O Estado de S. Paulo Motivos para processo de impeachment há, o que não há são condições políticas e objetivasQue
o governo Jair Bolsonaro é
um desastre nas mais variadas áreas, senão em todas, ninguém minimamente
informado e conectado à realidade tem dúvida. Daí a imaginar que o impeachment
está à vista é apenas um sonho de verão, ou de tempos de pandemia. Motivos há
de sobra. O que falta são ambiente político e condições objetivas, por
enquanto.
Como
esquecer a reação do presidente quando o Brasil ultrapassou cinco mil mortes
por covid-19: “E daí? Querem que
faça o quê?”. Como esquecer a cena do presidente passeando
de jet ski no dia em
que o número de mortos passou de dez mil? A gota
d’água é a falta de gotas de vacina. “Querem que eu faça o quê?” Que governe o
País, garanta e defenda as vacinas, salve vidas. [Cara Colunista, com todo o respeito e pedindo desculpas pela nossa ignorância - que nos impede de ler por trás do que está escrito - pedimos que responda: as duas perguntas grifadas tipificam qual crime? crime desses tipificados em leis, não valendo a vontade da escriba.]
Bolsonaro,
porém, nunca deixou de passear no seu jet ski pela realidade virtual em que
vive, feliz, todo sorrisos, fazendo campanha antecipada pela sua reeleição, em
vez de fazer campanha imediata pela vacinação. Ultrapassa todos os limites de
provocação, irresponsabilidade, falta de respeito e bom senso. E é o principal
culpado por trazer de volta a palavra impeachment ao cotidiano nacional.
Pelo
temor de a pandemia gerar processo de impeachment e descambar para crise
social, política e institucional, o procurador-geral da República, Augusto Aras, deixou o País de
prontidão com uma nota em que admite até estado de
defesa, previsto pelo artigo 136 da Constituição [a Constituição vigente, a 'constituição cidadã' de 1988, a democrática Constituição que sustenta o 'estado democrático de direitos.] para
restringir liberdades individuais em cenários de caos.
Soou
como ameaça, por vários motivos: Aras é aliado e se sente devedor do
presidente, que o pinçou para a PGR fora da lista tríplice; Bolsonaro
ultrapassa limites todo santo dia; a incúria do governo compromete a vacinação
da população; o auxílio emergencial acabou e milhões ficarão na miséria, cara a
cara com a fome. Logo, a hipótese de impeachment não é mais absurda.
A
reação a Aras foi forte, de ministros do Supremo, parlamentares e dos próprios
procuradores, que focaram em dois pontos da nota:
1) a ameaça de estado de
defesa, num ambiente em que o presidente enaltece ditadores e atiça as Forças
Armadas e
2) a versão de Aras de que crimes de responsabilidade praticados por
agentes públicos são de competência do Legislativo.
A avaliação [avaliações, especialmente contra o presidente Bolsonaro, costumam ser baseadas em suposições, interpretações = os inimigos do presidente Bolsonaro, que são também inimigos do Brasil, arautos do pessimismo e adeptos do 'quanto pior melhor', padecem de uma cônica aversão aos fatos.] é de que o
procurador tenta lavar as mãos e que uma autoridade saber com antecedência do
risco iminente de falta de oxigênio e não evitar que pessoas morram sufocadas é
crime comum, logo, compete aos tribunais e ao Ministério Público.
A
nota de Aras embola Bolsonaro, pandemia, os erros do governo e algo de imensa
importância no mundo e no Brasil, que é a troca de Donald Trump por Joe Biden
nos EUA. O governo é um desastre internamente e o último fiapo da política
externa esgarçou. Em vez de reagir corrigindo os erros, Bolsonaro dobra a
aposta e teme-se que, acuado, sinta-se tentado a chutar o pau da barraca,
recorrendo a instrumentos excepcionais, como o estado de defesa.
Como
imaginar impeachment, porém, se o candidato de Bolsonaro é favorito a
presidente da Câmara, o PT apoia o candidato dele no Senado, governadores e
prefeitos são investigados por desvios de recursos para leitos e respiradores
e, agora, políticos, empresários e imorais de toda sorte furam fila para roubar
as (já poucas) vacinas dos profissionais de saúde?
É
dramático admitir, mas Bolsonaro é resultado e parte desse descalabro e conta
com súditos fiéis para garantir pontos nas pesquisas e até bater bumbo pelas
duas milhões de doses que devem pingar hoje no País, vindas da Índia. Chegam
atrasadas, não resolvem nada, são uma gota no oceano para os brasileiros, mas
os seguidores de Bolsonaro são craques em trocar a realidade pela versão do
mito. Que vai ficando.[Bem pior é o Joãozinho, o Doria, que desde outubro fala, grita, espinafra o presidente, e a vacina dele não deu nem para começar e do alto de sua (in) competência, esqueceu que a vacina dele por ser parceria com uma empresa chinesa, instalada em solo chinês,corre o risco de fracassar por não ter insumos, o IFA - cuja remessa depende da boa vontade dos chineses; quando a vacina da Fiocruz o IFA será remetido por uma fábrica da ASTRAZENECA, instalada em solo chinês mas que não é chinesa, tendo autonomia para enviar os insumos.]
Eliane Cantanhêde, jornalista - O Estado de S. Paulo