Gazeta do Povo = VOZES
Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.
Tratado como um cowboy beligerante, um ator idiota e um sem noção, Reagan foi capaz de resgatar o orgulho patriótico dos americanos, sempre com sua visão otimista e seu alto astral. Até mesmo para denunciar os absurdos comunistas e destacar as diferenças do regime soviético para o americano, Reagan lançava mão de piadas divertidas e tornava o embate bem mais leve.
De família pobre e com pai alcoólatra, Reagan teve uma infância difícil. Mas ainda assim aprendeu valores básicos, como a crença nos direitos individuais, a desconfiança da autoridade estabelecida, a capacidade de manter uma postura positiva mesmo diante de más notícias e uma autoconfiança derivada da noção de que o conhecimento mais importante está em distinguir o certo e o errado. Ele não usou sua infância difícil como justificativa para posar de vítima, e sim para aprender lições e superar os obstáculos na vida.
Um traço importante de sua personalidade que veio a ser muito útil depois era não se importar muito com quem fica com os créditos de uma boa ação, e sim com a ação em si. A potencialidade humana tende ao infinito quando não nos importamos com os créditos de nossos atos corretos, quando estamos mais focados em fazer o certo do que receber aplausos da platéia. Reagan era assim, e tinha uma frase com essa mensagem em seu escritório durante seu mandato.
Um dos grandes méritos de Reagan, que havia sido ator, era a simplicidade de sua linguagem, a forma direta e objetiva com a qual expressava suas idéias. Não por acaso os “intelectuais” detestavam Reagan, considerado um idiota por boa parte da elite americana. Em 1981, por exemplo, falando para estudantes, ele foi categórico ao afirmar que o ocidente iria dispensar o comunismo como um capítulo bizarro da história humana, cujas últimas páginas estariam naquele momento sendo escritas. Isso foi dito numa época em que muitos desses “intelectuais” ainda defendiam o regime comunista.
Reagan era um sujeito objetivo e sincero, e tachou de “império maligno” a União Soviética, o que mais tarde ficou evidente ser o caso. Ele era capaz de separar com clareza o certo do errado, algo que muitos relativistas ainda hoje condenam. Sua convicção moral o afastou muitas vezes do pragmatismo presente no mundo da política. Ele não costumava contemporizar muito com o lado podre, ainda que se visse forçado a escolher o ruim para evitar o péssimo de vez em quando. Ele pode ser considerado uma espécie de visionário, focando no futuro enquanto todos pensavam no imediato.
Apesar de divorciado, Reagan sempre enfatizou muito a importância dos valores familiares. Para Dinesh D'Souza, ele conquistou a afeição do povo americano por parecer um sujeito comum, e o povo se identificava com ele. Por oito anos consecutivos, a pesquisa da Gallup mostrou Reagan como o homem mais admirado no país, e quando ele deixou o cargo de presidente, sua taxa de aprovação estava em 70%, a mais alta de qualquer presidente americano moderno. Sua característica de grande comunicador, somada ao sucesso econômico, explicam boa parte dessa popularidade também.
O propósito de um programa de governo deveria ser justamente eliminar a necessidade de sua própria existência, o oposto do que ocorre no assistencialismo do welfare state. O objetivo de seu governo era criar um ambiente estimulante para a energia criativa dos empreendedores. Uma de suas primeiras medidas foi acabar com o controle de preços da gasolina, vigente por uma década. Isso contribuiu muito para o fim da crise de energia.
Ele condenava o protecionismo, considerando a abertura comercial uma grande força americana, enquanto muitos temiam a “invasão” dos produtos importados. O grande erro econômico de Reagan foi não ter cortado os gastos públicos. Na verdade, a dívida pública triplicou durante seu mandato. Este foi, sem dúvida, seu grande pecado como presidente, ainda que seja muito mais fácil criticar do que fazer, principalmente levando-se em conta o contexto da Guerra Fria.
O grande tema abordado frequentemente por Reagan era a intromissão e incompetência do governo, além de sua completa inabilidade para resolver os problemas das pessoas. Para ele, o approach do governo na economia poderia ser resumido assim: “Se algo se move, taxe-o; se ele continua se movendo, regule-o; e se ele parar de se mexer, subsidie-o”. Um governo central grande era visto por ele como um grande obstáculo para a liberdade, e um instrumento ruim para garantir a justiça.
A lição que ele extraía da era moderna é que colocar poder demais nas mãos do Estado coercitivo era muito perigoso. Ele se opunha ao coletivismo comum de seu tempo. Não é possível controlar a economia sem controlar as pessoas, e Reagan entendia isso. Os elevados impostos e a burocracia incompetente foram seus grandes inimigos internos, enquanto o comunismo era seu alvo externo.
Não obstante seus defeitos como pessoa e seus erros enquanto presidente, Ronald Reagan merece respeito e admiração por todos aqueles que defendem a liberdade individual. Recordar de suas principais mensagens e aprender as lições básicas que ele tentou passar é a melhor homenagem que pode ser feita a Reagan nessa data.
Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES