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sábado, 23 de dezembro de 2023

Falas sobre Vini Jr. - Nunes Marques arquiva pedido para investigar Magno Malta - CNN

Ministro do Supremo atendeu manifestação da PGR; órgão disse que declaração não cumpre requisito para se enquadrar como racismo 

O ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), arquivou, nesta quarta-feira (13), um pedido de investigação contra o senador Magno Malta (PL-ES) por declarações sobre atos de racismo direcionados ao jogador de futebol Vini Jr., na Espanha.

A decisão atendeu a uma manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR). O pedido de apuração do caso havia sido solicitado pelo próprio órgão.

O caso
Durante sessão da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado em maio, Magno Malta criticou as cobranças por justiça e respeito em um caso de racismo contra Vini Jr., classificando a situação como uma “revitimização”. Ele ainda questionou: “Cadê os defensores da causa animal que não defendem o macaco?”

“Você só pode matar uma coisa com o próprio veneno de alguma coisa. Então, o seguinte: cadê os defensores da causa animal que não defende (sic) macaco? Macaco tá exposto (sic). Veja quanta hipocrisia. E o macaco é inteligente, é bem pertinho do homem, a única diferença é o rabo. Ágil, valente, alegre, tudo o que você pode imaginar, ele tem”, disse.

“Eu, se fosse um jogador negro, eu ia entrar em campo com uma ‘leitoinha’ branca nos braços e ainda dava um beijinho nela. Falava assim: ‘Ó como não tenho nada contra branco’. E eu ainda como se tiver…”, colocou.

O congressista também afirmou que a cobertura da imprensa brasileira sobre o caso – que cobra atitudes das autoridades espanholas e debate o racismo contra o atleta brasileiro é feita porque “dá Ibope”.

Manifestação
A PGR acionou o STF pedindo apuração das declarações do senador em maio. O documento foi assinado pela então vice-procuradora-geral da República Lindôra Araujo. Depois de diligências iniciais, a nova ocupante do cargo, Ana Borges Coêlho, se manifestou pelo arquivamento do caso.

Em parecer assinado em outubro, ela disse que, “apesar de polêmico”, o discurso do senador não tem os requisitos para se enquadrar nos crimes raciais. Para a vice-PGR, não há como afirmar que o congressista tenha agido com intenção de “praticar, induzir ou incitar preconceito ou discriminação”.

Conforme a PGR, para se configurar o crime de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional é preciso que as falas tenham sido feitas com a finalidade de “repressão, dominação, supressão ou eliminação de um grupo”.

“Os crimes raciais são exclusivamente dolosos, não tendo sido prevista em nenhuma hipótese a modalidade culposa (princípio da excepcionalidade), embora não se negue a problemática do racismo enraizado e inconsciente no seio da sociedade brasileira, o denominado estrutural”, disse Ana Borges.

A vice-PGR também argumentou que declarações de congressistas estão protegidos pela imunidade parlamentar, “que acarreta a exclusão de sua responsabilidade criminal”.

CNN Brasil - Transcrição


sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Casamento poliafetivo: e o juiz citou… Lulu Santos - Guilherme de Carvalho

 VOZES - Gazeta do Povo

Direito de família

Foto: NoName_13/Pixabay
 
Segundo noticiado por O Globo, a 2.ª Vara de Família e Sucessões da Comarca de Novo Hamburgo (RS) reconheceu a união estável poliafetiva entre três pessoas – duas mulheres e um homem – em 28 de agosto. 
Um casal que mantinha relação com outra mulher havia dez anos buscava oficializar a relação, com repetidas negativas de cartórios, e contratou um escritório para defender seu caso na Justiça. 
A decisão favorável veio do juiz Gustavo Borsa Antonello.

Mas sob qual fundamento? Conforme a citação da sentença na reportagem, a busca da felicidade: “O que se reconhece aqui é uma única união amorosa entre três pessoas: um homem e duas mulheres, revestida de publicidade, continuidade, afetividade e com o objetivo de constituir uma família e de se buscar a felicidade”.

Trata-se de um novo capítulo da grande revolução afetiva contemporânea; e um capítulo muito importante. A legitimação dos novos modelos de família recebeu um impulso definitivo com a equiparação entre a paternidade biológica e a paternidade socioafetiva pelo STF, na famosa Repercussão Geral 622 relatada pelo ministro Luiz Fux. 
Segundo a tese central, “A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios”. Nos termos do jurista Ricardo Calderón: a socioafetividade e a multiparentalidade foram reconhecidas pelo STF.

O que estamos presenciando agora é o completo descolamento da ordem social de sua base natural evolutiva e biopsíquica; mas também de sua teleologia moral, refletida no casamento monogâmico heterossexual

Calderón é, juntamente com Maria Berenice Dias, um dos grandes expoentes nacionais no movimento dos “Direitos Afetivos”, que propõe, em poucas palavras, a completa submissão da ordem familiar ao individualismo expressivo e, assim, ao moderno capitalismo emocional. Eles não diriam isso, obviamente; mas o ataque predatório do individualismo expressivo sobre a moralidade, a religião e o direito é um resultado direito do sistema de hiperconsumo segundo um dos autores mais prezados pelo próprio Calderón: Gilles Lipovetsky.

Segundo tratamos nessa coluna, a moralidade que fundamenta a revolução afetiva é uma espécie de epicurismo psicologizado, resultante do triunfo da mentalidade terapêutica ao longo do século 20. Esse epicurismo pós-moderno estabelece o bem-estar emocional e a autenticidade como uma Lex Legum na organização da vida moral, afetiva e familiar. Calderón chama isso de “família eudemonista”, focada na felicidade individual de seus membros; mas o epicurismo era apenas uma das doutrinas clássicas da felicidade. Seria melhor falarmos em uma eudemonística liberal, a doutrina de felicidade do individualismo expressivo.

Esse epicurismo pós-moderno levou à corrupção da moralidade, à distorção do direito de família e, ao contrário do que pretende, injustiça para mulheres e famílias. 
A militância da nova esquerda e do afetivismo jurídico tende a transformar instituições culturais e sociais em tecnologias do Self, ferramentas de autoafirmação e autoexpressão do indivíduo moderno, epicurista, secularizado e individualista. 
Há um paralelo aqui com a indústria, quando o aumento de alguns confortos produz dejetos tóxicos e altamente poluentes. A expansão irracional dos direitos individuais traz custos sociais que são externalizados e disseminados, atingindo principalmente os mais vulneráveis. Ninguém sofre mais os efeitos destrutivos da flexibilização do casamento e dos deveres dos pais biológicos do que as mulheres e crianças da periferia, por exemplo.

Pois bem: aparentemente foi essa ideologia, segundo se depreende de uma reportagem anterior de Gabriel Stohr no portal Vale dos Sinos, a estrela-guia do juiz Gustavo Borsa Antonello em sua sentença autorizando o “trisal”. Stohr cita a sentença: “Hoje, o que identifica uma família é o afeto, esse sentimento que enlaça corações e une vidas. A família é onde se encontra o sonho de felicidade. A Justiça precisa atentar nessas realidades”. E o juiz concluiu o texto nesses termos:

“Finalizo essa decisão, permitindo-me transcrever a poesia de Lulu Santos, em canção lançada no início da década de 80:

(…)

Eu quero crer no amor numa boa
Que isso valha pra qualquer pessoa
Que realizar a força que tem uma paixão
Eu vejo um novo começo de era
De gente fina, elegante e sincera
Com habilidade pra dizer mais sim do que não

Hoje o tempo voa, amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Não há tempo que volte, amor
Vamos viver tudo que há pra viver
Vamos nos permitir

(Tempos modernos, Lulu Santos)”

Os novos modelos de família emulam até certo ponto o que a família natural faz, mas não completamente. É por isso que o casamento e a família natural deveriam ter uma proteção especial do Estado

A citação é muito interessante, fazendo transparecer a íntima conexão espiritual entre o Judiciário moderno e o ideário moral da elite cosmopolita nacional, conexão essa demonstrada em múltiplos níveis. Do Direito à produção midiática, passando pela universidade e pelo jornalismo, trata-se do mesmo estilo moral: “vamos viver tudo o que há pra viver... vamos nos permitir”: a epítome do epicurismo pós-moderno.

O comentário do grupo de advogados, citado por Stohr, também é muito instrutivo:

“Cada vez mais a Justiça tem compreendido o valor da família, tendo o amor e o afeto como norteadores desta construção familiar. Em um momento em que as forças conservadoras do nosso país lutam para reprimir toda forma de amor, esta decisão vem justamente para mostrar que absolutamente nada pode ser maior que o amor.”

Não é de se admirar que o Brasil esteja em pé de guerra. A elite cosmopolita se imagina lutando pelo amor; e os pobres-diabos parecem realmente acreditar nisso.

O que estamos presenciando agora é o completo descolamento da ordem social de sua base natural evolutiva e biopsíquica; mas também de sua teleologia moral, refletida no casamento monogâmico heterossexual. A superioridade dessa forma de união já era reconhecida no mundo clássico, em Aristóteles, por exemplo. Mas a hegemonia do casamento monogâmico como pacto ou sacramento, que costumo chamar de casamento agápico, é uma das grandes dádivas da igreja cristã e ajudou a criar a civilização ocidental.

Essa forma de casamento sintetiza o mais alto grau de união entre duas pessoas, homem e mulher, nas promessas da conjugalidade, com a mais profunda união entre pessoas mais jovens e pessoas mais velhas, na parentalidade natural. Note o leitor: apenas no casamento monogâmico temos essas duas conexões, sincrônica e diacrônica, operando em bases biológicas e naturais. Os novos modelos de família emulam até certo ponto o que a família natural faz, mas não completamente. É por isso que o casamento e a família natural deveriam ter uma proteção especial do Estado; eles cultivam, guardam e oferecem bens humanos específicos de valor público e comum.

Mas esses bens vêm se tornando cada vez menos visíveis no mundo contemporâneo.  
E o Judiciário brasileiro é responsável por isso, das menores instâncias até o STF. 
Esses poderosos, que trocaram Aristóteles e o apóstolo Paulo por Lulu Santos, não serão lembrados por sua sabedoria.
 
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

domingo, 9 de julho de 2023

Lula, a Venezuela e a vida real - J. R. Guzzo

Revista Oeste

O presidente veio com a história de que “a democracia é relativa”. Não existe isso. O que há, no mundo das realidades, são democracias e ditaduras

 Presidente da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro, e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião privada | Foto: Ricardo Stuckert/PR

O sonho do presidente Lula, pelo que se constata ouvindo os desvarios cada vez mais agitados que ele não para de produzir todas as vezes que abre a boca para falar em público, é ser o ditador Nicolás Maduro.  
É isso, no fundo: ele quer ser um Maduro, e quer que o Brasil seja uma Venezuela. 
Como passa as 24 horas do dia cercado pelo cordão de puxa-sacos mais tóxico que já se viu na história brasileira, ninguém tem coragem, nem a decência mínima, de lhe dizer que tanto uma coisa quanto a outra são mais complicadas do que ele imagina. 
O resultado é que Lula continua, com o gás todo, nessa viagem perturbada rumo às suas miragens; 
- deu para dizer agora que tem “orgulho” de ser chamado de comunista, e que o Brasil precisa acabar com essa conversa de família, religião e patriotismo. 
 Isso é coisa de “faxista”, como diz, e ele tem horror ao “faxismo”. Imagina-se com o cartaz de um Nelson Mandela, pronto a receber o Prêmio Nobel, e o cordão à sua volta se ajoelha e diz: “Isso mesmo, presidente”. Está tão perto de Mandela como o Jabaquara do Real Madrid; o que acaba acontecendo, na prática, é a sua transformação em mais um projeto de ditador bananeiro, um misto de Pancho Villa com João de Deus, que dá nesse sub-Maduro que se vê por aí.

O crescente tumulto mental de Lula coincide com os piores momentos que a Justiça brasileira já teve desde que o governador Tomé de Sousa, há quase 500 anos, colocou em funcionamento um sistema judicial neste país, com a instalação do ouvidor-geral da Bahia. 
Desses piores momentos, possivelmente nenhum foi pior que o mais recente — a cassação dos direitos políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro, em quem os 140 milhões de eleitores brasileiros estão agora proibidos de votar, por decisão da junta judicial que hoje governa o Brasil em parceria com Lula e o seu sistema.  
É uma dessas espetaculares coincidências da vida. 
No mesmo momento em que as Cortes Supremas do Brasil cassaram Bolsonaro, as Cortes Supremas da Venezuela cassaram María Corina, a candidata mais forte do que sobrou de oposição por ali para as próximas eleições presidenciais.  
 
Essa eleição é uma piada — na Venezuela também existe um TSE, e também lá ganha quem o TSE deles diz que ganhou
É uma farsa em estado puro, segundo atestam as avaliações de todas as democracias sérias do mundo e, até, dos órgãos de militância esquerdeira, como as ONUs, as OEAs e as coisas parecidas. 
Mas, assim como aqui, o governo não quer correr o menor risco de algum acidente; é mais prático, logo de uma vez, proibir o adversário de concorrer.

Como é que Lula, Janja, Flávio Dino e os outros imaginam deixar o Brasil do mesmo tamanho? Se querem uma democracia venezuelana, vão precisar de uma economia venezuelana

Venezuela e Brasil, ao estilo do consórcio STF-Lula — tudo a ver? Há, sem dúvida, um imenso esforço para que tudo tenha cada vez mais a ver. O presidente da República, justo neste momento, resolveu ter mais um dos seus surtos madureiros — disse que a Venezuela é uma formosa democracia, porque tem “mais eleições que o Brasil”. 
A declaração foi um assombro — China, Cuba, Coreia do Norte têm eleições; todas as ditaduras do mundo têm eleições
De que adianta a Venezuela ter eleições se a oposição não pode ter candidato? 
 
Lula, diante do despropósito que tinha acabado de dizer, quis fugir, como sempre faz nessas ocasiões — e, como sempre, disparou um despropósito maior ainda. Veio com a história de que “a democracia é relativa; cada um acha que é uma coisa”. Não existe isso. Não há “democracia relativa”. Quem achava isso eram os generais da ditadura militar do AI-5. O que há, no mundo das realidades, são democracias e ditaduras. Se é democracia é democracia; se é ditadura é ditadura. Até o ministro Gilmar Mendes (ele e Alexandre de Moraes são os únicos que realmente contam no STF; os demais só cumprem a tabela, sem disputar o campeonato) achou que assim também já era demais. Disse, e insistiu, que a noção de democracia relativa é um completo disparate.

🚨NA LATA
Porque o senhor e o seu governo tem tanta dificuldade em reconhecer a ditadura na Venezuela?
LULA tem alma de ditador! pic.twitter.com/o5Mik8Fu4f

— @Jopelim (@PrJosiasPereir3) June 29, 2023

Eis aí, então — há dificuldades, e não são poucas, com as fantasias de Lula e dos extremistas que mandam em regiões inteiras do seu governo. Ele pode querer ser um novo Maduro. Mais difícil é fazer com que o Brasil seja uma nova Venezuela. Há, é claro, muita encenação, muito fingimento e muito adereço de mão para exibir ao público — há o palavrório do “Foro de São Paulo”, dos novos “empréstimos” para se somarem aos que a Venezuela nunca pagou e das teorias sobre como seria bom juntar o Brasil com a miséria da América Latina. Mas uma coisa é dizer bobagem. Fazer com que aconteça já são outros quinhentos. 

Gilmar Mendes, por exemplo — Lula provavelmente não estava esperando levar uma bronca, em público, dele. Democracia relativa? Só o STF tem o direito de praticar democracia relativa no Brasil; para os demais, é exercício ilegal da profissão. Quer dizer que o Supremo não assina embaixo de tudo o que o presidente diz ou faz? Nesse caso não assinou. Tem dado a Lula tudo o que interessa a Lula, como se dá a César o que é de César — ou se dava, nos velhos tempos. 
Mas outra maneira de ver a mesma coisa é refletir que o STF só dá o que quer dar; não está claro o quanto quer, nem o que quer, mais exatamente. Há ainda mais um ângulo: como na Bolsa de Valores, resultados do passado não garantem resultados no futuro. A ver, portanto.

Outro problema é o Brasil em si. Lula, Janja, Flávio Dino e outros dos grandes cérebros do seu governo talvez tenham chegado muito tarde à cena do crime, como diria Geraldo Alckmin. 
Se quisessem mesmo um Brasil comunista, como o partido em que o ministro militou se propõe a criar, deveriam ter começado uns 60 anos atrás, ou algo assim. De lá para cá, o Brasil virou outro país. Tem um PIB de US$ 2 trilhões, tornou-se um dos dois ou três maiores produtores de alimentos do mundo — o que vale mais que qualquer reserva de petróleo — e criou uma cadeia de interesses grandes demais para ser desmanchada com despachos no Diário Oficial. 
A Venezuela, ao contrário, andou para trás. Já tinha, antes da ditadura, uma economia de terceira categoria, que vivia unicamente de um produto, o petróleo. Não tinha empresas privadas de verdade, não tinha capital, não conseguia exportar um prego, nunca passou do pré-capitalismo. De lá para cá, ficou muito pior — hoje não tem mais nem papel higiênico, a não ser para Maduro e a casta de generais, de milicianos e de traficantes de drogas que manda no país e fica com todos os dólares que ainda entram ali. Dá para pagar as suas Maseratis. O Brasil já é bem mais complicado.

 Com todos os seus problemas, e põe problema nisso, o Brasil está com um PIB 20 vezes maior que o da Venezuela de Maduro.  
Como é que Lula, Janja, Flávio Dino e os outros imaginam deixar o Brasil do mesmo tamanho? 
Se querem uma democracia venezuelana, vão precisar de uma economia venezuelana. É fácil transformar a Venezuela numa Cuba — aliás, Cuba tem hoje um PIB maior
Outra coisa, bem mais difícil, é transformar o Brasil numa Venezuela. Fazer discurso no “Foro de São Paulo”, proclamar-se comunista e ficar fazendo turismo pelo mundo com a mulher e com Celso Amorim não vai ser suficiente.

Em encontro do Foro de São Paulo, Lula diz que sente orgulho de ser chamado de Comunista e diz que as pautas dos Costumes, da Família e do Patriotismo são discursos fascistas pic.twitter.com/Ee07omW1Ux

— O Corvo (@0C0RV0) June 30, 2023

Lula e o Sistema “L” ficam muito animados, naturalmente, quando veem aberrações em modo extremo, como a cassação dos direitos políticos de Jair Bolsonaro. 
É esse o paraíso venezuelano que pediram a Deus — um país onde nenhuma lei vale nada, e a Constituição pode ser anulada a qualquer momento do dia ou da noite para atender aos desejos e interesses de quem manda no governo
Nunca existiu qualquer fato, mesmo daqueles mais ordinários, que pudesse ser apresentado para dar um mínimo de legalidade, ou mesmo de simples lógica, à decisão tomada pelo complexo STF-TSE. Bolsonaro não fez nada de errado, ou proibido por lei, para ser declarado “inelegível”; estava condenado antes do processo começar, pela única razão de que Lula e o Comissariado Supremo que governam o Brasil de hoje não admitem que os brasileiros possam votar nele, em nenhuma hipótese ou circunstância. 
Fabricaram, então, uma desculpa para dar alguma roupagem jurídica ao que tinham decidido fazer — e a desculpa que escolheram foi um desastre sem nexo, sem inteligência e sem qualquer contato com os fatos.
 
Bolsonaro foi cassado, como se viu, porque fez uma reunião com embaixadores na qual reclamou das urnas eletrônicas do TSE, que nenhuma democracia do mundo, mesmo da segunda divisão, utiliza. 
E daí? O ministro Edson Fachin, aquele que descondenou Lula por erro no CEP, tinha feito uma reunião com os mesmos embaixadores — só que para falar bem das urnas. 
Dilma Rousseff, a mártir da esquerda nacional que hoje está num empregão de R$ 300 mil por mês doado por Lula, também se reuniu com embaixadores pouco antes do seu impeachment, para ver se arrumava alguma coisa. Não arrumou nada — mas fez exatamente a mesma coisa que Bolsonaro. Dizer que ele gerou “desconfiança no sistema eleitoral”, então, é ainda mais prodigioso. 
O presidente do PDT, que pediu ao TSE a cassação de Bolsonaro, fez um discurso inflamado contra esse mesmo sistema, tempos atrás; disse que onde há voto eletrônico a “fraude impera”. 
A ministra do Planejamento, a quem Lula se refere como “Simone Estepe”, exigiu que as urnas do TSE tivessem comprovante impresso. O próprio Flávio Dino, com todo o seu comunismo, disse, repetiu e disse de novo que o sistema de votação não merecia confiança e tinha de ser reformado. Por que está certo com eles e está errado com Bolsonaro? Poderiam dizer, já que era para inventar alguma coisa, que ele cometeu genocídio; talvez ficasse um pouco menos idiota.

ministros lula tse

Jair Bolsonaro | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Lula se livrou de Bolsonaro em boa hora, já que na sua última entrevista, no programa Pânico, da Jovem Pan, o ex-presidente teve uma audiência final de 1,4 milhão de ouvintes, enquanto Lula não conseguiu passar de miseráveis 6 mil, ou coisa que o valha, nas suas lives produzidas com toda a majestade da máquina do Estado e um caminhão de dinheiro público. 

Será que vai ter o apoio do TSE, ou STF, ou STJ, ou seja lá o “S” que for, se fizer as mesmas coisas que a democracia da Venezuela faz — como torturar presos políticos, prender jornalistas e levar 7 milhões de venezuelanos a fugir do país para não morrer de fome? 
Enquanto isso não fica claro, Lula também não governa nem fica no Brasil; ultimamente andava mais uma vez pela Argentina, e só neste mês de julho tem mais duas viagens para o exterior, agora para a Colômbia e a Bélgica. 
 A Rede Globo e suas vizinhanças descrevem essa alucinação como “intensa atividade internacional”, e Lula, para eles, é uma “liderança latino-americana”. É por onde estamos indo — cuesta abajo, como no tango de Gardel. Lula, Venezuela e mídia brasileira: uma só paixão.

 YouTube video

Leia também “A guerra contra a Jovem Pan”

 

Coluna J. R.Guzzo, colunista - Revista Oeste

 

 

quarta-feira, 5 de julho de 2023

Democracia é relativa? Explicamos a Lula por que a Venezuela é uma ditadura - Gazeta do Povo

Eli Vieira
 

Sem relativismo

Resumo da reportagem

  • O presidente Lula defendeu a legitimidade democrática da Venezuela, uma visão questionada por observadores e instituições internacionais.
  • Relatórios apontam que a Venezuela falha em critérios essenciais para democracia, incluindo eleições justas, respeito aos direitos humanos, Estado de direito, pluralismo político e participação cidadã.
  • Acusações sérias como manipulação de eleições, violações de direitos humanos e censura à imprensa reforçam há uma ditadura na Venezuela: é um fato objetivo, não flexível à relativização.
Na quinta-feira passada (29), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu uma resposta relativista a respeito da democracia ao ser questionado durante entrevista na Rádio Gaúcha. 
 “Por que o senhor, seu governo e parte da esquerda brasileira”, perguntou o jornalista Rodrigo Lopes, “têm tanta dificuldade em considerar a Venezuela uma ditadura?” 
Lula respondeu que “a Venezuela tem mais eleições do que o Brasil” e que “o conceito de democracia é relativo para você e para mim”. Ele também sugeriu que a rádio mandasse um emissário para checar a legitimidade das próximas eleições por lá.

“Presidente, eu fui preso na Venezuela três anos atrás”, informou Lopes. “O senhor diria hoje que a Venezuela é uma democracia? Em resposta, Lula deu uma série de argumentos que sugerem que, para ele, a resposta é afirmativa. “Tem gente que não quer aceitar o resultado eleitoral. Nem todo mundo é como o Lula”, disse. Ele insinuou que o jornalista “não conhece o assunto profundamente” e arrematou que “quem quiser derrotar o [Nicolás] Maduro, derrote nas próximas eleições”.

Desde a sua fundação grega, o conceito de democracia é submetido a amplos debates. 
Isso não significa que todas as opiniões têm o mesmo peso. 
Um consenso pode ser claramente aferido de fontes como a Carta Internacional dos Direitos Humanos (da ONU, que inclui a Declaração Universal dos Direitos Humanos), a Comissão de Veneza, os Critérios de Copenhague (pré-requisitos de inclusão da União Europeia), a Carta Democrática Interamericana (da OEA) e a Carta Africana sobre Democracia, Eleições e Governança (da União Africana). Na lista abaixo, que sintetiza esse consenso, a Venezuela falha em todos os critérios como democracia.

1. Eleições livres e justas
Democracias devem ter um sistema para os cidadãos escolherem seus líderes por meio de eleições regulares e justas. Em dezembro de 2020, houve eleições parlamentares na Venezuela. Contudo, observadores viram claros sinais de ilegitimidade no pleito.

A Universidade Católica Andrés Bello (Ucab, melhor instituição de ensino superior da Venezuela) e o Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral (Idea, entidade sediada em Estocolmo com 33 países membros, incluindo o Brasil) concluíram, em relatório conjunto, que a ditadura de Nicolás Maduro manipulou o pleito pela eleição de um novo Conselho Nacional Eleitoral sem a aprovação da Assembleia Nacional, a única casa legislativa do país; intervenção de juízes em partidos, aumento ilegal do número de parlamentares e ameaça a eleitores que, de alguma forma, dependessem de auxílio do regime, além de supressão da liberdade de imprensa. Problemas similares foram observados na votação de 2018 que “reelegeu” Maduro, para a qual observadores internacionais não foram convidados.

2. Respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais
Regimes democráticos devem respeitar o direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal, bem como a liberdade de expressão, pensamento, imprensa, religião e reunião. O regime de Maduro viola todos esses direitos e liberdades.

O Tribunal Penal Internacional (TPI) e o Programa Venezuelano de Educação-Ação em Direitos Humanos (Provea) acumulam milhares de denúncias de tortura, espancamento, estupro, execução e cárcere ilegal.  
Desde 2013, são no mínimo 1600 torturados e 40 mil vítimas da violência estatal. 
Essas denúncias são corroboradas por mais de uma missão da ONU ao país e por grandes organizações de direitos humanos como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch. Tramitam processos no TPI contra o regime ditatorial venezuelano por crimes contra a humanidade.

No período aproximado de um ano e meio desde a reeleição ilegítima de Maduro em 2018, a ONU registrou 6.856 execuções partindo diretamente de um órgão de repressão fundado pelo ditador.

Há pesada censura e a imprensa não é livre. 
Em 2013, 121 veículos operavam no país. Em 2021, o número baixou para 22. Esses poucos que operam são submetidos a assédio constante, acusados de colaborar com forças estrangeiras. 
O judiciário capturado impõe pesadas multas de “difamação” quando jornais fazem críticas ao regime. Na classificação do Repórteres sem fronteiras, com 180 países, a Venezuela está na 159ª posição em liberdade de imprensa.

3. Estado de direito e governança democrática
Uma democracia pode até matar, pela via da pena de morte, mas isso deve ser previsto por lei e o amplo direito à defesa deve ser respeitado
A ideia é resumida com o termo “império da lei” ou “governo da lei”. 
As leis devem ser aplicadas de maneira igual, justa e consistente, com um judiciário independente e controle democrático sobre as forças militares e de segurança.
 
Mais uma vez, a Venezuela falha nisso. Não apenas pelas violações já ilustradas, mas porque, em certo sentido, quem tem império no regime é o narcotráfico. Em vez de controle democrático, há traficantes importantes nas forças armadas como Vladimir Padrino, Gerardo Rangel e Nestor Reverol. A denúncia é do Departamento de Tesouro dos EUA.  
O apreço pelo tráfico de cocaína, por exemplo, data do início da “revolução bolivariana” que implantou o regime ditatorial, o que leva alguns analistas a caracterizar o país como refém de um “narcoestado”.  
O governo é do crime, não da lei, a julgar pelas conexões de Maduro ao grupo terrorista Hezbollah e aos mercenários russos do Grupo Wagner, acusado de fazer terrorismo na África por parlamentares locais.

4. Pluralismo político e responsabilidade
Na democracia,
a diversidade de opiniões políticas deve ser permitida e respeitada, com transparência nas ações do governo e responsabilização dos funcionários por suas ações.

Em 2020, o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela, capturado pela ditadura, destituiu autoridades e líderes de partidos políticos da oposição e indicou outras pessoas para liderá-los, à revelia da vontade dos membros. Foram alvos os partidos Voluntad Popular, Acción Democratica e Primero Justicia, os principais da oposição ao PSUV — Partido Socialista Unido de Venezuela, fundado pelo falecido ditador Hugo Chávez, antecessor de Maduro, em 2007.

Até os dias atuais, isso não mudou. Dias após a alegação de Lula de que basta alguém concorrer contra Maduro para tirá-lo do poder, a Controladoria-Geral da Venezuela tornou inelegível por 15 anos a pré-candidata de oposição María Corina Machado, do partido de centro Vente Venezuela. A Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos condenou a decisão e a caracterizou como “contrária ao Estado de direito”.

Portanto, na Venezuela a diversidade política oficialmente reconhecida é fajuta, manipulada pelo partido que detém o poder para assegurar sua própria continuidade. A Anistia Internacional estimou que o país soma entre 240 e 310 presos políticos recentemente.

5. Participação dos cidadãos
Uma democracia não se faz apenas do aparato estatal e as regras que ele segue. Os cidadãos devem ter o direito e os meios de participar do processo político, sem discriminação arbitrária. Como resultado de todas essas violações, o povo venezuelano está batendo em retirada. 
Já são mais de sete milhões que fugiram da ditadura. 
Como o país tinha 30 milhões de habitantes em 2015, o número dos que partiram desde então se aproxima de um terço. 
Os dependentes do Estado são ameaçados caso pensem em votar na oposição, como denunciou a Anistia Internacional. 
Como o jogo eleitoral não é limpo, muitos também boicotam as eleições. 
A oposição pediu que seus eleitores se abstivessem no pleito de 2020. A abstenção atingiu 54%.
 
