Pois é, estava preparando uma coluna de humor, na medida de minhas limitações. Ocorre que os fatos ajudavam. Considerem, por exemplo, a sentença da juíza Pollyanna Kelly Maciel Medeiros Martins Alves, que livrou o blogueiro Allan dos Santos do crime de ameaças ao
ministro Luís Roberto Barroso. Ela faz uma argumentação até pertinente
sobre como caracterizar uma ameaça, mas escorrega feio na conclusão. Diz
que não haveria possibilidade de concretização da ameaça, já que o
ministro possui equipe de “seguranças qualificados” e um setor de
inteligência “igualmente preparado”.
Ora, se um ministro do STF, numa democracia, precisa de “seguranças
qualificados” para sair na rua só pode ser porque está sendo …ameaçado. Mas também tem humor no comentário do procurador geral da república,
Augusto Aras, quando tentou explicar porque não tomava providências
contra o presidente Bolsonaro por não usar a máscara e ainda incentivar
outros a não usá-la.
[com todo o respeito ao ilustre articulista - cujos escritos desfrutam de nossa admiração desde o milênio passado.
Pedimos encarecidamente que continue escrevendo sobre economia, política, mas esqueça o humor.
O senhor foi parcial na escolha do lado a ser alvo da sua estreia no campo humorístico = só viu comicidade nos atos dos apoiadores do governo Bolsonaro.
Qualquer pretendente a humorista, não pode desprezar o filão magnifico propiciado pelo Circo Parlamentar de Inquérito, de "'propriedade" do triunvirato Aziz, Calheiros e Rodrigues, e sob "assessoria direta" do Humberto Costa, codinome drácula e do Barbalho, primeiro senador a estrear algemas - foi algemado e o fato foi documento pela imprensa.
Quanto ao ministro Barroso e demais ministros do STF andarem protegidos por segurança da própria Suprema Corte é uma prática que antecede ao blogueiro Allan dos Santos se tornar conhecido e, ao nosso entendimento, a Meritíssima ´pretendeu apenas mostrar que uma eventual agressão do blogueiro ao ministro, se inclui no rol dos crimes impossíveis.]
O procurador não tem dúvida da ilicitude do comportamento
presidencial, afirmou. Mas ressalvou: é caso de multa administrativa. E
arrematou: ” falar-se (no caso das máscaras) em pena de natureza
criminal, que é diferente de outras sanções, pode ser algo extremamente
perigoso”. Ou seja, é “extremamente perigoso” denunciar o presidente pela
conduta de colocar em risco a vida de pessoas, inclusive crianças.
Tem outra: o procurador disse que não “criminaliza a política” e por
isso desmontou a Lava Jato. O que quer dizer isso? A Lava Jato não
criminalizou a política, apenas apanhou políticos ladrões, assim
contribuindo para sanear o ambiente político. Logo, o que fez Aras?
[sanear o ambiente político? que adianta a Lava Jato montada se é possível algum saneamento em um monturo de lixo, sob a administração da maior sujeira política: o criminoso Lula da Silva.
A anulação das condenações de Lula da Silva, sem análise do mérito, sepultou de vez a Lava Jato e qualquer outra operação que tente prender corruptos no Brasil - claro, se algum corrupto, ainda que pé de chinelo, for encontrado entre os apoiadores do presidente Bolsonaro, será exemplar e perenemente punido - no mínimo, com prisão preventiva = versa "a brasileira" das penas de prisão com caráter de perpétua.] Livrou os políticos e criminalizou a Lava Jato.
Mas o troféu de campeão nesse departamento continua com o ministro
Guedes. Fechando a coleção de semanas atrás, mandou ver há dias: “Qual o
problema agora que a energia vai ficar um pouco mais cara porque choveu
menos?” Sabem o quão “pouco” a energia elétrica ficou mais cara nos 12 meses
terminados em agosto? 20,36%, bem acima da inflação, 9,30%, e
penalizando as famílias mais pobres e toda atividade econômica
dependente dessa energia. [quanto a atividade econômica os preços serão, como de praxe, repassados; já famílias de baixa renda dificilmente atingem o consumo mensal de 100Kwh.]
Mas para o ministro essa inflação também não é problema. Tem inflação
também nos EUA, logo estão reclamando do quê? Estamos ali, mano a mano. Nem precisava, mas mostramos no Jornal da Globo e na CBN que a
inflação nos EUA é menor, o PIB é maior , o desemprego, muito menor, a
taxa de juros, zero. [aqui para mostrar que não só o Brasil, governado por Bolsonaro, que produz notas dignas de um humor de péssimo gosto, perguntamos: será que essa situação privilegiada dos USA resistirá ao Biden?]
Teve mais: o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, numa boa, cometeu a
irregularidade de vacinar o deputado Eduardo Bolsonaro – não pela
vacina, claro, mas porque o deputado estava sem máscara! Segue a série: enquanto o próprio governo admite que os reservatórios
das hidrelétricas estão no limite do limite, o presidente Bolsonaro,
com sua sabedoria de botequim, pede às famílias: apaguem uma lâmpada.
Assim, a gente vinha nessa toada de gozação até ontem. Aí a coisa
engrossou. O presidente Bolsonaro, no cercadinho, disparou: “Tem que
todo mundo comprar fuzil, pô”. Ainda recomendou o fuzil, o 762, pesado,
ressalvou que é caro – por volta dos R$ 14 mil – e aí mandou ver: “Tem
um idiota: ‘Ah, tem que comprar é feijão’. Cara, se não quer comprar
fuzil, não enche o saco de quem quer comprar.” [quem quiser comprar fuzil, tem o direito democrático de comprar; quem não quiser, tem o direito democrático de não comprar; e os titulares dos dois direitos possuem o DEVER DEMOCRÁTICO de não interferir na vontade dos que pensam diferente.] Aí é ofender a população, especialmente a mais
pobre. Os alimentos tiveram forte alta de preço neste ano. O feijão
subiu quase 11% em 12 meses, e ainda ficou bem atrás do arroz, com
inflação de 37%.
O presidente manda apagar uma lâmpada, comprar fuzil e badernar no 7 de setembro[sic]. Não está para brincadeira.
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista