Alexandre Garcia
Divergências - Poderes harmônicos e independentes? É hora de revisar essa história
O
presidente Jair Bolsonaro não tomou ivermectina e, portanto, não se
preveniu: foi infectado com a Covid-19. Segundo o último exame que fez,
ele ainda está doente e precisa ficar em casa para não transmitir o
vírus para os outros.
Mas está bem, está se tratando
com hidroxicloroquina. Infelizmente, tem pessoas que fizeram questão de
não tomar esse medicamento, postaram até textos na internet afirmando
que não tomariam, mas essas pessoas morreram porque o vírus é muito
rápido.
O
comandante do Exército, general Edson Pujol, disse em uma rara
manifestação pública que o Exército aumentou a produção de
hidroxicloroquina e que isso salvou milhares de vidas entre militares e
seus familiares.
Infelizmente algumas vidas foram
perdidas. Inclusive, de um amigo meu, o general Brizida. As cinzas dele
vão ser postas num monumento a ele, no comando de Operações Especiais do
Exército, em Goiânia, em breve.
Pujol mostra também a
presença de quase 30 mil militares no combate ao coronavírus e no
auxílio em todas as operações. Talvez seja uma resposta à fala
irresponsável do ministro Gilmar Mendes, que ligou o Exército a um
“genocídio” de brasileiros.
Além disso, o comandante
disse que o Exército está trabalhando na Amazônia e que houve uma
redução de 23% nas queimadas da região — enquanto isso, na Europa, houve
um aumento de 60% nos incêndios. É quase uma resposta àquele grupo de
investidores europeus e à imprensa europeia que fala mal do Brasil.
O
Brasil tinha quase 10% das florestas do mundo, hoje esse valor é de
quase 30%. As florestas do Brasil não aumentaram; as florestas do mundo é
que foram desmatadas. Eles derrubaram, desmataram e agora estão
xingando o Brasil, como uma espécie de propaganda. Aliás,
os investidores nacionais, que disseram que não iriam mais investir no
país caso o desmatamento não diminuísse, receberam um desafio de
investir em iniciativas sustentáveis e voltadas ao social, e na
infraestrutura básica da Amazônia.
Três grandes
bancos aceitaram o desafio: Bradesco, Itaú e Santander. É um trabalho
que a gente espera de grandes empresas. É um tipo de missão que mostra
responsabilidades para com o país que sustenta essas empresas.
O
presidente do Senado, Davi Alcolumbre, não deixou a Polícia Federal
cumprir o mandado de busca e apreensão no gabinete do senador José Serra
(PSDB-SP) alegando que há documentos no gabinete que são da Casa
legislativa.
Essa é a segunda vez que o Senado se
manifesta contra uma ordem judicial. quando o ministro Marco Aurélio
mandou tirar Renan Calheiros (MDB-AL) da presidência do Senado, a Casa
não obedeceu. Mas semana passada, a PF entrou no gabinete do deputado
Paulinho da Força (Solidariedade-SP) e a Câmara não impediu.
Mas
o poder Executivo tem obedecido às ordens da Justiça. Nesta
quarta-feira (22), uma juíza de São Paulo determinou que o passaporte
diplomático do fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus e de
sua mulher seja cancelado. A ordem foi obedecida,
mesmo sabendo que é o Itamaraty quem tem o poder administrativo de
conceder passaportes diplomáticos a quem o órgão acredita representar o
Brasil no exterior.
Assim como o governo acatou a
ordem de um juiz do Rio de Janeiro de não nomear Sergio Camargo para a
presidência da Fundação Palmares. Outra decisão judicial que foi
cumprida por parte do Executivo foi a não nomeação de Alexandre Ramagem
para a direção-geral da PF. Ou seja, o presidente
está atendendo as decisões do STF. O presidente da República foi eleito
para governar e mesmo assim tem juiz de primeira instância que tenta
impedir nomeações.
Até medida provisória o Supremo
Tribunal Federal já alterou. Essa MP nem sequer havia sido examinada no
Congresso — a Constituição determina que o Congresso Nacional deve
examinar textos de leis.
Parece que o STF não está
lendo lendo a Constituição. Está na hora de revisar essa história de
poderes independentes e harmônicos, quais são os limites da
interferência da Justiça em outros poderes.
Alexandre Garcia, jornalista - Gazeta do Povo - Vozes