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quarta-feira, 8 de novembro de 2023

A bomba de Israel saiu do armário - Elio Gaspari

Numa breve entrevista a uma rádio israelense, o ministro Amichai Eliyahu, encarregado dos assuntos de Jerusalém, disse que jogar uma bomba atômica na Faixa de Gaza é “um caminho”.  
Foi logo suspenso pelo primeiro-ministro Netanyahu, e o líder da oposição, Yair Lapid, pediu sua demissão. 
Eliyahu explicou que falou na bomba “metaforicamente”. 
Tudo bem, mas falou. Jogar uma bomba atômica em Gaza seria maluquice, mas Eliyahu tirou do armário o poderio nuclear israelense.

Para sair da teoria e das metáforas, hoje, num cenário de envolvimento do Irã na guerra, o quadro seria outro, e todos os envolvidos no conflito sabem disso.

Desde as explosões de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, militares e civis já cogitaram o uso de artefatos nucleares em campos de batalha. 
Entre 1950 e 1968, três presidentes americanos (Harry Truman, Dwight Eisenhower e Lyndon Johnson) recusaram pelo menos uma dúzia de pedidos para lançar bombas na Coreia, na China e no Vietnã.

Nessa época, um jovem professor americano chamado Henry Kissinger despontava com um livro em que discutia o uso de artefatos nucleares com baixo teor explosivo, como armas táticas.

Pelo lado de Israel, construiu-se uma história de clarividência, tenacidade e astúcia diplomática
David Ben-Gurion começou a tratar da bomba em 1945, logo depois da explosão de Hiroshima. 
Ele era um líder sionista na Palestina, e o Estado de Israel era apenas uma ideia. 
Seu interlocutor era um jovem cientista que fazia explosivos para combatentes da Haganá.

Em abril de 1948, um mês antes da criação de Israel, Ben-Gurion começou a recrutar cientistas. Anos depois, aos 29 anos, Shimon Peres tornou-se diretor do Ministério da Defesa. Ele começaria as conversas com a França para a construção de um pequeno reator em Israel. Ben-Gurion seria claro: — Eu quero a opção nuclear.

Em 1957, Peres fechou o acordo para a construção do reator em Dimona, no Deserto do Negev. Os Estados Unidos desconfiaram desse reator desde a primeira hora. Em segredo, Israel construiu uma usina subterrânea para o reprocessamento do plutônio usado no reator. 
Sete inspeções de cientistas e diplomatas americanos não suspeitaram (ou não quiseram suspeitar) de sua existência.
 
Em 1967, Israel já tinha dois artefatos. Hoje teria entre 60 e 400.  
Seu uso foi chamado pelo primeiro-ministro Levi Eshkol de “opção de Sansão”, aquele que destruiu o templo dos filisteus. 
Ao contrário da Índia, do Paquistão e da Coreia do Norte, Israel nega que tenha as bombas. (Em 1969, o presidente Nixon perguntou a Golda Meir se ela tinha “coisas perigosas”, e ela respondeu que tinha. Quando Golda ia saindo do encontro, ele lhe disse: “Tome cuidado”.)

Por décadas, Israel produziu e estocou artefatos nucleares. Seus desmentidos preservam um segredo de polichinelo. Os inimigos de Israel cultivam uma ilusão, de que um país se deixará destruir sem usar todas as armas de que dispõe. Amichai Eliyahu pode ser um radical aloprado, mas sua “metáfora” reflete a realidade.

Tirando as bombas do armário, ele colocou a discussão da guerra no seu devido patamar. Uma coisa são as operações contra o Hamas em Gaza. Bem outra seria uma expansão da guerra, com uma possível entrada do Irã no conflito. Nesse caso, o risco é outro.

Elio Gaspari, colunista - O Globo


sábado, 21 de março de 2020

Tempos bicudos e tristes - O Estado de S.Paulo

Adriano Pires 

Custo global da crise pode chegar a mais de US$ 3 trilhões. Ou seja, estamos perdendo o ano de 2020

No Brasil e no mundo parece estarmos vivendo o cenário do apocalipse de um filme de ficção de Hollywood ou, então, uma terceira guerra mundial. Países fechando as fronteiras, as Bolsas quebrando, o barril do petróleo abaixo dos US$ 30, falta de mercadoria nas prateleiras dos supermercados, a saúde colapsando e policiais nas ruas impedindo aglomerações. As projeções de crescimento econômico mundial são da ordem de 1,5% e o preço do barril em torno de US$ 35, na média, para 2020 e 2021. É bom lembrar que no início de 2020 o Brent no mercado futuro era precificado a US$ 66. O custo global da crise pode chegar a mais de US$ 3 trilhões. Ou seja, estamos perdendo o ano de 2020. No caso da América Latina, a combinação de queda dos preços do petróleo, colapso da moeda e coronavírus vai manter o crescimento abaixo dos 2% em 2020.
[curioso é que todas as projeções apontam para um elevado custo para a crise resultante  do coronavírus, crise global, mas grande parte da imprensa insiste em atribuir às incontinências verbais do presidente Bolsonaro as perspectivas negativas para a economia brasileira, com possibilidade de PIB negativo. 
Ainda que o presidente fizesse um voto de silêncio o Brasil não poderia, especialmente após 13 anos do assalto lulopetista aos cofres públicos, ter um resultado econômico diferente da tendência mundial.]

O fato é que as consequências ainda são muito incertas. Até o momento, o que se pode ver é uma total desorganização dos mercados financeiros e produtivos, alcançando custos tão gigantes e sem precedentes que é impossível prever qualquer resultado. O problema não é mais preço nem o valor das empresas. É falta total de liquidez. Ninguém compra ao contrário, vende. Todos passaram a querer estocar desde alimentos até dinheiro.

Estamos distantes de ter a capacidade de responder qual será o novo patamar de preço do petróleo, quando devemos voltar a comprar ações, quanto tempo teremos de crise econômica e quando chegará a vacina do coronavírus. Ou seja, muitas dúvidas e poucas certezas.  Este clima de histeria e de pânico com as lideranças nacionais e mundiais contaminadas pelo vírus da mediocridade só traz o caos aos mercados e à sociedade, criando um vírus econômico que pode levar a uma terceira guerra. É inacreditável que, diante deste cenário de guerra, não seja convocada uma reunião do chamado G-8. O que os grandes líderes mundiais estão pensando? Lamentavelmente, não temos mais um Churchill e um Eisenhower. E, com isso, o vírus econômico já está promovendo uma crise sem precedentes, que vai causar estragos na economia mundial de proporções incalculáveis e que exigirá prazos mais longos de recuperação do que os provocados pelo coronavírus. Resta aos investidores buscar empresas com balanço sólido o suficiente para atravessar a crise. E esperar os bancos centrais darem assistência à liquidez.

O petróleo continua sendo a principal fonte de energia do mundo. Um barril do produto abaixo dos US$ 30 vai tornar os veículos elétricos menos atrativos para os consumidores. Os preços baixos podem adiar o timing da chamada transição energética. A atual crise do petróleo poderá levar a mudanças nas políticas dos governos em relação às fontes renováveis de energia. Por outro lado, preços muito baixos do barril podem levar várias empresas americanas de óleo de xisto a um estresse financeiro. Dos aproximadamente 13 trilhões de títulos corporativos (Corporate Bonds) emitidos por empresas americanas, 20% são de empresas de óleo de xisto. Com um preço do barril inferior a US$ 35, é enorme a possibilidade de essas empresas sofrerem um downgrade em seus ratings de crédito, levando a problemas de liquidez e mesmo a um default. É bom lembrar que estamos em ano de eleições americanas e o governo Trump vai ter de reagir promovendo políticas de tempos de guerra.

Enquanto isso, no Brasil, o governo demorou a reagir. Não estamos vendo o governo mobilizando a sociedade e criando saídas em conjunto com o Legislativo, governadores e prefeitos. Só pronunciamentos patéticos, que não apresentam soluções de curto prazo para os diferentes setores da economia em tempos de guerra. Isso assusta e preocupa. No setor de petróleo, a crise pode pôr em xeque o calendário dos leilões de petróleo e da abertura do mercado de downstream. Tempos bicudos e tristes com a conjugação de três vírus: o coronavírus, o econômico e o da mediocridade, que atingiu já faz tempo a maioria de nossos líderes políticos no Brasil e no mundo.

Adriano Pires - O Estado de S. Paulo



quinta-feira, 18 de julho de 2019

“Filhote do espelho meu” e outras notas de Carlos Brickmann

Ao garantir que uma das qualidades do filho para ser embaixador nos EUA é ter fritado hambúrguer, Bolsonaro mostra que Narciso acha feio o que não é espelho


A reforma da Previdência marcha triunfalmente, e se não é aquela com que o Governo sonhou está dela muito próxima. A reforma tributária, que tem tudo para dar um impulso na economia, segue para o Congresso até o fim do mês. A inflação está abaixo de 4% ao ano, ótimo resultado; a safra foi ótima, a balança comercial tem saldo, o capital estrangeiro vai voltando, há bons projetos de infraestrutura a ser tocados pela iniciativa privada. E Bolsonaro, comemora? Não: prefere desviar o foco das atenções para a escolha de seu filho 03, Eduardo, para a Embaixada em Washington, uma ideia no mínimo controvertida — e com o risco de ser rejeitada no Senado.

Aparentemente, Bolsonaro se irrita quando falam em Governo, e não nele ou em sua família. A cada vez que tem uma vitória, muda o foco da discussão para algo em que os Bolsonaros se tornem o centro das atenções, seja demitindo antigos aliados de política, seja trazendo ao debate assuntos como a defesa do trabalho infantil. Prefere ser malhado a ficar fora do foco, mesmo que seja prejudicado por isso — pois afinal, se o Governo der certo, quem terá louvores não serão ministros ou parlamentares, mas o presidente Bolsonaro.  Mas, garantindo que uma das qualidades do filho para ser embaixador nos EUA é ter fritado muito hambúrguer, proclamando que quem manda é ele, dando ênfase a brigas internas, propondo mudanças ruins para seu Governo no projeto da Previdência, mostra que Narciso acha feio o que não é espelho.

A luta por espaço
Que é que ganha espaço nos meios de comunicação: a inflação em recorde de baixa ou as divergências entre Carluxo, o 02, e o vice Hamilton Mourão? Não há dúvida: como dizia um notável político, Adlai Stevenson, derrotado duas vezes por Eisenhower em eleições presidenciais americanas, o editor é quem separa o joio do trigo, e publica o joio.

(...)

Muito bom
Hoje devemos receber uma boa notícia: um acordo no Mercosul para acabar com o roaming, o truque das operadoras telefônicas para cobrar mais caro pelos telefonemas de quem viaja pelo exterior. Ao menos dentro dos países do grupo o roaming deixará de ser cobrado.

Muito ruim
Grandes operadoras de planos de saúde colaboram num projeto de lei para aumentar ainda mais a mensalidade de seus clientes Em princípio, serão 90 artigos destinados a facilitar o aumento de preços por faixa de idade, derrubar os prazos máximos de espera por exames e tratamentos e tirar ao máximo os poderes da Agência Nacional de Saúde, que consideram pouco favorável a eles. O projeto será oferecido ao Governo. Mas, se o Governo não topar, não faltará algum parlamentar amigo pronto a esfolar os clientes das operadoras.

