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quinta-feira, 17 de novembro de 2022

‘A esquerda vai ter dificuldade para governar’

Para o cientista político Christopher Garman, a ‘lua de mel’ [lua de fel] de Lula será curta e os  protestos de conservadores devem ganhar força

Lua de mel curta, baixos índices de aprovação durante o governo e forte oposição dos conservadores nas ruas. [isso sendo otimista e considerando que os petistas conseguirão iniciar um governo.] Essa é a análise do cientista político Christopher Garman, sobre o que o presidente eleito, Lula, vai enfrentar daqui para a frente. Isso porque a direita conseguiu eleger uma boa bancada no Congresso Nacional, quase manteve Bolsonaro na Presidência e tem demonstrado força nas manifestações.

Essa é uma tendência que deve se expandir para outros governos de esquerda na América Latina, que vão lidar com um cenário econômico e político bem mais hostil do que na primeira onda do grupo, em meio ao “boom das commodities”, no início dos anos 2000 e meados da década passada. “O atual apoio popular da esquerda não garante a governabilidade da qual desfrutaram um dia”, afirma Garman. “É só pegar como amostra o presidente do Chile, Gabriel Boric. Em menos de um ano, a aprovação dele afundou rápido. Gustavo Petro, na Colômbia, está semelhante, visto que, mal assumiu, sua aprovação despencou.”

O especialista diz que o mundo vive um momento de “desencanto” com as instituições e de “revolta contra o sistema”, o que significa governos mais fracos e suscetíveis à não permanência no poder. A Oeste, Garman discorreu sobre as eleições no Brasil, as manifestações de rua e a volta da esquerda à maioria dos países latino-americanos.

A seguir, os principais trechos da entrevista.
Com a vitória de Lula, a América Latina volta a ficar quase totalmente tingida de vermelho, semelhante ao início dos anos 2000. Como o senhor vê essa mudança?
Diferentemente do que algumas pessoas afirmam, não se trata do restabelecimento da força que a esquerda tinha no passado. Trata-se de um movimento de descrença nas instituições e insatisfação com o sistema atual, que vem aumentando com o passar do tempo. Somadas a isso, há as consequências da covid-19. O choque inflacionário, em virtude do isolamento social, tomou conta do planeta. A renda da população caiu drasticamente, as classes baixas sofreram mais, e a esquerda conseguiu capitalizar isso de alguma forma. Outro elemento é que estamos em uma era em que o ambiente para apoio popular é complicado. O cenário é de “lua de mel” curta para novos governantes, como o presidente Lula, além de baixas taxas de aprovação.

Os conservadores saíram da eleição sentindo-se roubados, principalmente ao observarem a forma como o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) conduziram a disputa”


Então, esses governos de esquerda terão dificuldades para se sustentar?
Sim, porque o atual apoio popular da esquerda não garante a governabilidade da qual desfrutaram um dia. É só pegar como amostra o presidente do Chile, Gabriel Boric. Em menos de um ano no Palácio La Moneda, a aprovação dele afundou rápido. Gustavo Petro, na Colômbia, está igual, visto que, mal assumiu, sua aprovação despencou de 60% para 40%, dando sinais de que esse processo de desidratação vai continuar. A esquerda entrou no poder, porém, com restrições econômicas e políticas. No caso do Brasil, ela não tem um bom passado, em razão de escândalos de corrupção expostos pela Lava Jato, não conseguiu maioria no Congresso e está limitada ao caixa do Estado, que não é suficiente para financiar seu programa de governo assistencialista. Ela está com as mãos amarradas.
A que o senhor atribui a derrota do presidente Jair Bolsonaro?
Não acho que as declarações que o presidente deu sobre o novo coronavírus são as causas do resultado da eleição, como ouvi na mídia. Um dos motivos para a não reeleição do chefe do Executivo foi o impacto da inflação, devido ao isolamento social. Durante a pandemia de coronavírus, a renda real do Brasil caiu 8%, e ainda não voltou aos patamares pré-covid, apesar da recuperação da economia, entre o fim do ano passado e agora, e da queda do desemprego. Muita gente não viu o que o governo fez para combater isso e não entendeu as causas do problema, ao querer soluções rápidas para problemas difíceis.

