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quinta-feira, 8 de outubro de 2020

O acordão do capitão - O Globo

 Bernardo Mello Franco 

Num domingo de abril, o presidente Jair Bolsonaro foi à porta do Quartel-General do Exército, subiu na caçamba de uma caminhonete e estimulou seguidores que bradavam por “intervenção militar” e AI-5. “Nós não queremos negociar nada! Nós queremos ação pelo Brasil!”, vociferou.

[Pessoal! um comentário, talvez uma sugestão ou mesmo um alerta: A nefasta indicação efetuada pelo presidente Bolsonaro para o cargo de ministro do STF, desagradou a muitos, talvez milhões, especialmente os bolsonaristas de raiz - entre quais, com orgulho nos incluímos, tanto na condição de bolsonarista raiz quanto no desagrado pela indicação.

Não sentimos necessidade de radicalização - o presidente ao indicar Kassio Marques exerceu uma legítima competência constitucional do seu cargo, nos cabendo apenas alertá-lo. Optamos por expressar as inconveniências da indicação e esperar que o presidente mude de pensamento (algo pouco provável, porém, possível) e anule a indicação. Só que é necessário se ter presente que milhões podem ter votado no CAPITÃO  na expectativa de um comportamento mais coerente com sua condição anterior ao seu ingresso na política - oficial do Exército Brasileiro. A carreira militar exige além dos dois pilares, insubstituíveis, Disciplina e Hierarquia, mais firmeza nas decisões (firmeza, que não é substituível por teimosia) menos flexibilidade e mais fundamentação nos recuos e ter  condutas típicas de um militar, de um oficial do glorioso Exército Brasileiro.  

Acontece que muitos esqueceram, ou não atentaram, que estavam votando em um CAPITÃO para exercer um CARGO POLÍTICO - Presidente da República Federativa do Brasil, condição que exige um comportamento muito diferente do que é comum a um militar. Não queremos dizer que seja um comportamento não digno, não firme, mas que precisa ter flexibilidade, jogo de cintura e o CAPITÃO está adaptado a se portar, agir, como político, o que muitas vezes o deixa desprestigiado junto aos seus eleitores. Mas, votamos em um militar para exercer um cargo político e temos que ser flexíveis, nos adaptando a certas posturas, certas negociações (atenção! negociatas não serão aceitas) certos acordos que o cargo exercido exige.

Devemos considerar que o presidente Bolsonaro tem sofrido uma oposição cerrada, um boicote, no limite uma sabotagem, que exige 'jogo de cintura'. Os próprios inimigos do presidente   = inimigos do Brasil, turma do mecanismo, e assemelhados - sabem dessa limitação presidencial e vão tentar forçar a barra = vale tudo para derrubar o capitão. NÃO CONSEGUIRÃO].

Menos de seis meses depois, Bolsonaro toma café com Rodrigo Maia, almoça com o centrão e janta com Gilmar Mendes. No último domingo, ele foi à casa de Dias Toffoli comer pizza e assistir a um jogo do Palmeiras. A imagem dos dois abraçados, como amigos que se reencontram para torcer pelo mesmo time, é um retrato dos novos tempos em Brasília. O extremista que prometia romper com o establishment passou a dançar conforme a velha música. A indicação de Kassio Marques ao Supremo faz parte da metamorfose. O presidente consultou Gilmar e Toffoli, inimigos jurados da Lava-Jato, antes de oficializar a escolha do futuro ministro.

Eles não são os únicos a festejar o indicado. “Para além das diferenças que nós temos, ele (Bolsonaro) pode deixar um grande legado para o Brasil, que é o desmonte desse estado policialesco que tomou conta do nosso país”, celebrou o senador Renan Calheiros. À CNN Brasil, ele listou outras medidas que agradaram à classe política: o desmantelamento do Coaf, a demissão de Sergio Moro, a nomeação de Augusto Aras.

Os elogios de Renan produziram um curto-circuito no bolsonarismo raiz. Chamado de traidor, o capitão tenta contornar as críticas. “Eu não quero acabar com a Lava Jato. Eu acabei com a Lava Jato, porque não tem mais corrupção no governo”, gracejou ontem, no Planalto.

É ilusão pensar que o exercício do poder moderou Bolsonaro. Estamos diante de um acordão, que o uniu a políticos que demonizava. A turma quer blindagem e sossego, mercadorias que Gilmar sempre soube entregar. A fantasia da conciliação pode ser rasgada a qualquer momento: basta que o capitão se sinta seguro para chutar os aliados de conveniência. Enquanto essa hora não chega, todos celebram a paz com brindes de tubaína.

