Patrik Camporez e Breno Pires
Advogado: "Organização criminosa tentou matar Bolsonaro"
Entrevista com Frederick Wassef, advogado do presidente Bolsonaro, no caso Adelio - um assassino profissional que foi pago para assassinar Bolsonaro.
[a tentativa de assassinato do Presidente Jair Bolsonaro tem que ser investigada de outros ângulos, de forma a descobrir tudo, incluindo os mandantes, - pessoas que estão presas também podem ser mandantes - e todos devem prestar contas à Justiça e serem severamente condenados. As autoridades constituídas, inclusive o presidente da República, por seus advogados, não podem deixar que se transforme em um novo caso Celso Daniel.]
Escalado por Jair Bolsonaro para representá-lo na
investigação sobre Adélio Bispo de Oliveira,
o advogado Frederick Wassef afirmou
que o autor do atentado a faca contra o presidente há mais de um ano,
ainda durante a campanha eleitoral, é um “assassino profissional” e que
“foi pago para isso”. “Uma organização criminosa tentou assassinar
Bolsonaro”, afirmou ao Estado.
O advogado Frederick Wassef, defensor do presidente Jair Bolsonaro e do senador Flávio Bolsonaro Foto: Gabriela Biló/Estadão
Wassef já atuava na defesa do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do
presidente, nos processos que tratam de movimentação atípica nas contas do
parlamentar e do seu ex-auxiliar, Fabrício Queiroz. Questionado sobre a declaração do novo
procurador-geral da República, Augusto Aras, que defendeu um aprofundamento
das investigações sobre Adélio em entrevista ao Estado, elogiou.
“Tem razão na íntegra o que o nobre PGR disse.”
O senhor tem se encontrado com o
presidente da República?
Minhas idas ao Palácio da Alvorada foram
de natureza jurídica, quando o presidente resolveu me constituir advogado dele.
Entendo que qualquer cidadão brasileiro, quando ele sofre um crime – e não é
porque é o Jair Bolsonaro –, ele tem direito a ter um advogado
para atuar como assistente de acusação. Para acompanhar o caso tanto em
delegacias, acompanhas as diligências policiais, acompanhar junto ao MP. E
posteriormente junto a uma ação penal, na qualidade de assistente de acusação.
Basicamente é isso.
O procurador-geral da República,
Augusto Aras, disse acreditar que o caso Adélio
merece aprofundamento, para se apurar teve mandantes. O
que o senhor acha
disso?
Tem razão na íntegra o que o nobre PGR disse.
E foi um erro, na sua avaliação,
não recorrer do arquivamento do caso em Minas
Gerais?
Houve um equívoco em não ter recorrido, para não
deixar transitar em julgado, para não deixar morrer. Teve algum membro da AGU (Advocacia-Geral
da União) que acompanhou passo a passo, hora a hora? Eu acho pouco provável
que um membro da AGU, que são normalmente pessoas extremamente qualificadas,
vendo como essa questão ocorreu, que qualquer um sabe que não é factível de ser
verdade, que essa pessoa não fosse recorrer, não apelar e deixar transitar em
julgado. Isso não tem cabimento nenhum.
O que era necessário provar nesse
processo?
Era necessário provar que Adélio não é, e nem nunca
foi, louco. É um assassino profissional e foi pago para isso. Eu ainda não tive
tempo de ir até Juiz de Fora (MG) tirar as devidas cópias, estudar, fazer um
diagnóstico mais preciso, para poder falar com mais precisão, de forma mais
acertada. Mas o fato é que sabiam que em algum momento (se o caso não fosse
arquivado) ele (Adélio) poderia fazer uma delação premiada. Aí sim
poderia ter um grande escândalo nacional, que é uma organização criminosa que
mandou matar o presidente da República. Isso é de uma gravidade singular.
Qual vai ser o caminho, a partir
de agora, para se tentar chegar a eventuais
mandantes ? Vai contratar perícia particular?
Nenhuma hipótese está descartada. Vamos usar o que
tiver à disposição. Agora não dá para falar nisso. Primeiro vai ser preciso
analisar o processo, ver as cópias, analisar, estudar as falhas e omissões para
ter um diagnóstico preciso para, a partir daí, definir uma estratégia de
trabalho e ação junto com a Polícia Federal e o Ministério Público.
A confiança do presidente no
senhor se deve muito ao êxito no caso Flávio, especialmente com
as duas vitórias no Supremo?
Isso na verdade não tem vínculo com o fato de eu
estar atuando para o Flávio. Eu conheço o presidente desde 2014. Já advoguei
para o presidente no passado, inclusive no caso Maria do Rosário. E o
presidente sabe que sou uma pessoa leal e de confiança. Sabe que sou uma pessoa
íntegra e honesta. A relação é basicamente essa. De confiança e
integridade
Mudando de cliente. Se houve
descumprimento da decisão do Supremo (de
paralisar as investigações contra Flávio), procuradores
devem ser punidos?