 
 
Eli Vieira, colunista - Gazeta do Povo  - VOZES
 
 


 

domingo, 26 de fevereiro de 2023

Jornalista de esquerda quer pobre pagando mais por gasolina - Gazeta do Povo

Rodrigo Constantino

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Miriam Leitão é, supostamente, uma jornalista especializada em assuntos econômicos. Digo supostamente pois, como economista formado que sou, já vi inúmeros deslizes graves da renomada comentarista sobre o tema. Na coluna de hoje, ela resolveu aplaudir o aumento do imposto sobre combustível.
"Por mais impopular que seja, não faz sentido o país abrir mão de R$ 52 bilhões por estar preso em uma armadilha montada pelo governo Bolsonaro", diz sua chamada.

A explicação dela passa pela religião ambientalista, a mais popular das elites cosmopolitas: "As razões passam pela questão política e atravessam as pautas sociais, ambientais e de justiça social. A gasolina é um produto que emite gases de efeito estufa, e há um esforço global para a redução das emissões". Isso costuma ser um luxo que os ricos têm para sinalizar virtude, enquanto os pobres pagam o pato.

Mas Leitão vai além e apela para o "argumento" de que pobre não dirige carro: "Além disso, a perspectiva da esquerda é que os recursos públicos devem ser destinados principalmente para os pobres e não para os ricos. Quem consome gasolina é quem tem carro, e portanto mais renda. Gêneros de primeira necessidade sofrem a incidência de impostos federais, é incoerente que a gasolina seja isenta".

Talvez Miriam Leitão não saiba que os pobres precisam de transporte para trabalhar, e que estes sofrem o impacto direto do aumento do combustível, ou seja, os pobres perdem indiretamente
Talvez ela não se dê conta do efeito cascata, já que o combustível incide sobre quase toda a logística nacional, especialmente num país como o Brasil dominado por rodovias.
 
Miriam Leitão está gostando muito do desgoverno Lula
E como toda comunista, ela enxerga com bons olhos mais e mais recursos nas mãos do estado, supostamente para fins sociais, enquanto na prática isso significa menos recursos disponíveis para os trabalhadores mais pobres.

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

sábado, 25 de fevereiro de 2023

Que filhos deixaremos para este mundo? - Raul Jafet


       A frase parece trocada, mas infelizmente é o retrato que vejo hoje, mundo afora, sobre os filhos que estamos deixando nos substituir, para viver e participar do mundo futuro já presente.

Jamais pensei que seria saudosista, afinal, procuro estar sempre atualizado, principalmente na tecnologia, um sonho que acompanho se tornar realidade a cada instante.

Recentemente uma frase que li, me inspirou a escrever esse artigo:

"Os filhos de hoje sabem o preço de tudo, mas o valor de nada!"

Cada vez mais afastados da religião, da família,  os valores éticos e morais que nos foram transmitidos durante gerações,  vão se perdendo a olhos vistos, substituídos pelo "importante é ser feliz, custe o que custar" . Os fins justificam os meios...pelo sucesso e poder, se abatem uns aos outros, se afundam em bebidas e outras drogas, vivem o hoje....o futuro, e a provisão estão longe de suas prioridades.

Os adolescentes, por sua habilidade na tecnologia, desprezam os pais - heróis em nosso tempo - considerando-os apenas provedores de seus Iphones, roupas, games, baladas...

Por isso, em pouco tempo, apareceram 54 tipos de gênero  - antes só o masculino e feminino - pela dificuldade em se situar em algum deles, e  vão nos obrigando - graças aos poderosos que estão por trás disso - a modificar a linguagem que aprendemos nos bancos escolares, para não ferir as suscetibilidades das frágeis e confusas cabecinhas, que após terem passado da adolescência e juventude, ainda não decidiram o que são e como se situam nesse mundo....

Durante o último período eleitoral brasileiro,  exacerbaram-se rancores entre pais e filhos...esses, incapazes de aceitar a experiência e vivência dos mais velhos, respondiam com desprezo e descaso às considerações dos familiares....ouvi de muitos pais, que seus filhos pareciam inimigos dentro de casa....

A competitividade, a luta por espaços cada vez mais reduzidos, a falta de estrutura familiar,  somados a fenômenos climáticos cada vez mais devastadores, os conflitos entre nações que continuam fazendo milhões de vítimas, experiências atômicas e biológicas, estranhas pandemias e suas ainda mais estranhas vacinas...uma decadência acentuada do mundo Ocidental,  propõe rapidamente, severas e trágicas modificações do mundo como o conhecemos.....cabe a reflexão de onde é que erramos, continuamos errando... como sucumbimos às irremediáveis mudanças e não demos os alicerces necessários, como nossos filhos irão enfrentar o que está porvir e de que forma transformarão o mundo? ????

Raul Jafet, autor do artigo, é engenheiro, jornalista e empresário.

 

sábado, 18 de fevereiro de 2023

Liberdade religiosa - Ainda é possível ser cristão no mundo, mas até quando? - Gazeta do Povo

Vozes - Jean Marques Regina/Thiago Rafael Vieira

Crônicas de um Estado laico


O vídeo mostra Isabel Vaughan Spruce orando silenciosamente enquanto a polícia se aproxima dela e pergunta o que ela está fazendo, ao que ela responde que “pode ser” que estivesse rezando mentalmente.| Foto: Reprodução Twitter

Um dos assuntos mais frequentes em nossa coluna é a liberdade religiosa. 
 Falar de liberdade religiosa é falar de proteção ao fenômeno religioso; logo, é importantíssimo termos a compreensão exata do que é religião para a ciência do Direito, o que não é assim tão simples. 
Assim como na Teologia, onde a aproximação de um texto das Escrituras requer interpretação, sendo que há critérios para estabelecer um caminho seguro, no Direito também vemos estas nuances no (as vezes não muito) árduo trabalho de interpretar uma norma. 
O texto da lei é apenas um dos elementos, sendo que há também fontes diferentes para auxiliar na difícil tarefa de buscar exercitar, efetivar e aplicar a justiça.
 
