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sexta-feira, 12 de maio de 2023

Alexandre, o Supremo - Augusto Nunes

Revista Oeste

Depois de atropelar o Legislativo, o Executivo, o Ministério Público e a Constituição, Moraes assume a chefia do Judiciário 


 Alexandre de Moraes | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Premiado com a mais cobiçada das togas em março de 2017, Alexandre de Moraes teve de suportar durante longos 24 meses o semianonimato imposto a todo caçula do Supremo Tribunal Federal. Ao longo desse período, no papel de coadjuvante ou mero figurante, o único ministro indicado por Michel Temer torceu para que a mão do destino recomeçasse o desfile de acasos que acabariam por depositá-lo na Praça dos Três Poderes. No primeiro, o despejo de Dilma Rousseff instalou o vice no comando do Executivo. 
O segundo ocorreu durante a montagem do novo governo: o advogado Antonio Cláudio Mariz de Barros já caprichava na pose de ministro da Justiça quando Temer desistiu de nomear um dos mais ferozes inimigos da Operação Lava Jato. Sobrou para Alexandre de Moraes, até então secretário de Segurança Pública de Geraldo Alckmin.

Formado pela Faculdade do Largo de São Francisco
, aprovado pouco depois no concurso para ingresso no Ministério Público, o paulistano Moraes dividiu-se entre as aulas de Direito Constitucional, a publicação de livros sobre questões jurídicas e a vida de promotor de Justiça até topar com as pompas e fitas da política profissional. 
 Em duas passagens por secretarias estaduais, esforçou-se para candidatar-se ao governo de São Paulo pelo PSDB. Não deu certo. Durante a escala numa secretaria municipal, tentou entrar na disputa pela prefeitura da capital. Não funcionou
Parecia posto em sossego no Ministério da Justiça e da Segurança Pública no momento em que foi resgatado pelo imponderável: o acidente aéreo que matou Teori Zavascki abriu uma vaga no STF. E Alexandre de Moraes foi incorporado à altíssima cúpula do Poder Judiciário.  
O então governador Geraldo Alckmin, durante a apresentação do novo secretário de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes (17/12/2014) | Foto: Edson Lopes Jr/A2

Em março de 2019, dois anos depois do desembarque, o ainda caçula do Egrégio Plenário pressentiu que enfim chegara a sua hora. 
 Sitiado por denúncias e suspeitas que envolviam tanto os titulares do Timão da Toga quanto seus parentes, o presidente Dias Toffoli resolveu escalar o colega menos experiente no comando do ataque
Sem tempo a perder com o sistema acusatório brasileiro, Toffoli mandou às favas o Ministério Público e abriu o Inquérito 4.781 por conta própria. Segundo a legislação, isso só é permitido se o fato a investigar tiver ocorrido nas dependências da Corte. Toffoli anexou à sede do STF todo o território nacional.

As normas internas ordenam que o relator de cada caso seja escolhido por sorteio. Sem consultar os demais presididos, o presidente encarregou Moraes de “investigar a existência de notícias falsas, denunciações caluniosas, ameaças e roubos de publicação, sem os devidos direitos autorais, infrações que podem configurar calúnia, injúria e difamação contra os membros da Suprema Corte e seus familiares.  
Assim nasceu o Inquérito das Fake News, vulgo Inquérito do Fim do Mundo. 
Assim deu-se o parto do aleijão jurídico que permitiria a um único ministro desempenhar simultaneamente os papéis de vítima, detetive, delegado, promotor, magistrado e juiz de recursos
Assim começou o aparentemente infinito cortejo de ilegalidades que faria de um ministro o homem mais poderoso do Brasil. Moraes virou Alexandre, o Supremo. Alexandre de Moraes foi indicado por Michel Temer para ingressar no STF | Foto: Divulgação
 
Como fracassou a tentativa de punir com censura e multas uma revista digital que publicara uma reportagem sobre Toffoli, poucos levaram a sério o pontapé inicial na Constituição. 
O fiasco inaugural, sabe-se agora, camuflava o ovo da serpente. 
Além dos sentidos mais primitivos do artilheiro, os erros da primeira ofensiva contra a liberdade de expressão acordaram o antigo promotor e o especialista em segurança pública. 
Esses dois Moraes sempre flexionaram com fluência e animação os verbos prediletos dos semeadores do medo, como punir, acusar, prender, castigar ou intimidar. Passados quatro anos, o balanço é perturbador. 
O inquérito inicial desdobrou-se em sete, ou oito, ou dez. 
Ninguém consegue informar com precisão porque todos correm em sigilo. Alguns são tão sigilosos que talvez nem mesmo Moraes saiba direito de onde vieram e para onde vão.

