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terça-feira, 9 de março de 2021

A PÁTRIA - Gustavo Corção

A idéia de pátria e a correlata de patriotismo vêm sendo sabotadas, há séculos, pelas correntes históricas que nas últimas décadas formam o enorme estuário de equívocos que constituem o néctar, o uísque escocês dos “intelectuais” das chamadas esquerdas. A corrente anarco-socialista, bem como a marxista, sempre anunciaram em canto e prosa a Internacional, sem nunca suspeitarem que deste modo pretendiam combater uma exigência da alma humana tão profunda como a de querer constituir família.

 À primeira vista, e numa análise sem vigor, parece que o amor da pátria exclui o resto da humanidade e assim se opõe ao mandamento de Deus. Na verdade, todo amor exclusivo será egoísta e defeituoso, já que o próprio do amor, ainda que inclua as mais densas dileções, é ser difusivo. E se não for difusivo não é amor; será quando muito egoísmo ou amor próprio. 

Vejamos como se entende, dentro do imperativo de universalidade, o bom fundamento do amor da Pátria. É sabido que nenhum homem esgota em sua vida e com suas aptidões todas as virtualidades da alma humana. Para bem manifestar toda a grandeza e toda a beleza da alma humana, em todas as suas possibilidades, foi preciso que os homens se multiplicassem e se diversificassem. A perfeição do homem se vê na humanidade desdobrada. Mas não basta essa multiplicação. Para bem exibir diante do universo e das galerias angélicas toda a riqueza do animal-racional, ou da alma feita à imagem e semelhança de Deus, foi preciso ainda recorrer ao curso da história e ao contraponto das civilizações. E além dos desdobramentos e dos alongamentos individuais, foi preciso diferenciar os agrupamentos humanos em tipo, com línguas, costumes e cultura diversificados.

 E este é o fundamento natural da pátria.

Faz parte da grande e inebriante aventura humana esse tipo de experiência que consiste em viver, num dado território e ao longo de uma história, uma vocação comum, uma cultura comum, que se exprime não apenas pela língua comum mas por todo o jogo de símbolos, de significações multiplicadas que resultam das alegrias comuns e dos sofrimentos comuns expressos na profundidade das almas por sinais comuns.

 Quando eu penso com simplicidade no objeto do amor pátrio, eu penso numa grande comunidade que acabou de chegar na ponta de uma grande história e que acampou, se instalou numa imensa geografia. Tudo isso me envolve numa cercadura enorme, e tudo isso nos diz que somos portadores duma vocação, de uma parte, de uma tarefa na grande aventura humana. Toda essa cercadura, esse envoltório humano, cultural, sociológico, histórico, geográfico é um campo de forças que nos penetra, e que se cruza dentro de nós, e nos faz o que somos, o que sentimos e amamos. Curioso processo psicológico que sempre se repete para as coisas mais amplas e mais próximas. Nossos envoltórios, a família, o bairro, a pátria, são obras emanadas de nossas almas, e são elas que refluem e modelam nossas almas. Há por fora de nós um enorme Brasil exterior; há dentro de nós um Brasil interior de sentimentos e de virtudes que devem ser cultivadas e apuradas para que o Brasil exterior seja melhor e mais Brasil, e mais e melhor para formar as almas de seus filhos.

Precisamos cultivar essa piedade, esse respeito pelo grande quinhão que nos coube na prodigiosa aventura do gênero humano, não para nos excluirmos e nos fecharmos, mas para que nosso amor pátrio seja difusivo e se transforme em amor universal. Precisamos sentir e agir como se o mapa-mundi a cosmografia e a história fossem inconcebíveis sem a nossa presença.

 Não há nenhum espasmo de eloqüência convencional nem sombra de orgulho nesse reconhecimento de nosso valor: haverá até um ato de humildade acompanhado de um sentimento de responsabilidade. Aprendi essa lição do valor de cada ser dentro da Criação com um pobre cego, a quem uma senhora bondosa queria confortar e de quem lamentava a triste sorte. Agradecendo a bondade, o ceguinho confortou-a com estas palavras:  — Sem eu o mundo não estaria completo. Faltaria minha cegueira...

Tudo tem valor. Que valor tremendo, terrível, não terá essa comunidade pátria? Que aleijão enorme faria no mundo a falta desse jeitão coletivo, nosso, meu, seu, vosso, que chamamos Brasil! Esse modo de sermos, de falarmos, de sentirmos, essa esparsa alma comum: Brasil.

 E para não desmerecermos em tal tarefa (a de completar o universo!) precisamos friccionar nossos sentimentos e nossas virtudes, e para isto precisamos de comemorações, de sinais e símbolos já que nesta vida terrena, como disse o apostolo Paulo, vivemos entre sinais e enigmas. Daí a utilidade das bandeiras, dos hinos e das festividades cívicas que todos os povos normais sempre amaram. Mas a necessidade mais imperiosa e contínua que decorre da consciência patriótica é a do serviço prestado no dia a dia da vida profissional. Festejemos os dias da pátria, mas essas festividades seriam vazias e até falsas se não fossem sinais do desejo de servi-la.

 ***

 E peçamos a Nossa Senhora da Aparecida, à onipotência suplicante da Mãe de Deus, que nos proteja sempre como recentemente nos protegeu.

 (Este artigo foi publicado durante a semana da Pátria, em “O Globo”, de 05/09/1970.)

*     Reproduzido de Permanencia.org.br

 

domingo, 2 de agosto de 2020

Desaforo contra cristãos? Chega

Madeleine Lacsko

Cristãos brasileiros não querem mais invisibilidade nem levar desaforo para casa

A patrulha progressista vai ter de calçar as sandálias da humildade e tratar evangélicos como seres humanos.

