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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Confiança x tentação

A dívida bruta brasileira está se aproximando dos 70% do PIB, valor considerado muito alto para um país emergente

Quanto maior a dívida, maior a taxa de juros que o devedor terá de pagar para se financiar. E mesmo pagando caro, terá dificuldade para arranjar credores dispostos a emprestar mais dinheiro. Certo? Errado se esse devedor for o Japão, um país que produz bens e serviços no valor de US$ 4,6 trilhões ao ano e cujo governo deve US$ 10,5 trilhões (ou 230% do PIB). Pois ainda na última terça-feira, investidores internacionais andaram comprando títulos de dez anos do Tesouro japonês com taxa de juros negativa. Isso mesmo, -0,05% ao ano.

Entenderam bem: se esses investidores guardarem os papéis até o vencimento, receberão menos do que aplicaram. Ainda assim, houve até uma pequena corrida por aqueles títulos, com a venda simultânea de ações na Bolsa de Tóquio, que caiu quase 8% nos dois primeiros dias desta semana. E não caiu ontem porque estava fechada por conta do feriado do Ano Novo Lunar.

Verdade que os juros estiveram levemente negativos e por apenas alguns minutos do pregão — apressam-se a explicar os analistas. No geral, a taxa está zero ou levemente positiva, acrescentam.  Ah! bom! O normal então é uma espécie de garanta o seu. Se não dá para ganhar, o negócio é não perder.

Quer comparar? No Tesouro Direto, você, leitor, pode comprar um título do governo brasileiro com vencimento em janeiro de 2017 com taxa pré-fixada de 16,2% ao ano, pagando juros semestrais. Pode também comprar títulos que pagam a inflação mais 7,4%.  A dívida bruta brasileira está se aproximando dos 70% do PIB neste ano valor considerado muito alto para um país emergente, mas uma mixaria quando comparada com a de 230% do PIB do governo japonês.

E, então, como ficamos?  No caso do Japão, parece que consumidores e investidores perderam a confiança na recuperação do crescimento. Na verdade, essa percepção, essa desconfiança ou o medo de que a economia mundial não vai crescer se espalhou pelos países desenvolvidos nas últimas semanas. Mais que isso: muita gente passou a temer que se repita a devastadora crise financeira de 2008/09.

Olhando os números como lembrou ainda ontem Janet Yellen, presidente do Fed, o banco central dos EUA — nenhum sugere que o mundo está sequer perto de um novo terremoto. Mas, sabe como é, quem tem muito dinheiro a perder e quem já perdeu desconfia. E se protege. Títulos do governo da Alemanha pagam quase nada, menos de 1% ao ano. Dos EUA, 1,7%. Todos com boa demanda, assim como os papéis japoneses.

A regra do jogo aqui é segurança. Se as ações de grandes bancos estão em queda — como as do Deutsche — no que mais se pode confiar? Nos governos mais sérios.  Essa confiança ajuda os governos a se financiar, mas, curiosamente, traz um outro problema. Por exemplo: investidores compram ienes para adquirir os títulos do governo. Com isso, a moeda japonesa se valoriza, o que atrapalha uma economia fortemente exportadora. Ora, isso reduz a possibilidade de crescimento, mesma queixa nos EUA.

Daí o Banco Central japonês ter colocado a taxa de juros abaixo de zero. Assim: se um banco comercial resolver depositar suas reservas no BC, vai pagar 0,1% sobre o total. Isso mesmo, paga para deixar o dinheiro lá parado.  Claro que o objetivo do BC é o contrário: que os bancos comerciais rodem esse dinheiro, emprestem para empresas e consumidores, de modo que estes gastem e movimentem a economia.

O que aconteceu nos últimos dias foi que o pessoal preferiu deixar o dinheiro parado.
Essa é a batalha atual no mundo desenvolvido: os bancos centrais fazendo o possível para que as pessoas invistam e gastem em coisas reais, de fábricas a automóveis. E o pessoal meio que desconfiado. E ninguém tem medo que esses governos superendividados deem o cano? Não.
Por que?
Porque não, porque são confiáveis.

Nesse ambiente, ganhar juros reais de mais de 7% ao ano é uma magnífica tentação. A economia brasileira vai mal das pernas, o governo está produzindo déficits que aumentam sua dívida, mas não vai quebrar amanhã. Sim, é arriscado, o investidor tem de pagar um seguro elevado quando compra papéis brasileiros, mas, caramba! — inflação mais 7% é imbatível, pelo menos enquanto durar a festa.  Eis a história: todos os BCs gostariam que empresários e consumidores fossem ao mercado real. Uns podem impor o desestimulante juro zero, outros, que perderam a confiança ao longo da história, têm de oferecer juros estratosféricos para financiar suas contas detonadas.