“O Brasil não é uma terra sem lei”, vive declamando o Protetor do Estado de Direito. A lei sou eu, falta avisar. Só ele sabe o que é verdade e o que é mentira. Só ele conhece a diferença entre informar e desinformar

Nenhum dos Poderes escapou. Em 2020, ao interditar a nomeação do delegado Alexandre Ramagem para a Superintendência da Polícia Federal, implodiu a norma legal que atribui exclusivamente ao chefe do Executivo a escolha do ocupante do cargo. Em 2021, atropelou o Legislativo, aposentou a Constituição, suspendeu a imunidade parlamentar e inventou o flagrante perpétuo — tudo para prender o deputado federal Daniel Silveira por delitos enquadrados desde sempre no trecho do Código Penal reservado aos crimes contra a honra. 
Em abril de 2022, Moraes liderou o STF no julgamento que condenou o ainda deputado a quase nove anos de prisão. No dia seguinte, Jair Bolsonaro contemplou Silveira com a graça presidencial — um indulto individual que só o presidente da República pode conceder.

“A graça de que trata este decreto é incondicionada e será concedida independentemente do trânsito em julgado da sentença penal condenatória”, ressaltou um trecho do documento. “Essa é uma atribuição do presidente da República, gostemos ou não”, concorda o vídeo em que o ministro ensina que ninguém tem o direito de fazer o que vem fazendo obsessivamente na perseguição a um dos seus alvos preferenciais. Um dia depois de encerrado o mandato, o xerife Moraes atropelou o professor Moraes para prender Silveira de novo. Silveira já não podia invocar a imunidade parlamentar. Mas o ministro perdera o direito de julgá-lo: um ex-deputado não tem foro especial. “O Brasil não é uma terra sem lei”, vive declamando o Protetor do Estado de Direito. A lei sou eu, falta avisar. Só ele sabe o que é verdade e o que é mentira. Só ele conhece a diferença entre informar e desinformar. Só ele conhece a fórmula que livrará a pátria em perigo dos fascistas, dos golpistas, das usinas de fake news, dos atos antidemocráticos e do gabinete do ódio.      O ministro Moraes decide, todos os outros dizem amém. Ou quase todos.
"Alexandre de Moraes defendeu indulto presidencial no STF, em 2018"
 
Os responsáveis por esse “quase” que se cuidem, informou o desempenho de Moraes na sessão do STF que anulou o perdão presidencial e manteve Silveira na cadeia. Primeira a votar, a presidente Rosa Weber endossou a eternização do castigo. Moraes mostrou quem manda por lá no começo do segundo voto, enunciado pelo dissidente André Mendonça. O ministro indicado por Bolsonaro registrou que, depois da condenação de Silveira, “surgiram várias vozes na sociedade dizendo que a pena teria sido excessiva”. Moraes revidou com um olhar de grosso calibre.

Eu cito neste sentido… é… entrevista dada ao… Es… ao jornal O Estado de S. Paulo… pelo… por Fernando Abrucio, a… em matéria publicada no dia 28 de abril de 2022 — gaguejou Mendonça. — Diz a chamada da matéria: “Pena de Daniel Silveira foi um pouco exagerada e Congresso não deu suporte ao STF, diz pesquisador”.

— Permite uma pergunta, ministro André?
— interrompeu a voz abaritonada, ajustando o timbre de feitor.

— Permito.

— O Abrucio é jurista?

— Não, mas…

— Só pra que conste dos anais.


— Não, mas… mas cito também Fernando Capez, consultor jurídico, que foi colega de Vossa Excelência…

— E à época também deputado… candidato a deputado pelo partido do presidente.

— E cito Valdo Cruz. Aqui ele não faz referência a nenhum jurista…

— E também não é jurista.


