusações de envolvimento. Os investigadores da Polícia Federal teriam chegado
a Nardes ao seguir o dinheiro recebido por um escritório do advogado José
Ricardo da Silva, que prestava serviços de consultoria a empresas suspeitas de
pagar suborno a conselheiros do Carf. Recursos dessa consultoria teriam sido
transferidos a uma firma - a Planalto Soluções e Negócios - que teve o ministro
como sócio.
"A
empresa está parada há mais de cinco anos. Não acompanho mais e não há nenhum
fato novo, até onde eu sei", diz. Nardes acrescenta que foi sócio da
Planalto Soluções e Negócios com o seu sobrinho, o advogado Carlos Juliano
Ribeiro Nardes, mas se desligou formalmente da empresa em maio de 2005, alguns
meses antes de tomar posse no TCU.
Fonte: Revista VEJA