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domingo, 27 de novembro de 2022

Teatro farsesco - Revista Oeste

Rodrigo Constantino

Não dá para falar em funcionamento normal das instituições republicanas em nosso país. Não com este STF ativista 

Causa espanto o tom de seriedade com que alguns empresários e jornalistas tratam a “equipe de transição” do presidente eleito, como se ninguém soubesse o que ele fez no verão passado. O presidente da Febraban diz esperar responsabilidade por parte do futuro presidente, enquanto economistas tucanos escrevem cartinhas alertando para os riscos de furar o teto de gastos, logo depois de terem feito o L para apoiar o ladrão.

Alexandre de Moraes, Lula e Luís Roberto Barroso | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Agência Brasil
Alexandre de Moraes, Lula e Luís Roberto Barroso | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Agência Brasil 
 
É como se todos eles tivessem chegado de Marte ontem, e nunca tivessem ouvido falar de Mensalão, Petrolão ou Dilma
É como se ninguém ali tivesse a mais vaga ideia de quem seja José Dirceu, ou da essência do PT. 
O jogo de cena chega ao absurdo de fingir que Lula nem foi condenado, e depois solto por um grotesco malabarismo supremo. Temos todos de participar do simulacro, caso contrário seremos rotulados de golpistas.
Jornais de esquerda, como a Folha de S.Paulo, chegam a mencionar a simbiose de Lula com empresários corruptos como “conflitos éticos”, e a indecente carona no jatinho de um companheiro como “deslize aéreo”
O Orçamento secreto, demonizado até ontem, virou “emenda de relator”, e o centrão se transformou em base aliada”. 
As manifestações contra o opaco processo eleitoral são chamadas de “atos antidemocráticos”, enquanto a censura imposta pelo TSE virou “defesa da democracia”. 
Quando alguém emite uma opinião diferente do consórcio da mídia é logo chamado de criminoso.
E o cidadão de bem virou um “mané”, assim descrito pelo próprio ministro Barroso com aplausos de inúmeros jornalistas.
 
Guilherme Fiuza descreveu a farsa em curso: “Como você já reparou — e, se não reparou, repare logo antes que seja tarde —, a moda é pisotear a democracia fingindo defendê-la
No Brasil, o TSE deixou de ser um Tribunal Eleitoral (o que já era exótico) e virou um comando policial, com poderes especiais que ninguém lhe conferiu, mas ele exerce assim mesmo. 
A apoteose dessa democracia de mentirinha foi a decisão solitária (e suficiente) do ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, de bloquear recursos bancários de vários dos maiores produtores agrícolas do país”.
O PT chega com sua carranca horrível, e já estamos acostumados com sua ameaça. Risco maior vem de quem faz pose de sério, de empresário respeitável, de jornalista imparcial, de estadista, e logo em seguida repete que tudo está absolutamente normal no Brasil.  
Não dá para falar em funcionamento normal das instituições republicanas em nosso país. 
Não com esse STF ativista e com ministros que insistem em cometer crimes quase diariamente, abusando e muito de seu poder constitucional. 
Não como uma eleição sem qualquer transparência, repleta de suspeitas, e com o TSE tentando interditar o debate e impedir os questionamentos legítimos.

Jamais poderão nos obrigar a tratar como normal aquilo que é claramente surreal e digno de uma republiqueta das bananas

J.R. Guzzo considera que, “como nos tempos do AI-5, as instituições brasileiras pararam de funcionar”. Para ele, o “Brasil se acostumou a viver na ilegalidade e não há sinais, até agora, de nenhuma reação efetiva contra isso — declarações de protesto, manifestações na frente dos quartéis, críticas aqui e ali, mas nada que mude o avanço constante do regime de exceção imposto ao país pelo Poder Judiciário. As autoridades cumprem ordens ilegais. Os Poderes Executivo e Legislativo não exercem mais suas obrigações e seus direitos. As instituições pararam de funcionar”.