Debate bravo
O ministro da Economia, Paulo Guedes, acaba de enviar ao presidente Bolsonaro uma proposta de emenda constitucional que acaba com a inscrição obrigatória na OAB. [justo, justíssimo; afinal como bem perguntou o nosso presidente: 'para que serve essa OAB?', a resposta é uma só: garantir um imenso latifúndio, feudo, para os advogados.
Com pretextos descabidos conseguiu implantar a norma que toda questão judicial tem que ter a presença de um advogado e com isso garante rendimentos fabulosos, para  - não todos - advogados que em grande parte tem como especialidade defender bandidos, especialmente os da gang do presidiário Lula.
Se age como um sindicato que a inscrição - e contribuição seja facultativa e ´possa ser exigida apenas dos advogados que autorizem de forma expressa e prévia sua inscrição naquele 'sindicato' e eventual cobrança de taxa/mensalidade - e quam quiser se inscrever basta apresentar comprovante de conclusão do curso de Direito. NADA de fazer exames que só oneram o advogado.] Na justificativa, diz que hoje há risco de burocratização pela criação de procedimentos e rotinas que só atendem às corporações. Medida semelhante atinge ainda outros conselhos profissionais. No caso da OAB, a medida é controvertida e não será aceita sem resistência da categoria. Entre outras coisas, se a inscrição na Ordem não for obrigatória, como fica o Exame de Ordem? Qualquer bacharel que se formar em Direito poderá automaticamente ser advogado? E a quem recorrer contra maus advogados? [claro que pode e deve ter esse direito reconhecido pelo Estado;
o que é mais importante uma vida humana ou uma ação judicial - os médicos que operam corações, fazem intervenções neurológicas, separam siameses, não precisam provar que são competentes;
os dentistas, idem; 
os engenheiros, alguns constroem obras que se desabarem provocarão a morte de milhares de pessoas não precisam fazer exames para provar capacidade.
Qual a razão de um bacharel em direito para ser advogado e poder, entre outras atividades, defender bandidos ter que provar que é competente?] 


(...)

Publicado na Coluna de Carlos Brickmann
 
Transcrito do Blog do Augusto Nunes - Revista VEJA
 
 

sábado, 28 de julho de 2018

Rapidez e rigor

A decisão de Raquel Dodge, na qualidade de procuradora-geral eleitoral, de divulgar instrução normativa orientando todos os procuradores a ingressarem com ações para impugnar candidaturas de políticos condenados em segunda instância, conforme prevê a Lei da Ficha Limpa, é mais uma sinalização da Justiça de que não permitirá que a insegurança jurídica embaralhe o resultado das eleições de outubro.

Mesmo que tenha ressaltado que a legislação admite candidaturas sub judice, quando ainda há possibilidades de recursos, a decisão, acrescentada da advertência do atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro do STF Luiz Fux, de que a Justiça Eleitoral será rigorosa contra os candidatos fichas-suja, indica que a tentativa do PT de tentar ganhar tempo através de recursos protelatórios para conseguir colocar o nome de Lula na urna eletrônica tem tudo para dar errado.

Rapidez e rigor são as palavras que acompanham sempre as declarações das autoridades encarregadas de zelar pela lisura das eleições presidenciais. Nossa expectativa é fazer prevalecer a Lei da Ficha Limpa, garantiu a procuradora-geral da República. Ontem o futuro presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, no plantão judiciário, confirmou à Justiça Eleitoral de Goiás que o ex-senador Demóstenes Torres pode se candidatar ao senado nas próximas eleições.  A decisão fora tomada por 3 votos a 2 na Segunda Turma do Supremo, e foi confirmada ontem por Toffoli. A alegação para passar por cima da Lei da Ficha Limpa, que prevê que, além dos condenados em segunda instância, também os políticos cassados, como é o caso de Demóstenes, estão inelegíveis, é que o ex-senador não poderia ser considerado inelegível porque as provas que justificaram sua cassação acabaram anuladas pela Justiça.
 ,
A decisão abre um precedente perigoso, pois a Lei da Ficha Limpa não prevê nenhum recurso ao STF. O Senado que cassou Demóstenes foi simplesmente ignorado na decisão. Mas também é improvável que o processo que condenou Lula venha a ser anulado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), a quem cabe analisar os recursos.