— Não, não é… mas ele diz o seguinte… salvo que a gente vá dizer que é fake news. Podemos até dizer.

— Levando em conta quem tá sendo julgado, é até possível — encerrou Moraes.

Que “eminente ministro”, que nada. Que “Vossa Excelência”, que nada. Quem prende ou solta quem quer agora dispensa aos colegas o tratamento que lhe der na telha. Um “ministro André” já está de bom tamanho. É excesso de gentileza para quem, onisciente desde os tempos do berçário e onipresente depois dos distúrbios de 8 de janeiro, merece esbanjar onipotência.  
Não é para qualquer vivente prender mais de 1.500 de uma vez só, ressuscitar o exilado sem julgamento e o preso político, conceber a prisão preventiva sem prazo para terminar, manter advogados longe dos autos, engaiolar sem condenação transitada em julgado um indígena, um tenente-coronel e um ex-ministro da Justiça, lotar celas imundas com mulheres idosas ou jovens mães, interferir em votações no Congresso, deformar projetos de lei com emendas da própria lavra, confiscar passaportes por atacado, lacrar contas bancárias, negar a empresários o acesso a redes sociais, impor multas calculadas em milhões e seguir ampliando em ritmo de Fórmula 1 a produção de tornozeleiras eletrônicas — fora o resto. Tudo em defesa do sistema democrático.

Paciência tem limite, avisam os sinais de cansaço emitidos pela imprensa convencional ou por aliados de Lula. 
Um artigo publicado no Estadão por um grupo de juristas que inclui Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, por exemplo, protestou contra as restrições impostas aos advogados de brasileiros presos em Brasília desde 9 de janeiro deste ano. “Foi impossível exercitar o direito de defesa”, diz um trecho. “Foram apresentadas denúncias contra centenas de pessoas, embora os textos dessas petições iniciais não contenham descrições pormenorizadas das condutas de cada um dos acusados. São peças genéricas, em que se repetem as mesmas frases, mudando apenas o nome do cidadão ou da cidadã a quem se imputam crimes a mancheias. Quase não se julgam mais habeas corpus nas turmas do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça. A regra é a prolação de julgamento monocrático.”

Também neste início de maio, o mesmo jornal vergastou em editorial a mais recente ofensiva de Moraes contra as empresas Brasil Paralelo e Spotify. Há graves erros na decisão de Alexandre de Moraes. Em primeiro lugar, ela se baseia em uma profunda incompreensão do papel do Judiciário no Estado Democrático de Direito. Nenhum juiz é árbitro do debate público no País, menos ainda com decisões de ofício, menos ainda sobre projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional. Absolutamente descabido, o papel de tutor arvorado pelo ministro do STF agride profundamente a liberdade de expressão e o exercício da cidadania. (…) A decisão tem também sérias deficiências de fundamentação. Não basta dizer, por exemplo, que ‘a liberdade de expressão não é liberdade de agressão’, ou que ‘as redes sociais não são terra sem lei’. Mesmo que dispusesse de atribuição jurisdicional para atuar assim, o magistrado teria, no mínimo, de indicar onde os conteúdos que precisam ser removidos agridem terceiros ou desrespeitam a lei.” Editorial do jornal Estado de S. Paulo (4/5/2023) | Foto: Reprodução

“É preciso cassar, com urgência, a decisão de Alexandre de Moraes”, recomenda o editorial. É preciso mais que isso. 
O Brasil real, o Brasil que pensa e presta, esse precisa livrar-se da pandemia de medo, compreender que todo o poder emana do povo, aprender que não existem homens providenciais e decretar o encerramento da Ópera do Prepotente. Democracias dispensam tutores — pouco importa se apareçam fardados, de terno ou de toga.

