Como os
moradores da ilha imaginária, todos nós, habitantes de um mundo
civilizado (no caso do Brasil, nem tão civilizado assim), seremos
conduzidos à miséria geral se insistirmos na equivocada ideia de que o
estado seja o responsável pela geração de empregos formais que garantam o
pão que colocamos à mesa. A mão-de-obra, como qualquer recurso
econômico, é um recurso escasso. Se moradores de uma ilha deserta ou
trabalhadores de um mundo civilizado se dedicam a tarefas que não geram
resultados finais que produzem como efeito imediato um padrão de vida
mais elevado ou, ao menos, a satisfação das necessidades mais básicas
(aquelas que Frederick Herzberg, psicólogo e professor norte-americano,
chamou de fatores higiênicos) o resultado será miséria e, no fim, a
desconstrução da própria civilização como a conhecemos.
Empregos não
são (ou não deveriam ser) resultantes de políticas públicas. Empregos
são os meios pelos quais pessoas produzem, numa relação harmoniosa e de
cooperação, produtos e serviços que satisfazem às mais variadas
necessidades e desejos de seus concidadãos. Estes, por sua vez, só estão
dispostos a pagar pelos produtos do trabalho alheio quando percebem que
podem obter deles algum benefício, o que significa, no economês ou na
linguagem do marketing corporativo, obter algum valor.
Qualquer
cartilha básica de estudo de microeconomia aponta, em sua lição número
1, que o problema da economia é a escassez. Lembro-me de quando, ao
folhear as primeiras páginas do primeiro livro de economia a que tive
acesso nos tempos de universitário, deparei-me com esta verdade
inconteste. “A escassez existe porque as necessidades humanas a serem
satisfeitas através do consumo de vários tipos de bens e serviços são
infinitas e ilimitadas”, dizia o livro-texto no seu primeiro parágrafo
para, logo depois, arrematar com um “ao passo que os recursos produtivos
à disposição da sociedade são finitos e limitados, ou seja, são
insuficientes para se produzir o volume de bens e serviços necessários
para satisfazer as necessidades de todas as pessoas”.
Nenhuma
destas lições, embora básicas, parece estar sendo levada a sério pelo
governo que ora comanda os rumos do nosso país.
Salário mínimo, encargos
sociais e trabalhistas, leis de proteção ao emprego, licenças para
exercício de determinadas ocupações (diplomas universitários nada mais
são que licenças concedidas pelo estado e representam uma forma de
protecionismo), proibição ao trabalho infantil e muitos outros
obstáculos criados pela boa vontade estatal explicam a existência de uma
massa de desempregados num mundo de necessidades e desejos ilimitados.
Ao aumentar artificialmente, por força de decretos, os custos de
contratação (e de demissão), o estado empurra para a fila do pão
milhares de pessoas saudáveis e as coloca sob sua dependência. Numa
lógica perversa que inverte prioridades, o estado inibe a poupança, o
crescimento de longo prazo, a prática do investimento, as bases da
moralidade civilizatória que fazem parte do arranjo em que, para me
satisfazer, preciso ofertar a meus terceiros algo que os satisfaça (isso
faz parecer que o capitalismo não é tão egoísta como dizem os
defensores de um estado pantagruélico, não é mesmo?).
Como
populistas irresponsáveis que são, os estatistas que estão no comando do
país desprezam todo o sistema de livre iniciativa (para Lula, afinal, o
patrão só ganha muito dinheiro porque os trabalhadores trabalham,
afirmação digna de um aluno de DCE que despreza, para não fugir à regra,
as verdades básicas da ciência econômica. Já podemos chamá-lo de
negacionista?).
São inúmeras
as mostras dadas pelo atual governo de que seu compromisso não é com a
realidade, mas com a ideologia que o domina.
Há não muito escrevi um
artigo em que explico porque a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva nos
colocou numa rota venezuelana.
Trata-se de um breve resumo das péssimas
decisões tomadas pelo poder executivo no que diz respeito a questões que
representam o alicerce da nossa economia. Responsabilidade fiscal,
segurança jurídica, lei das estatais, privatização, etc...
Escrever
sobre todas as irresponsabilidades e excesso de populismo do atual
mandatário do país, bem como sobre todos os potenciais estragos nos
campos da economia e da diplomacia, não é uma das tarefas a que me
dedico com muito afinco. Faltar-me-ia tempo, afinal, para apontar tanta
estultice. Não obstante, um caso ocorrido na última semana me chamou à
atenção.
O atual
governo, que não esconde sua sanha por controlar cada aspecto de nossas
vidas, deixou bem claro, por meio de seu ministro do trabalho, Luiz
Marinho, que não permitirá que os brasileiros decidam, sem a tutela
estatal, como devem se dar suas relações trabalhistas com as empresas
que os empregam.
