Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
As
antigas folhinhas de xaropes e pílulas costumavam vir ilustradas com a
imagem de um ano ancião que saía, barbas brancas, encurvado sobre sua
bengala e um ano novo que chegava enrolado em fraldas. Posta na parede,
ali ficava como “marco temporal” de nossos planos de réveillon.
Contudo, o
Sol e a Lua não contam seus giros nem dão bola para as promessas que
fazemos a nós mesmos.
O tempo é coisa que usamos, mas não nos pertence; é
utilidade, convenção, relatividade. Meia hora na cadeira do dentista
dura bem mais do que meia hora numa roda de amigos.
Na infância,
eternidade é o tempo decorrido entre dois Natais ou duas visitas de
Papai Noel.
Minha mãe, por seu turno, tão logo terminava um ano começava
a se preocupar com o Natal vindouro “porque, meu filho, logo, logo é
Natal outra vez”.
A vida
familiar e a vida social se fazem, entre outras coisas, do cotidiano
encontro da maturidade com a juventude. Imagine um mundo onde só haja
jovens ou onde, pelo reverso, só existam idosos. Imagine, por fim, a
permanente perplexidade em que viveríamos se a virada da folhinha nos
trouxesse, com efeito, um tempo novo, flamante, que nos enrolasse nas
fraldas da incontinência urinária, com tudo para aprender.
Felizmente
não é assim, nem deve ser visto assim. O importante, em cada recomeço, é
ali estarmos com a experiência que o passado legou. Aprender
da História! Aprender da vida! E, principalmente, aprender da
eternidade!
Quem aprende da eternidade aprende para
a eternidade. Aprende lições que o tempo não desgasta nem consome,
lições que não são superadas, lições para a felicidade e para o bem.
Por
isso, para os cristãos, a maior e melhor novidade de cada ano será
sempre a Boa Nova, que infatigavelmente põe em marcha a História da
Salvação, cumprindo o plano de amor do Pai.
Bem sei o
quanto é contraditório à cultura contemporânea o que estou afirmando. E
reconheço o quanto as pessoas se deixam cativar pela mensagem do
hedonismo “revolucionário”,supostamente coletivista e igualitário. Mas é
preciso deixar claro que tal mensagem transforma o mundo num grande
seio onde, a cada novo ano, se retoma a fase oral e se trocam as fraldas
da imaturidade.
A quantos lerem estas linhas desejo um 2024 de afetos vividos, aconchego familiar, realizações, vitórias, saúde e paz.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org),
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas
contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A
Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia
Rio-Grandense de Letras.
Toda alma é uma cruz aqui plantada, diz-nos Bruno Tolentino em seu livro
"Os Deuses de Hoje". Eu, você, todos nós somos uma cruz com um coração
palpitante no centro do madeiro, apontando para a direção que nós mais
amamos.
A cruz é um símbolo arquetípico poderosíssimo, que se encontra presente
em inúmeras tradições, como inúmeros outros símbolos que acreditamos
serem tão particulares, tão exclusivos de uma e outra tradição.
Nesse sentido, quando temos em nossa mente a imagem deste símbolo, a
cruz, é importante lembrarmos que a trave horizontal simboliza o plano
do mundo material, natural, social e político.
Estamos inseridos neste plano, fazemos parte dele, mas não fomos feitos
para nos realizarmos plenamente nesta dimensão restritiva da realidade.
Bem, junto a trave horizontal temos a trave vertical, que nos aponta
para a perspectiva da eternidade e do infinito, lembrando-nos que a vida
é muito mais profunda do que as aparências que nos circundam e que
invadem os nossos sentidos e que ela, a nossa vida, não termina aqui,
abruptamente e em definitivo.
Estamos no mundo, mas não devemos ser mundanos. Fomos feitos para o
infinito, mas não podemos ignorar o peso e a força de tudo que está a
nossa volta nos limitando.
Em resumo, eis aí a tal da condição humana.
Infelizmente, todos nós, em algum momento, podemos acabar por nos apegar
ferozmente a alguma ideologia que agrilhoa, sem dó, os nossos olhos,
prendendo-os unicamente à dimensão horizontal, como se o mundo político,
social e natural fossem as únicas dimensões que compõem a realidade e
dão forma à nossa humanidade.
Tal estreitamento da percepção, consequentemente, acaba por escravizar a
nossa consciência, bloqueando a abertura da nossa alma para o infinito.
E isso não é apenas triste. É perigoso.
Outras vezes, também, com grande infortúnio, podemos acabar nos vendo
amarrados com cordas baratas a haste vertical, abraçados a algum tipo de
misticismo moderninho, egocêntrico e egolátrico, que leva-nos a
desprezar a realidade deste mundo com suas agruras e perrengues.
Sim, estamos de passagem, como peregrinos, mas aqui estamos e, também,
quando restringimos nosso olhar unicamente para uma perspectiva
supostamente espiritualizada, terminamos num outro tipo de mutilação da
nossa consciência, tão vil e abjeto quanto o que foi anteriormente
apontado.
Quando olhamos para o século XX, e temos nossas vistas invadidas pela
imagem dos regimes totalitários que destroçaram, e que ainda despedaçam a
vida de milhões de pessoas, quando lembramos das inúmeras seitas e
cultos que subjugaram e subjugam multidões, reduzindo-as à condição de
um pet dócil e obediente, compreendemos, com uma terrificante clareza,
que não é muito difícil termos a nossa mente degradada e nossa alma
escravizada.
Basta apenas que nos permitamos ficar numa posição de fragilidade por
termos aceitado limitar nossa percepção da realidade a apenas uma de
suas dimensões.
Por isso, lembremos, toda vez que tomarmos um Crucifixo em nossas mãos -
Crucifixo este que, muitos de nós, carregam junto ao coração - está a
figura de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Lá está o Filho do Homem, lembrando-nos que Ele é o centro da cruz, o
centro da vida, onde a trave horizontal encontra-se com a haste
vertical, revelando-nos a face do Deus verdadeiro e, ao mesmo tempo, o
rosto do verdadeiro homem.
Deste modo, o Verbo divino encarnado e crucificado está nos convidando a nunca esquecermos qual é o caminho, a verdade e a vida.
Ele está nos lembrando, hoje e sempre, que seu coração transpassado está
aberto para adentrarmos nele e, junto com Ele, ascendermos para junto
da morada eterna e, Nele, permitirmos que o reino de Deus irradie sua
luz neste mundo, através do nosso coração unido ao Dele.
E assim, com Ele, estaremos defendendo nossa consciência contra todas as
ideologias mundanas que não medem esforços para nos destruir.
Por essa razão, e por muitas outras, Nosso Senhor nos admoesta para que o
sigamos abraçando a nossa cruz de cada dia com Ele em nosso coração,
sempre lembrando Dele quando voltarmos nossos olhos para os nossos
semelhantes que, como nós, por mais desprezíveis que sejamos, fomos
feitos à imagem e semelhança de Deus, que se fez como nós, que morreu
por cada um de nós, para que lembremos, e jamais esqueçamos, quem somos. Nós somos uma cruz, como disse o poeta.
Uma cruz plantada neste mundo
para almejar retornar ao descampado da eternidade, junto a árvore da
vida.
O autor é professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de "A Bacia de Pilatos", entre outros ebooks.
A cassação do
mandato do deputado Deltan Dallagnol foi mais um passo em direção ao
projeto de poder da frente autoritária liderada pelo PT
Deltan Dallagnol | Foto: Ton Molina/FotoArena/Estadão Conteúdo
O que mais chama a atenção no governo Lula, até agora, não é propriamente a sua ruindade terminal. Nenhuma surpresa, aí, quando se leva em conta que sempre esteve disponível para qualquer brasileiro de bom senso o conhecimento de que ele iria fazer o pior governo da história do Brasil — pior que o dele mesmo, quando esteve lá durante oito anos, e pior talvez até que o governo da sua criatura Dilma Rousseff. Ele não está na Presidência da República, obviamente, porque a maioria do eleitorado descobriu suas virtudes ocultas, nem porque ficou encantada com a excelência dos seus projetos de governo, mas porque foi colocado lá pelo TSE — nas eleições mais obscuras que o Brasil já teve desde os tempos do “bico de pena”, quando a única coisa que realmente tinha importância era quem contava os votos.