Depois de vencer a eleição, Lula falou em “pacificar o Brasil”. Ele conseguirá fazer isso?

Não. O país está polarizado, e isso vai durar bastante tempo. Também acredito que Lula terá índices de aprovação baixíssimos, algo bem diferente de quando deixou a Presidência. A pessoa que votou em Lula não deu ao petista um cheque em branco. O efeito destas eleições será semelhante ao que ocorreu nos Estados Unidos. Joe Biden foi eleito com uma retórica de pacificação. Embora tenha conseguido passar algumas medidas no Parlamento, não pacificou o país, e nada indica que o fará. Os próximos passos de Lula serão mobilizar o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), para tentar conseguir apoio no Congresso e assegurar o mínimo de governabilidade. Ainda assim, a Câmara e o Senado têm figuras que não se curvarão, ou seja, haverá oposição de verdade: uma trincheira anti-PT.

Lula tem condições de concretizar promessas, como regulamentar a mídia, derrubar o teto de gastos e alterar a reforma trabalhista?

Dessas citadas, a mais possível de acontecer é a quebra do teto de gastos, porque há parlamentares dispostos a gastar mais. Tudo vai depender do Congresso, agora de centro-direita. Lula tem condições de promover algumas coisas do seu plano de governo, mas nem tudo. A oposição a ele é real no Parlamento. Pelo menos um terço do Congresso é liberal-conservador. O petista terá de negociar caso a caso. Hoje, é quase impossível imaginar que os congressistas revoguem a reforma trabalhista, por exemplo, tampouco promovam a regulamentação da mídia. Com a oposição na rua, do tamanho que ela está se apresentando, propostas autoritárias dificilmente passariam no Congresso.

Qual a avaliação do senhor sobre as manifestações populares em reação à vitória de Lula?

Os conservadores saíram da eleição sentindo-se roubados, principalmente ao observarem a forma como o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) conduziram a disputa.   As duas Cortes pesaram a mão no ativismo judicial durante o processo.  
Além disso, há o tratamento diferenciado que a imprensa tradicional deu ao candidato do PT. 
Isso é nítido nas entrevistas concedidas por Lula e Bolsonaro ao Jornal Nacional, com Bonner tratando melhor o ex-presidente. 
O eleitor de direita não se esqueceu da questão envolvendo os empresários bolsonaristas e vê o TSE como um algoz de Bolsonaro. O que eu vejo é que os protestos vão continuar de natureza ordeira e pacífica.[ou seja, dentro do preconizado pelos comandantes das 3 Forças - condição que tornará cômicos e inúteis  os esforços do ministro Moraes paraq sufocar o que chama de 'atos antidemocráticos'.]

Qual o maior desafio do novo governo?

Estabelecer uma aliança em prol da economia. Lula precisa garantir a responsabilidade fiscal, se quiser ter dinheiro em caixa. O problema é que, durante a campanha, o ex-presidente criticou o capitalismo, as privatizações e até o mercado. Se ele não conseguir firmar um pacto em prol da recuperação do país, a maioria das promessas que fez ficará no papel. No governo Jair Bolsonaro, a economia tinha grandes chances de crescer, agora, é uma incógnita.

É possível imaginar uma América Latina novamente pintada de azul, como a que havia entre 2016 e 2018?

Se o ambiente de insatisfações e de revoltas contra o sistema perdurar, sim, porque os governos não vão ter continuidade, como ocorria num passado recente. Fala-se, agora, que o presidente Jair Bolsonaro foi o “primeiro a não conseguir ser reeleito” na pós-democratização. Mas o PT corre esse risco também, porque vivemos em um momento em que há menos continuidade de governos. A oposição elege-se, mas, quando chega ao poder, tem dificuldades em mantê-lo. Tudo indica que a esquerda passará pelo mesmo.