Bernardo Mello Franco, jornalista - O Globo



segunda-feira, 27 de maio de 2019

A batalha morro acima dos nutellas para reabilitar o presidencialismo de coalizão

A conjuntura anda meio paradoxal. O governo começou a contornar a ameaça de as medidas provisórias no Congresso caducarem, o dito centrão não se mostrou tão coeso assim, ficou evidente que a cúpula do Congresso tem poucas saídas além de tocar a pauta econômica governamental, etc. Não fosse uma entrevista atrapalhada do ministro da Economia, Paulo Guedes, a coisa teria transcorrido em certa paz. Mas permanece uma tensão política resiliente.

E a tensão tem características originais. Não é entre governo e oposição. É disputa essencialmente dentro do bloco político-social que elegeu Jair Bolsonaro com 46% no primeiro turno e 55% no segundo. Usando aqui livremente a linguagem algumas vezes bem-humorada das redes sociais, é uma luta entre o bolsonarismo raiz e o nutella para decidir quem vai mandar no governo. Hoje, domingo, o primeiro foi às ruas e mostrou disposição de combate.

Como a esquerda havia mostrado dia 15. Mas a esquerda está completamente fora do jogo, lançada à defensiva estratégica. É improvável que apoie os nutellas contra os raiz. Muito menos o inverso. E domingo ficou claro que estes últimos não se recolheram. Colocaram na rua menos gente que a esquerda? Mas a comparação talvez seja outra. Quem sairia de casa para defender a reabilitação do presidencialismo de coalizão? Quem levantaria uma faixa “governabilidade já!”?

Esse é um problema do bloco que reúne os saudosos da hegemonia do agora Novo PSDB de João Doria, o bolsonarismo arrependido, o bolsonarismo escanteado no governo e o dito centrão: se essa aliança informal mostra musculatura na opinião pública, falta-lhe povo. Também porque não é sexy exigir que o presidente da República ofereça cargos em troca de apoio congressual ou defender que o Judiciário seja um freio ao poder do Bonaparte.   A luta para reabilitar o presidencialismo de coalizão na preferência popular é inglória, pois rema contra uma lavagem cerebral de anos, para não dizer décadas. A reabilitação não é impossível, mas depende principalmente de o governo fracassar na economia e, junto com isso, a base bolsonarista concluir que a culpa foi do próprio Bolsonaro, por não ter seguido os trâmites tradicionais da política. Depende também de romper a aliança Bolsonaro-Guedes-Sérgio Moro.

Daí o Congresso e o dito centrão estarem numa sinuca de bico. Têm duas armas possíveis para emparedar o governo: sabotar a agenda econômica e ameaçar com o impeachment. Para a segunda, falta-lhes rua. Contra a primeira, há o risco real de o tiro sair pela culatra: em vez de emparedarem, serem emparedados pela base bolsonarista. Não lhes resta por enquanto, além do choro e ranger de dentes, outra saída senão comparecer e votar.

É um jogo arriscado para o governo? Em algum grau sim. As atribulações da família presidencial oferecem um potencial de oportunidade para o Legislativo explorar o “efeito Tim Maia”, o “me dê motivo”. Uma dificuldade do Congresso: para derrubar o presidente é preciso achar (ou fabricar) algo contra o próprio presidente. E sempre é bom lembrar: este não pode ser investigado por fatos anteriores ao início do mandato dele na Presidência. Está na lei e na jurisprudência recente.

Claro que tudo pode mudar, e o constitucionalismo iluminista-criativo está aí para isso mesmo. Mas golpes exigem povo, e até agora não está claro quem poderia fornecer. A esquerda e o petismo sairiam às ruas para apoiar a assunção do vice Hamilton Mourão? Por enquanto improvável. A esquerda pode não ter lido o 18 Brumário, talvez ocupada demais com as pautas do marxismo cultural, mas sabe que a tragédia pode se repetir como comédia, ou “farsa”.   Da última vez em que topou isso, abriu espaço para uma década de governos tucanos em aliança com o centrão. E as forças hoje em luta interna contra o bolsonarismo raiz estiveram na linha de frente das ações pela derrubada do último governo petista. É tudo muito recente. Seria mais natural portanto adotar a tática de observar a disputa intestina no adversário. Ainda que a questão não esteja tão pacificada assim na oposição, com uma parte estudando posições mais, digamos, pragmáticas.

Pois a esquerda governa estados e municípios que precisam de dinheiro.  E o que o "centro" em busca da ressurreição teria a oferecer à esquerda? Eleições antecipadas? A liberdade e a elegibilidade de Lula? 
Um governo de caráter provisório que reabrisse o debate da agenda econômica?
A rediscussão dos mecanismos de financiamento do movimento sindical? 
Um freio na Lava-Jato?   A conclusão é imediata: a turma que sonha com um bolsonarismo sem Bolsonaro não tem por enquanto garrafas suficientes para entregar.