Assim, os termos mudam de acordo com a ciência que os descreve. Nesse rápido texto, queremos lançar luz ao sentido jurídico do termo “religião”.  
A transcendência, que atinge cada pessoa, é parte do que chamamos “liberdade de crença”. 
Esta é, no Brasil, um direito absoluto (artigo 5.º, VI, primeira parte, da Constituição). Ninguém pode determinar em que eu ou você cremos. É um assunto de foro íntimo, e neste domínio apenas a nossa consciência determina as coisas. Por isso a Constituição afirma que se trata de liberdade inviolável.


    As próximas gerações de cristãos dependerão do que fizermos hoje quanto à defesa dos fundamentos da nossa fé, também na arena pública

A situação muda quando saímos do foro interno e passamos a exercitar a crença no ambiente externo, seja individual ou coletivamente. Então surge a necessidade de uma conceituação do fenômeno religioso de forma mais ou menos objetiva para que, enquanto civilização, possamos perseguir as necessidades humanas fundamentais da maneira mais colaborativa e menos lesiva possível.

As fontes do direito (as leis, os julgados, a doutrina etc.) têm chegado ao consenso de que um fenômeno que mira a transcendência pode ser considerado uma “religião” se forem observados três elementos: o trinômio Divindade/Moralidade/Culto. Sempre haverá a necessidade de se encontrar uma relação do ser humano com o divino, a partir de ensinamentos morais, e que se expressará por meio de uma liturgia, o culto, individual ou coletivo.

E qual é o veículo para que o domínio interno (crença) possa ser exercitado por meio deste conjunto de elementos formadores da religião? Um direito fundamental com o nome de “liberdade de expressão”.  
Esta liberdade é um “meio” pelo qual expressamos, na liturgia do culto, da família ou do trabalho, o conjunto de valores morais ligados à revelação transcendental de Deus. 
Entender como este mecanismo funciona é imprescindível para que possamos também defender as nossas posições frente a hostilidades enormes que estamos enxergando, tanto ao analisar situações passadas quanto outras que se avizinham.

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Damos um exemplo externo e um do Brasil sobre a necessidade de vigilância com estes conceitos.  
O externo é o recente caso de Isabel Vaughan-Spruce, que foi presa na Inglaterra por estar fazendo orações silenciosas em frente a uma clínica de aborto. Neste caso, o simples fato de a mulher estar em frente ao lugar, com a cabeça baixa, em oração (ou seja, em uma expressão absolutamente discreta de suas crenças), foi o suficiente para que entendessem estar ela usando uma “linguagem de ódio”. Graças a Deus o veredito foi de inocente, mas seu caso mostra como os temas envolvendo a fé se tornarão cada vez mais controversos e sensíveis na sociedade secular e antirreligiosa.

No Brasil, tivemos o recente caso de uma mulher que fora homossexual e identificava-se como homem trans; após a conversão à fé cristã, abandonou tais posições. Anos mais tarde, candidatou-se à fila de adoção e teve sua habilitação negada por causa de suas crenças religiosas, que poderiam interferir na vida de seu filho ou filha no futuro. Também houve reversão da decisão neste caso, mostrando a sensibilidade do tema.

As próximas gerações de cristãos dependerão do que fizermos hoje quanto à defesa dos fundamentos da nossa fé, também na arena pública.

Thiago Rafael Vieira/Jean Marques Regina - Gazeta do Povo - VOZES


quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

A pedra e a vidraça na política - Alexandre Garcia

Nada de mal em haver ideias opostas, o problema é a radicalização, com o se o oposto fosse sempre o mal. é o Deus e o diabo de religião transposto para a política

Essas pouco mais de três semanas do novo governo estão cheias de emoções. Para nós, jornalistas, para os de governo e para os da oposição, para investidores, empregados e patrões. Tempos extremamente difíceis para o trabalho exitoso de cartomantes, jogadores de búzios, detentores de bolas de cristal e afins.

Se "no Brasil, até o passado é imprevisível", parece que estamos nas mãos do acaso, que vai armando a cada dia um quebra-cabeças em que seguimos animados pelo consolo de que "a esperança é a última que morre". Tudo isso ainda sem o ingrediente mais barulhento da política, que vai ser jogado dentro do Legislativo, que reabre quando este mês terminar.

Na Argentina, repetiu-se o susto da moeda conjunta, tentando ligar o peso de quase 100% de inflação com o real de menos de 6%. E o BNDES vai ser de novo internacional — BIDES, talvez —, vai ajudar com quase R$ 4 bilhões um gasoduto para transportar gás de xisto, que é muito poluente, para o Brasil, que tem o seu gás do pré-sal.

Em Davos, foi o medo de termos 120 milhões de pedintes famintos e a sugestão de não se comprar nem um palito de fósforo dos empresários direitistas. Em Brasília, a surpresa de ter ao lado do presidente um comandante do Exército de inteira confiança numa sexta-feira e, no sábado, tê-lo destituído por falta de confiança.

E ainda temos a vergonha de ianomâmis vítimas principalmente de desnutrição 20 mil pessoas que ocupam um território igual ao de Pernambuco, habitado por 9 milhões. E quem aplica suas economias no mercado, ganha um susto adicional ao saber que a Americanas deu uma pedalada de R$ 20 bilhões. É chavão, mas não é um país para amadores. O problema é que faltam profissionais.

Isso sem falar nas consequências da catarse do dia 8, em que brasileiros destruíram seu próprio patrimônio, incluindo preciosidades históricas, artísticas e culturais. 
Agora, a Justiça não quer saber se a pessoa vivia um sonho impossível com fuga da realidade, pois muitos ainda não entenderam o que está acontecendo. 
Nada de mal em haver idéias opostas, o problema é a radicalização, como se o oposto fosse sempre o mal. É o Deus e o diabo de religião transposto para a política. Não há debate racional possível.

O país está dividido e não é de agora. Quem estava contra o governo nos últimos quatro anos agora é governo — é vidraça. Quem era vidraça, agora é pedra. Só que seria melhor manter a metáfora como uma imagem e não sair apedrejando vidros do Supremo ou do Palácio do Planalto literalmente.

