Ana Paula Henkel
Para a sua Páscoa e de sua família,
desejo um sopro de coragem vindo não apenas de um líder religioso, mas um líder
humano nato, forjado na luta contra o verdadeiro e cruel mal da humanidade
Papa São João Paulo II
A essa
altura, todos já devem ter visto ou lido as lamentáveis declarações do papa
Francisco sobre Lula e Dilma. Se você ainda não viu, mesmo não sendo católico, como eu, tome um antiácido
para ler o próximo parágrafo.
Numa
entrevista para o canal de notícias argentino C5N, o
papa Francisco sugeriu que o ex-presidiário Luiz Inácio Lula da Silva
foi condenado sem provas, apenas com indícios e sob uma Justiça que “não
é justa”. De acordo com o pontífice, o pobre
coitado do descondenado pelo STF, a mais alta Corte da
Justiça brasileira, foi vítima de injustiça.
De acordo
com o papa, o político mais corrupto de nossa história foi vítima de lawfare
— termo muito usado pelos norte-americanos e que se refere ao uso indevido do sistema legal e das leis para fins políticos
ou de perseguição pessoal. Tudo isso, segundo Francisco, com uma “ajuda” dos meios de comunicação — ou seja, a imprensa que noticiava o rumo das investigações e prisões
da Lava Jato também perseguiu o amigo de Daniel Ortega — o ditador da Nicarágua, amigo do coitado e perseguido Lula,
que persegue cristãos. Não, Francisco
não tocou nesse assunto.
Mas
Francisco ainda falou sobre Dilma Rousseff. E não poupou elogios à ex-presidente: “Falando ainda do Brasil, o que aconteceu com Dilma
Rousseff? Uma mulher de mãos limpas. Excelente mulher”, afirmou o
pontífice logo depois de o jornalista argentino ter dito que “tiraram Dilma por um ato administrativo menor”.
Bergoglio disse que Lula e Dilma são “inocentes condenados” e completou
que o papa e os políticos têm a missão de desmascarar uma Justiça “que não é
justa”. [como católicos e cumprindo o DEVER de
divulgar a VERDADE, sugerimos a leitura da matéria:
O Papa erra? Bispo explica dogma da infalibilidade
papal
que explica com clareza, conhecimento, isenção e responsabilidade a
diferença entre a INFALIBILIDADE PAPAL quando fala ex-cathedra e quando fala
como cidadão emitindo uma OPINIÃO.
Oportuno ter em conta que toda a matéria, deve ser lida, analisada, como
uma OPINIÃO de um cidadão, portanto, passível de falhas. Saiba mais, clicando aqui.]
Mas isso,
por incrível que pareça, não foi a única bobagem dita por Francisco. O papa
afirmou que se preocupa com o avanço da “ultradireita” no mundo e usou um versículo
bíblico para justificar seu posicionamento social atrelado ao comunismo.
Interpelado sobre qual o “antídoto” para combater
a chamada ultradireita, Francisco defendeu a “justiça social”, termo usado apenas pela ultraesquerda no mundo.
“Não há outro (antídoto)”, argumentou o papa. “Se você quiser discutir
com um político ou com um pensador da ultradireita, fale sobre justiça social.”
A
oposição de João Paulo II ao totalitarismo surgiu de sua devoção à ideia dos
direitos humanos dados por Deus
O papa é
constantemente bombardeado com críticas e questionamentos sobre seus
posicionamentos para lá de políticos, e de sua constante sinalização com a
agenda da esquerda radical e do globalismo. Quando
questionado se ele é comunista, Francisco tergiversou e utilizou a
passagem bíblica de Mateus 25 para justificar seu posicionamento: “Padre, você é comunista? Minha carta de identidade é Mateus
25”, disse. “Leia Mateus 25 e veja se quem escreveu não era
comunista. Tive fome e me deste de comer, tive sede e me deste de beber, estive
nu e me vestisse. Essa é a regra de conduta. Comunista? Comunista!”
Diante
dos absurdos profanados pelo líder oficial atual da Igreja Católica, não apenas
os fiéis da igreja, mas cristãos como um todo derramaram críticas na internet
sobre tais declarações. Alguns católicos, que, assim como outros seguidores de
outras doutrinas, adoram usar a religião para sinalizar virtude, saíram em
defesa do pontífice e fecharam os olhos para o perigoso caminho tomado por
Francisco. Muitos, usando a mesma bobagem que a
esquerda usa para balizar qualquer discussão e manter as opiniões dissidentes
fora do debate, trouxeram a carta do “lugar de fala” — se você
não e católico, feche a boca.