Leia também “O colosso maranhense”
 
 
 

sexta-feira, 14 de abril de 2023

A dura vida de um ex- ................... - Revista Oeste

Augusto Nunes

Lewandowski vai sentir muita falta da toga que transforma advogado em Supremo Juiz 

Ricardo Lewandowski despediu-se do Supremo Tribunal Federal | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

 Ricardo Lewandowski despediu-se do Supremo Tribunal Federal | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil 

No fim da sessão deste 11 de abril, o ministro Ricardo Lewandowski despediu-se do Supremo Tribunal Federal com duas frases. A primeira vale o mesmo que uma cédula de três reais: “Sempre entendi que os direitos fundamentais dos acusados devem prevalecer”. Mentira. 
Se pensasse assim, não teria endossado com repugnante euforia os sucessivos estupros do direito de ampla defesa e do devido processo legal consumados por integrantes da Corte nos últimos quatro anos. “Saio com a convicção de que cumpri a minha missão”, emendou no início da noite de quinta-feira. Verdade.  
Em 2006, ele ganhou uma vaga no Pretório Excelso para servir aos interesses da seita que tem num ex-presidiário seu único deus. Nos 17 anos seguintes, fez o que prometera sem hesitações e sem remorso. 
Lewandowski virou ministro do STF graças a uma rara combinação de acasos. Quando a vaga se abriu no começo de 2006, o presidente Lula e o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, não tinham candidatos. 
 
 Quem tinha era a primeira-dama. Baseada no que lhe dissera do filho doutor uma antiga vizinha em São Bernardo do Campo, Marisa Letícia contou ao marido que Enrique Ricardo era uma sumidade como professor de Direito e desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. Lula pediu a Bastos que examinasse a figura louvada pela mãe. Foi aprovado com louvor depois de dissertar sobre o Mensalão, primeiro grande escândalo da Era PT. 
Deixou claro que não conseguia enxergar nada de mais no monumento à corrupção institucionalizada. 
Ex-primeira-dama Marisa Letícia | Foto: Reprodução/Agência Brasil
O ministro da Justiça sabia que o presidente não estava interessado em encontrar algum jurista provido de notável saber e reputação ilibada, como a Constituição determina. 
Queria alguém que agisse no STF com a fidelidade de comparsa. 
Foi o que fez o já ministro Ricardo Lewandowski, em 28 de agosto de 2007, na sessão do Supremo que deliberou sobre a denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, contra a quadrilha do Mensalão. 
 
O caçula do STF chegou ao restaurante às 9 e meia da noite de 28 de agosto de 2007, ansioso por conversar sobre o que o resto do Brasil ignorava. Por ampla maioria, o plenário endossou o parecer do relator Joaquim Barbosa e decidiu processar 40 envolvidos nas bandalheiras descobertas no ano anterior. Não viu no restaurante nenhum confidente confiável. Sem paciência para esperar sentado, Lewandowski deixou a acompanhante sozinha na mesa, foi para o jardim na parte externa, sacou o celular do bolso do terno e, sem desconfiar que havia uma repórter por perto, ligou para um certo Marcelo. 
Como o ministro não parou de caminhar enquanto falava, a jornalista não ouviu tudo o que disse durante a conversa de dez minutos. Mas as frases audíveis produziram um obsceno resumo da ópera. 
O procurador-geral da República, Antonio Fernando, 
participa da sessão que julga a denúncia do Ministério Público 
Federal (MPF) contra 40 pessoas acusadas de envolvimento 
no caso do Mensalão | Foto: José Cruz/ABr

“A tendência era amaciar para o Dirceu”, disse Lewandowski já na largada. Mas a direção dos ventos logo sofreu uma mudança, que atribuiu ao noticiário jornalístico. “A imprensa acuou o Supremo”, lastimou. “Todo mundo votou com a faca no pescoço.” Todo mundo menos ele: nem uma cimitarra sob o queixo conseguiria dissuadi-lo de amaciar para José Dirceu, acusado de “chefe da organização criminosa”. Só Lewandowski ─ contrariando o parecer de Joaquim Barbosa, a denúncia do procurador-geral e a catarata de evidências ─ discordou do enquadramento do ex-chefe da Casa Civil por formação de quadrilha. “Não ficou suficientemente comprovada a acusação”, alegou. A mesma fantasia animou-o a tentar resgatar também José Genoino, e a divergir 12 vezes do voto de Joaquim Barbosa. “Foi até pouco”, gabou-se na conversa com Marcelo: “Tenha certeza disso. Eu estava tinindo nos cascos”. 