O que não se mediu direito, na contratação dessa calamidade, foi a pressa de Lula e de quase todos os que tem à sua volta em destruir o Brasil como ele é hoje. Eles estão convencidos de que, tendo chegado lá do jeito que chegaram, têm toda a possibilidade de não sair nunca mais — e para não sair nunca mais terão de mudar o regime.
Tem de acabar esse que está aí, com regras básicas de democracia, um sistema econômico capitalista e mais um monte de outros estorvos. Em seu lugar, querem impor alguma coisa que ainda não sabem direito o que é, mas é muito parecida com isso aí que estão fazendo todos os dias — e com Lula na posição de presidente vitalício.
Sessão plenária do TSE em 16/5/2023 | Foto: Antonio Augusto/Secom/TSE
A esquerda, os intelectuais e o Brasil “que pensa” acham um absurdo quando ouvem isso — exagero, dizem, “bolsonarismo”, coisa de direita. Mas não é mais sobre Bolsonaro, e já faz tempo que não é.
É sobre a criação de uma ditadura no Brasil, e os exemplos concretos estão aí todos os dias e na frente de todo o mundo.
O último, e um dos mais violentos até agora, foi a cassação do mandato do deputado Deltan Dallagnol, promotor-chave na Operação Lava Jato, pela polícia eleitoral de Lula e do PT.
É a prova mais recente de que eleições não são mais um problema para o projeto de ditadura; enquanto existir TSE, a “Justiça Eleitoral” vai funcionar como um serviço de atendimento aos extremistas de esquerda que mandam no governo.
A oposição elegeu alguém que incomoda para o Congresso? E daí? o TSE cassa o seu mandato. É o pé de cabra mais utilizado pelas tiranias — a anulação da vontade do povo, expressa nas eleições.
Não há, para eles, a possibilidade de perder; não há a hipótese de aceitarem que o cidadão tem o direto da escolha livre com o voto. A cassação de Dallagnol é isso.
O deputado não teve um julgamento, e o seu caso não teve um juiz. A sessão do TSE que cassou o seu mandato durou um minuto — um deboche intencional e vulgar, para mostrar que a ditadura em construção no Brasil não apenas anula qualquer eleição que quiser, mas também faz questão de humilhar quem é levado para a frente de seus pelotões de fuzilamento.
O que é isso — julgamento de um minuto? É justiça de Idi Amin.
O juiz também não foi juiz.
O autor da cassação é o mesmo que recebeu tapinhas no rosto de Lula, no festival de comemorações montado em Brasília para saudar os resultados do TSE para as eleições presidenciais de 2022.
É o mesmo, igualmente, que disse para o ministro Alexandre de Moraes, na diplomação de Lula como presidente: “Missão dada, missão cumprida”. O resto da história é pior ainda.
Num país em que o presidente da República tem a ficha mais suja de todos os que já passaram pelo cargo — ninguém, como ele, foi condenado pelos crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro —,Dallagnol foi cassado com base na “Lei da Ficha Limpa”. Pode? Mais: o deputado não foi condenado por crime nenhum. Sua ficha é limpa — mais limpa que a de pelo menos um terço dos deputados e senadores que estão hoje no Congresso Nacional e respondem a processos na Justiça.
O deputado federal mais votado do Paraná foi cassado por uma assinatura num pedaço de papel, em obediência a uma demanda do governo — um insulto não só aos eleitores do Paraná, mas a todo eleitor brasileiro que tem o direito constitucional de votar nos candidatos da sua escolha
É tudo uma trapaça primitiva. Quem pediu a cassação não foi o Ministério Público, ou algo assim — foi o PT, por ordem de Lula, que prometeu em público que iria “se vingar” do juiz Sergio Moro e de “toda essa gente”, o que evidentemente inclui Dallagnol.
A desculpa para a cassação foi uma alegação falsa — a de que o deputado teria renunciado ao cargo de promotor para não responder a “procedimento administrativo disciplinar” no MP, conduta vetada pela lei eleitoral. Não houve isso. Dallagnol não estava respondendo a nenhum “procedimento” quando registrou a sua candidatura.
Mas o TSE achou que era “inevitável” que ele viesse a responder no futuro, e que ele agiu de maneira “capciosa” quando renunciou a seu cargo. Ou seja: ele foi condenado antes de cometer a infração e antes de ser julgado pela Justiça,algo que vai contra todas as decisões anteriores que o próprio TSE já havia tomado.
É tão demente que o TRE do Paraná, a quem o caso foi inicialmente encaminhado, decidiu por unanimidade que a candidatura era 100 por cento legal.Mas o sistema Lula-PT não manda nos TREs dos Estados; levou sua exigência, então, ao TSE, onde o ministro da “missão cumprida” resolveu tudo — em um minuto.
Lula, em clima amistoso com o ministro do TSE Benedito Gonçalves, durante a posse de Alexandre de Moraes no comando do TSE, em 17/08/2022 | Foto: Reprodução/Twitter É um escândalo grosseiro. O deputado federal mais votado do Paraná não foi punido por algo que tenha feito, mas por irregularidades que provavelmente “iriam acontecer” mais adiante — mais uma criação do processo de desmanche da democracia que está em execução no Brasil, como o “flagrante perpétuo”, os julgamentos por “lotes” de réus ou as multas de R$ 1 milhão por hora a quem desagrada ao governo Lula e aos seus sócios no alto Judiciário.
É assim, justamente, que querem matar o Estado de direito e as instituições — com escândalos que, em vez de serem combatidos, são objeto de discussões sobre “engenharia política”, aceitos como parte da “legalidade” imposta pelos STFs e TSEs e tratados como“defesa da democracia” pela maioria da mídia e do Brasil “civilizado”.
A edificação da ditadura no Brasil está acontecendo, passo a passo, por decisões como a cassação do deputado Dallagnol; é um regime que querem construir com decretos-leis, portarias e despachos do STF, TSE e repartições públicas do mesmo tipo.
A democracia, na concepção em vigor no governo, será desmontada com a destruição dos princípios básicos da economia, da sabotagem ao sistema de produção e da anulação do poder do Congresso.
É o que se vê pela supressão de leis que já foram legitimamente aprovadas, como a Lei das Estatais, ou a reforma do ensino, ou a projetada volta do imposto sindical — ou, então, pela imposição de leis que o Congresso não quer aprovar, como é o caso da censura nas redes sociais.
É o que se está vendo pelas prisões políticas e pelos inquéritos ilegais que o STF conduz contra inimigos do governo — até agora, em quatro anos de ação e milhares de brasileiros perseguidos, nenhum militante de esquerda, nem um, foi incomodado pelas investigações.
É o que se vê pela violação sistemática da lei por parte do alto Judiciário, e pelo rebaixamento do Ministério Público à condição de serviço de atendimento às ordens do governo.
A cassação do deputado Dallagnol é mais um prego no caixão. Para os que têm dúvidas sobre o enterro da democracia que está acontecendo à luz do dia, é instrutivo ouvir o ministro da Justiça, numa reunião com dirigentes das plataformas de comunicação social há cerca de um mês, dizendo que “esse tempo da liberdade de expressão como um valor absoluto, que era uma fraude, acabou, acabou, foi sepultado”.
Podia ser uma palestra do chefe da KGB. Falando na “Polícia Federal que eu comando”, ameaçou as redes, disse que vão “arcar com as consequências” pela prática de crimes não especificados e informou que os estatutos internos das redes “não lhe interessam”, e não valem mais nada.
