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domingo, 6 de novembro de 2022

A suprema colheita - Percival Puggina

Por vezes, o turbilhão dos fatos dificulta a percepção da lógica dos acontecimentos. Tenho 77 anos e desde os seis, por motivos que não vale a pena mencionar, acompanho a política brasileira. Assisti a golpes e tentativas de golpes, a governos estáveis e não estáveis, presenciei muitas manifestações populares e é destas que quero tratar.

Na minha observação, povo na rua tem sido um instrumento da oposição ao governo, seja ele qual for. No entanto, desde 2019 convivemos com um fenômeno originalíssimo: povo na rua, aos milhões, dando cobertura ao governo e os eleitores da oposição impassíveis, em casa, sem picanha nem cervejinha, assistindo pela Globo.

A massa eleitoral da esquerda, reformista ou revolucionária, parecia haver perdido o gosto pela política. 
Nada tinha a reivindicar ou a combater mediante mobilização popular. 
A velha mídia do consórcio, a turma que assinaria a carta da USP às vésperas da eleição, o agregado dos operadores da Cultura, etc., falavam por todos. Povo na rua, contudo, não. Quando o ensaiaram deu fiasco.
 
Qual o motivo de tão prolongado tempo sabático? O que pôs em silêncio os ruidosos e contrariados de sempre, que nem no Congresso (exceção feita ao cirquinho dos três patetas) parecia ter o que fazer? Ora, amados leitores, a oposição tinha a lustrosa cereja do bolo a consistente, operosa, sôfrega, metediça e eficaz maioria petista no STF e, no devido tempo, também no TSE. 
E a cobertura do bolo era proporcionada pelas redações da velha mídia do consórcio.

Impossível assim proceder e ser ovacionado pelo universo. Talvez fosse a essa expectativa que a infeliz combinação de orgulho, vaidade e falta de bom senso os levasse. A relação, porém, seguiu o caminho da desconfiança e da indignação, respondidas por quem usa toga: furiosas ameaças, bloqueios de páginas e perfis, desmonetizações, censuras, inquéritos finis mundi, prisões, sequestros de bens privados, violações de prerrogativas constitucionais.

Tivessem ouvido o povo nas praças, não estaríamos vivendo este momento! Agora, colhem o fruto da perda da confiança, pela qual não souberam zelar e do medo que se dedicaram a semear. 
 Ele é azedo e danoso à saúde social. É o que diz o povo, novamente na rua, num movimento em que a coragem vence o constrangimento e o medo. Ele refuga o jugo e exige esclarecimentos.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

quarta-feira, 11 de maio de 2016

A trama dos três patetas animou o comício-velório no Planalto com um novo grito de guerra: ‘Uh, Maranhão!’



Durante algumas horas, um Eduardo Cunha em edição piorada fez Dilma sonhar com o enterro do impeachment e a permanência no emprego
Nesta segunda-feira, Dilma Rousseff estrelava no Palácio do Planalto um comício da pelegagem estudantil quando recebeu a notícia de que Waldir Maranhão fizera o que, na véspera, havia prometido fazer ao fim do encontro com José Eduardo Cardozo: numa decisão monocrática, anulou a sessão da Câmara que aprovou o impeachment da presidente. Para fingir que ignorava a trama que aprovara com louvor, Dilma caprichou na expressão de surpresa ─ até trocou por um sorriso de aeromoça a carranca que exibe desde o primeiro dia no berçário.  

Enfim convencidos de que não vai ter golpe, os estudantes profissionais mudaram o grito de guerra: “Uh, Maranhão!”, passaram a berrar. À tarde, o presidente do Senado anulou a decisão que pretendia anular tudo o que já foi decidido sobre o impeachment da governante desgovernada. À noite, o próprio Maranhão revogou a anulação do que já se tornara irrevogável. Substituto de Eduardo Cunha na presidência da Câmara, pode ter o mandato cassado antes do titular deposto pelo Supremo.

Enredado nas investigações da Lava Jato, a perda do direito ao foro privilegiado deverá antecipar a mudança de Maranhão para a República de Curitiba. Flávio Dino, que por algumas horas reivindicou a paternidade da ideia de jerico, lembrou subitamente que havia um Estado à espera de algum governador e caiu fora de Brasília. Com adversários assim, a Famiglia Sarney tem o direito de sonhar com a retomada da capitania que lhe pertenceu por 50 anos.

Dois dias antes do fim da Era da Canalhice, José Eduardo Cardoso rasgou de vez a fantasia de advogado-geral da União para assumir oficialmente o Ministério das Chicanas Imbecis. Vai ficar no cargo até a hora de deixar o Planalto em companhia da patroa despejada. Saiam ou não pela rampa, os farsantes despejados pelo povo entenderão já na primeira passada que estão descendo a ladeira que termina no beco dos esquecidos.  Ali se aglomeram presunçosos que descobriram tarde demais que a morte política frequentemente precede a morte física.

Fonte: Coluna do Augusto Nunes