Confiança, juro zero.
Desconfiança, medo e tentação: juros no céu. Ou no inferno.

Fonte: Carlos Alberto Sardenberg, jornalista - O Globo

domingo, 3 de janeiro de 2016

O retrato do capitalismo petista

O ano que passou e este que está começando entrarão para a História do capitalismo petista.  

A repórter Natália Cacioli revelou que, pela primeira vez desde 2002, quando foi criado o Tesouro Direto, um supermercado de papéis do governo, o número de pessoas que protegeu seu dinheiro com pouca intermediação financeira superou o de investidores na Bolsa de Valores. Em apenas um ano o número de clientes do Tesouro Direto cresceu 72%, chegando a 587 mil.

Em tese, quem aplica na bolsa brasileira investe na produção. Quem vai para o papelório do Banco Central remunera-se à custa do endividamento do governo. Com a taxa de juros a 14% (e vem mais por aí), quem foi para o Tesouro Direto deu-se melhor do que a clientela da caderneta de poupança (137 milhões de contas). 

A aplicação preferida do andar de baixo, onde está o dinheiro de quem se previne contra o desemprego, teve rentabilidade negativa, pois pagará 7,95% contra uma inflação de 10,48%. A Bolsa foi pior, voltou ao nível de 2008, acumulando uma queda de 29% no ano. Isso se deveu em parte à gestão dos comissários na Petrobras e à queda das ações da Vale, produto da conjuntura internacional, bem como da irresponsabilidade de sua sócia Samarco, a mãe do desastre de Mariana.

O PT produziu a maior taxa de juros do mundo e o pior desempenho internacional do mercado de ações. Vive-se melhor emprestando dinheiro ao governo e aplicando-o diretamente no Tesouro do que investindo na produção de seja lá o que for. Sempre que isso acontece a vida dos brasileiros piora.  A expansão dos fregueses do Tesouro Direto reflete uma cautela dos investidores. Além de buscar remuneração nos papéis da Viúva, preferiram evitar aplicações mais sofisticadas em fundos de instituições financeiras. Fugiram de todos os riscos, no que fazem muito bem.

Os governadores tiveram uma boa ideia
Com os cofres vazios e os serviços públicos em crise, os governadores de Rio, São Paulo e Brasília puseram uma ideia na mesa: querem participar da cobrança do atendimento de clientes dos planos de saúde em hospitais mantidos pelo SUS.  Nada de novo, pois a lei manda que essa cobrança seja feita. Como disseram Geraldo Alckmin e Luiz Fernando Pezão, só a União pode cobrar e ela cobra mal. Desde o século passado as operadoras driblam esse pagamento, ajudadas pela inépcia da Agencia Nacional de Saúde. Só recentemente ela conseguiu elevar para R$ 335 milhões os valores cobrados, o que ainda é pouco. Vale lembrar que só 30% das internações eletivas de clientes dos planos foram cobrados pela ANS.

Se houvesse alguma dúvida em relação à boa qualidade da ideia, ela foi eliminada pela reação das guildas das operadoras. A Associação Brasileira de Medicina de Grupo disse que a medida poderá gerar custos operacionais, encarecendo os planos privados. Como eles descobriram isso, não se sabe, pois a proposta ainda não foi detalhada e o que os governadores querem é participar da cobrança (e da partilha) de um ressarcimento determinado pela lei. [lei inconstitucional, já que o SUS é do governo, portanto custeado com os impostos do contribuinte; ao pagar impostos o contribuinte está custeando uma porção de despesas, entre elas o SUS (a cujo atendimento ele tem direito indiscutível - seja um desempregado, um morador de rua, um inválido, ou um funcionário com polpudo salário e associado a um excelente plano de saúde). 
No momento, em que o SUS passa a receber das operadoras de planos de saúde - planos que são pagos pelo contribuinte, aí na condição de associado ao plano - passa a receber duas vezes: uma na geral, do cidadão = contribuinte que paga compulsoriamente (imposto) sem saber se vai utilizar ou não o SUS; outro via plano de saúde que é custeado pelo cidadão = associado que paga sua mensalidade ao plano de saúde, também sem saber se vai necessitar ou não
Só que ao ser obrigado a pagar ao SUS, por serviços eventualmente prestados ao cidadão associado ao plano, a mantenedora do plano de saúde tem aumento de gastos e a forma de ressarcimento, a única, é cobrar do cidadão=associado - que paga duas vezes sem saber se vai utilizar o SUS e paga mais um pouco quando algum associado utiliza o Sistema Único de Saúde - já que as despesas do plano pagando o SUS são repartidas entre todos os associados.]

