Não é fácil, mas não é impossível a questão da
segunda instância voltar ao plenário do STF
Mesmo que
a ministra Cármen Lúcia não queira, o assunto da segunda instância pode ser
discutido em plenário. Há menos contradição do que parece nas declarações e
informações sobre o tema. Ministros têm dito a jornalistas que acham que a
matéria será pautada em breve. A ministra Cármen disse que ao Poder 360 que
julgar agora seria “apequenar” o Supremo e ao jornalista Marcos Losekann, da TV
Globo, disse que não está pautado agora. Aqui mesmo publiquei que o caminho
para o plenário pode ser mais longo do que a defesa de Lula imagina.
Parece contraditório,
mas não é. Quando a ministra Cármen diz que decidir em cima de um caso
específico é “apequenar” o Supremo, ela está reafirmando sua opinião. Ela já
votou três vezes pelo cumprimento da pena após julgamento da segunda instância.
Quando diz que não está pautado, é verdade. Mas apenas a pauta de fevereiro
está pronta. A partir da semana que vem começa-se a discutir o que estará em
análise durante o mês de março. A presidência faz a pauta, mas os ministros
podem levar temas ao plenário em determinadas circunstâncias.
Já há
ações que podem ser apresentadas pelos ministros sobre o tema. Pode ocorrer uma
situação em que não seja possível adiar a discussão do assunto em plenário.
[pode ocorrer, mas, dificilmente um assunto é discutido em plenário sem a concordância do presidente; as formas de impedir o inicio de uma discussão, retardar, adiar, são inúmeros.
E a questão tem um pouco de pessoal da parte da ministra, tanto que já votou duas vezes a favor da decisão atual do Supremo - em plena vigência, não obrigatória, mas, que corrobora decisão similar já adotada no TRF-4.
Pesa contra a pretensão desesperada dos advogados de Lula ( mais uma derrota, por pequena que seja, e serão substituídos, afinal com eles em sua defesa o condenado só tem levado ferro) a posição da ministra e, mais grave, as ofensas que Lula fez ao Supremo, quando considerou uma corte acovardada, (Áudio, clicando aqui - ofensa ao Supremo a partir dos 3m 12s - a partir dos 3m30s os palavrões se tornam adequados à conversa de puteiro de uma presidente e um ex-presidente.) vão tornar impossível que saia do Plenário qualquer decisão favorecendo o octa réu - sairá apenas a letra fria da lei, que deve ser cumprida por todos.] Quando Ministros que têm opiniões diferentes sobre o momento do início da pena coincidem
num ponto: acham que o tema acabará sendo pautado. Contudo, não é tão fácil. É
preciso que se caracterize uma situação que juridicamente seja necessário e
possível que vá para a discussão geral entre os ministros.
Ministros
com quem falei nos últimos dias acham que há possibilidades, mas também há
impedimentos para que o assunto chegue ao plenário do Supremo. Portanto, todo
mundo está falando a mesma coisa: agora não está pautado, mas pode ser.
Situações jurídicas podem acontecer que levem o assunto de volta ao plenário.
Não é fácil, não é impossível.
Coluna da Miriam Leitão - O Globo