Adriano Pires
Custo global da crise pode chegar a mais de US$ 3 trilhões. Ou seja, estamos perdendo o ano de 2020
No Brasil e no mundo parece estarmos vivendo o cenário do apocalipse de
um filme de ficção de Hollywood ou, então, uma terceira guerra mundial.
Países fechando as fronteiras, as Bolsas quebrando, o barril do petróleo
abaixo dos US$ 30, falta de mercadoria nas prateleiras dos
supermercados, a saúde colapsando e policiais nas ruas impedindo
aglomerações. As projeções de crescimento econômico mundial são da ordem
de 1,5% e o preço do barril em torno de US$ 35, na média, para 2020 e
2021. É bom lembrar que no início de 2020 o Brent no mercado futuro era
precificado a US$ 66. O custo global da crise pode chegar a mais de US$ 3
trilhões. Ou seja, estamos perdendo o ano de 2020. No caso da América
Latina, a combinação de queda dos preços do petróleo, colapso da moeda e
coronavírus vai manter o crescimento abaixo dos 2% em 2020.
[curioso é que todas as projeções apontam para um elevado custo para a crise resultante do coronavírus, crise global, mas grande parte da imprensa insiste em atribuir às incontinências verbais do presidente Bolsonaro as perspectivas negativas para a economia brasileira, com possibilidade de PIB negativo.
Ainda que o presidente fizesse um voto de silêncio o Brasil não poderia, especialmente após 13 anos do assalto lulopetista aos cofres públicos, ter um resultado econômico diferente da tendência mundial.]
O fato é que as consequências ainda são muito incertas. Até o momento, o
que se pode ver é uma total desorganização dos mercados financeiros e
produtivos, alcançando custos tão gigantes e sem precedentes que é
impossível prever qualquer resultado. O problema não é mais preço nem o
valor das empresas. É falta total de liquidez. Ninguém compra – ao
contrário, vende. Todos passaram a querer estocar desde alimentos até
dinheiro.
Estamos distantes de ter a capacidade de responder qual será o novo
patamar de preço do petróleo, quando devemos voltar a comprar ações,
quanto tempo teremos de crise econômica e quando chegará a vacina do
coronavírus. Ou seja, muitas dúvidas e poucas certezas. Este clima de histeria e de pânico com as lideranças nacionais e
mundiais contaminadas pelo vírus da mediocridade só traz o caos aos
mercados e à sociedade, criando um vírus econômico que pode levar a uma
terceira guerra. É inacreditável que, diante deste cenário de guerra,
não seja convocada uma reunião do chamado G-8. O que os grandes líderes
mundiais estão pensando? Lamentavelmente, não temos mais um Churchill e
um Eisenhower. E, com isso, o vírus econômico já está promovendo uma
crise sem precedentes, que vai causar estragos na economia mundial de
proporções incalculáveis e que exigirá prazos mais longos de recuperação
do que os provocados pelo coronavírus. Resta aos investidores buscar
empresas com balanço sólido o suficiente para atravessar a crise. E
esperar os bancos centrais darem assistência à liquidez.
O petróleo continua sendo a principal fonte de energia do mundo. Um
barril do produto abaixo dos US$ 30 vai tornar os veículos elétricos
menos atrativos para os consumidores. Os preços baixos podem adiar o
timing da chamada transição energética. A atual crise do petróleo poderá
levar a mudanças nas políticas dos governos em relação às fontes
renováveis de energia. Por outro lado, preços muito baixos do barril
podem levar várias empresas americanas de óleo de xisto a um estresse
financeiro. Dos aproximadamente 13 trilhões de títulos corporativos
(Corporate Bonds) emitidos por empresas americanas, 20% são de empresas
de óleo de xisto. Com um preço do barril inferior a US$ 35, é enorme a
possibilidade de essas empresas sofrerem um downgrade em seus ratings de
crédito, levando a problemas de liquidez e mesmo a um default. É bom
lembrar que estamos em ano de eleições americanas e o governo Trump vai
ter de reagir promovendo políticas de tempos de guerra.
Enquanto isso, no Brasil, o governo demorou a reagir. Não estamos vendo o
governo mobilizando a sociedade e criando saídas em conjunto com o
Legislativo, governadores e prefeitos. Só pronunciamentos patéticos, que
não apresentam soluções de curto prazo para os diferentes setores da
economia em tempos de guerra. Isso assusta e preocupa. No setor de
petróleo, a crise pode pôr em xeque o calendário dos leilões de petróleo
e da abertura do mercado de downstream. Tempos bicudos e tristes com a
conjugação de três vírus: o coronavírus, o econômico e o da
mediocridade, que atingiu já faz tempo a maioria de nossos líderes
políticos no Brasil e no mundo.