Noutra linha de ataque, veio o argumento de que seria pouco dinheiro. É a velha síndrome da reivindicação sucessiva: não se pode fazer uma coisa enquanto não se fizer outra que, por sua vez, depende que se faça uma terceira e, com isso, não se faz nada. Na verdade, faz-se: tenta-se ressuscitar a CPMF cobrando mais um imposto a quem bate com a cara na porta dos hospitais.

O governo e as operadoras de saúde privada sabem que estão sentados em cima de uma bomba, com um mercado poluído por planos enganosos e custos hospitalares desonestamente díspares. Isso e mais a migração de clientes desempregados para o SUS.

Pé no freio
Em novembro passado, quando caminhoneiros ameaçavam obstruir estradas em todo o país, o comissariado do Planalto teve a ideia de chamar a tropa do Exército.
Ouviram de volta uma ponderação de um comandante militar:
Obstruir estradas é um crime e justifica-se o pedido de tropa para retirar os caminhões. E quando esse mesmo crime for cometido pelo Movimento dos Sem Terra, por índios ou organizações sindicais, os senhores vão chamar o Exército de novo?
Não se falou mais no assunto.
E quando ele reaparecer, haverá outra questão: o ministro pede a tropa ao general, o general dá a ordem a um coronel e ele desloca os soldados, comandados por um capitão. Quando surgir um cadáver, quem vai para a Comissão da Verdade?

A força da doutora
De um sábio:
“Se o impeachment de Dilma Rousseff for à votação na Câmara e ela tiver mais de 171 votos a seu favor, a iniciativa morre. O PT acha que essa marca mostrará a força do governo, mas está enganado. Terá conseguido apenas um terço da Câmara.
Com qualquer resultado abaixo de 257 votos, indicativos da maioria absoluta, o Planalto poderá dizer que Dilma escapou do impeachment, mas não terá muito a comemorar. Ela se livra do impeachment, mas precisa de 257 votos para voltar a respirar sem a ajuda de aparelhos.”

O sol de hoje
Algum dia as poucas árvores plantadas na esplanada que vai da Praça Mauá ao Museu do Amanhã haverão de crescer.
Até lá, criou-se ali a maior churrasqueira dos tempos modernos. Para quem gosta de maquete, ficou uma beleza, para os bípedes, um suplício.

O diário de Márcio
Desde 2003, quando assumiu o Ministério da Justiça, sabia-se que o advogado Márcio Thomaz Bastos manteve um diário. Nele estariam contados grandes momentos da crise do mensalão e da queda do ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Esses papéis só poderiam ser lidos muito depois de sua morte. Márcio morreu em 2014, não deixou testamento nem indicação do local onde estaria o diário. Até hoje a família não o encontrou.

Pena, porque nele estariam grandes momentos, como o de um ministro que defendia-se das acusações que lhe faziam durante uma conversa com Lula no Palácio do Planalto e Nosso Guia disse-lhe:
“#$&#@%!!! Você não consegue parar de mentir?”

Diários inexistentes são coisas da vida. Durante muitos anos circulou a informação de que o deputado Thales Ramalho tinha uma pilha de cadernos com anotações dos segredos do MDB durante a ditadura. Thales morreu em 2004, e esses cadernos nunca apareceram.
Ficam na fila dos mistérios as gravações nas quais o senador Delcídio do Amaral teria narrado os primeiros escândalos do governo de Lula.

Previsões
Duas previsões para 2016, 2017, 2018, 2019 e 2020:
Primeiro a pessimista. A economia patinará até o final de 2018, quando será eleito um novo presidente. Dependendo do resultado, o novo governo precisará de pelo menos um ano para arrumar a casa. Assim, só haverá refresco em 2020.
Agora a otimista: há tanta liquidez no mundo e com o dólar a R$ 4, investir no Brasil ficou tão barato que, ao menor sinal de esperança, a economia pode começar a melhorar ao longo de 2017.

Fonte: Elio Gaspari, jornalista - O Globo