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sexta-feira, 23 de setembro de 2022

O medo ridículo de ser preso por críticas ao STF - Gazeta do Povo

Paulo Polzonoff Jr.

Tic tac



Como a lei não vale mais nada, pode até ser ridículo, mas também é natural sentir medo depois de fazer uma criticazinha ao STF.| Foto: Reprodução/ Twitter

Ao meu lado, minha mulher me pergunta sobre o que escrevi. Ao ouvir “STF” ou “Alexandre de Moraes”, o que tem acontecido com uma frequência incomum, ela baixa melancolicamente a cabeça, me olha como se eu tivesse sido desenganado pelos médicos e sai para arrumar uma malinha e deixar preparado o café dos policiais federais.

Amigos também têm me alertado para o perigo iminente. Uns dizem que vão rezar por mim. Outros me pedem para apagar nossas conversas por WhatsApp. Até aqui, tenho entendido essas reações como divertidos exageros de pessoas que de alguma forma se preocupam comigo. Eu rio, dou de ombros ou respondo com alguma piada sobre a vida amorosa entre os presidiários.

Não é de hoje que esse medinho reside nos que me rodeiam e até em mim, na forma de um incômodo lembrete sussurrado que me alerta a não confiar em quaisquer garantias jurídicas. A lei não vale mais nada
Tanto é assim que, há mais de um ano, escrevi que minha mulher havia me proibido de falar sobre o STF. 
E já naquela época, e naquela crônica, eu dizia que juntar o esse, o tê e o éfe, mesmo que fosse num texto de humor, tinha se tornado mesmo uma atividade de risco.


Tolo que sou, de lá para cá desobedeci minha mulher várias vezes
. Vezes demais. Tanto que outro dia um amigo me apontou o dedo ameaçador e cometeu o erro fatal de dizer que eu era obcecado pelo STF. Antes de jogar o corpo dele no lago do parque Barigui, esclareci para o cadáver que obcecado mesmo sou apenas por minha coleção de selos. E voltei para casa e escrevi alguma coisa. Provavelmente sobre o STF. Alguma crônica temerária que, por ingenuidade e estupidez, considerei a coisa mais normal do mundo.

Mas ontem (22) não. Ontem foi diferente. Ontem demorei para pegar no sono. Uns quinze minutos a mais do que o normal, mas demorei. Ontem fiquei acalentando pesadelos que me lembraram das noites em que li “Papillon” numa edição baratinha, em papel jornal. 
A autobiografia de Henri Charrière marcou profundamente aquele pré-adolescente de cabelos fartos e orelhas de abano. Desde que o li, há mais de três décadas, trago em mim esse trauma imaginário da injustiça e de todo o sofrimento que ela acarreta. E principalmente uma ânsia até inexplicável por uma liberdade que nunca me foi tirada.

Algodão 500 fios
Ainda bem que as fantasias com aquela prisão na Ilha do Diabo não duraram muito. É que o lado cômico, o lado patético, o lado ridículo do meu temorzinho provinciano e da situação política que vivemos se impôs. Ele sempre se impõe, reduzindo todo e qualquer medo imaginário à sua devida insignificância. “Está dormindo?”, perguntei para minha mulher. “Estava, né?”, respondeu ela. Sei lá que tipo de discussão se deu depois disso, porque quando percebi estávamos nós dois gargalhando das muitas suposições cômicas envolvendo minha prisão.

Rimos da prisão em si, a Catota se aninhando no colo de um policial enquanto outro me algemava. Rimos da minha evidente vulnerabilidade no sistema prisional. Rimos do uniforme de presidiário – largo ou justo demais na pança. Rimos ao imaginar o Sindicato dos Jornalistas do Paraná saindo em minha defesa. Rimos da oportunidade de eu finalmente botar as leituras em dia. Rimos quando um carro de polícia passou na rua. Aí, quando as risadas já estavam se esgotando, pousei a cabeça no delicioso travesseiro de pena e perguntei: “Será que na penitenciária as fronhas são de algodão egípcio 500 fios?”. Rimos mais um pouco.

Até que voltamos a nos dedicar ao nobre objetivo de cair no sono
. Ela já roncava o ronco mais doce e afinado do mundo quando me lembrei de um documentário sobre o grande Robin Williams. Já mais para o fim, o filme mostra um livro no qual o ator escreveu algo como “só quero ajudar as pessoas a sentirem menos medo”. Ao espírito da frase bela e simples, não temi acordar a mulher, mesmo sabendo que ela acordaria rosnando. Para aqueles olhos cheios de uma raiva sonolenta e fingida, repeti a frase. E a acariciei como se aquele gesto fosse mesmo uma despedida. Ela riu da pieguice da cena e, para me consolar, disse que era justamente isso o que eu estava fazendo: ajudando as pessoas a sentirem menos medo. Fiz de conta que acreditei.