 Criativo ele é. Quando presidiu em companhia do senador Renan Calheiros a sessão do Congresso que aprovou o despejo de Dilma Rousseff, fatiou o impeachment de Dilma Rousseff para preservar os direitos políticos da presidente

Já tinia nos cascos desde a estreia em 16 de março de 2006. Primeiro ministro escolhido por Lula depois de lancetado o tumor do Mensalão, nem aprendera a equilibrar a toga nos ombros quando assimilou a pose de ph.D. em bandalheiras no Congresso. Promovido a revisor do voto do relator Joaquim Barbosa, comunicou à nação que os mensaleiros não seriam julgados antes de 2013. “Terei que fazer um voto paralelo”, explicou com o ar blasé de quem chupa um Chicabon. “Quando eu receber o processo, vou começar do zero.” O atraso resultaria na impunidade de alguns criminosos beneficiados pela prescrição dos prazos, mas o que se há de fazer? As leis brasileiras são assim. E assim deve agir um magistrado da linhagem garantista. 

Em dezembro de 2011, o relator surpreendeu o revisor com a entrega do relatório, acompanhado de todas as páginas do processo e do lembrete desmoralizante: “Os autos do processo, há mais de quatro anos, estão digitalizados e disponíveis eletronicamente na base de dados do Supremo Tribunal Federal”.  
Lewandowski fez o diabo para livrar da cadeia todo o exército de mensaleiros dos generais aos estafetas. Como afirmou na conversa telefônica no restaurante em Brasília, teria consumado também essa tarefa se os demais ministros não ficassem tão sensatos quando lâminas imaginárias parecem roçar-lhes a carótida. Sempre tinindo nos cascos, seguiu protegendo amigos e perseguindo inimigos do homem que transformara em juiz do Supremo um advogado que nunca ousaria inscrever-se num concurso de ingresso na magistratura paulista. 
Formado pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, Lewandowski chegou ao Tribunal de Alçada por indicação do governador Orestes Quércia. Entrou no Tribunal de Justiça de São Paulo a bordo de uma esquisitice batizada de “quinto constitucional”, que reserva uma cota no mundo dos desembargadores a bacharéis com muitos amigos em tribunais
Aterrissou no Supremo por obra de uma boa mãe, uma primeira-dama e um presidente da República que só usaram livros de Direito para elevar a estatura do aparelho de televisão. Mas não quer aposentar-se de vez: perto dos 75 anos, renovou a carteirinha da OAB para continuar tinindo nos cascos como advogado. 
 
Criativo ele é. Quando presidiu em companhia do senador Renan Calheiros a sessão do Congresso que aprovou o despejo de Dilma Rousseff, fatiou o impeachment de Dilma Rousseff para preservar os direitos políticos da presidente. “Sem isso, ela não poderá trabalhar nem como merendeira”, alegou. (Debochar de uma mulher para defendê-la não é para qualquer um.)  
Ao perceber que ordens de prisão não bastavam para silenciar provocações dos demais passageiros, Lewandowski inventou o ofício de fiscal de nuvem. Entra no avião antes dos outros, senta-se na janelinha da primeira fileira e fixa os olhos no cortejo de formações cinzentas e flocos azuis. Melhor encarar uma cumular nimbus que o berreiro dos descontentes majoritários. 
Ricardo Lewandowski presidiu, em companhia do senador Renan 
Calheiros, a sessão do Congresso que aprovou o 
impeachment de Dilma Rousseff | 
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
O ex-ministro terá saudade dos assessores que o dispensam de carregar malas ou abrir portas, dos agentes de segurança que inibem provocadores, dos seminários no exterior, dos jantares adornados por lagostas do Maine e vinhos premiados. 
Mas nada lhe fará tanta falta quanto a toga que faz de quem a enverga um Supremo Juiz dotado de superpoderes sem paralelo mesmo no mundo dos super-heróis de cinema.  
Os togados são oniscientes, onipotentes e onipresentes. 
Mandam soltar sem explicações ou prender sem justificativas. 
Fazem o que lhes dá na telha, pouco importa o que dizem a lei, a Constituição, a moral e os bons costumes. 
Pouco interessa o que acham os não togados. São brasileiros comuns. Não contam. 
Lewandowski vai descobrir que um ex-togado é como um não togado
A partir de agora, aos olhos do Egrégio Plenário, o que pensa vale o mesmo que nada. 