O ministro afirmou que o objetivo da censura às redes sociais é acabar com o “massacre em série de crianças nas nossas escolas” — isso quando a lei que quer aprovar à força na Câmara fala em punir a“desinformação”, as “fake news”, as conclusões “enganosas”, “distorcidas ou fora de contexto”, ou seja, todo um balaio que atinge diretamente a livre expressão do pensamento.
Pouco depois, o ministro Alexandre de Moraes proibiu o aplicativo Telegram de publicar sua opinião sobre o projeto de censura em debate na Câmara — e obrigou que publicasse um texto do STF, dizendo o contrário do que dizia a postagem proibida.
Que diabo isso tem a ver com massacre de crianças?
O PT e a esquerda brasileira estão convencidos, e dizem isso em público, de que terem aceitado sair do governo, em 2016, depois de terem entrado pela primeira vez no Palácio do Planalto, foi o maior erro de toda a sua história; não deveriam ter topado nunca, e não estão dispostos a topar agora, quando têm o STF, as Forças Armadas e a direção do Congresso a seu serviço. É o seu único objetivo visível. Quem acha que não é bem assim, ou que não é assim, pode responder a um teste fácil.
Esqueça Lula, seu programa de turismo com a mulher através do mundo e a sua convicção de que, se na Venezuela o presidente pode ficar no cargo pelo resto da vida, por que não aqui?
Há mais uma multidão que quer ficar lá para sempre.
Alguém acha,por exemplo, que o ministro da Justiça e os defensores do comunismo que fazem parte da sua corte estão dispostos a aceitar, mansamente, uma derrota em eleições limpas e voltar à escassez da vida na oposição? Para acreditar em jogo limpo é preciso acreditar que eles possam dizer algo assim: “Pôxa, que pena, perdemos a eleição… Chato, não? Vamos ter de começar tudo de novo”.
Os proprietários do MST vão aceitar, de boa, a devolução das diretorias que ganharam no Incra, ou a ausência de seis ministros de Estado em suas “feiras”? E as viagens ao exterior?
E o resto da manada que está ganhando mais de R$ 70 mil por mêsem conselhos de estatais e desfrutando das demais maravilhas da máquina estatal?
Essa gente toda está disposta a ficar lá por toda a eternidade, como acontece nos regimes que lhe servem de modelo, e tem os meios materiais para isso — só precisa continuar a fazer o que está fazendo. O Brasil tem um deserto pela frente. No momento não há oásis à vista.
Em sua visita à China, Lula participou do ritual de "subjugação ferrenha" de todos os tiranos
Luiz Inácio Lula da Silva, na chegada a Xangai, na China (12/4/2023) | Foto: Ricardo Stucker/PR
Quando vi uma foto do líder chinês, Xi Jinping, oferecendo um aperto de mãos em sinal de boas-vindas ao presidente Lula durante sua visita oficial à China e abrindo um sorriso largo, confesso que pensei no poema de Lewis Carroll sobre o crocodilo:
Como ele parece sorrir alegremente, Como abre as garras perfeitamente, E recebe os peixinhos, Com mandíbulas que sorriem gentis!
Mas o que mais chamou minha atenção na imagem foram as crianças ao fundo, empunhando bandeiras e sorrindo também, como se fosse a realização de um sonho receber o presidente do Brasil na China.
O uso de crianças para fins políticos me revolta, seja em manifestações em países democráticos, seja em recepções oficiais em ditaduras. Todos sabemos que Hitler adorava receber buquês de flores de crianças arianas, e Stalin também amava ganhar esses buquês de crianças cujos pais ele não hesitaria em enviar aos campos de concentração no dia seguinte. Ele às vezes agia com sentimentalismo, mas não era um sentimental. Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da República Popular da China, Xi Jinping | Foto: Ricardo Stucker/PR
Recepções oficiais em ditaduras têm, pelo menos para mim, um quê assustador. Certa vez senti que eu estava prestes a ser surrado até a morte com flores de plásticos de uma recepção oficial na Coreia do Norte.
Centenas de mulheres da Guarda se enfileiraram segurando cravos vermelhos de plástico com que açoitaram o ar em perfeito uníssono na minha direção, para me dar as boas-vindas em uma visita “amigável”, supostamente informal, mas, como tudo na Coreia do Norte, cuidadosamente orquestrada.
Claro, as coisas não são tão drásticas na China contemporânea como eram nos tempos de Kim Il-sung (pouquíssimas coisas o são), mas ainda assim não gosto muito de recepções oficiais em ditaduras com a participação de crianças.
Refletindo um pouco sobre isso, acho que, se pelo menos as crianças chinesas soubessem onde fica o Brasil, ao passo que se fossem norte-americanas ou britânicas, elas não teriam conseguido localizar o país no mapa e talvez não soubessem nem encontrar seu próprio país. (Por outro lado, todas saberiam tudo sobre transexualidade.)
Mesmo absurdas e obviamente falsas, essas recepções oficiais têm um efeito profundo em pessoas já insufladas com sua própria importância e, portanto, que já acreditam ser merecedoras de tanta atenção e tanto enaltecimento. Dois exemplos me vêm à mente.
Não foi a primeira vez na história que essa coletivização teve efeitos econômicos desastrosos, mas é preciso lembrar que a escassez é uma ferramenta poderosa nas mãos da elite desses governos de partido único
O primeiro caso foi Nicolae Ceausescu, da Romênia.Um vídeo de sua visita oficial à Coreia do Norte está disponível no YouTube e é ao mesmo tempo hilário e aterrorizante.
O homem que mais tarde seria chamado de “Danúbio do Pensamento” e cujo governo ficou conhecido oficialmente como “Era de Ouro” (enquanto a população fazia fila por horas para conseguir algumas batatas) é visto recebendo alegremente, sem hesitar, as boas-vindas grandiosas e orquestradas que foram preparadas para ele pelo homem que se tornaria presidente, não para o resto da vida — uma designação comum —, mas presidente para a eternidade. (Até onde sei, Kim Il-sung é o único cadáver que também é chefe de Estado.)
Em um estádio, Ceausescu assistiu animadamente às fileiras de norte-coreanos passarem pelo ritual de levantar cartazes ao mesmo tempo para apresentar slogans elogiosos à Romênia socialista.
Com ainda mais satisfação, na companhia de Kim Il-sung, ele assistiu a uma dança que era mais obrigatória que tradicional.
E é preciso admitir que, na organização desses espetáculos fascistas-hollywoodianos, os norte-coreanos foram os melhores até agora; ninguém se compara a eles.
Ceausescu ficou muito impressionado com tudo e, ao voltar para a Romênia, tentou imitar a Coreia do Norte. Não funcionou, porque os romenos são metade latinos, metade balcânicos — não coreanos —, e não têm o temperamento para essas exibições de subjugação ferrenha.
O que não quer dizer que o esforço de imitar a Coreia do Norte, de tratar gatos como se fossem ovelhas, não tenha sido prejudicial nem desagradável, mas a ditadura de Ceausescu também foi ridícula. Imagine chamar Bolsonaro ou Lula de “Amazonas do Pensamento”.
Apenas figuras totalitárias conseguem inventar algo tão ridículo. Imagine chamar Trump ou Biden de “Mississippi do Pensamento”, Boris Johnson de “Tâmisa do Pensamento”, Macron de “Ródano do Pensamento”, Modi de “Ganges do Pensamento” ou Scholz de “Reno do Pensamento”. Existe um fundo quase inextinguível de absurdos na metáfora fluvial. Aliás, não há por que restringir as metáforas geográficas aos rios. Que tal Pinochet como o “Atacama do Pensamento”, Gaddafi como o “Saara do Pensamento”, Mao como o “Gobi do Pensamento”?
A segunda ocasião de que tenho conhecimento de uma recepção oficialter tido um efeito desastroso foi a de Julius Nyerere, da Tanzânia, à China quando Mao ainda estava vivo e no poder. De acordo com Oscar Kambona, o ministro de Relações Exteriores que rompeu com ele por causa da imposição de um governo de partido único na Tanzânia, Nyerere era bastante sensato até ir para a China, onde foi recebido por enormes multidões de adoradores forçados. Diferente de Kambona, que o acompanhou, ele viu a adoração, mas não a parte forçosa. No fim, descobrimos que ele mesmo era adepto dessa prática.
