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quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Lá se vão os peões - Nas entrelinhas

A política de terra arrasada na montagem da equipe do  governo Bolsonaro promoveu muita gente inexperiente a posições estratégicas, apenas por serem capazes de agradar o chefe


O governo começa a perder seus peões, a tropa de choque escalada pelo presidente Jair Bolsonaro para fustigar os adversários ou servir como linha de defesa do governo. No jogo de xadrez, os peões são oito de cada lado. Funcionam como soldados nas batalhas, ou seja, se sacrificam para salvar as peças mais valiosas, atrair o inimigo para uma armadilha ou possibilitar um ataque de surpresa. Podem ser importantes para fazer pressão e até protagonizar situações de xeque-mate no rei adversário.
 
O peão não tem direito de recuar, só pode andar para a frente, sendo duas casas se for o primeiro lance, ou na diagonal, se for capturar uma peça adversária. Quando na quinta fileira, pode capturar en passant o peão adversário na coluna adjacente que avançar duas casas em seu primeiro movimento. E ao atingir a oitava linha, transforma-se em qualquer outra peça, excluindo o rei, movimento chamado de coroação ou promoção. Nesse caso, é trocado imediatamente por outra peça: cavalo, bispo, torre ou a poderosa rainha.
 
Depois da demissão de Roberto Alvim da Secretaria de Cultura, um peão que jogava avançado, ontem foram mais dois os dispensados. Pela manhã, o secretário executivo da Casa Civil, Vicente Santini, que gastou R$ 700 mil do orçamento da FAB ao usar um jatinho para ir de Davos, na Suíça, a Nova Delhi, a capital da Índia, substituindo o ministro Onyx Lorenzoni, que está de férias. Quando soube do ocorrido, Bolsonaro demitiu-o sem falar com o titular da pasta, que já anda desprestigiado, mas não pode pedir para sair por esse motivo. Santini chega hoje pela manhã a Brasília, com Martha Seillier, secretária do PPI, e Bertha Gadelha, assessora internacional do PPI, no mesmo jatinho da FAB.
 
O outro demitido foi o presidente do INSS, Renato Vieira, pelo secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho. Leonardo Rolim é o substituto. Finalmente, caiu a ficha de que era melhor colocar alguém mais experiente para lidar com o problema das enormes filas no INSS, nas quais 2,6 milhões de pessoas aguardam o recebimento de aposentadorias e benefícios .
 
Burro operante
Bolsonaro começa a se dar conta de que existe uma burocracia competente no governo federal e que caberia a ela tocar a máquina do governo, não aos correligionários. A política de terra arrasada na montagem de sua equipe promoveu muita gente inexperiente a posições estratégicas, apenas por serem capazes de agradar o chefe com uma narrativa ideológica que soa como música aos seus ouvidos. O problema é que a gestão pública lida com problemas objetivos, não lida apenas com ideias fora do lugar. Num país com dimensões continentais, quando o administrador erra no conceito, vira o “burro operante”, isto é, quanto maior a audácia, combatividade, criatividade, disciplina, firmeza, atributos que enchem os olhos do presidente da República, maior o desastre.
 
A tese do “burro operante” faz parte do anedotário do executivo Antonio Maciel Neto, que reestruturou empresas como Cecrisa, Grupo Itamarati, Ford, Suzano Papel e Celulose e Caoa Hyundai, destacando-se por sua capacidade de montar e desenvolver equipes de alta performance, habilidade nas negociações e bons resultados no cumprimento de metas. Não faltam, nos segundo e terceiro escalões do governo, os candidatos a “burro operante”, não somente entre os bagrinhos. Peças mais nobres do tabuleiro — bispos, torres, cavalos —, estão tropeçando nas próprias pernas, ou se enroscando com a língua. No jargão militar, tropa de assalto não é treinada para ocupação.
 
Ontem, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio de Noronha, liberou a divulgação dos resultados do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e os próximos passos do processo seletivo com base no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019, que estavam suspensos por causa dos erros na correção das provas. Com a decisão de Noronha, o governo poderá divulgar o resultado do Sisu e definir novas datas para o ProUni. A disputa judicial começou depois que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, e o presidente do Inep, Alexandre Lopes, admitiram que houve “inconsistência” na correção dos gabaritos das provas aplicadas em 3 e 10 de novembro do ano passado.
 
