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terça-feira, 8 de agosto de 2023

País do silêncio medroso e do silêncio cúmplice - Percival Puggina

    Durante o governo Bolsonaro, sempre que surgia a necessidade de conter as despesas dentro dos limites da responsabilidade fiscal, a solução vinha do corte de verbas orçamentárias.
 
Amigo leitor, dê uma pesquisada no Google e verá o modo como isso era tratado pelos meios de comunicação, pelos setores atingidos e pela militância estudantil (quando a tesoura passava perto dos sensores nervosos da moçada). 
Ali estava servido o prato cheio para o trabalho de intriga e maledicência a que esse tipo de agente político se dedica de modo implacável.

Pois eis que o governo Lula cortou verbas orçamentárias do MEC! Foram R$ 332 milhões atingindo a totalidade dos recursos para o desenvolvimento da Alfabetização, segundo levantamento da Associação Contas Abertas com dados do Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (Siop). A tesoura também pegou a compra de veículos para transporte escolar e bolsas de pesquisa no ensino superior. Silêncio!

Pelo mesmo motivo – ajustar as despesas às disponibilidades do Tesouro – o governo cortou R$ 262 milhões do Auxílio Gás. 
Você provavelmente não sabe o que significa esse auxílio no orçamento das famílias mais pobres, às quais Lula da campanha eleitoral acenou com três refeições diárias, picanha e cervejinha. 
Como serão preparadas essas refeições sem gás? E mesmo assim, silêncio.

Por outro lado, em tempos de corte na educação, na pesquisa, no transporte escolar, no gás de cozinha, o dinheiro para emendas parlamentares, em cifras bilionárias, tem tratamento privilegiado.

O Brasil tornou-se o país do silêncio medroso e do silêncio cúmplice. O primeiro imposto a cadeia, multa e tornozeleira, e o segundo comprado mediante favorecimentos incompatíveis com a propalada responsabilidade fiscal.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.


sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

O culto inculto à ignorância e à mentira - Alex, PhD

Eu não quero politizar, mas dá muita pena constatar o que acontece, faz décadas, ou melhor, não acontece no âmbito cultural em nosso país.

Não desejo ser uma espécie de elitista, mas abomino a tal cultura “popular”, quando se refere a algo que claramente tem padrões medíocres e risíveis, mas, uma vez que se originou no seio popular, é classificado por muitos como sendo artefato cultural genuíno, de valor. Como nos falta - isso que tenho 5.7 e procuro avidamente aprender - ensinar aos jovens os esteios na literatura, nas artes, na música, enfim, os grandes clássicos atemporais!

Poucas coisas me comovem tanto quanto ver diariamente nas redes sociais, muitas vezes perdidas entre xingamentos, pessoas com pouca instrução escolar, sadiamente interessadas em aprender com o que leem e expondo ideias próprias, racionais e coerentes. Essas pessoas venceram as dificuldades, aprenderam com a vida e usam a internet como ela deve ser usada. Alguém escreveu e eu assinaria embaixo: com a internet, ser ignorante é uma escolha.

Contra isso lutam os movimentos de justiceiros sociais tentando enquadrar a cultura inspirada nos clássicos como racista, homofóbica, escravista, fascista… dureza.

Outra dificuldade mastodôntica, é ensinar quem irá transmitir os essenciais ensinamentos culturais de valor inquestionável aos jovens.

Lastimo muito pelo Brasil de hoje.

Bolsonaro, evidente que no sentido de estofo cultural, não era nenhuma Brastemp. Aliado a isso, seu trabalho na área da educação foi muito ruim e/ou não conseguiu mover as peças no tabuleiro dos reis e das rainhas progressistas que mandam na educação e no “cultural brasileiro”.

Mas não há nada que não possa ficar pior, e o pior, para a alegria de Murphy, realizou-se: Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível”.

Sagrou-se “vitorioso” um semianalfabeto que se orgulha de não ter estudado e de não ler.

A língua portuguesa para esse cidadão, é tão perigosa como um pequeno lago abarrotado de piranhas.