Julius Nyerere (à esq.) e Mao Tsé-Tung (à dir.) | Foto: Reprodução/Redes sociais
Em nome da autenticidade camponesa-transformada-em-proletariado, ele usava um traje em estilo Mao e acreditava que a coletivização era ideal para a agricultura tanzaniana.
Não foi a primeira vez na história que essa coletivização teve efeitos econômicos desastrosos, mas é preciso lembrar que a escassez é uma ferramenta poderosa nas mãos da elite desses governos de partido único. Eles conseguem manter a lealdade de milhões de pessoasoferecendo como privilégio praticamente qualquer commodity que esteja escassa,o que sob esses governos significa todas as commodities.
É curiosa a frequência com que líderes desses Estados totalitários são elogiados (isto é, na verdade, como eles elogiam a si mesmos)por seu comportamento modesto e estilo de vida. Mesmo vivendo em escala faraônica, eles são elogiados (e elogiam a si mesmos)como verdadeiros filhos do povo, como se uma origem modesta fosse uma prova contra qualquer ambição dominadora e gosto pelo luxo.
Uma das cenas de que vou me lembrar para sempre é de um cantor sentado no chão interpretando um refrão em homenagem a Nyerere. Como estava programado, Nyerere passou — isto é, foi conduzido — em sua Mercedes amarela.A estrada não era pavimentada, e as rodas do carro espirraram uma nuvem de poeira vermelha que cobriu o cantor com uma camada fina de terra. Na verdade, não foi engraçado, mas não consegui não rir. Ilustração: Shutterstock
É
comum representar-se a virada da folhinha com o desenho de um bebê que
chega para suceder o ancião que se retira. Sai o ano velho e entra o ano
novo. O ano velho sai trôpego e fatigado; o novo chega enrolado em
fraldas.
O tempo é
convenção e relatividade. Meia hora na cadeira do dentista dura bem mais
do que meia hora numa roda de amigos. Na infância, é uma eternidade o
tempo decorrido entre natais. Minha mãe, porém, tão logo terminava um
ano, começava a se preocupar com o Natal vindouro “porque, meu filho,
logo, logo é Natal outra vez”.
A vida
familiar e a vida social se fazem, entre outras coisas, do cotidiano
encontro da maturidade com a juventude. Imagine-se um mundo onde só haja
jovens; ou onde, pelo reverso, só existam anciãos. Imagine-se, por fim,
a permanente perplexidade em que viveríamos se a virada da folhinha nos
trouxesse, com efeito, um tempo novo, flamante, que nos enrolasse nas
fraldas da incontinência urinária, com tudo para aprender.
Felizmente
não é assim, nem deve ser visto assim. O importante, em cada recomeço, é
ali estarmos com a experiência que o passado legou. Aprender da própria
vida, aprender da história e, principalmente, aprender da eternidade.
Quem aprende
da eternidade aprende para a eternidade. Aprende lições que o tempo não
desgasta nem consome, lições que não são superadas, lições para a
felicidade e para o bem.
Por isso, para os cristãos, a maior e melhor
novidade de cada ano será sempre a Boa Nova, que infatigavelmente põe em
marcha a História da Salvação, cumprindo o plano de amor do Pai.
Bem
sei o quanto é contraditório com a cultura contemporânea o que estou
afirmando. E reconheço o quanto as pessoas se deixam cativar pela
mensagem do hedonismo “revolucionário”, supostamente coletivista e
igualitário. Mas é preciso deixar claro que tal mensagem transforma o
mundo num grande seio onde, a cada novo ano, se retoma a fase oral e se
trocam as fraldas da imaturidade.
A
quantos lerem estas linhas desejo um 2022 de afetos vividos, saudades
curadas, aconchego familiar, realizações, vitórias, saúde e paz.[agradecemos e retribuímos os desejos expressos e também os não expressos, aos quais juntamos os nossos.]
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de
dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Se diante desse povo todo nas ruas, a narrativa oficial
vai insistir em tratá-lo como um bando de lunáticos fascistas, como
haverá possibilidade de contemporização?
Quem tem certa idade há de lembrar do filme A Guerra dos Roses,
de 1989, em que Michael Douglas e Kathleen Turner interpretam um casal
que decide se divorciar após quase duas décadas junto. O problema é que
ambos desejam permanecer com a luxuosa mansão em que vivem, sem ceder um
milímetro sequer. Permanecendo no mesmo local, uma guerra se inicia
para um tentar expulsar o outro. Em vez de um fim horroroso à união,
eles optam por um horror sem fim.
Manifestações do Dia da Independência | Foto: Montagem com fotos de Josemar Gonçalves/AGIF e Agência de Fotografia//Estadão Conteúdo
Divórcios podem se tornar brigas bem feias mesmo. Não obstante, creio que a imensa maioria prefira colocar um ponto final quando não há mais nenhuma possibilidade de convívio amigável e civilizado a permanecer preso num inferno sem nenhuma perspectiva de término. Por mais traumática que seja uma ruptura definitiva, ela ainda parece melhor do que o castigo imposto por Zeus a Prometeu, que amanhecia com seu fígado regenerado apenas para ser devorado novamente pela águia por toda a eternidade.
Muitos temem uma ruptura institucional no Brasil. Lamento informar, mas ela já ocorreu. Não temos um Supremo Tribunal Federal que atua como guardião da Constituição,mas sim uma Corte em que alguns membros praticam o mais escancarado ativismo político, promovendo censura, perseguição, intimidação e até prisões arbitrárias. O país mergulhou num estado policialesco, e isso tem ligação direta com a postura de certos ministros, que mais parecem um partido de oposição ao presidente Bolsonaro, eleito com quase 58 milhões de votos.
Milhões de brasileiros foram às ruas nesse feriado do 7 de Setembro externar essa revolta, pedir liberdade e clamar por respeito à Constituição. A imprensa, igualmente militante, chamou o ato de “antidemocrático”, fingiu não ver a multidão presente nas principais cidades e rotulou como golpista o evento inteiro. Patriotas com suas famílias em verde e amarelo cobrando respeito às leis passaram a representar uma ameaça à democracia, enquanto socialistas de vermelho pedindo ditadura do proletário viraram democratas.
Está tudo invertido em nosso país. E os ministros supremos, como já ficou claro, não vão recuar, e sim dobrar a aposta. Mergulharam demais nesse ativismo, e pela postura intransigente de Bolsonaro, que conta com amplo apoio popular e garante que só sai morto dali, fica claro que um dos lados terá de vencer esse cabo de guerra, o que significará para o outro uma derrota fatal. Quem piscar primeiro está fora da casa!
Seria um caso único na história de impeachment por excesso de apoio popular!
Os moderados pedem diálogo, mas infelizmente ele parece inviável. “Não é possível discutir racionalmente com alguém que prefere matar-nos a ser convencido pelos nossos argumentos”, alertou Karl Popper. O filósofo liberal acrescentou: “Não devemos aceitar sem qualificação o princípio de tolerar os intolerantes, senão corremos o risco de destruição de nós próprios e da própria atitude de tolerância”. É um truísmo, mas o problema é quando cada lado encara o adversário como o intolerante. Se essa é a premissa, a guerra parece inevitável.
Ora, se, diante desse povo todo nas ruas, a narrativa oficial vai insistir em tratá-lo como um bando de lunáticos fascistas, como haverá possibilidade de contemporização? O que já ficou claro para muitos é que o “sistema” simplesmente não aceita a existência política da direita conservadora. O lado de lá deseja simplesmente exterminar a existência dos conservadores. É uma luta pela simples sobrevivência, pela liberdade básica de existir e se manifestar. Não há mais escolha. É como Churchill profetizou sobre o esforço de apaziguamento com nazistas: tiveram de escolher entre a desonra e a guerra, escolheram a desonra, e terão a guerra.
