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domingo, 13 de outubro de 2019

A banca viciou-se nos juros altos - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Bancos lucram tanto com quem paga que isso compensa calotes que tomam

A Selic está em 5,5% ao ano, mas a mordida dos juros do cartão de crédito cresceu quase 10%

O economista-chefe da Febraban, Rubens Sardenberg, fez uma estranha associação entre os juros altos da banca e a situação da economia:
“O aumento da inadimplência, a queda lenta do desemprego e o baixo crescimento da renda criam alguma cautela do ponto de vista de quem está concedendo o crédito”. 

A cautela poderia levar a uma menor oferta de crédito, não a uma subida nas taxas de alguns empréstimos. A Selic está em 5,5% ao ano, algumas taxas caíram, mas a mordida anual dos juros do cartão de crédito parcelado foi de 163,1% para 177,3%. [a taxa do cheque especial do BB, para clientes 'estilo', com limite acima da média, não utilizado, apresenta CET mensal de 12,80% e anual 323%.]
Indo-se ao livro “Uma chance de lutar”, a autobiografia da senadora Elizabeth Warren, candidata a presidente dos Estados Unidos pelo partido Democrata, vê-se a seguinte cena:
Pouco antes da crise de 2007 ela deu uma palestra para executivos do Citibank e disse que eles poderiam conter as inadimplências (e as bancarrotas familiares) parando de emprestar a quem estava em dificuldade
Ao que um dos caciques presentes tomou a palavra:
“Professora Warren, gostamos muito de sua exposição, mas não temos a intenção de parar de emprestar a essas pessoas. São eles quem garantem a maior parte de nosso lucro.” 

Cobrando juros altos para quem parcela as dívidas do cartão de crédito, a banca lucra tanto com quem paga que isso compensa os calotes que toma. O Citi continuou apostando e nunca mais convidou a professora Warren. Em 2008, o banco foi às cordas, salvou-se com um socorro de US$ 20 bilhões da Viúva e hoje é uma sombra do que foi. Já a professora, elegeu-se senadora e lidera (por pouco) algumas pesquisas de preferências entre os candidatos do partido Democrata.

(...)
 
Não sou o Macri
Bolsonaro tem repetido um bordão sempre que um çábio da ekipekonômica pretende ensinar-lhe o que fazer:
“Eu não sou o Macri”.
O presidente argentino Mauricio Macri fez o que os çábios recomendavam e está terminando o mandato com falta de votos e excesso de apupos. 

Por mais que o bordão pareça categórico, resta saber quem é Jair Bolsonaro.
Os çábios liberais garantem que Macri fritou-se por não ter feito tudo o que propunham, mas é possível que eles estejam tomados pela Síndrome de Minoru Genda.
Genda foi o oficial da Marinha japonesa que em 1941 planejou o ataque à base americana de Pearl Harbor e forçou sua entrada na Segunda Guerra Mundial.

Até morrer, em 1989, o almirante Genda garantia que o ataque foi uma boa ideia, que só deu errado porque faltou completá-lo com um segundo bombardeio.
Quem sofre da Síndrome de Minoru Genda nunca admite que teve um má ideia. Sempre atribui a derrota a quem decidiu não radicalizar uma iniciativa que, desde o início, daria errado. 

Aras em Roma
Aproveitando sua passagem por Roma, o procurador-geral Augusto Aras precisa pedir a proteção de Santa Dulce dos Pobres e aos santos de todos os altares da basílica de São Pedro. 

O doutor ainda não teve tempo de mostrar a que veio e já pegou duas lombadas.
Faltou pouco para que sua romaria fosse paga pela Viúva. Nomeou um general para sua assessoria especial de assuntos estratégicos (ganha uma viagem a Caracas quem souber para que serve isso numa procuradoria-geral) e exonerou-o oito dias depois.
A PGR informou que a exoneração se deu porque em uma semana ele cumpriu a sua missão. Fica combinado assim. [Aras pagou sua própria passagem e demais despesas;
Também foram ao Vaticano Alcolumbre e Maia - quem bancou passagens e demais despesas? 
 
O poderoso Nabhan
Apesar de sua tumultuada passagem pelo Exército, o capitão Jair Bolsonaro aprendeu as lições da hierarquia.
O presidente da União Democrática Ruralista, Luiz Antônio Nabhan Garcia, foi um dos seus primeiros aliados, defendeu a saída do Acordo de Paris e a fusão do Ministério da Agricultura com o do Meio Ambiente e poderia ter sido nomeado para o cargo. Não o foi, e ficou com a Secretaria Especial de Assuntos Fundiários.