Segundo o Inep, o erro ocorreu na gráfica onde foi impresso o caderno de questões do candidato, que é identificado com um código de barras do aluno. Depois, imprime-se o cartão de respostas (gabarito), que também tem um código. Outra máquina une esses dois documentos. O erro ocorreu na geração do código de barras. O resultado foi que candidatos que fizeram a prova de uma cor tiveram o gabarito corrigido como se fosse de outra cor. Com a associação de respostas erradas, houve candidato que perdeu até 454 pontos. Uma trapalhada tremenda.
 
Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense
 
 

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Adepto do bolsa-sítio, Lula critica auxílio-moradia



Retirado do pedestal pela Lava Jato, Lula vem sendo submetido a um processo compulsório de autoconhecimento. Mas ainda não enxerga um culpado no espelho. Nesta terça-feira, numa entrevista radiofônica, Lula sentiu-se à vontade para cutucar Sergio Moro e os procuradores da força-tarefa de Curitiba. Adepto do bolsa-sítio, Lula ironizou o bolsa-teto de R$ 4.377 que engorda o contracheque dos seus algozes:
''Agora aprendi uma nova: o povo brasileiro que não tem aumento de salário, por favor, façam como juiz Moro e requeiram auxílio-moradia”, disse Lula. “Ou façam como os procuradores, porque isso que está na imprensa.''

De repente, Lula encontrou na “imprensa golpista” alguma serventia. Em meio às “mentiras” contadas pelos jornalistas sobre ele, o noticiário revelou-se útil ao expor verdades sobre privilégios usufruídos por seus rivais. São, de fato, vantagens reprováveis. E Lula ficou empolgado. Tão empolgado que esqueceu de olhar para o entulho que se acumula na sua retaguarda.  Lula acaba de ser condenado a 12 anos e 1 mês de cadeia por receber como jabaculê da OAS um tríplex no Guarujá. E está na bica de amargar novo castigo judicial por conta do bolsa-sítio de Atibaia. Tudo isso sem mencionar o bolsa-palestra, que rendeu à empresa do orador petista algo como R$ 27 milhões.

Deve-se ao companheiro Luiz Marinho, candidato do PT ao governo de São Paulo, a melhor tentativa de explicação sobre os confortos do amigo. Numa entrevista concedida em julho de 2016 ao repórter Sérgio Roxo, Marinho disse o seguinte sobre a mamata de Atibaia:  “Do que eu conheço, tem duas pessoas que compraram o sítio [sócios de Fábio Luiz, o Lulinha, filho de Lula] e disponibilizaram para ele usar, com comprovação de fontes pagadoras. Portanto, não tem absolutamente nenhum problema. Rigorosamente, hoje, o sítio não é dele. O sítio é de amigos.”
Marinho soou didático: “Vamos imaginar que eu tenho uma casa na praia e disponibilize para você usar todo final de semana, alguém tem alguma coisa ver com isso? É o caso do sítio.” O repórter quis saber de Marinho se “disponibilizar” o sítio significa dar a chave da propriedade para Lula.

Ao responder, Marinho esticou a mão, como se entregasse uma chave: “Toma. Pode mobiliar, é tua. Se um dia você resolver comprar, eu te vendo. Se não, um dia meu filho vai exercer o poder de herança.”
Nessa versão, Lula abancou-se no sítio e, sem pagar um níquel, obteve licença para usá-lo como bem entendesse, trocando inclusive a mobília. Se um dia lhe der na telha, pode manifestar o desejo de comprar o sítio que ocupa de graça. Do contrário, os donos se comprometem a jamais importuná-lo enquanto viverem. O sítio foi reformado pela Odebrecht. Ganhou da OAS uma cozinha de luxo, idêntica à que havia sido instalada no tríplex da praia.

Com sua explicação, agora reproduzida no processo pela defesa de Lula, Luiz Marinho dividiu os brasileiros em dois grupos: os cínicos e os azarados, que ainda não encontraram amigos tão generosos. Uns foram capazes de ceder, por empréstimo perpétuo, um sítio paradisíaco do tamanho de 24 campos de futebol. Outros reformaram e equiparam a propriedade graciosamente.  Tantos favores e gentilezas grudaram na testa de Lula um código de barras. Que a Lava Jato vai transformando aos pouquinhos em sentenças criminais. Inelegível, o condenado já roça a cadeia. Mas acha que dispõe de autoridade para criticar os desvios alheios. Intimado pela conjuntura a olhar para o espelho, Lula parece decidido a não ficar íntimo de si mesmo.

Lula talvez receba, ele próprio, um auxílio-moradia. Se o STF permitir, o Estado custeará integralmente sua hospedagem no complexo-médio penal de Pinhal, o presídio que aloja os condenados da Lava Jato. Na entrevista, assegurou que não planeja fugir.