Leia também “O árbitro do jogo foi parcial”

 Cristyan Costa, colunista - Revsta Oeste



sábado, 25 de maio de 2019

Os erros da esquerda

Corrupção é mais um mecanismo de acumulação seletiva e de incremento da desigualdade

A última década testemunhou o surgimento, em muitos países, de personalidades e grupos políticos contrários às elites tradicionais, de discurso agressivo contra o status quo, muitas vezes denominados de populismos. Com algumas exceções parciais, como Grécia e Espanha, estes populismos bebem na tradição da extrema direita. É cedo ainda para avaliar em detalhe este fenômeno, de causas complexas e diferenças de país a país, mas é possível refletir sobre os possíveis equívocos da esquerda que contribuíram para esse cenário.

O primeiro é o foco, nos últimos anos, em pautas políticas identitárias. Nada mais justo do que defender as minorias sexuais ou raciais de um tratamento discriminatório. Contudo, num cenário de desigualdade econômica crescente que, como mostra Piketty, está chegando em níveis que só existiam antes dos anos 40, boa parte da esquerda deixou de lado as políticas de redução da desigualdade econômica, como a política fiscal, para se centrar na defesa das minorias. Essa escolha não acalmou o mal-estar das classes baixas, cujos integrantes migraram para opções políticas cada vez mais conservadoras. A direita, por sua vez, aceitou o desafio identitário e desenvolveu projetos políticos identitários para as maiorias, a partir da percepção de uma suposta ameaça.


Assim, heterossexuais passaram a sentir ameaçados pelas “novas” orientações sexuais, [além da ameaça das novas orientações sexuais, os heteros estão sendo compelidos a aceitar, em silêncio e sem direito de protestar, os praticantes de tais orientações; 
protestar contra tais orientações caminha para se tornar um crime mais grave do que matar alguém - o homícidio prescreve em 20 anos, já um protesto contra os seguidores das novas orientações sexuais é imprescritível.] e cidadãos de países ricos passaram a acreditar que os migrantes poderiam destruir sua identidade nacional. A falta de um projeto político transformador e igualitário para o conjunto da sociedade, num momento de crescente frustração com a globalização, abriu um espaço político que foi ocupado pelo retorno ao nacionalismo e ao nativismo. Apelos a colocar o país em primeiro lugar são hoje comuns e, inclusive, dão nome a projetos e a partidos políticos.

Um segundo problema é o tratamento da corrupção. Para boa parte da esquerda, a corrupção foi sempre um problema menor, uma distração da luta de classes. Na América Latina, onde a corrupção é endêmica, os governos progressistas que chegaram ao poder na década passada ignoraram a questão. Acreditaram, erradamente, que seriam julgados pelos mesmos parâmetros de governos anteriores, mas, dado que a esquerda sempre pregou a renovação moral, os níveis de exigência acabaram sendo mais elevados. Além disso, quando o boom das commodities acabou, e a economia entrou em crise, a tolerância social com a corrupção caiu abruptamente, e muitos governos de esquerda foram alvo de acusações de corrupção. É verdade que, em vários países, a Justiça penal foi usada seletivamente contra políticos progressistas, o que se conhece como lawfare, mas não é menos certo que os níveis de corrupção continuaram elevados.

De qualquer forma, o principal erro da esquerda não foi moral, mas doutrinário. Embora a corrupção afete a todos os setores sociais, os lucros auferidos através dela são muito maiores para quem dispõe de um capital político e econômico significativo. Assim, a corrupção constitui mais um mecanismo de acumulação seletiva e de incremento da desigualdade. Para enfrentá-la não bastam apelos à superioridade moral, é preciso fortalecer os mecanismos de fiscalização e transparência. Eis uma proposta política absolutamente progressista que a esquerda deixou, em muitos países, nas mãos da direita. O exercício da autocrítica não garante o fim das derrotas, mas a ausência dela significa que elas, provavelmente, continuarão.