Bem, aqui
não. Aqui, não apenas não fecharemos os olhos para
qualquer declaração absurda a favor de comunistas, como também temos o tal “lugar
de fala”. Sou batizada, catequizada e crismada na Igreja Católica,
religião que sigo desde o meu nascimento.
Vou à
missa todos os domingos, rezo o meu terço todo santo dia (embora não tenha a necessidade
de lotar minhas redes sociais com fotos de um assunto tão privado), e meu filho, 22 anos, será
crismado no Domingo de Páscoa, depois de dez meses de intensos estudos. É
“lugar de fala” que querem para criticar o papa? Check.
Dito
isso, seguirei com as minhas críticas ao pontífice, principalmente pela
razão que sempre foi destacada pelo nosso verdadeiro líder espiritual na terra,
o papa São João Paulo II, de que
os pilares da justiça e da honestidade na Igreja Católica seriam sustentados
pelos fiéis vigilantes, que, estando alertas, lutariam contra qualquer
tribulação.
Há pontos
tão incômodos, eu diria até estarrecedores, no caminho de Francisco como papa que deixam até
os católicos fervorosos mais apreensivos. O fato de ver
sua defesa a membros de um partido que é uma quadrilha e a um corrupto condenado
“com provas sobradas” (palavras do desembargador Gebran Neto — apontado ao
TRF-4 pela administração petista — na chancela da condenação de Lula) não é
o que mais choca, acreditem. O absurdo maior na fala de Francisco reside no fato de que esse partido, seus membros e seu líder
estão enlaçados em páginas e mais páginas de relações íntimas com comunistas
pelo mundo. Essa associação não pode ser colocada fora da equação quando
criticamos essa entrevista e outros indícios de que Francisco se mostra um agente
político de uma agenda que vai completamente contra os preceitos da Igreja
Católica, e do próprio legado de João Paulo II, que, entre imensos trabalhos
importantes para nós, católicos, lutou até seu último dia de vida contra
regimes totalitários e, principalmente, o comunismo.
E a vida
tem umas coincidências estranhas, não é mesmo… Pouco tempo depois de
fecharmos nossa trilogia sobre o comunismo e na mesma semana em que lemos
essas aberrações vindas daquele que deveria zelar por sua igreja, pela verdade
e por seus fiéis, passamos por mais um 2 de abril, data da morte de João
Paulo II.
Foi em 2
de abril de 2005 que os católicos perderam seu mais importante e significativo
líder, o hoje santo papa João Paulo II. Os católicos amam João Paulo II por sua santidade,
como demonstrado, entre outras formas, por seu evangelismo pregado na premissa
do amor ao próximo. Karol Wojtyla, seu nome de batismo,
viu e viveu o comunismo e o nazismo de perto em sua querida Polônia.
Em tempos
estranhos, quando um papa defende políticos que estão
há décadas emaranhados com ditadores e comunistas pelo mundo, em tempos
desconfortáveis quando um papa diz que Joe Biden, o presidente “católico” que
defende o aborto na maior nação do mundo, “é um homem
bom”, recorremos à sua força, João Paulo II, para seguir lutando pela nossa
Igreja e seu legado de liberdade deixado no mundo.
Para
muitos historiadores, nenhuma das realizações do falecido papa parece maior do
que seu papel no final da Guerra Fria e na queda do comunismo soviético. A
oposição de João Paulo II ao totalitarismo surgiu de sua devoção à ideia dos
direitos humanos dados por Deus.
O legado
de João de Deus, como era carinhosamente chamado pelos cristãos brasileiros, não foi deixado apenas para
aqueles que vivem na fé católica, mas todos aqueles que entendem o real
significado da palavra liberdade. Há muitas evidências nas ações desse homem
fantástico, respeitado por pessoas de todas as religiões, inclusive,
agnósticos, de que o mundo em que vivemos hoje talvez não seria tão livre e
próspero se não fosse por muitas de suas obras com seus aliados Ronald Reagan e
Margaret Thatcher.
Ronald
Reagan, João Paulo II e Margaret Thatcher tinham a verdadeira perspectiva histórica e
defendiam os temas que estão na civilização ocidental desde os tempos
greco-romanos e mesmo bíblicos. Eles entenderam que a liberdade não é o estado
natural nem normal da sociedade, mas algo que é estabelecido por meio de um
contrato social em que seus valores fundamentais devem ser reforçados e, quando
necessário, defendidos contra as forças do estatismo, como o da União Soviética
e seus fantasmas ao longo dos anos, e as forças do mal, como o comunismo.
