Agora, com a Igreja Católica
A Agência
Brasileira de Inteligência (ABIN), que se nega a ser reconhecida como o
Serviço Secreto do governo, mas que é o que é, espiona padres, bispos e
cardeais que preparam o Sínodo da Amazônia convocado pelo Papa Francisco
e a realizar-se em Roma a partir da primeira semana de outubro próximo. Foi Jair Bolsonaro
que, ontem, confirmou a informação publicada pelo jornal O Estado de S.
Paulo em fevereiro último e desmentida à época pelo Gabinete de
Segurança Institucional da presidência da República. Bolsonaro não falou
em “espionagem”. Preferiu usar o termo “monitorar”, que significa
vigiar, acompanhar. “Tem muita influência
política lá, sim”, afirmou Bolsonaro em almoço com jornalistas no
quartel-general do Exército, em Brasília. Quando lhe perguntaram sobre o
monitoramento da Abin, respondeu que a agência monitora “todos os
grandes grupos”. Quando lhe perguntaram se o Papa é de esquerda,
esquivou-se:
– Não vou arrumar confusão com os católicos. Só posso dizer que o Papa é argentino.
[o Sínodo da Amazônia é um assunto extremamente complexo, por envolver a Igreja Católica e parte dos opositores do presidente da República Federativa do Brasil vão tentar criar uma área de conflito.
Com certeza fracassarão, visto que Sua Santidade, Papa Francisco, saberá distinguir os assuntos materiais dos espirituais, visto o que consta do Evangelho de Marcos,
Mc 12,13-17,:
A propósito, o link acima leva direto a uma Homilia sobre o assunto.]
O Sínodo reunirá padres,
bispos, arcebispos e cardeais dos nove países por onde se estende a
Amazônia e deverá ser presidido pelo próprio Papa. Em discussão,
mudanças climáticas, situação dos povos indígenas e desmatamento, temas
considerados de esquerda pelo governo Bolsonaro e pelas Forças Armadas
brasileiras. Escolhido pelo Papa, o
relator do Sínodo será o cardeal brasileiro dom Cláudio Hummes. Foi ele o
único cardeal a aparecer na foto que marcou a primeira aparição pública
de Francisco como Papa no balcão da Basílica de São Pedro, no Vaticano.
O dois são amigos desde que o Papa era arcebispo de Buenos Aires.
Na única entrevista que
concedeu depois de ter sido nomeado relator e representante pessoal do
Papa no Sínodo, dom Hummes disse que Francisco quer “pressionar” os
governos da região a agirem para preservar o meio ambiente na Amazônia e
cuidar melhor dos povos que vivem ali. Foi por encomenda de dom
Humes que a Igreja Católica divulgou uma carta na última sexta-feira
onde afirma que os bispos envolvidos na organização do Sínodo estão
sendo “criminalizados” e tratados como “inimigos da Pátria”. A Igreja
nega que o Sínodo represente alguma ameaça “à soberania nacional”.
Essa será a próxima
encrenca que o governo Bolsonaro irá enfrentar. Em 17 de setembro
próximo, Bolsonaro discursará na abertura de mais uma assembleia anual
da ONU, em Nova Iorque. Ativistas ambientais de diversos países preparam
uma recepção à altura do presidente que apontam como inimigo da
natureza.
Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - Veja