Precedente histórico
A interferência da Rússia na eleição de Donald Trump, alvo de uma investigação independente nos Estados Unidos, tem um precedente histórico revelado no livro de memórias de Nikita Khrushchev, secretário-geral do Partido Comunista da então União Soviética. Ele se gaba de ter ajudado John Kennedy a vencer Nixon na eleição presidencial de 1960, retardando a liberação do piloto do U2 Gary Powers, preso acusado de espionagem. Com isso, evitou que Nixon, reconhecido como um anticomunista feroz, pudesse anunciar que só ele sabia como lidar com os soviéticos.


Na estimativa de Khrushchev, a manobra resultou em mais de 500 mil votos para Kennedy, que ganhou a eleição com 303 votos contra 219 no colégio eleitoral, com apenas 112.827 votos de diferença, ou 0,1% do voto popular. Powers era piloto de um avião espião U2 abatido pelos mísseis soviéticos quando sobrevoava Sverdlovsk. O avião caiu quase totalmente intacto, e os soviéticos recuperaram seus equipamentos, que foram analisados minuciosamente durante o que se chamou de “a crise do U2”. Powers foi interrogado exaustivamente pela KGB durante meses, e acabou confessando que era um espião.

Sua libertação antes da eleição poderia dar um trunfo para Nixon, que servira durante oito anos como vice de Eisenhower. Outra coincidência com a eleição de Trump contra Hilary Clinton em 2016 é que Nixon dedicou-se a uma campanha em todos os distritos eleitorais, enquanto Kennedy empenhou seu esforço nos chamados estados indecisos (wing states), do mesmo modo que Trump fez. Hilary Clinton ganhou no voto popular e perdeu no colégio eleitoral. Kennedy ganhou nos dois, mas, pelas contas de Khrushchev, perderia no voto popular se não fosse a ajuda da União Soviética. Não há como provar que não ganharia no colégio eleitoral, que é o que vale, se a União Soviética não tivesse evitado que o anticomunista Richard Nixon pudesse angariar popularidade com a liberação do prisioneiro.

Merval Pereira - O Globo

Saiba mais, aqui
 

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

José Nêumanne - Alhos com bugalhos

Governo e Justiça usam argumentos absurdos na luta para impor seu poder sobre o outro


A insana luta entre os Poder Executivo e Judiciário em torno da posse da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) no Ministério do Trabalho justamente nos dez meses que restam a Temer para debelar o máximo que puder a crise do desemprego, ainda renitente, é insana, injustificável e burra. Da mesma forma que completamente disparatadas têm sido as tentativas dos juízes federais de justificar a decisão imoral, apesar da alegação de sua legalidade, de manter o auxílio-moradia. [a questão da luta entre o Poder Judiciário e o Executivo em torno da posse da deputada Cristiane Brasil, foi provocada pelo Poder Judiciário, a partir do momento em que um juiz de primeira instância, proibiu o presidente da República de exercer suas atribuições constitucionais e impediu a posse da deputada por motivo de um principio de moralidade que, conforme entendimento do ministro vice-presidente do STJ, por se tratar de um principio necessita de legislação infraconstitucional para disciplinar sua aplicação.

O principio da moralidade está no mesmo artigo da CF que estabelece o principio da legalidade que, salvo engano, não está sendo cumprido por todos os juízes que tem corroborado o cerceamento do direito que tem o presidente da República de governar conforme a Constituição - artigos 84 e 87 da Lei Maior.

A luta continua não mais para fazer valer a nomeação, e sim para definir se o presidente da República pode exercer suas atribuições constitucionais sem necessitar do aval do Poder Judiciário?

