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sábado, 14 de novembro de 2020

Procura-se a ciência do lockdown - Por Guilherme Fiuza

A Seita da Terra Parada anunciou a chegada da segunda onda. Ela quer te trancar de novo. Tudo bem, você topa. Mas com uma condição: que te mostrem os laudos comprovando que o lockdown resultou na detenção eficaz do contágio pelo coronavírus e na proteção aos grupos de risco. Pede os laudos agora, tá? Você precisa organizar logo a sua quarentena.

Pediu? Ótimo. E eles? Já te mostraram os laudos com a eficácia do trancamento geral na defesa da população contra a Covid? Não mostraram? Tudo bem, pede de novo. Eles estão muito ocupados espalhando a notícia da segunda onda, é preciso um pouco de paciência. Pediu de novo? Ótimo! Nada ainda? Que estranho.
Liga pro Mandetta. Ele com certeza tem esse atestado científico, porque vivia o dia inteiro na televisão dizendo para ninguém botar o nariz fora de casa que seria fatal. Ok, de fato ele foi filmado se abraçando e dançando com assessores num ambiente aglomerado, mas isso não tem nada a ver. A máscara de um picareta cairá mais cedo ou mais tarde, então ele não tem mesmo como se prevenir. Ligou pro Mandetta? E aí? Não atende? Insiste, que ele deve estar terminando um comício e daqui a pouco te explica tudo.

Enquanto isso vai ligando pro Butantã. Ligou? E aí? Caiu errado? Como assim? Na telefonia não existe mais esse negócio de “foi engano”, você deve ter discado errado. Ou melhor: teclado. Teclou certo? Estranho. Quem atendeu disse o quê? “Comitê do Bruninho”?! Não é possível. Você ligou pro Instituto Butantã e caiu no comitê de campanha do Bruno Covas?! É, então essa telefonia não presta mesmo. Tem que privatizar. Já privatizou? Então tem que estatizar.

Liga pro Dória. Ele deve ter outro telefone do Butantã. Ligou? Ele atendeu de primeira? Maravilha, o Dória é muito solícito mesmo. E aí, ele te deu outro telefone do Butantã? Não?! Por que? Disse que só te dá se você tomar a vacina chinesa? Espera aí, deve ter entrado uma linha cruzada. A vacina nem existe e você só queria um laudo do Butantã sobre a eficácia do lockdown... Por que você não disse isso com todas as letras? Ah, você disse? E aí, o que ele respondeu? A ligação caiu? É, não dá. Tem que privatizar. Ou melhor, estatizar. Faz o seguinte, dá uma ligada pra Fiocruz. Lá com certeza você consegue o atestado de eficácia do lockdown. Aí pode voltar tranquilo e convicto pro buraco. O que não dá é pra ficar na dúvida, que aí o vírus te pega. Esse vírus é que nem cachorro: se você demonstra insegurança ele te ataca.

Conseguiu falar com a Fiocruz? Maravilha! E aí, te deram os laudos da contenção da Covid pela quarentena horizontal? Não?! O que houve dessa vez? Eles disseram que os laudos existem mas não estão com eles? Ah, menos mal. Hoje em dia tem motoboy pra tudo. Estão com quem, os laudos? Com o Witzel?? A Fiocruz montou um plano de lockdown total com o Witzel e naquela confusão da chegada da polícia os documentos ficaram com ele? Poxa, que azar.

Bom, tenta pegar com ele assim mesmo. Não vai dar? Por que não vai dar? Ele se mudou? A Justiça despejou o Witzel do palácio? O que aconteceu? Não pagou o aluguel? Essa lei do inquilinato é absurda, coisa da ditadura. Por isso é que tem que parar tudo e fazer uma assembleia constituinte. Coitado do Witzel. Por que você não faz uma visita de solidariedade no cafofo novo dele e aproveita pra pegar a papelada científica do lockdown? Não vai dar? Por quê? Foi tudo perdido na mudança?!

Aí fica difícil. Não há ciência que aguente tantos incidentes. Vamos fazer o seguinte: como está a taxa média de letalidade da Covid? Abaixo de 70 anos é inferior à da gripe sazonal? Ok. Então liga pra Seita da Terra Parada, conta isso a eles e avisa para continuarem em lockdown mental, que você vai ficar aqui fora vigiando o perigo.