Embora seja acaciano, oposição e situação são essenciais para o embate democrático. Nos últimos quatro anos, os dois lados se queixaram do adversário. A tentação agora é dar o troco, como oposição e como governo. Lula, ontem, na Argentina, falou em "tentações autoritárias que até hoje desafiam nossa democracia". Não nos deixeis cair em tentação, porque a carga de energia potencial anda beirando o limite.

Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

PGR: envolvidos em ato em Brasília não são terroristas

STF determinou a prisão de pessoas no protesto, sob a alegação de que elas teriam cometido esse tipo de crime

 A Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou que os manifestantes que participaram do protesto em Brasília não são terroristas. O posicionamento consta em ações enviadas ao Supremo Tribunal Federal (STF) por Carlos Santos, subprocurador-geral da República e coordenador do Grupo de Combate aos Atos Antidemocráticos, informou o site Metrópoles, nesta terça-feira, 24.

No processo, Santos lembrou que terrorismo só é caracterizado em condutas tomadas por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião.  
A definição consta na Lei Antiterrorismo, de nº 13.260/2016, aprovada pelo Congresso Nacional. “Não faz parte dos tipos penais o cometimento de crimes, por mais graves que possam ser, por razões políticas”, constatou Frederico.

Segundo o subprocurador-geral, a decisão não reduz a gravidade dos fatos, mas respeita a “garantia fundamental prevista no artigo 5º, inciso XXXIX, da Constituição da República”. O dispositivo diz que “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”.

O ministro do STF Alexandre de Moraes determinou a prisão dos manifestantes, com base na Lei Antiterrorismo, assim como quando estabeleceu o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e a prisão do ex-secretário de Segurança Pública do DF Anderson Torres.

Na decisão, Moraes escreveu que “há fortes indícios de materialidade e autoria dos crimes previstos na Lei de Terrorismo”.

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Atos de vandalismo não se enquadram como terrorismo

Lei prevê que para ser atentado terrorista a conduta deve ser motivada por xenofobia ou discriminação de raça, cor, etnia e religião, e não finalidade política 

Os atos de vandalismo que ocorreram no dia 8 de janeiro nos prédios da Praça dos Três Poderes não podem ser considerados terrorismo. É assim que alguns políticos e juristas têm se posicionado desde aquela data, criticando a posição do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Moraes determinou a prisão dos manifestantes com fundamento na Lei de Terrorismo (Lei 13.260/2016), assim como o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e a prisão do ex-secretário de Segurança Pública do DF Anderson Torres.

Na decisão de afastamento, Moraes escreveu que há “fortes indícios de materialidade e autoria” dos crimes previstos na Lei de Terrorismo. Com as decisões de Moraes, tanto a assessoria de imprensa do órgão como veículos da grande imprensa passaram a chamar o episódio de 8 de janeiro de atos de terrorismo e os manifestantes de terroristas.

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Assessoria do STF chamou manifestantes de terrorismo | Foto: Reprodução

Porém, na segunda-feira 16, a Procuradora Geral da República (PGR), ao denunciar 39 pessoas pela invasão e depredação do Senado, não acusou os denunciados por terrorismo. No entendimento do órgão, os atos não se configuram como crime de terrorismo porque a lei aprovada em 2016 exige que os atos sejam praticados “por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião”, o que não foi possível comprovar até o momento, informou a assessoria da PGR.

Além disso, a lei, textualmente, exclui atos políticos. “O disposto neste artigo não se aplica à conduta individual ou coletiva de pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria profissional, direcionados por propósitos sociais ou reivindicatórios, visando a contestar, criticar, protestar ou apoiar, com o objetivo de defender direitos, garantias e liberdades constitucionais, sem prejuízo da tipificação penal contida em lei”.

Alguns políticos, como a deputada Bia Kicis (PL-DF), lembraram que a Lei do Terrorismo não se aplica a manifestações políticas.

Ao decidirem, no Plenário Virtual do STF sobre a prisão de Torres e afastamento de Ibaneis, os ministros André Mendonça e Kassio Nunes Marques os únicos a votarem contra já haviam feito considerações sofre a falta de tipicidade do crime de terrorismo. Mendonça escreveu, em seu voto, que não havia indícios de crimes de terrorismo justamente porque “todas as referências fáticas indicam atos motivados por razões de natureza político-ideológica”.

Marques afirmou que “a ocorrência de atos políticos qualificados como “antidemocráticos” não constam como motivação prevista nos estritos termos da Lei 13.260/2016, que expressamente prevê que os delitos sejam cometidos a título de dolo e “por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião”.

Uma reportagem publicada pelo portal UOL nesta terça-feira, 17, afirma que os ministros do STF estariam divididos quanto ao enquadramento como terrorismo dos atos praticados no dia 8. Sem citar nomes, a reportagem informa que ministros disseram, reservadamente, que não estão seguros de que a conduta dos manifestantes possa ser enquadrada na lei de 2016.

O crime de terrorismo nas instâncias superiores
A Lei de Terrorismo chegou poucas vezes às cortes superiores. Na Jurisprudência do STF, aparece cinco vezes, mas apenas mencionada incidentalmente em processos sem relação com o crime.

No Superior Tribunal de Justiça (STJ), há uma decisão sobre a Lei de Terrorismo, de 2019. E o entendimento do ministros, ao julgarem um habeas corpus em favor de um adolescente condenado, em primeira e segunda instâncias por atos preparatórios de terrorismo, é mesmo da PGR: ou seja, é necessário que o crime seja executado por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião.

“O Tribunal local, ao dispensar a motivação constante do dispositivo legal, terminou por admitir a configuração do delito sem a clara definição da motivação. Trata-se de operação indevida, visto que admite a perpetração de (ato infracional análogo a) crime, sem que estejam devidamente configuradas todas as suas elementares”, consta do acórdão do STJ.

Para o advogado Fabrício Rebelo, considerar os atos do dia 8 como terrorismo é um absurdo jurídico. “Juridicamente, portanto, esse enquadramento é completamente ilegal, absurdo até”, disse a Oeste. “Como terrorismo é algo impensável, não haveria malabarismo que justificasse” uma eventual denúncia do Ministério Público pelos crimes da Lei 13.260, explicou o jurista.

Redação - Revista Oeste