Quanto ao auxílio-moradia a imoralidade é tão patente, que dispensa comentários.]
A indicação da sra. Brasil para o primeiro escalão começa de forma absurda, continua de modo incoerente e parece não ter fim, sem que se possa definir se é filme de terror ou cena de sugestão pornográfica. Comecemos pelo começo, para evitar previsões impossíveis de serem feitas. Tudo começa com Temer tentando indicar o deputado federal maranhense Pedro Fernandes (PTB-MA) para o posto. O preferido da bancada foi vetado por Sarney porque abandonou as hostes do bigodudo para nomear um filho secretário do inimigo do clã Flávio Dino, atual governador. Temer é um presidente tão mal informado que o ex-presidente e correligionário teria contado a “novidade” de que o filho do ex-futuro ministro exibe na parede do escritório foto de Dilma Rousseff.

O segundo ato de comédia-bufa virou um filme de gângsteres quando o ex-presidiário Roberto Jefferson, dono do PTB, fundado por Getúlio Vargas, aceitou com emoção a lembrança do presidente de uma eventual nomeação da filha Cristiane Brasil. Aí, o roteiro rumou para a luta de classes quando a preferida (de quem, afinal, ninguém sabe, ninguém viu) foi condenada por violar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), excrescência populista da ditadura do Estado Novo. Logo esta, que resistiu à democracia superliberal de 1946, à intervenção militar de 1964, à Nova República (que Sarney herdou do getulista Tancredo Neves) e à Constituição “cidadã” do dr. Ulysses, que data de 1988.

A paródia política da Viúva Porcina da novela Roque Santeiro, de Dias Gomes, proibida pela censura na ditadura e liberada para exibição na democracia atual, deu todas as razões possíveis e imagináveis às intervenções de juízes de primeira e segunda instâncias no direito defendido pelo presidente de nomear o ministro que lhe aprouver. De fato, a intervenção da Justiça é estapafúrdia e justifica os argumentos governistas de que se trata de uma intromissão indevida do Judiciário no Executivo. Mas a teimosia de Temer em manter a herdeira do delator do mensalão parece mais suicida, do ponto de vista político, do que “sincericida”. Não seria o caso de agradecer aos juízes pela chance de se livrar das trapalhadas da sra. Brasil? Decerto, não é racional que as absolva.

A filhota do advogado que se consagrou no programa O povo na TV do SBT no Rio insiste em se dizer processada, quando ela foi condenada pela Justiça do Trabalho. No mínimo, ela mente e, embora não chegue a ser um delito grave, certamente não é uma das virtudes teologais que a população exige de um ministro de Estado. Ela usou o refrão até quando teve a insânia de divulgar em redes sociais um vídeo em que aparece ao lado de quatro descamisados, no qual misturou desconhecimento do vernáculo com impropriedade jurídica, produzindo este primor de patacoada ao se defender das acusações a que responde na Justiça: “Não sei quem passa na cabeça dessas pessoas que entram na Justiça contra mim” (sic). O deslize gramatical não consegue esconder a pretensão da deputada, que transmite ao distinto público a própria versão do foro de prerrogativa de função: a imunidade total perante a lei.

Talvez por ter sido o único brasileiro que tenha conseguido entender o que a moça quis dizer, seu colega na Câmara Carlos Marun encarnou seu lado de valentão de circo na defesa da ex-futura colega de Ministério, concentrando sua atenção apenas no desempenho cafajeste de mandar um recado desafiando a lei. em trajes de banho, o que não era bem o caso. O próprio pai, que atacou os “moralistas” que não aceitaram a intervenção dos descamisados da sra. Brasil no debate político nacional, substituindo o “eia sus” de antanho pelo “vai, ministra!”, puxou-lhe a orelhinha pela constatação evidente de que não se trata de negócios públicos al mare. Tendo-a introduzido na discussão da reforma de Previdência, para cuja vitória foi nomeado secretário de governo, Marun considerou o à-vontade dos participantes do vídeo em questão adequado, pois, segundo o próprio, nem ele mesmo, um ilustre varão do Pantanal, frequenta praia de terno.