Eu sou um advogado que tenho o máximo de respeito
ao Ministério Público enquanto instituição, assim como ao Poder Judiciário. Não
cabe a mim dizer o que deve acontecer com autoridades públicas que
transgrediram normas ou regras. Eu acho que cabe ao órgão fiscalizador do
Ministério Público que, ao constatar que Flávio Bolsonaro foi vítima de
ilegalidade, de quebra de sigilo bancário e fiscal sem autorização da Justiça,
apurar as circunstâncias em que isso ocorreu e ter certeza do nível da
circunstância. É preciso apurar a irregularidade para depois se falar em
punição. Não podemos ser prematuros.
O senhor vai pedir a nulidade do
caso Flávio?
Isso já foi requerido. Nós impetramos alguns meses
atrás um habeas corpus no Rio de Janeiro. Habeas corpus esses que estão
suspensos, onde apontamos as inúmeras irregularidades e os vícios cometidos.
Vale à pena ressaltar que a investigação contra Flávio Bolsonaro durou um ano e
meio, e durante todo esse período nada foi encontrado. E, ao contrário do que
foi propagado, as autoridades tiveram acesso aos extratos e viram que nunca
teve depósito nas contas de Flávio Bolsonaro oriundo de qualquer pessoa. Seja
de Fabrício Queiroz, seja de qualquer assessor. Não existe isso.
Seus recursos
são de seu salário enquanto parlamentar e de suas empresas. Tudo devidamente
declarado na Receita Federal. Não existe qualquer movimentação atípica.
Fabrício Queiroz já foi ao MP dizer que nunca repassou qualquer recurso ao
Flávio. Além disso, tem a prova incontestável dos extratos nas mãos do MPRJ.
Então temos um cidadão brasileiro, inocente, que sempre combateu corrupção, que
foi massacrado por dez meses porque um ex-assessor teve uma movimentação
financeira considerada atípica. Que, lembrando, atípica não quer dizer que teve
crime.
Mas, independente do que diz ou
não o MP, havia rachadinha no gabinete do Flávio
Bolsonaro na Assembleia Legislativa do
Rio?
Jamais! Isso é uma farsa, é uma mentira. É
irresponsável falar isso. As autoridades públicas do Rio já quebraram o sigilo
de forma ilegal, já têm todas as informações, esse dinheiro nunca entrou nas
contas de Flávio. Todo seu crescimento patrimonial é absolutamente compatível
com suas rendas declaradas na Receita Federal e não há nenhuma
irregularidade.
O senhor coloca a mão no fogo
pelo Queiroz também?
Eu não estou pondo a mão no fogo por ninguém, eu
estou apenas dizendo que os elementos que estão nos autos que eu estudei
mostram, de forma clara, objetiva, inequívoca, que não existiu rachadinha no
gabinete de Flávio Bolsonaro. Isso não é minha opinião, é a narrativa de um
fato verídico.
Se há certeza da inocência, por
que pedir para trancar as ações sobre o caso? Não seria
melhor ter uma absolvição na Justiça?
A resposta é muito simples. Flávio Bolsonaro foi
investigado por um ano e meio e nada foi encontrado. E ele foi submetido a todo
tipo de ilegalidade nesse um ano e meio e a um massacre midiático. Agora, ele
tem que se permitir ser violado e destruir sua imagem e reputação para provar
que ele é inocente? Não faz sentido? Nós, da defesa técnica, o próprio senador,
jamais quisemos interromper qualquer investigação. Pelo contrário, nós só
pedimos que as regras fossem cumpridas, que as leis fossem cumpridas. Porque
não é razoável, num estado democrático de direito, quebrar regras em nome de
uma investigação. E isso não é para o Flávio, é para todo o cidadão brasileiro.
O que existe de folclore e de
verdade na sua relação com o presidente?
A minha relação com o Bolsonaro é uma relação
normal. Eu vou ser bem sincero. Uma vez eu vi esse homem falando. Quando eu vi
esse homem falando, eu ali, na hora, identifiquei um herói nacional. Era 2014.
Minha relação com ele nasce em 2014. Minha relação com ele já nasce como
advogado, já nasce profissional. Bolsonaro é humilde, é simples, é do bem, tem
uma alma boa, uma pessoa carinhosa, ama todo mundo, e é um brasileiro taxado de
forma dogmática como homofóbico – mentira, porque ele não é –, nazista –
mentira, porque ele não é –, ditador militar – mentira, porque ele não é –, e
tantas outras mentiras. Para completar, vem o tema Maria do Rosário. Para mim
foi o estopim.