Num tom ameaçador, Marinho afirmou que a regulamentação
dos trabalhos por aplicativos é uma de suas prioridades (a outra seria
rever a reforma trabalhista aprovada na gestão Temer).
Quando
perguntado sobre a possibilidade de uma reação da empresa UBER e de sua
eventual saída do país em função da criação de custos artificiais que
inviabilizariam o negócio, Marinho disse que os correios poderiam
substitui-la. Nada novo. A proposta central deste governo é sempre mais
estado para os velhos problemas criados pela mão forte do próprio
estado. É a solução mágica para tudo. A panaceia dos megalomaníacos. Os
estatistas, afinal, fazem questão de ignorar as verdades inconvenientes,
caso contrário, não seriam estatistas.
Uma análise
histórica da relação do Partido dos Trabalhadores com as estatais nos
mostra que não há qualquer motivo para assombro, que não devíamos
esperar de Lula e de seu séquito nada menos que o protagonismo do estado
na condução da economia. A simbiose entre governo e empresas públicas,
afinal, é a regra em se tratando de governos de esquerda.
Uma volta ao
passado nos mostra que foi o protagonismo dos correios que permitiu o
favorecimento de empresas em processos licitatórios, favorecimento que
desaguou no famigerado caso do mensalão, um sistema golpista cujo
objetivo era destruir os pilares democráticos do país por meio da compra
de apoio aos projetos do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mostra-nos que outro golpe contra a empresa ocorreu em seu fundo de
pensão, o Postalis, o qual gerou um rombo de 7 bilhões de reais
decorrente de investimentos fraudulentos e negligentes baseados em
ideologia e partidarismo (para quem deseja entender um pouquinho mais
esta paixão que o Partido dos Trabalhadores tem pela estatal, sugiro a
leitura deste excelente artigo de Luan Sperandio).
Apenas a
frieza mesquinha e o sentimentalismo seletivo são capazes de explicar
como alguém pode, com suas intromissões e hiper-regulamentações, excluir
do mercado de trabalho milhares de pessoas (afinal, os marginalizados
pela CLT, em sua maioria, encontraram abrigo nos trabalhos por
aplicativos) e, num discurso de posse presidencial, chorar
convulsivamente ao citar mães e crianças famintas.
O fatídico 01
de janeiro de 2023 deixa clara essa contradição. Foi naquele dia,
afinal, que, com voz embargada, Lula afirmou que o Brasil vive um
período de trevas marcado por muito abandono e desamparo. "Há muito
tempo, não víamos tamanho abandono e desalento nas ruas. Mães garimpando
lixo em busca de alimento para seus filhos. Famílias inteiras dormindo
ao relento, enfrentando o frio, a chuva e o medo. Crianças vendendo bala
ou pedindo esmola, quando deveriam estar na escola vivendo plenamente a
infância a que têm direito", disse o mandatário em ato de posse.
Este episódio
me fez lembrar de um artigo intitulado Bondade Mesquinha (2009), de
autoria do grande professor Olavo de Carvalho. Nele o professor destaca a
capacidade de enternecimento de Lula diante das multidões com as quais
compartilha seus ideais de militância. Num dos fragmentos, diz o
professor:
“Não é a
primeira vez que ele dá mostras de sua notável capacidade lacrimejante.
Ele chorou duplamente ao ser eleito e ao ser empossado, chorou vezes
inumeráveis ao anunciar do alto dos palanques seus planos de governo,
chorou no enterro do deputado petista Carlos Wilson, no das vítimas da
chuva em Sta. Catarina e no dos mortos do acidente em Alcântara, chorou
ao inaugurar o projeto “Luz Para Todos”, chorou ao enaltecer seus
próprios feitos num encontro de estudantes em São Paulo, chorou no
Senegal dizendo que era de arrependimento pela escravatura, chorou ao
prometer acabar com o desemprego em 2003 e depois novamente em 2006 (os
desempregados continuam chorando até agora), e chorou quando o deputado
Roberto Jefferson lhe falou do Mensalão: soluçou tão convulsivamente que
ficou até parecendo que era o último a saber do imbróglio”.
Se o choro de
lá é seletivo, o de cá é real. No fim, restam-nos lágrimas. Lágrimas
sinceras de quem vê nas trapalhadas econômicas e no desrespeito às mais
básicas leis da economia (já citadas no início deste texto) a destruição
dos sonhos de milhares de jovens que serão obrigados a viver sob a
proteção do estado que lhes tirou o próprio sustento.
O autor é Bacharel em Administração de Empresas – FAI; Especialista em Qualidade e Produtividade – UNIFEI e Mestre em Eng. da Produção - UNIFEI