Alexandre Garcia, outro respeitado jornalista da velha guarda, alega que o “Estado de Direito já ficou para trás no Brasil”. Garcia usa como base o comentário do vice-presidente Mourão, para quem “o pacto federativo foi violado”, concluindo que o Brasil está em estado de exceção. Alexandre de Moraes convocou comandantes de PMs e chefes de Detrans, que são subordinados aos governadores, provavelmente para tratar da liberação das vias de trânsito, que estão sob a jurisdição deles. O grau de ingerência passou de qualquer limite aceitável.

Mas é exatamente isso que o sistema podre e carcomido quer que todos nós aceitemos sem nenhuma liberdade para criticar ou apontar a farsa: que o Brasil teve eleições com total lisura e transparência, comandadas por um ministro imparcial e justo, e que a maioria do povo elegeu um sujeito sem nenhum problema legal, que não deve nada à Justiça. 
Quem estiver inconformado com essa situação bizarra é um golpista, um antidemocrático. 
Agora é hora só de debater a qualidade da equipe de transição, para avaliar se Lula vai ser prudente e moderado. É uma piada!
 
Não contem comigo para esse teatro farsesco. Se o sistema se mostrar mais forte do que o povo, então os brasileiros serão obrigados a engolir o sapo barbudo. 
Mas jamais poderão nos obrigar a tratar como normal aquilo que é claramente surreal e digno de uma republiqueta das bananas. 
O Brasil virou terra sem lei, com enorme insegurança jurídica provocada justamente por quem deveria ser o guardião da Constituição. 
Encher a boca para repetir que as instituições estão funcionando perfeitamente é tratar o cidadão como otário
No fim do dia, pode até ser que os “manés” sejam subjugados, transformados em escravos
Mas daí a desejar que os “manés” aceitem participar do teatro patético dos “democratas” que bajulam os piores ditadores do planeta e endossam a corrupção vai uma longa distância…

Leia também “A inspeção do restaurante TSE”

Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste

 

quarta-feira, 11 de maio de 2016

A trama dos três patetas animou o comício-velório no Planalto com um novo grito de guerra: ‘Uh, Maranhão!’



Durante algumas horas, um Eduardo Cunha em edição piorada fez Dilma sonhar com o enterro do impeachment e a permanência no emprego
Nesta segunda-feira, Dilma Rousseff estrelava no Palácio do Planalto um comício da pelegagem estudantil quando recebeu a notícia de que Waldir Maranhão fizera o que, na véspera, havia prometido fazer ao fim do encontro com José Eduardo Cardozo: numa decisão monocrática, anulou a sessão da Câmara que aprovou o impeachment da presidente. Para fingir que ignorava a trama que aprovara com louvor, Dilma caprichou na expressão de surpresa ─ até trocou por um sorriso de aeromoça a carranca que exibe desde o primeiro dia no berçário.  

Enfim convencidos de que não vai ter golpe, os estudantes profissionais mudaram o grito de guerra: “Uh, Maranhão!”, passaram a berrar. À tarde, o presidente do Senado anulou a decisão que pretendia anular tudo o que já foi decidido sobre o impeachment da governante desgovernada. À noite, o próprio Maranhão revogou a anulação do que já se tornara irrevogável. Substituto de Eduardo Cunha na presidência da Câmara, pode ter o mandato cassado antes do titular deposto pelo Supremo.

Enredado nas investigações da Lava Jato, a perda do direito ao foro privilegiado deverá antecipar a mudança de Maranhão para a República de Curitiba. Flávio Dino, que por algumas horas reivindicou a paternidade da ideia de jerico, lembrou subitamente que havia um Estado à espera de algum governador e caiu fora de Brasília. Com adversários assim, a Famiglia Sarney tem o direito de sonhar com a retomada da capitania que lhe pertenceu por 50 anos.

Dois dias antes do fim da Era da Canalhice, José Eduardo Cardoso rasgou de vez a fantasia de advogado-geral da União para assumir oficialmente o Ministério das Chicanas Imbecis. Vai ficar no cargo até a hora de deixar o Planalto em companhia da patroa despejada. Saiam ou não pela rampa, os farsantes despejados pelo povo entenderão já na primeira passada que estão descendo a ladeira que termina no beco dos esquecidos.  Ali se aglomeram presunçosos que descobriram tarde demais que a morte política frequentemente precede a morte física.

Fonte: Coluna do Augusto Nunes