Em dez meses, detonou os generais que haviam sido colocados na Funai e no Incra. O general da Funai disse que ele “odeia os indígenas”, e o do Incra disse que havia se tornado uma “pedra no sapato” de “verdadeiras organizações criminosas”.
Nabhan é um litigante por temperamento, mas a ministra da Agricultura é a doutora Tereza Cristina. Se a hierarquia prevalecer, ele acabará entendendo isso.
 
Coluna em Folha de S. Paulo e O Globo - 13 outubro 2019 - Elio Gaspari, jornalista
 
 

domingo, 6 de outubro de 2019

Papa Francisco abre Sínodo da Amazônia com missa voltada à floresta - Correio Braziliense


O Sínodo especial, que começou hoje e continua até o dia 27 de outubro, se tornou um dos mais controversos gestos do papado de Francisco

 Papa na abertura da Assembléia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica (foto: Tiziana Fabi/AFP)
O Papa Francisco celebrou neste domingo (6) uma missa de abertura do Sínodo da Amazônia na Basílica de São Pedro, com atenção voltada aos incêndios na floresta. No local estavam povos indígenas e mais de 180 cardeais, bispos e padres.

O sínodo especial, que começou hoje e continua até o dia 27 de outubro, se tornou um dos mais controversos gestos do papado de Francisco. O encontro vai discutir questões ambientais, além de temas voltados à Igreja Católica em territórios amazônicos, como a presença da instituição junto a povos nativos da floresta. 


Correio Braziliense

domingo, 1 de setembro de 2019

A próxima crise contratada pelo governo Bolsonaro - Blog do Noblat - Veja

Agora, com a Igreja Católica



A Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), que se nega a ser reconhecida como o Serviço Secreto do governo, mas que é o que é, espiona padres, bispos e cardeais que preparam o Sínodo da Amazônia convocado pelo Papa Francisco e a realizar-se em Roma a partir da primeira semana de outubro próximo.  Foi Jair Bolsonaro que, ontem, confirmou a informação publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo em fevereiro último e desmentida à época pelo Gabinete de Segurança Institucional da presidência da República. Bolsonaro não falou em “espionagem”. Preferiu usar o termo “monitorar”, que significa vigiar, acompanhar.  “Tem muita influência política lá, sim”, afirmou Bolsonaro em almoço com jornalistas no quartel-general do Exército, em Brasília. Quando lhe perguntaram sobre o monitoramento da Abin, respondeu que a agência monitora “todos os grandes grupos”. Quando lhe perguntaram se o Papa é de esquerda, esquivou-se:
Não vou arrumar confusão com os católicos. Só posso dizer que o Papa é argentino.

[o Sínodo da Amazônia é um assunto extremamente complexo,  por envolver a Igreja Católica e parte dos opositores do presidente da República Federativa do Brasil vão tentar criar uma área de conflito.
Com certeza fracassarão, visto que Sua Santidade, Papa Francisco, saberá distinguir os assuntos materiais dos espirituais, visto o que consta do Evangelho de Marcos,
Mc 12,13-17,: 
DAÍ A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR E A DEUS O QUE É DE DEUS. 

A propósito, o link acima leva direto a uma Homilia sobre o assunto.]

O Sínodo reunirá padres, bispos, arcebispos e cardeais dos nove países por onde se estende a Amazônia e deverá ser presidido pelo próprio Papa. Em discussão, mudanças climáticas, situação dos povos indígenas e desmatamento, temas considerados de esquerda pelo governo Bolsonaro e pelas Forças Armadas brasileiras.  Escolhido pelo Papa, o relator do Sínodo será o cardeal brasileiro dom Cláudio Hummes. Foi ele o único cardeal a aparecer na foto que marcou a primeira aparição pública de Francisco como Papa no balcão da Basílica de São Pedro, no Vaticano. O dois são amigos desde que o Papa era arcebispo de Buenos Aires.
Na única entrevista que concedeu depois de ter sido nomeado relator e representante pessoal do Papa no Sínodo, dom Hummes disse que Francisco quer “pressionar” os governos da região a agirem para preservar o meio ambiente na Amazônia e cuidar melhor dos povos que vivem ali. Foi por encomenda de dom Humes que a Igreja Católica divulgou uma carta na última sexta-feira onde afirma que os bispos envolvidos na organização do Sínodo estão sendo “criminalizados” e tratados como “inimigos da Pátria”. A Igreja nega que o Sínodo represente alguma ameaça “à soberania nacional”.

Essa será a próxima encrenca que o governo Bolsonaro irá enfrentar. Em 17 de setembro próximo, Bolsonaro discursará na abertura de mais uma assembleia anual da ONU, em Nova Iorque. Ativistas ambientais de diversos países preparam uma recepção à altura do presidente que apontam como inimigo da natureza.


Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - Veja