Palocci incrimina Lula em ação sobre propinas da Odebrecht
O ex-ministro Antonio Palocci incriminou o ex-presidente Lula em ação
sobre propinas da Odebrecht. Palocci prestou depoimento nesta
quarta-feira, 6, perante o juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba, base
da Operação Lava Jato. Nesta ação, Lula é acusado de corrupção passiva e
lavagem de dinheiro sobre contratos entre a Odebrecht e a Petrobras.
Antonio Palocci confessou ter
praticados crimes na Petrobras. Ouvido como réu em um processo criminal
da Operação Lava Jato, o petista citou R$ 300 milhões da Odebrecht para o esquema do partido. “No jantar ocorrido no apartamento do presidente Lula, em que
participaram todas essas pessoas, o ex-ministro Palocci os convenceu e
os dissuadiu no sentido de que essa operação era escandalosa e que
poderia expor demais essa situação. Ficou clara toda a participação do
ex-presidente Lula”, afirmou o advogado Adriano Bretas, que defende
Palocci.
Durante duas horas, Palocci afirmou que está negociando um acordo
de delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato, mas que colaboraria
com a Justiça de forma espontânea. “No caso do Instituto, ficou claro que o assunto foi deliberado por
um conjunto de pessoas composto por Paulo Okamotto, José Carlos Bumlai,
Roberto Teixeira, o próprio Antonio Palocci, que não nega sua mea culpa,
que não se exime de sua responsabilidade, mas também admite que
integrava também esse colegiado o ex-presidente Lula, que participava e
acompanhou par e passo todo andamento dessa operação que culminou pela
compra desse imóvel”, afirmou Bretas.
Palocci, que seria o responsável pela conta do PT e de Lula com a
Odebrecht, confessou o esquema e citou reuniões com o
ex-presidente. Identificado como “Italiano” na planilha do setor de
propinas da Odebrecht, Palocci confessou pela primeira vez seus crimes
diante do juiz da Lava Jato. A conta do PT teria alcançado R$ 300 milhões. Lula, que era identificado como “Amigo”, teve a reserva de R$ 40 milhões. Palocci narrou a Moro que houve um acerto entre Odebrecht e o governo
Lula para prática de atos de ofício que beneficiassem a empresa, em
troca de propinas. O ex-ministro narra dois encontros que incriminam
Lula. Um deles com o empresário Emílio Odebrecht, em que foi acertado um
“pacote de vantagens indevidas”, tanto de negócios para empresa como
valores para o partido, segundo relatou outro advogado do ex-ministro
Tracy Reinaldet.
Um encontro foi durante a troca de governo, com a eleição da
ex-presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, havia preocupação da
Odebrecht de que a nova presidente não tratasse o grupo com os mesmos
privilégios. “Para comprar a boa vontade do novo governo, sobretudo a partir da
influência do ex-presidente Lula na presidente Dilma, a empresa
Odebrecht por intermédio de Emílio Odebrecht, propõe ao presidente Lula
um pacote de vantagens indevidas: composto pela compra do terreno do
Instituto Lula, pela compra do sítio em Atibaia e pela disponibilização
de R$ 300 milhões de vantagens indevidas para utilização em campanhas ou
para fins partidários ou pessoais. Para manter essa relação fluida
entre a empresa Odebrecht e o governo do PT.”
O Ministério Público Federal aponta que propinas pagas pela empreiteira chegaram a R$ 75 milhões em oito contratos com a estatal. Este montante, segundo a força-tarefa da Lava Jato, inclui um terreno de R$ 12,5 milhões para Instituto Lula e cobertura vizinha à residência de Lula em São Bernardo de R$ 504 mil. Além do ex-presidente, também respondem ao processo o ex-ministro
Antonio Palocci (Fazenda e Casa Civil/Governos Lula e Dilma), seu
ex-assessor Branislav Kontic, o advogado Roberto Teixeira, compadre de
Lula, o empreiteiro Marcelo Odebrecht e outros três investigados.
O advogado Cristiano Zanin Martins, defensor do ex-presidente Lula,
declarou em nota. “Palocci muda depoimento em busca de delação. O
depoimento de Palocci é contraditório com outros depoimentos de
testemunhas, réus, delatores da Odebrecht e com as provas
apresentadas. Preso e sob pressão, Palocci negocia com o MP acordo de
delação que exige que se justifiquem acusações falsas e sem provas
contra Lula. Como Léo Pinheiro e Delcídio, Palocci repete papel de
validar, sem provas, as acusações do MP para obter redução de pena.
Palocci compareceu ato pronto para emitir frases e expressões de efeito,
como “pacto de sangue”, esta última anotada em papéis por ele usados na
audiência. Após cumprirem este papel, delações informais de Delcídio e
Léo Pinheiro foram desacreditadas, inclusive pelo MP.” Cristiano Zanin
Martins
Fonte: O Estado de S. Paulo
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