Um analfabeto em história e em tudo que tangencie, com honras - sem dúvida - a alta cultura. Sou preconceituoso sim com um presidente que seguramente ajudou a forjar uma atmosfera cultural que se orgulha da ignorância.

Hoje, na Argentina, esse contumaz comedor de “s”, além de semianalfabeto, um mentiroso inveterado, junto ao seu parceiro na ideologia do fracasso a la Gardel, afirmou que a economia argentina foi “outstanding”, quando na realidade, a inflação quase chegou aos 100%, e a pobreza atingiu quase 40% da população.

O energúmeno afirmou que não só a economia hermano acabou 2022 numa situação privilegiada - ele diria e escreveria “previlegiada” -, mas também a política e o futebol foram bem-sucedidos.

Não, não sou preconceituoso, mas tenho preconceito com um semianalfabeto que quer “o pobre comendo uma picanha e tomando uma cervejinha no final de semana”, quiçá assistindo um show de funk.

Ensino duro de qualidade, eventos culturais de qualidade, fora aqueles dos amigos da seita ideológica rubra, nem pensar. Aliás, com a qualidade, eles correriam o perigo de efetivamente pensar! 
Se não aceitar a conformidade com o baixo nível, se não querer me fazer de idiota é ser preconceituoso, sim eu sou preconceituoso.

Com um semideus - opa, semianalfabeto - no topo, orgulhoso de suas mentiras e de sua ignorância, toda uma nação, tristemente, é encorajada a ser, ainda mais, inculta e idiota.

 Alex Pipkin, PhD


domingo, 6 de novembro de 2022

A suprema colheita - Percival Puggina

Por vezes, o turbilhão dos fatos dificulta a percepção da lógica dos acontecimentos. Tenho 77 anos e desde os seis, por motivos que não vale a pena mencionar, acompanho a política brasileira. Assisti a golpes e tentativas de golpes, a governos estáveis e não estáveis, presenciei muitas manifestações populares e é destas que quero tratar.

Na minha observação, povo na rua tem sido um instrumento da oposição ao governo, seja ele qual for. No entanto, desde 2019 convivemos com um fenômeno originalíssimo: povo na rua, aos milhões, dando cobertura ao governo e os eleitores da oposição impassíveis, em casa, sem picanha nem cervejinha, assistindo pela Globo.

A massa eleitoral da esquerda, reformista ou revolucionária, parecia haver perdido o gosto pela política. 
Nada tinha a reivindicar ou a combater mediante mobilização popular. 
A velha mídia do consórcio, a turma que assinaria a carta da USP às vésperas da eleição, o agregado dos operadores da Cultura, etc., falavam por todos. Povo na rua, contudo, não. Quando o ensaiaram deu fiasco.
 
Qual o motivo de tão prolongado tempo sabático? O que pôs em silêncio os ruidosos e contrariados de sempre, que nem no Congresso (exceção feita ao cirquinho dos três patetas) parecia ter o que fazer? Ora, amados leitores, a oposição tinha a lustrosa cereja do bolo a consistente, operosa, sôfrega, metediça e eficaz maioria petista no STF e, no devido tempo, também no TSE. 
E a cobertura do bolo era proporcionada pelas redações da velha mídia do consórcio.

Impossível assim proceder e ser ovacionado pelo universo. Talvez fosse a essa expectativa que a infeliz combinação de orgulho, vaidade e falta de bom senso os levasse. A relação, porém, seguiu o caminho da desconfiança e da indignação, respondidas por quem usa toga: furiosas ameaças, bloqueios de páginas e perfis, desmonetizações, censuras, inquéritos finis mundi, prisões, sequestros de bens privados, violações de prerrogativas constitucionais.