Leandro Narloch, um liberal moderado e crítico de Bolsonaro, escreveu na Folha de S.Paulo: “É fácil tomar como loucos e inebriados por fake news os brasileiros que chamam o STF de vergonha nacional. Mais difícil é fazer uma autocrítica e admitir que diversos ministros do Supremo tomaram atitudes para lá de vergonhosas”. Ele diz que os abusos e as ilegalidades do Supremo dão força ao bolsonarismo, suas decisões políticas reavivam um apoio mesmo de quem já começava a se arrepender ou abandonar o barco.
Diante do mar de gente nas ruas, o establishment achou adequado subir o tom e falar em impeachment, não de Alexandre de Moraes, mas de Bolsonaro!
Seria um caso único na história de impeachment por excesso de apoio popular!
A elite esquerdista quer uma democracia de gabinete, sem povo, mas resta combinar com este, que se recusa a ficar em casa calado. Se forem adiante com um golpe escancarado desses, acham mesmo que aquela multidão toda vai engolir passivamente o sapo barbudo? Teremos uma convulsão social, quiçá uma guerra civil mesmo. Alguns parecem torcer pelo pior, para finalmente apontarem alguma medida autoritária concreta do presidente, até aqui jogando dentro das quatro linhas da Constituição — ao contrário de seus adversários.
A multidão nas ruas dificultou o possível golpe da urna eletrônica. A esquerda errou ao convocar manifestação no mesmo dia, pois ficou evidente demais o contraste entre ambas. [a esquerda tentou realizar em 12 de setembro uma manifestação contra o Brasil e contra o presidente Bolsonaro - a favor dos inimigos do Brasil -mas fracassou vergonhosamente, apesar do apoio maciço da mídia militante perdeu por 1.000 a 0.
Em tempo: este Post do Constantino foi escrito em 10 de setembro, portanto, não considera alguns ajustes ocorridos, pós 12 de dezembro = os inimigos do Brasil começam a se enquadrar, timidamente, mas muitos já pensam se ficam de quatro ou de joelhos.]
Como alguém vai acreditar que o ex-presidente corrupto tem uma vantagem tão grande nas pesquisas, observando seu apoio minguado e inexpressivo, enquanto Bolsonaro arrastava milhões pelo Brasil todo?
Em desespero, querem derrubar já Bolsonaro ou torná-lo inelegível. Mas acham mesmo que o povo vai tolerar isso? “Sob um governo que aprisiona qualquer pessoa injustamente, o verdadeiro lugar do homem justo é na prisão”, constatou Henry David Thoreau, autor de Desobediência Civil. “Se uma lei é injusta, um homem está não apenas certo em desobedecê-la, ele é obrigado a fazê-lo”, defendeu Thomas Jefferson, um dos pais fundadores da América.“Ninguém é obrigado a cumprir ordem ilegal, ou a ela se submeter, ainda que emanada de autoridade judicial. Mais: é dever de cidadania opor-se à ordem ilegal; caso contrário, nega-se o Estado de Direito”, escreveu em seu voto no STF o relator ministro Mauricio Corrêa, em 1996.
Esticaram demais a corda? Isso é o mínimo que dá para dizer. Muitos acham que ela já se rompeu. Enquanto o povo tomava as ruas para pedir liberdade e respeito às leis, Moraes determinava nova ordem de prisão ao jornalista Oswaldo Eustáquio e detinha de forma irregular o americano Jason Miller no aeroporto para horas de interrogação. Qual o crime ou a suspeita de crime do CEO da rede social Gettr, que foi ao Brasil participar do CPAC, o maior evento conservador do mundo? Resposta: apoiar “atos antidemocráticos”. Como Moraes, assim como a imprensa, considera todo ato a favor de Bolsonaro como antidemocrático, fica claro que qualquer um dos milhões de brasileiros ali presentes pode ser detido para prestar esclarecimentos. Diabos, até uma conversa de bar pode render inquérito policial agora, se o tom das críticas ao ministro for elevado demais!
No dia seguinte ao gigantesco ato bolsonarista, o ministro Fux se dirigiu ao povo brasileiro. “Eu conclamo os líderes desse país que se dediquem aos reais problemas do nosso povo: a pandemia, que ainda não acabou, o desemprego, a inflação e a crise hídrica”, disse o ministro. Quantos votos teve Fux para decidir pelo povo quais as suas prioridades?
Seria impensável um justice da Suprema Corte americana se dirigir ao povo falando em nome do povo e apontando as prioridades do povo, pois juiz constitucional não tem representatividade popular, não é essa sua missão. Mas nossa mídia encara Fux como um estadista.
Não pode restar dúvidas: os “donos do poder” querem Bolsonaro fora do poder. Eles contam com a imprensa em geral, com sindicatos, com ONGs, com a ditadura chinesa, como o STF, com artistas e intelectuais. Eles só não têm mesmo o povo ao seu lado. Este está em peso ao lado de Bolsonaro. E essa elite declarou guerra ao povo. Não se deseja um fim horroroso. Mas é preciso ser realista: a alternativa é um horror sem fim.
Assisto, mais uma vez, a
uma sessão da CPI da Covid. E, quando percebo, estou soltando um
palavrão daqueles bem impublicáveis para o apartamento semivazio. “Vai,
Queiroga, bate na mesa. Chama o Renan do que ele é! Por que um tipo como
esse vive?”,pergunto, na esperança de que o ministro da Saúde
incorpore um Alborghetti e ponha os pingos nos devidos is e, por que
não?
O prazer do diabo está em fazer com que lutemos contra ele usando suas armas diabólicas.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Confesso envergonhado: a CPI, expressão mais evidente e ruidosa da política brasileira atual, desperta o que há de pior em mim. Fico indignado e, nessa indignação, sinto quaisquer resquícios de inteligência, prudência e parcimônia se esvaírem de mim. Torno-me, ainda que por apenas uns minutinhos, moralmente oco.
E é desse vazio moral, ainda que circunstancial e, no meu caso, graças a Deus restrito aos momentos que passo diante da televisão para acompanhar a Turma do Renanzinho, que se aproveitam os políticos para nos escravizar. Quando dou por mim, isto é, quando saio desse transe, percebo que Renan ou Aziz ou aquele outro de voz fina estão usando minha própria indignação para controlar meus sentimentos, eliminando os de alta estirpe e fomentando meus instintos mais primitivos, para usar a expressão imortalizada por Roberto Jefferson.
Porque, a rigor, e por mais abjetos que sejam os políticos alvos de nossa ira, somos nós, envenenados pela indignação, pelo senso de justiça e pela impotência, que acabamos dando poder a essas figuras nefastas, sejam elas de esquerda, direita, centro ou uma diagonal qualquer. Não fosse nosso desejo de ver a chamada moralidade pública imposta meio que à força, eles seriam apenas o que são: uns fantoches de Leviatã que não valem nem um tostão furado.
Mas não se engane. Os políticos sabem como nos manter nessa coleira. Tanto sabem que vivem justamente de nos oferecer mais e mais motivos para nos deixar indignados. Os escândalos a conta-gotas, as falas enviesadas, a desonestidade intelectual escancarada – tudo isso é ingrediente para uma poção que nos hipnotiza e aprisiona.
Tentação Resistir à indignação, é preciso. Mas é mais fácil falar do que fazer. Outro dia mesmo, esbravejando em silêncio (!) diante de mais uma estupidez qualquer do relator da CPI (ou talvez do presidente ou ainda do cara de voz fina),me vi quase transformado num desses consequencialistas que, despudorados,andaram ocupando as páginas dos jornais para desejar a morte de seus inimigos políticos.
