O Globo
Governo estuda substituir TR na rentabilidade da caderneta. Ganho, neste momento, ficaria maior
O governo estuda modificar a remuneração da
caderneta de poupança para ampliar os recursos destinados ao
financiamento do setor da habitação. A ideia seria assegurar aos
poupadores pelo menos um rendimento equivalente a 70% da taxa básica de
juros (Selic), independentemente do patamar da Selic, e substituir a
Taxa Referencial (TR), que atualmente está em zero, pelo índice oficial
de inflação (IPCA), segundo uma fonte a par das discussões.
O assunto está sendo discutido de forma reservada entre o Banco Central (BC) e o Ministério da Economia. A mudança visa proporcionar uma fonte alternativa de recursos para a habitação com a chamada securitização no mercado financeiro.
Os bancos que captam depósitos de poupança e são obrigados a investir boa parte desses recursos em crédito imobiliário poderão vender no mercado as carteiras de crédito lastreadas pelo IPCA. Não há demanda no mercado por ativos atrelados à TR, ao contrário do que ocorre com o IPCA.Recentemente, a Caixa Econômica lançou uma linha de crédito imobiliário com correção pela inflação.
Ganho maior que renda fixa
A Selic está hoje em 6% ao ano, o que concede ao poupador um ganho de
4,20% com a TR zerada. Com a troca do indexador pelo IPCA, o rendimento
dependerá do comportamento da inflação. Neste momento, o retorno seria
significativamente maior: 7,6%, segundo cálculos feitos por Miguel
Ribeiro de Oliveira, presidente da Anefac, associação que reúne
executivos de finanças.A poupança ficaria atraente frente às demais aplicações de renda fixa. As duas principais modalidades de fundos deste tipo tiveram ganho de 6,19% e 7,80% nos últimos 12 meses, mas sobre essa rentabilidade incidem Imposto de Renda e taxa de administração.
A medida foi tomada para evitar que a remuneração da poupança - isenta de IR - fosse um entrave à queda da Selic, provocando uma distorção no mercado ao competir de forma desigual com fundos de investimento. O consultor José Urbano Duarte considera interessante buscar fontes alternativas de recursos para o setor da habitação. Mas ressalta que o ideal seria esperar o resultado da nova modalidade de crédito imobiliário corrigida pelo IPCA, com recursos captados pela poupança.
Para Ricardo Almeida, professor de finanças da Fundação Instituto de Administração, a mudança será boa:- O custo de vida está atrelado à inflação.
Hoje, há 61,2 milhões de contas de poupança no país, com patrimônio de R$ 743,3 bilhões. Procurado, o Ministério da Economia informou que não comentaria o assunto. Em nota, o BC negou que a matéria esteja em análise.
Ana Paulo Ribeiro, colaborou - O Globo