"Não me venha com isso de psicanálise que, para mim, é igreja de rico." A frase de Manoel Fernandes, dono da Bites, uma das mais respeitadas consultorias de Big Data do Brasil, arrancou risadas da platéia forrada de intelectuais em uma palestra na PUC. As pessoas talvez tenham gargalhado pelo inusitado, pelo saboroso sotaque nordestino do palestrante e pela reação debochada de Luiz Felipe Pondé à provocação. O fato é que na maioria dos ambientes intelectualizados do Brasil, você pode acreditar em psicanálise e até em astrologia, tarô, runas, ler borra de café na xícara mas, se for evangélico, é imbecil. (Diga-se de passagem, não no Labô da PUC, um dos poucos locais em que evangélicos têm sua intelectualidade respeitada na academia brasileira.)

O fenômeno de julgar inteligente ou mesmo aceitável a ideia de resumir a natureza humana à racionalidade é recente. A própria Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, estabelece em seu artigo 18 que a religião é parte da dignidade humana. Proibir alguém de ter religião ou de manifestar sua religiosidade em privado ou em público é violação de Direitos Humanos. Essa proibição não é só colocar uma arma na cabeça, mas constranger, difamar, ridicularizar ou gerar consequências nefastas para quem o faz. Já experimentou entrar num Centro Acadêmico da USP ou mesmo num encontro de ativistas de Direitos Humanos e dizer que é crente? Boa sorte. "Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos", diz o artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 

Vemos ateus reclamando, muitas vezes até com razão, da discriminação por não acreditarem em Deus - o que, afinal, é direito deles. Esquecem, no entanto, que batem como leões e apanham como gatinhos. A massa cristã brasileira sabe que precisa calar sobre sua religiosidade se quiser ter chances de ser levada a sério na universidade e na profissão. Entre os intelectuais existe a predominância do pensamento de que evangélicos são todos estúpidos. Não que esse pessoal conheça evangélicos, estude o assunto ou já tenha pisado numa igreja. Provavelmente eles viram alguns televangelistas e misturaram no poço de arrogância e preconceito que cultivam na alma.

Com a chegada de muitos evangélicos ao poder, a fé cristã passou a ser associada a uma vertente política, como se fosse possível submeter o mais sublime da alma humana - que é a experiência individual da fé - a qualquer coisa do mundo racional. Há muitos evangélicos na direita porque esta vertente política foi a que primeiro considerou a hipótese de evangélicos também serem humanos e abriu espaço para uma pauta de costumes em comum. E desse movimento vêm duas distorções. A primeira é a ideia de que cristianismo tem a ver com a direita. A segunda, bem mais divertida, é a "conversão" recente de vários ateus com sede de poder. Amo perguntar onde congregam e ouvir de volta: "como assim, congrega?". Gente que nunca pisou numa igreja agora se diz cristã para se aproximar de poderosos.

    Mas o fato é que a esmagadora maioria da população brasileira é cristã. [Informando o óbvio: a classificação "cristãos", inclui todos que acreditam em Jesus Cristo, no Cristianismo, na Doutrina Cristã, professam a Fé Cristã, o que inclui, sem limitar, católicos e evangélicos.] E, com o crescimento da população evangélica e a chegada de vários evangélicos a postos de poder, os cristãos já tem força para dizer que estão cansados de ouvir deboche e serem tratados como piada.

Há cristãos em todos os segmentos da sociedade brasileira, mas há respeito apenas em nichos muito específicos. O mais respeitado por intelectuais e progressistas é o dos não-praticantes que só não se dizem ateus por causa do preconceito da família. O outro bem aceito é o que frequenta a paróquia mais chique da cidade, no caso da minha São Paulo, a Nossa Senhora do Brasil. O cristão cujo líder religioso faz declarações políticas lacradoras também é respeitado na semana em que essa declaração é feita. Fora isso, todos imbecis, principalmente se for pobre, aí é necessariamente explorado, um coitado. Astrólogo, tarólogo, coach e terapeuta holístico não exploram ninguém, só pastor.

A forma como a ministra Damares Alves é tratada pela imprensa talvez seja o exemplo mais vivo desse preconceito religioso que, aliás, é crime pendurado na Lei do Racismo junto com a homofobia. Ninguém lê o que ela propõe, não se ouve o que ela fala, se confunde pregação antiga da igreja com política, experiências transcendentais de fé são ridicularizadas e está tudo bem. Isso é muito diferente de discordar. Tome-se por exemplo a questão da sexualidade na adolescência e o início da vida sexual. Quantos noticiaram o que está nos documentos e quantos noticiaram o que se imagina que pensem os crentes a respeito do assunto? [A Bíblia Sagrada é, de forma inequívoca, contra o homossexualismo, a sodomia e outras práticas.]

(...)

Ele já começa com uma estocada na turma que gosta de dizer que é do bem mas debocha de evangélico: a matemática. Mostra a conta em que 90% dos brasileiros se dizem cristãos e conclui que é uma sociedade cristã e, na linguagem da esquerda, toda uma "classe trabalhadora" cristã. Liberdade de expressão, segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, é a de "não ser inquietado" por suas opiniões. Assim funciona também para a religião. Se muita gente pisoteou evangélicos porque eles não tinham força de fazer cumprir seus direitos fundamentais, parece que esta era começa a terminar. Tomara.

Em Vozes - Gazeta do Povo - MATÉRIA COMPLETAMadeleine Lacsko