Quase. O que me impediu a metamorfose completa nesse monstrengo revolto foi justamente a constatação de que o Mal não está somente nos feitos tortos dos políticos que despertam minha indignação, mas também no meu próprio desejo de consertar o mundo por meio da violência verbal estéril e de uma visão de mundo (passageira) bastante próxima de um fatalismo ultrapessimista. Aquela coisa de dizer que o mundo está todo errado ou que o Brasil não tem jeito mesmo, sabe? Consertar a política, essa política pequena, eleitoreira, feita de interesses insuportavelmente mesquinhos, de discursos cínicos, de mentiras ao cubo e da estupidez perversa dos que não têm compromisso com a Eternidade,é uma tentação. Sim, aquela mesma na qual não desejamos cair ao rezarmos o Pai Nosso. É como se o diabo sussurrasse em nossos ouvidos, nos seduzindo com a promessa de que seremos capazes de mudar o mundo ou acabar com esse estado de coisas por ele próprio criado.
Parece um fim nobre, não? Até divino – diria alguém dado a heresias. O problema é que, ao nos oferecer isso, o diabo abre sua maletinha 007 e nos mostra todo o um arsenal de argumentação e ação pautadas por ardis, intrigas e, novamente, fomento à indignação – aquela mesma indignação dos primeiros parágrafos, que nos torna ocos e suscetíveis ao controle do Mal. É aí que está a tentação à qual temos que resistir. Porque o prazer do diabo está em fazer com que lutemos contra ele usando suas armas diabólicas.
Salve o Brigadeiro Sampaio! Salve a Infantaria do Exército Brasileiro!!!
Crédito: CCOMSEX
No dia 24 de
maio, data natalícia do Brigadeiro Antônio Sampaio, o Exército Brasileiro
celebra o Dia da Arma de Infantaria, a “Rainha da Armas”,em justa homenagem a
um grande herói nacional. Antônio de Sampaio nasceu no ano de 1810, na povoação
de Tamboril, vale do rio Acaraú, na então província do Ceará, sendo criado e
educado pelos pais no ambiente simples dos sertões. Desde tenra idade, revelou
interesse pela carreira militar, galgando postos graças a inúmeras
demonstrações de bravura, tenacidade e inteligência.
Aos vinte anos, alistou-se
como voluntário nas fileiras do 22º Batalhão de Caçadores (Fortaleza-CE), tendo
recebido seu batismo de sangue em combate travado nas ruas de Icó e S. Miguel
com tropas contrárias à abdicação de Dom Pedro I. Teve destacada atuação em
diversas campanhas de manutenção da integridade territorial brasileira durante
o período imperial, como: Icó (CE), em 1832; Cabanagem (PA), em 1836; Balaiada
(MA), em 1838; Guerra dos Farrapos (RS), em 1844-1845; Praieira (PE), de 1849 a
1850; Combate a Oribe (Uruguai), em 1851; Combate a Monte Caseros (Argentina),
em 1852; e a Tomada de Paissandu (Uruguai), em 1864. Durante a Guerra da
Tríplice Aliança (1865-1870), o já Brigadeiro Antônio de Sampaio comandou a 3ª
Divisão do Exército Imperial, a lendária “Divisão Encouraçada”. Composta pelos
Batalhões “Vanguardeiro”, “Treme-Terra” e “Arranca-Toco”, a “Encouraçada”
destacou-se em muitos combates durante a guerra.
Na Batalha de Tuiuti, no dia
de seu aniversário, o patrono da Infantaria foi ferido três vezes; apenas após
o terceiro ferimento, que o atingiu nas costas, deixou o campo de batalha para,
alguns dias depois, ingressar na eternidade dos heróis da Pátria. Exemplo
notável de bravura, amor à profissão, coragem, patriotismo e lealdade, que o
eternizaram como o “bravo dos bravos” de Tuiuti, tornou-se, por mérito
inconteste, Patrono da Arma de Infantaria do Exército Brasileiro pelo Decreto
nº 51.429, de 13 de março de 1962.
Caracterizada por uma rigorosa disciplina e
organização, originária desde antes dos gregos, com suas falanges, e dos
romanos, com as suas legiões, a Infantaria personifica a essência do combate
terrestre.
Seu brasão, composto por dois fuzis cruzados e uma granada de mão ao
centro, faz referência às principais armas do infante e remonta à época em que
um Batalhão de Infantaria era composto por duas Companhias de Infantaria e duas
de Granadeiros. Tem como missão principal conquistar o terreno, aproveitando a
capacidade de progredir em pequenas frações, de difícil detecção, com grande
flexibilidade, adaptabilidade e mobilidade táticas, buscando cerrar sobre o inimigo,
inclusive no combate corpo a corpo, para capturá-lo, neutralizá-lo ou
destruí-lo.
Em tempos mais recentes, durante a Segunda Guerra Mundial, a 1ª
Divisão de Infantaria Expedicionária desempenhou um papel fundamental na
conquista dos objetivos no teatro de operações da Itália, particularmente nas
decisivas vitórias de Monte Castello, Castelnuovo e Montese, quando o valor do
infante brasileiro foi evidenciado. Heróis como o Sgt Max Wolff Filho e o
Aspirante Francisco Mega são lembrados e cultuados por seus valores, atributos
e atitudes inerentes ao verdadeiro integrante da “Rainha das Armas”. O General
Cordeiro de Farias, Comandante da Artilharia Divisionária da FEB, afirmou:
“Depois do que assisti em Monte Castello, quando passo por um soldado de Infantaria,
tenho vontade de prestar-lhe continência.”
Nos dias de hoje, os infantes participam de operações de amplo espectro em
âmbito nacional e internacional. No exterior, no período de 2004 a 2016,
integraram as tropas da Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti
(MINUSTAH). No território nacional, participaram da segurança de grandes
eventos, como a Jornada Mundial da Juventude (2013), a Copa do Mundo (2014) e
os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, além de contribuírem ativamente na
Intervenção Federal no Rio de Janeiro (2018).
A Infantaria do Exército
Brasileiro continua sendo, em sua essência, a arma apta para o combate a pé em
qualquer terreno e sob quaisquer condições meteorológicas, comportando, atualmente,
as seguintes especialidades: Polícia do Exército, Guarda, Pantanal, Caatinga,
Selva, Leve, Aeromóvel, Montanha, Paraquedista, Motorizada, Mecanizada e
Blindada. O fogo, o movimento e o combate aproximado são as suas
características básicas e, a despeito dos modernos meios colocados à sua
disposição, a Infantaria continua a depender fundamentalmente do homem, do
valor moral do seu soldado e da capacidade de liderança e do preparo
profissional de seus comandantes.
O combate moderno exige que o indivíduo seja
capaz de atuar com letalidade seletiva e em rede, estando preparado para
comunicar-se praticamente em tempo real. Requer boa proteção individual, que
mantenha sua capacidade operativa, fazendo-o durar na ação, preservando sua
integridade física. O Projeto Sistema Combatente Brasileiro (COBRA), inserido
no Programa Estratégico do Exército Obtenção da Capacidade Operacional Plena
(OCOP), propõe-se a atingir tais requisitos. Nessa mesma linha de modernização
dos meios à disposição da Infantaria do Exército Brasileiro, o Programa
Estratégico GUARANI tem por objetivo transformar as organizações militares de
Infantaria Motorizada em Infantaria Mecanizada, a partir de uma nova família de
viaturas blindadas sobre rodas, a fim de dotar a Força Terrestre de meios para
incrementar o poder de dissuasão e a defesa do território nacional.
Infantes de
Sampaio! Que os exemplos evidenciados por seu insigne patrono nos campos de
batalha, marcados por coragem, disciplina, espírito de corpo, integridade,
patriotismo e fé na missão do Exército, permaneçam vivos em seus corações,
perpetuando as tradições, os valores e o espírito imortal doBrigadeiro
Sampaio.
Salve o Brigadeiro Sampaio! Salve a Infantaria do Exército
Brasileiro!!!
As movimentações do poder nos
últimos dias permitem pelo menos duas leituras.
Uma diz que a troca dos
comandantes das Forças Armadas faz parte de certo rearranjo numa ofensiva
política do presidente da República. Expressão desse raciocínio é a palavra “golpe”
ter dado as caras com assiduidade durante algumas horas.
Em especial no intervalo entre a demissão da antiga cúpula
militar e o anúncio da nova. Cada um tem sua própria opinião, mas a minha é que
talvez tenha sido o contrário. Talvez o movimento presidencial tenha
sido essencialmente
defensivo, parte da construção de barreiras protetivas num período em
que a
ofensiva é dos adversários ferrenhos, circunstância que sempre embute o
risco
de provocar desequilíbrios em aliados não tão orgânicos assim.
O cenário das últimas semanas combina números trágicos e
explosivos da Covid-19, dúvidas disseminadas sobre o ritmo da vacinação,
desconforto sobre o valor do novo auxílio emergencial, temores de perda de
fôlego da atividade econômica, conflito aberto do presidente com a maioria dos
governadores em torno das medidas de isolamento social. E até dias atrás juntava-se a isso a encrenca do então
chanceler com o Senado Federal.
Em certo momento da confusão, o presidente da
Câmara, último muro que separa a oposição de entrar no terreno do
impeachment, ligou o
sinal amarelo. Quem avisa, aliado é. A partir dali, ficar parado não era
mais
opção para Jair Bolsonaro. Ele entrava na situação corriqueira dos
presidentes brasileiros: ter de oferecer os anéis antes de perder os
dedos.
Mas só recuar provocaria efeitos colaterais
indesejados. Preservaria forças e
recursos do poder. Mas também transmitiria sinal de fraqueza. Que sempre
tem uma resultante perigosa: acender ainda mais apetites. Na última
linha, a política não
se define pelo sentimento de gratidão, define-se pela correlação de
forças. Quem
quer sobreviver precisa ter força, ou ao menos dar a impressão.
É fácil constatar. Se Bolsonaro tivesse apenas trocado o
chanceler e aberto espaço no núcleo do Planalto para uma aliada do presidente
da Câmara, o noticiário giraria em torno do recuo do presidente sob pressão.
Como ele, ao mesmo tempo, deu certo sinal de“manda quem pode”, trazendo as Forças
Armadas para dançar, o jogo simbólico ficou algo equilibrado.
Sim, apenas equilibrado, porque restou claro que os novos
comandantes foram indicados em consenso com o escalão mais alto de cada força.
Assim, ao final, todo mundo mostrou um pouco de dentes: a Câmara dos Deputados,
o Senado, o Presidente da República e a turma das quatro estrelas na Marinha,
no Exército e na Aeronáutica.
E segue o jogo. E qual é esse jogo? Há a
necessidade de
combater a pandemia e retomar a economia, claro, mas a bússola política
está apontada mesmo é para 2022. Aliás, esse talvez seja o principal
saldo semiótico
das últimas semanas. Tem projeto? Então foco. Prepara-te para outubro do
ano
que vem. As outras opções são bem menos prováveis.
Pois, a rigor, ninguém relevante está, tirando a retórica,
interessado numa ruptura. Entre os vários motivos: ao contrário de Fernando
Collor e Dilma Rousseff,o vice agora não é uma ponte potencial dos políticos para
a ocupação do governo. E outro detalhe: numa ruptura digna do nome, não tem seguro que proteja 100% de ser tragado pelo tsunami.
Sobre tsunamis, esta semana registrou-se mais um aniversário de 31 de março
de 1964. Como habitual, reacendeu-se a discussão sobre o que teria acontecido
se Jango não tivesse sido derrubado. Debate que persistirá para a eternidade.
Uma coisa, porém, é certeza. Nem Juscelino Kubitschek, nem Jânio Quadros e
muito menos Carlos Lacerda eram comunistas. Todos apoiaram a deposição de João Goulart. E quem não
souber o que aconteceu depois com eles, é só procurar no Google.
As movimentações do poder nos
últimos dias permitem pelo menos duas leituras. Uma diz que a troca dos
comandantes das Forças Armadas faz parte de certo rearranjo numa ofensiva
política do presidente da República. Expressão desse raciocínio é a palavra “golpe”
ter dado as caras com assiduidade durante algumas horas.
Em especial no intervalo entre a demissão da antiga cúpula
militar e o anúncio da nova. Cada um tem sua própria opinião, mas a minha é que
talvez tenha sido o contrário. Talvez o movimento presidencial tenha
sido essencialmente
defensivo, parte da construção de barreiras protetivas num período em
que a
ofensiva é dos adversários ferrenhos, [os de sempre:arautos do pessimismo + adeptos do 'quanto pior, melhor', membros do establishment + os escalados para perder = inimigos do Brasil e da Partia, da Família, da Igreja e dos VALORES CRISTÃOS E MORAIS. Em suma hienas, vermes e chacais.] circunstância que sempre embute o
risco
de provocar desequilíbrios em aliados não tão orgânicos assim.
O cenário das últimas semanas combina números trágicos e
explosivos da Covid-19, dúvidas disseminadas sobre o ritmo da vacinação,
desconforto sobre o valor do novo auxílio emergencial, temores de perda de
fôlego da atividade econômica, conflito aberto do presidente com a maioria dos
governadores em torno das medidas de isolamento social. E até dias atrás juntava-se a isso a encrenca do então
chanceler com o Senado Federal. [nesse período de ajustes vale aproveitar para lembrar ao Pacheco e Lira, que o grande invasor da competência dos outros Poderes é o Supremo, mas que os próceres do Legislativo nao podem nem devem se intrometer nos assuntos do Executivo.
Executivo e Legislativo fiquem atentos aos arroubos invasores do Poder Judiciário e este por sua vez deve se aliar ao Executivo para mostrar ao Legislativo que este tem que respeitar a esfera de influência dos outros Poderes.
Cada um no seu quadrado.
Presidente Bolsonaro cuidado com os traidores]
Em certo momento da confusão, o presidente da
Câmara, último muro que separa a oposição de entrar no terreno do
impeachment, ligou o
sinal amarelo. [o presidente da Câmara pode, em decisão solitária,arquivar um pedido de impeachment. Mas, ao optar por aceitar não garante que o impeachment decole.],
Quem avisa, aliado é. A partir dali, ficar parado não era
mais
opção para Jair Bolsonaro. Ele entrava na situação corriqueira dos
presidentes brasileiros: ter de oferecer os anéis antes de perder os dedos.
Mas só recuar provocaria efeitos colaterais
indesejados. Preservaria forças e
recursos do poder. Mas também transmitiria sinal de fraqueza. Que sempre
tem uma resultante perigosa: acender ainda mais apetites. Na última
linha, a política não
se define pelo sentimento de gratidão, define-se pela correlação de
forças. Quem
quer sobreviver precisa ter força, ou ao menos dar a impressão.
É fácil constatar. Se Bolsonaro tivesse apenas trocado o
chanceler e aberto espaço no núcleo do Planalto para uma aliada do presidente
da Câmara, o noticiário giraria em torno do recuo do presidente sob pressão.
Como ele, ao mesmo tempo, deu certo sinal de “manda quem pode”, trazendo as Forças
Armadas para dançar, o jogo simbólico ficou algo equilibrado.
Sim, apenas equilibrado, porque restou claro que os novos
comandantes foram indicados em consenso com o escalão mais alto de cada força.
Assim, ao final, todo mundo mostrou um pouco de dentes: a Câmara dos Deputados,
o Senado, o Presidente da República e a turma das quatro estrelas na Marinha,
no Exército e na Aeronáutica. [pergunta-se: quem é o dono do fuzil?]
E segue o jogo. E qual é esse jogo? Há a
necessidade de
combater a pandemia e retomar a economia, claro, mas a bússola política
está apontada mesmo é para 2022. Aliás, esse talvez seja o principal
saldo semiótico
das últimas semanas. Tem projeto? Então foco. Prepara-te para outubro do
ano
que vem. As outras opções são bem menos prováveis.
Pois, a rigor, ninguém relevante está, tirando a retórica,
interessado numa ruptura. Entre os vários motivos:
ao contrário de Fernando
Collor e Dilma Rousseff, o vice agora não é uma ponte potencial dos políticos para
a ocupação do governo.