John
Lewis Gaddis, professor de História Militar da Universidade de Yale, uma vez
escreveu que, quando João Paulo II beijou o chão no
Aeroporto de Varsóvia, em 2 de junho de 1979, em sua primeira viagem como papa,
ele iniciou o processo pelo qual o comunismo na
Polônia — e finalmente em todos os lugares — chegaria ao fim.
O
professor de Yale, que não é católico, mostra por que a sua perspectiva sobre a
queda do comunismo começa naquele dia de junho. Um milhão de poloneses se
reuniram dentro e ao redor da Praça da Vitória, em Varsóvia, para uma missa
pública — impensável na Polônia comunista, exceto pelo fato de que ela não pôde
ser negada a um papa polonês. Enquanto João Paulo pregava a verdadeira história
da Polônia — a história de um povo formado por sua fé —, um canto rítmico
ecoava pelas ruas até a praça: “Queremos Deus! Queremos Deus!”. Era a
voz da Polônia, parte do bloco comunista, onde a guerra contra a religião da
doutrina marxista-leninista imperava, gritando “Queremos Deus!” para todo o
mundo ver e ouvir que a fé e a esperança não sucumbiriam ao comunismo, regime
fortalecido quando o ateísmo se inicia.
Não
hesito em dizer que, além de meus pais, a pessoa que mais influenciou minha
vida foi o papa João Paulo II. Ele foi o papa com quem cresci, e, portanto, olhei
para ele como um pai espiritual durante minha adolescência, início da idade
adulta e agora. Há tantos motivos para agradecer a Deus por este homem, e
tantos motivos pelos quais busquei inspiração nele em tantas ocasiões da minha
vida. Admirei sua coragem, seu espírito de missão, sua defesa intransigente
da dignidade da pessoa humana, seu amor pelos jovens, seu trabalho pela paz e
sua contribuição para a queda do comunismo no Leste Europeu.
É
impossível colocar em apenas um artigo os muitos ensinamentos do Santo Papa, seja em entrevistas, discursos,
missas ou mesmo em suas encíclicas, tão bem fundamentadas e ao mesmo tempo
acessíveis aos fiéis. Chegue ali na internet e procure
por “Fé e Razão”, você irá se surpreender
com a profundidade com que as palavras de João Paulo II chegam até sua alma, seja
você religioso ou não.
De muitos
dos caminhos que podem ser tomados para conhecer o santo pontífice, talvez o
fio de ouro que pode ser grandemente útil para todos nós nesse momento seja a
virtude com que João Paulo II impregnava tudo o que ele representava: a
esperança. O papa São João Paulo II foi e continua a ser, conforme
identificado por seu principal biógrafo, George Weigel, uma “Testemunha da Esperança” (Witness of Hope).
Na Semana
Santa, mais especificamente hoje, Sexta-Feira da Paixão, é preciso voltar àquilo que é
foco de destruição daqueles que, de algum maneira, pregam a submissão através
de postos de líderes, onde quer que estejam. É preciso beber na fonte da
esperança de São João Paulo, fundamentada na convicção de que a vitória final
pertence a Cristo, uma vitória que ele já conquistou na cruz. Era uma esperança
fundada na promessa de Jesus na Última Ceia: “No
mundo, tereis aflições, mas tende coragem, porque eu venci o mundo” (João
16:33).
João
Paulo II viveu a perda de toda a sua família, o horror da Segunda Guerra Mundial, o
comunismo, foi baleado e quase morto, teve um câncer no intestino, doença de
Parkinson e muitas outras provações. No entanto, ele nunca perdeu a
esperança.
Em uma
entrevista publicada no final de sua vida, ele relembrou a crueldade dos
regimes nazista e comunista em que viveu, descrevendo-os como
“ideologias do mal” que surgiram por causa da rejeição de Deus como Criador
e fonte determinante do que é parte do bem e do que é parte mal. No entanto, através
de tudo isso, João Paulo olhou para trás neste período e falou sobre os limites
que Deus impôs ao mal naquela época da história europeia. Esses limites
foram impostos pelo bem divino, tornado visível por Cristo com sua vida,
batalha heroica contra o pecado, morte e ressurreição vitoriosa. Para João
Paulo II, este era o poder divino que havia entrado de vez na história e seria
para sempre a fonte de esperança para aqueles que acreditam Nele. Com
Cristo, explicou, o mal seria vencido e a esperança triunfaria em todos os
lugares e circunstâncias.