Tivessem ouvido o povo nas praças, não estaríamos vivendo este momento! Agora, colhem o fruto da perda da confiança, pela qual não souberam zelar e do medo que se dedicaram a semear. 
 Ele é azedo e danoso à saúde social. É o que diz o povo, novamente na rua, num movimento em que a coragem vence o constrangimento e o medo. Ele refuga o jugo e exige esclarecimentos.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

domingo, 8 de maio de 2022

Nunca se comeu tanto milho - Revista Oeste

Evaristo de Miranda

A nova safra também ajudará no barateamento das rações e talvez traga quedas nos preços das carnes 

Foto: Shutterstock

Quem toma uma cervejinha com torresmo, frango a passarinho, iscas de peixe ou fatias de salame consome milho. Ele é a base das rações de vacas leiteiras, suínos, aves e da piscicultura. E entra na fabricação de cervejas e uísques. Originário das Américas, o milho ajudou muitos países a superarem o risco da fome nos últimos séculos. Agora, com uma segunda safra recorde, ajudará o Brasil a reduzir os preços de alimentos e os índices de inflação. E trará divisas, dada a forte demanda externa pelo produto.

Em 1751, na França, a Encyclopédie, o “dicionário racional das ciências, artes e profissões”, referindo-se ao milho informava: “O trigo da Turquia é sempre um socorro diante da fome”. Em 1776, na Inglaterra, Adam Smith considerou milho e batata como “os dois mais importantes aportes que a agricultura da Europa, e talvez a própria Europa, recebeu da expansão de seu comércio e sua navegação”. Na Itália, no começo do século 19, Filippo Re, agrônomo conhecido, atestava: “Após a introdução desse grão (a Itália) não provou mais do terrível flagelo de uma verdadeira fome”. Haja polenta!

O milho é considerado patrimônio biológico, agrícola, cultural e econômico do México. Com razão. A domesticação do milho (Zea mays) começou há mais de 10.000 anos no México. Os mais antigos registros de cultivo do milho datam de 7.300 anos, em ilhas próximas ao litoral mexicano. Restos arqueológicos de milho da caverna Guila Naquitz (Oaxaca) datam de 6.250 anos. Há pelo menos 2.500 anos, o cultivo se espalhou pelas Américas. Foi o alimento básico das civilizações olmecas, maias, astecas e incas, reverenciado na arte e na religião, como são o trigo na Europa e o arroz na Ásia.

(...)

A palavra portuguesa milho deriva do latim milium, designação do milho-miúdo ou milheto (Pennisetum glaucum), conhecido no Mediterrâneo. O termo milium é oriundo do numeral mil e evoca a grande quantidade de grãos nas espigas de milheto. No milho são bem menos grãos. Em português, a palavra nomeia diversas gramíneas: milho-alpiste (Phalaris canariensis), milho-da-guiné (sorgo), milho-da-itália (Setaria itálica) e milho-zaburro (vários tipos de sorgo). No século 18, o próprio milho era conhecido como milho grande, milho graúdo, milhão, milho grosso e milho de maçaroca. De maíz, em português, só derivou o termo maisena. E os nomes tupis-guaranis, como avati, não prosperaram.

Portugal e Espanha difundiram o cultivo do milho na Península Ibérica e de lá para França, Itália, sudeste da Europa e norte da África. Os portugueses levaram o milho ao restante do continente africano e ao Oriente. Pelos lusitanos, o milho chegou à China, depois à Indonésia e, bem mais tarde, ao Japão. Os ingleses introduziram o milho na Austrália (1788). Hoje, ele é cultivado em todo o mundo, em área superior à do trigo e à do arroz.

Com diversos usos, o milho tem grande contribuição no cenário econômico, da alimentação animal à indústria de alta tecnologia. Mais de 70% dos grãos são destinados a rações, sobretudo para suínos, aves, gado leiteiro e até piscicultura. O milho é versátil e serve à produção de etanol combustível, gerando coprodutos proteicos para alimentação animal de grande digestibilidade (DDG e WDG), além de ter muitos usos na indústria. Este ano, o Brasil produzirá 4,5 bilhões de litros de etanol de milho, 31% a mais do que em 2021 e 7% acima da estimativa anterior da União Nacional de Etanol de Milho (Unem).

(...)

A safra total de milho (verão + outono) está estimada em 115,6 milhões de toneladas, 32,7% superior à do ciclo anterior, segundo a Conab. Apesar da queda de 20,4% da primeira safra no Sul, por ausência de chuvas. O cenário de ampla oferta afastou compradores. Resultado: negócios lentos e um mercado de milho momentaneamente retraído com reflexos negativos até na Argentina e no Paraguai, um dos países onde mais cresce a produção de grãos. E os agricultores brasileiros por lá têm muito a ver com essa dinâmica.