Leia também “Uma cabeça baldia”


segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Bolsonaro fez do desfile seu parque de diversões - UOL

Blog do Josias - UOL

Com a popularidade em declínio e sob ataque dos próprios aliados nas redes sociais, Jair Bolsonaro foi ao desfile de 7 de Setembro como quem vai a um parque de diversões. Os guarda-costas tiveram de molhar o paletó. Com a felicidade a pino, o capitão deu de ombros para as normas de segurança. Queria ver e, sobretudo, ser visto. No ápice da ostentação, Bolsonaro se autoconverteu na atração principal da parada militar. Deslizou do palanque de autoridades para o asfalto. Interrompeu a evolução de tanques e soldados para desfilar sua alegria. Faixa presidencial no peito, saboreou algo como dois minutos de arquibancadas. Filtrada pelos órgãos de segurança, a plateia gritou "mito".

[as fotos e o vídeo parcial mostrados no próprio post ora transcrito ou na íntegra do vídeo tornaram complicado aos adversários do presidente Bolsonaro e, por extensão, do Brasil, fundamentar a queda da popularidade do presidente e dificuldades no relacionamento com Moro.

Nas mídias linkadas se constata que  um presidente com a popularidade em queda nao receberia tantas demonstrações de apoio, amizade, afeto e respeito em plena Capital da República e que se o ministro Sérgio Moro estivesse insatisfeito no governo Bolsonaro não aceitaria jamais adotar a postura mostrada nas fotos e vídeos.]

Alguns ministros acompanharam Bolsonaro no ataque ao asfalto. Entre eles Sergio Moro, cujo prestígio, segundo o Datafolha, é 25 pontos maior do que o do chefe. Súbito, o público gritou "Moro, Moro…" E as cotoveladas que o ex-juiz da Lava Jato recebe do capitão nos bastidores foram substituídas por abraços. As mãos de Bolsonaro atraíram Moro rapidamente para o seu lado. Foi como se Bolsonaro quisesse enviar um pedido de perdão à tropa das redes sociais, em guerra contra a indicação de Augusto Aras para o posto de procurador-geral da República. Escolhido à revelia de Moro, Aras é visto pela força-tarefa de Curitiba como adversário. O nome foi mal recebido na bolha bolsonarista da internet. O capitão passou a ser chamado de "traidor" no seu habitat natural.

Outras três cenas marcaram o desfile. Na chegada em carro aberto, acompanhado por Carlos Bolsonaro, seu filho 02, o presidente mandou parar o Rolls-Royce presidencial para chamar uma criança. Dividiu os instantes inaugurais de sua manhã no parque com Ivo César Gonzalez, de nove anos. No palanque, Bolsonaro expôs uma segunda imagem em alto relevo. Exibiu-se ao lado do apresentador Silvio Santos e do autoproclamado "bispo" [as aspas foram inseridas pelo Blog Prontidão Total.] Edir Macedo, donos do SBT e da TV Record. Enquanto esteve em cena, a dupla ganhou mais destaque do que o vice-presidente Hamilton Mourão. Até a primeira-dama Michelle e a caçula Laura Bolsonaro, 8, foram enviadas para a retaguarda.

Nem o SBT nem a Record transmitiram o desfile em seus canais abertos. Apenas a TV estatal transmitiu ao vivo. Suprema ironia: entre as emissoras privadas, ironicamente, só a TV Globo, considerada por Bolsonaro como "inimiga", injetou flashs  do divertimento do presidente em sua programação matinal. [atualizando: a TV Record durante o desfile, transmitiu em sua programação normal flashs  do desfile.] Terminado o desfile, Bolsonaro não cabia em si. Tampouco cabia dentro do automóvel fechado que o cerimonial estacionou defronte do palanque para conduzi-lo de volta ao Alvorada. Para desespero dos seguranças, o capitão dependurou-se do lado de fora do carro, com a porta aberta. Produziu-se, então, a derradeira cena marcante. Com uma mão, Bolsonaro agarrava-se ao automóvel. Com a outra, acenava para a plateia. Foi com o se o presidente desejasse esticar a atmosfera de parque de diversões. Degustou cada segundo. Até o último centímetro de arquibancada.

Blog Josias de Souza - UOL - Leia MATÉRIA COMPLETA


 
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