E outro detalhe:numa ruptura digna do nome, não tem seguro que proteja 100% de ser tragado pelo tsunami. [agora o vice não está disposto a apenas manter a cadeira aquecida, até que os de sempre decidam quem será o presidente.
Apenas 20 meses e alguns dias restam para a conclusão do mandato presidencial e caso Mourão assumisse, ele vai querer cumprir o resto do mandato.
Serviu também para o Supremo entender, e aceitar, que seus limites estão na Constituição Federal, e que uma mera interpretação criativa não os amplia.]
Sobre tsunamis, esta semana registrou-se mais um aniversário de 31 de março
de 1964. Como habitual, reacendeu-se a discussão sobre o que teria acontecido
se Jango não tivesse sido derrubado. Debate que persistirá para a eternidade.
Uma coisa, porém, é certeza. Nem Juscelino Kubitschek, nem Jânio Quadros e
muito menos Carlos Lacerda eram comunistas.Todos apoiaram a deposição de João Goulart. E quem não
souber o que aconteceu depois com eles, é só procurar no Google.
Desde o início da quarentena escrevo um diário. Nele, apesar
da pressa, incorreções e algumas bobagens, analiso os fatos desses meses
de coronavírus. Não sinto tanta necessidade de escrever sobre isto, mais do que faço
diariamente. Mas, no momento em que alcançamos a marca de 100 mil
mortos, é importante dizer algo fora dos limites. O número redondo
lembra-me dos anos 60, quando marchávamos orgulhosamente contra o
governo militar. Os 100 mil de hoje representam também um protesto, só que desta vez
contra o descaso e retumbante fracasso de nossa política nacional contra
a Covid-19. O ideal seria sairmos às ruas, os sobreviventes, para protestar por
eles. A natureza da pandemia nos obrigou a uma quarentena. Escrevi no
diário algumas vezes como isso não apenas entorpeceu nossos músculos,
mas mudou a maneira como nos vemos. O país se transformou num imenso centro espírita, e nós baixamos nos
computadores para sessões de conversa que chamamos de lives, mas
poderiam também ser chamadas de deads. Parece que muitos de nós vivem numa parte mal iluminada da
eternidade, aparecemos para a conversa, desligamos o aparelho e
evaporamos. Não se acaba mais em pizza como antigamente, quer dizer, num
descontraído jantar após a reunião, o debate ou conferência. Leio no livro de Churchill que os piores momentos de nossa vida são
aqueles que não aconteceram, aqueles que nos mantiveram preocupados,
levaram nosso sono e nunca se apresentaram de fato em nossas vidas. Isso corresponde ao que diz um personagem de Borges diante da morte: é
menos duro enfrentar um perigo do que imaginá-lo e aguardá-lo durante
muito tempo. A Covid-19, nesse sentido, é a pior doença que nunca tive. Certamente
há outras mais graves e devastadoras, mas nunca perdi um minuto
preocupado com elas. Os índios no Amapá a consideram uma espécie de doença espiritual, por
causa da invisibilidade do vírus. Mas nem por isso deixam de temê-la. Desde o princípio, luta-se contra a negação do governo. Era apenas
uma gripezinha e afirmávamos que, ao contrário, era uma perigosa
pandemia. Surgiram os mortos, e o governo achou que seu número estava
superdimensionado, diante de todas as evidências de que havia
subnotificacão. Um dos luminares do governo calculou que morreram apenas 800 pessoas e
continuou duvidando dos fatos, mesmo quando os mortos já eram 80 mil. Duvidaram dos caixões, que para eles estavam vazios ou cheios de
pedras. Duvidaram do número de covas, vetaram uma dezena de artigos na
lei de proteção aos povos indígenas. Seguimos fazendo lives como ectoplasmas que reaparecem no território
virtual para puxar a perna dos vivos que, sem máscara, montados a
cavalo, celebravam seu escandaloso idílio com a morte. E daí? Os tribunais de dentro e de fora do Brasil terão material por muito
tempo. A suposição de que essas coisas acontecem e são esquecidas é
falsa. Uma política de negação que produziu milhares de mortos, índios,
grávidas, é algo que ficará na história e acabará desabando sobre seus
autores, por mais velhos e combalidos que estejam no momento em que
forem alcançados. [talvez surja no Brasil um 'Nuremberg', para julgar os que de alguma forma - por ações que realmente produziram efeitos e não por meros comentários - dificultaram o combate à pandemia. Terá que ser no Brasil e nos princípios que sustentaram a instalação do Tribunal Militar Internacional, em 1945/6, na cidade de Nuremberg, Bavaria, Alemanha. Dificilmente a acusação será recepcionada pelo Tribunal Penal Internacional, Haia, Holanda, por falta de sustentação = não se pode acusar alguém da prática de homicídio, por não evitar mortes, não combatendo uma epidemia, quando a época da suposta omissão NÃO HAVIA (como ainda não há) medicação efetiva para evitar - foi feito o possível para reduzir as mortes = com êxito, tanto que a taxa de letalidade da covid-19 no Brasil é uma das menores. Instalado no Brasil, seria um tribunal de exceção não podendo proferir sentenças de morte. Aliás, "Os julgamentos de Nuremberg são processualmente polêmicos para os
especialistas em direito. Isso porque como tribunal de exceção, estes
não poderiam acabar com condenação à morte, no máximo à prisão, segundo o
consenso internacional." ........ "Esta anormalidade jurídica proporcionada pelos Aliadostambém possibilitou um julgamento que abre mão da responsabilização dos
exércitos dos EUA, França, Inglaterra e URSS pelos inúmeros bombardeios
criminosos em cidades alemãs, crimes de guerra em batalha campal e,
principalmente, o genocídio instantâneo proporcionado pelas ogivas
nucleares lançadas sobre o Japão." (saiba mais, clicando aqui)] Vivemos num país de curandeiros. Bolsonaro passa seus dias mostrando a
cloroquina para todos os seres humanos e animais que encontra pela
frente. O ministro da Ciência e Tecnologia gasta 8 milhões para
pesquisar um vermífugo chamado Annita, e até audiências foram anunciadas
para discutir o poder do alho cru. [esquecendo o ozônio e tratando do alho, circula há muito tempo em Minas, Nordeste e outros rincões,narrativas sobre os poderes miraculosos do alho - de vermífugo a poderoso antibiótico, especialmente para doenças respiratórias. Desde o uso para cura total da tuberculose, durante a Segunda Guerra Mundial, nas condições mais inóspitas possíveis - rendeu inclusive um livro no final do século passado - ao caso de um mineiro (o estado da ocorrência muda com frequência) que doente de raiva - doença que após instalada não tem cura - foi preso, para morrer e não ter condições de atacar alguém, em um galpão. Considerando o destinado inevitável para o doente não se preocuparam com sua alimentação, só que quando esta veio ele descobriu uma quantidade razoável de alho, que passou a ingerir. Alguns dias depois, estava curado. {observação: o caso do alho pode ser até fake news - o livro realmente existe - e a cura da raiva é contada em vários estados}.] E se você perde a paciência, elegância, e pergunta: e naquele lugar, não vai nada? Eles responderão com tranquilidade: — Algumas doses de ozônio e um cateter bem fino. Aos poucos vamos saindo da toca, meio ressabiados, contentes em ver
quem sobreviveu. Mas a maneira como tratamos a pandemia, as condições de
desigualdade em que a vivemos, uns com água e esgoto, outros não, uns
com casa confortável, outros espremidos nos barracos, tudo isso coloca
em questão o próprio sentido da sobrevivência. Apesar da solidariedade, do desprendimento dos trabalhadores em
saúde, a resposta brasileira à pandemia nos convida a repensar o país. E responder em conjunto a essa fúnebre marcha dos 100 mil. Fernando Gabeira, jornalista Artigo publicado no jornal O Globo em 10/08/2020