Nessa dita ocasião, o encarregado de pacificar as forças políticas para o bem do País e salvação dos cofres públicos misturou os alhos da lancha usada como tribuna com os bugalhos do auxílio-moradia dos juízes. “Dois auxílios-moradia para quem vive em casa própria é moral?”, perguntou, referindo-se ao fato de o casal Simone e Marcelo Bretas receber duas vezes o auxílio-moradia, embora conviva sob um único teto.  A verdade pela metade foi logo apropriada pela turma do lema “eleição sem Lula é fraude”. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, não perdeu a oportunosa ensancha de tentar desqualificar a condenação de Lula por Sergio Moro porque foi exarada por um juiz federal que, como informou a Folha de S.Paulo, recebe o mesmo auxílio-moradia de Bretas, embora disponha de um apartamento próprio na sede da comarca que dirige, em Curitiba. A meia-verdade é que auxílio-moradia é lícito, não é crime, mas privilégio, o que não é ético e é feio. Corrupção é crime e Lula, o ídolo de Glesi, é criminoso com papel passado na primeira instância e repassado na segunda, por três a zero, um fato consumado que não terá mais como ser corrigido no futuro.

Os juízes Bretas e Moro defenderam-se, mas não se livraram do constrangimento. Bretas ironizou a própria opção pelo direito de requerer um privilégio que custa caro à Nação (R$ 800 milhões por ano, conforme reportagem do Estado no último fim de semana) só porque a lei o permite. Esse é um truísmo salvador, mas pior fez Moro, e duas vezes. Na primeira, disse o seguinte ao Globo: “O auxílio-moradia é pago indistintamente a todos os magistrados e, embora discutível, compensa a falta de reajuste dos vencimentos desde 1 de janeiro de 2015 e que, pela lei, deveriam ser anualmente reajustados”. A que lei ele se refere? Faltou registrar. Não se espera de um juiz que julgue algo ilegal sem citar os termos exatos da lei que ele acha que está sendo violada. Por que, em vez de recorrer a um penduricalho como se fosse um drible da vaca na ordenação jurídica das remunerações funcionais do serviço público, ele não recorreu aos tribunais de praxe, como qualquer zemané? 

Aliás, há muito tempo vozes indignadas contra os privilégios da alta casta funcional federal denunciam esse truque de carta escondida na manga de complementar vencimentos com auxílios de todos os gêneros. E ele acabou de confessar. Moro não contrariou o STF, pois o ministro Fux de fato decretou que esses dribles podem ser classificados na categoria de gols. Isso não  evita o fato de ele achar normal seu privilégio abusivo, negado ao cidadão vitimado por um déficit habitacional brutal e, não tendo casa para morar, obrigado a bancar o aluguel do funcionário que dispõe de imóvel próprio, recorrendo ao truque mandrake para ter no holerite um total acima do limite constitucional.

Moro também vacilou ao não dissuadir a mulher de disparar contra a imprensa que trata seu marido a pão-de-ló e o fez herói nacional no Instagram, em que respondeu à notícia da Folha de S.Paulo de que o casal tem apartamento próprio na sede da comarca da qual ele é titular: “Imprensa… para o bem e para o mal. Separam o joio do trigo e publicam o joio”. O barbarismo aproxima seu post da frase de Cristiane, que adicionou um eme ao “que” e este, virando “quem”, perdeu o nexo. Rosângela execrou a imprensa, sujeito singular, e pôs o verbo no plural (o mesmo eme a mais): “separam” em vez de “separa” e “publicam”,  de “publica”. Barbarismos à parte, a frase não é dela, mas de outro mal agradecido, o brilhante advogado, orador e político democrata americano Adlai Stevenson II, que foi governador de Illinois e duas vezes derrotado por Eisenhower em seguidas disputas eleitorais para presidente. Chumbo grosso queima e fulgura no disparo, mas repetido torna-se duro e opaco.
Essa mistura de alhos com bugalhos na vida pública nacional em nada engrandece seus estrategistas, apenas lhes expõem os defeitos.

José Nêumanne, publicado no Blog do Nêumanne