Nas festas juninas não faltarão milho cozido e assado, nem canjica, curau, pamonha ou pipoca. A nova safra de milho ajudará no barateamento das rações e talvez traga quedas nos preços de frangos, suínos, embutidos, leite e outros produtos. Quem sabe até da cerveja.

Leia também “Para não dizer que não falei das flores”

Evaristo de Miranda, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Infeliz aniversário




A condução coercitiva de alguém para depor no âmbito de uma investigação criminal significa que contra essa pessoa pesam evidências graves.   Insuficientes para um pedido de prisão temporária, mas fortes o bastante para levar a polícia a solicitar à Justiça algo além de uma simples intimação. Nessa condição é que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi conduzido ontem à Polícia Federal para prestar depoimento na nova e nona fase da Operação Lava Jato. Logo de manhã, representantes da PF e do Ministério Público esclareceram qual era a situação.

Vaccari foi chamado para contar o que sabia sobre doações (legais e ilegais) feitas por empresas que mantinham contratos com a Petrobrás, pois os investigadores o identificaram como o principal dos 11 operadores que atuavam na Diretoria de Serviços da estatal, comandada por Renato Duque por indicação do PT.

O nome do tesoureiro apareceu na rede dos depoimentos feitos sob os acordos de delação premiada. Aqueles em que o depoente precisa provar o que diz para obter os benefícios pretendidos.  Portanto, é de se supor que João Vaccari tenha alguma dificuldade em continuar sustentando as negativas sobre quaisquer relações de proximidade com o esquema de propinas, diante das provas já coletadas.

Pedro Barusco, ex-gerente da Diretoria de Serviços, informou em seu acordo que Vaccari recebia dinheiro fruto de desvios. É claro que a polícia e a Justiça não se fiam apenas na palavra dele. Exigem provas. Ou não lhe conferem benefício algum.  O tesoureiro do PT até então nada havia dito a não ser repetir negativas sobre quaisquer envolvimentos e assim, pelo que transpirou, se manteve em seu depoimento à PF, repetindo o comportamento de seu antecessor Delúbio Soares, hoje em cumprimento de pena de prisão domiciliar. Os tempos, contudo, são outros.

De onde se acreditar na declaração do ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, segundo a qual não há o "menor constrangimento" para o partido nem para o governo com a condução coercitiva do tesoureiro à PF há uma distância amazônica.  Até porque partido e governo deveriam ser os primeiros a manifestar desconforto moral. Seria positivo para ambos uma vez na vida demonstrar alguma dignidade.

Ainda que para constar. Não se constranger com acontecimentos dessa natureza realmente é comportamento de quem não se acanha diante de coisa alguma.  Verdade que o ministro é o mesmo que equiparou a derrota na disputa à Presidência da Câmara a episódio superável com uma rodada de "cervejinha".

Mas, para o PT não poderia haver momento pior que a ocasião dos 35 anos de fundação do partido a ser comemorada hoje em Belo Horizonte diante de um triste paradoxo: de um lado a conquista do quarto mandato presidencial consecutivo, de outro uma crise profunda.  A cabeça no Planalto e o restante do corpo atolado no pântano até o pescoço.  Realidade que não foge ao alcance do ministro, da presidente da República nem de nenhum integrante do partido, cujos problemas internos e externos são inúmeros, sucessivos e tão grandes que não há tapete capaz de cobrir a quantidade da poeira acumulada.

Cenografia. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, cumpriu o compromisso com os eleitores de não criar obstáculo à instalação de nova CPI da Petrobrás. Daqui em diante, no entanto, não é com ele.  Uma coisa é a formação, outra bem diferente é o funcionamento, a eficácia da comissão de inquérito.

Frente ao adiantado dos trabalhos da Polícia Federal e da Justiça, a CPI fará, como se dizia antigamente, "visagem".

Por: Dora Kramer, colunista do Estadão