Aqui
estava a fonte inabalável da esperança de João Paulo como sacerdote, bispo, papa e
um dos grandes líderes mundiais da história.
Hoje,
precisamos de esperança. O mundo inteiro precisa de esperança. Há sinais preocupantes em nossas
sociedades de que as pessoas estão perdendo a esperança e estão se entorpecendo
com drogas, redes sociais e outros tantos vícios do atual mundo. Muitos estão
caindo em desespero e, com frequência alarmante, morrendo por suicídio. Somos
tentados a perder a esperança quando confrontados com os muitos desafios que
enfrentamos hoje.
Então, o
que podemos esperar? Qual
pode ser a razão de nossa esperança? O mesmo foi para São João Paulo II:
que Cristo já venceu todas as coisas e continua presente e ativo no mundo,
mesmo em meio a todas as paixões, pandemias, ditadores, regimes totalitários e
tensões sociais desta época. Seu amor vencerá todo mal, escuridão e desespero.
E isso é um fato.
É o que
João Paulo testemunhou durante toda a sua vida de cristão na esperança pascal e
é o que testemunharemos — por mais que as circunstâncias mundanas nos mostrem outra coisa. Elas,
por mais que sejam reais e doloridas aos nossos olhos, ainda são “apenas”
mundanas. A força da oração, do pensamento baseado nesta esperança de João
Paulo II de que um mal maior que permeia o mundo vai ser vencido, começa com “pequenas” esperanças cotidianas. Esperança para
aqueles que perderam o emprego — que você consiga seu emprego de volta ou
encontre outro que seja ainda melhor para você. Esperança para os idosos que se
sentem solitários em uma sociedade moldada em valores que parecem não existir
mais — que vocês ainda sejam amados e lembrados por todos nós. Esperança para
jovens e estudantes neste tempo de incertezas, julgamentos e imediatismo — que
vocês possam discernir, com fé e confiança, o projeto de Deus para suas vidas.
Esperança para toda a família humana, que tomemos consciência, nesta Páscoa, de
que estamos unidos pela morte e pela ressurreição de Cristo — em pequenos e
grandiosos atos.
Como São
João Paulo nos lembraria, Deus impôs limites ao mal.
Tive o
privilégio de conhecer um ex-assessor de Ronald Reagan que teve a honra de
encontrar o papa João Paulo II nos anos finais de sua vida. Ele me contou que, quando
apertou as mãos que santificaram o trabalho quebrando pedras em uma pedreira
nos arredores de Cracóvia, mãos que abençoaram o mundo por quase um quarto de
século; que, quando ele ouviu a voz que inspirou milhões em todo o mundo a
uma nova esperança; e que, principalmente, quando olhou nos olhos
sorridentes de um homem que sobreviveu aos nazistas, ao comunismo, à bala de um
assassino, e duas doenças graves, só conseguia pensar: “Se ele ainda tem
esperança, que desculpa encontraremos para não ter qualquer tipo de esperança como
ele?”.
Há
mais de 30 anos o Muro de Berlim caiu, sinalizando o colapso mais amplo do
comunismo na Europa Oriental. No entanto, poucos se lembram do evento crucial
alguns meses antes, em junho de 1989, quando a Polônia finalmente realizou
eleições livres e justas. Os comunistas não ganharam um único assento. E tudo
começou com uma homilia de João Paulo II na Praça da Vitória, em Varsóvia, dez
anos antes.
Os
(poucos) fiéis que ainda tentam defender as declarações
progressistas de Bergoglio e que insistem que o silêncio sobre as igrejas
queimadas no Chile, a perseguição a cristãos no mundo, os campos de
concentração de uigures na própria China, e tantos outros eventos sérios que
não mereceram a palavra da Santidade, é um silêncio sábio e humilde,
enquanto defendem as lamentáveis declarações de Francisco. Eles ainda não
entenderam que o papa pop já não está mais entre nós, mas continua sendo
o norte espiritual de milhões pelo mundo.
Para a
sua Páscoa e de sua família, desejo um sopro de coragem vindo não apenas de um líder religioso, mas
um líder humano nato, forjado na luta contra o verdadeiro e cruel mal da
humanidade. Como João Paulo II sempre dizia: “NON ABBIATE PAURA” (não tenham
medo). Cristo venceu o mal e a morte. E nós venceremos também.
Leia
também “O mundo precisa de homens fortes”
Ana Paula Henkel, colunista -
Revista Oeste