Guilherme Fiuza, jornalista - Gazeta do Povo - Vozes


quarta-feira, 20 de maio de 2020

A quarentena faliu - Gazeta do Povo

Guilherme Fiuza

Pandemia

Das redes sociais aos telejornais, a patrulha viral está em pé de guerra recitando números de mortos para dizer que mortos não são números. E quem é que pensa que mortos são números? Você! (segundo eles). A mensagem é clara: quem não se converter à Seita da Terra Parada é desumano e está brincando com vidas. Aí aconteceu o que ninguém esperava.

O governador de Nova York, Andrew Cuomo, adversário de Donald Trump e adepto do isolamento horizontal, deu uma entrevista bombástica. Nota rápida: governadores e prefeitos em várias partes do mundo hoje em dia passam a vida dando entrevistas bombásticas – e intermináveis, porque com recordes sucessivos de audiência não se brinca. Frequentemente são entrevistas macabras, como aquela do prefeito de São Paulo enumerando urnas funerárias, sacos para cadáveres e abertura de valas. Mas essa de Andrew Cuomo mudou tudo.

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Segundo o governador do estado americano mais atingido pela epidemia de coronavírus, 84% das pessoas que estão hoje hospitalizadas com Covid-19 estavam cumprindo as medidas de confinamento. Vamos repetir, porque você está achando que leu errado: apenas 16% dos pacientes de coronavírus internados hoje na rede hospitalar de Nova York não estavam na quarentena horizontal. Andrew Cuomo, que é adepto fervoroso do “fique em casa”, informou com todas as letras, “chocado” (nas palavras dele mesmo), que a imensa maioria dos doentes de Covid-19 estava em casa.

E agora?
Agora é o seguinte: você aí, militante furibundo da Seita da Terra Parada, que passa o dia patrulhando os outros nessa sua obsessão doentia de apontar assassinos, vai ter que se virar. Abrir a porta de casa e botar o pé na calçada, querido caçador de bruxas, não pode mais ter tipificado por você e seus capangas ideológicos como tentativa de homicídio. Que pena, né? Tava tão bom brincar de bancar o herói da ética humanitária contra o genocida da esquina, não tava? Pois é, mas agora acabou.

O seu pretexto covarde, que nunca teve nada de científico (mas você fingia que tinha) se desmanchou ao vivo na televisão – logo ela, que tanto te serviu para perseguir os outros. E veja que coisa curiosa: a revelação do governador de Nova York sumiu – simplesmente sumiu – do noticiário. Uma informação que demarca absolutamente todo o conjunto de premissas no combate à pandemia caiu na clandestinidade – ao menos nas primeiras 48 horas, o que é uma eternidade para quem vive gritando que cada minuto é precioso para salvar vidas enfiando todo mundo em casa.

A própria OMS principal referência de vocês, os falsos seguidores da ciência, para a política do trancamento geral já tinha alertado sobre a migração das frentes de contágio para dentro das casas. E não era culpa do velhinho que foi à padaria – como vocês, sempre covardemente, tentavam alegar para manter o seu dogma. Era culpa do vírus. Ele é que foi à padaria, ao banheiro, ao quarto, à sala e a todos os lugares de carona com humanos que nem sabiam dele.

Mas vocês, os científicos oniscientes, sempre souberam onde estava cada covid, e mandaram a humanidade se trancar em casa que o vírus ia morrer de fome do lado de fora. Mas ele fez a festa no aconchego dos lares, e será eternamente grato a vocês, os talibãs da quarentena burra (e devastadora).

Agora vamos ver como as vítimas do sequestro consentido farão para recuperar a liberdade – aquela que é muito fácil perder e muito difícil conquistar. Os tiranetes de São Paulo, João Dória e Bruno Covas, estão soldando as portas do comércio, numa boa, como se estivessem na União Soviética. Os tiranetes do Rio de Janeiro, Wilson Witzel e Marcelo Crivella, querem o lockdown total para que o cidadão só possa ir à farmácia pedindo a autorização deles. Nunca se viu tanta estupidez e covardia per capita. Acordem, antes que a noite se instale de vez.

Guilherme Fiuza, jornalista  - VOZES - Gazeta do Povo