Paulo Polzonoff Jr., colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Bolsonaro sinaliza a ministros que não vai cessar nas críticas ao STF

Em reunião com a cúpula do governo nesta quarta-feira (8/9), presidente disse que vai manter postura crítica à Suprema Corte

O presidente Jair Bolsonaro teve uma longa reunião com ministros do seu governo nesta quarta-feira (8/9), e deixou claro aos subordinados que não deve amenizar o discurso contra o Supremo Tribunal Federal (STF).

Após discursos acalorados no feriado da Independência, quando prometeu desrespeitar futuras medidas judiciais impostas pela Corte, o chefe do Executivo reforçou o que disse na Esplanada dos Ministérios e na Avenida Paulista sobre o ministro Alexandre de Moraes estar explorando a sua função institucional e perseguindo o governo federal.

Bolsonaro comentou na reunião desta quarta que espera o auxílio do corpo ministerial para, caso necessário, ter algum tipo de respaldo para não cumprir as determinações, em especial as de Moraes. Com esse tipo de proteção jurídica, o presidente espera evitar a possibilidade de ser enquadrado por crime de responsabilidade ao ignorar decisões judiciais, algo que foi dito nesta quarta pelo presidente do STF, Luiz Fux, que rebateu os ataques feitos por Bolsonaro à Corte.

No encontro com seus ministros, Bolsonaro comentou que a quantidade de pessoas que participaram dos atos em Brasília e São Paulo na terça-feira (7/9) mostra que ele não está com a popularidade tão baixa. No entendimento do presidente, isso é um demonstrativo de que não há clima nas ruas para que um processo de impeachment contra ele seja analisado pela Câmara.

Sobre os pedidos de afastamento, Bolsonaro ficou mais tranquilo após o pronunciamento do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também nesta quarta. Por mais que tenha sido pressionado a instaurar um processo devido às declarações de Bolsonaro no Sete de Setembro, o deputado não abordou o tema no seu discurso e ainda classificou as manifestações do feriado como pacíficas e condizentes com a democracia do país.

O teor do pronunciamento de Lira foi importante para acalmar Bolsonaro visto que diferentes bancadas do Congresso Nacional se reuniram nas últimas 24 horas para deliberar [sic] sobre o apoio à abertura do impeachment contra o presidente. Legendas como PSDB, PSD e MDB passaram a "monitorar" o assunto e não descartam aderir ao movimento que é favorável ao afastamento de Bolsonaro.

Pautas econômicas
Outro assunto que tomou conta da reunião ministerial foi a economia. Insatisfeito com os indicadores atuais dos combustíveis, do gás de cozinha e dos alimentos, Bolsonaro pediu sugestões sobre como aumentar o poder de compra dos brasileiros em meio à disparada da inflação.Novamente, o programa que substituirá o Bolsa Família entrou em pauta. Por mais que não tenha sido tomada nenhuma decisão concreta, o presidente foi aconselhado a aumentar o valor médio do benefício em mais de 50%. Por enquanto, o novo programa, a ser lançado em novembro, deve ter um reajuste de até 50%.

Segundo alguns ministros, Bolsonaro tende a arrefecer as críticas que sofre de parte da população caso conceda um aumento maior do que o que tem sido anunciado até aqui. O objetivo do presidente, segundo os ministros, deve ser o de possibilitar que os brasileiros mais humildes consigam enfrentar o período de carestia com uma renda que supra as necessidades mais urgentes.

O encontro do presidente com os ministros aconteceu após Bolsonaro anunciar, equivocadamente, que se reuniria nesta quarta com o Conselho da República — um órgão de consulta do presidente da República que se pronuncia sobre intervenção federal, estado de defesa, estado de sítio e questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas —, e não com o Conselho de Governo, formado pelos ministros do governo. O Conselho da República é dirigido pelo presidente e composto também pelo vice-presidente, os presidentes da Câmara e do Senado, os líderes da maioria e da minoria nas duas Casas, o ministro da Justiça e Segurança Pública e seis cidadãos brasileiros com idade superior a 35 anos.

Correio Braziliense