Quem se nega a enxergar as bandalheiras de Lula tem sérias avarias na cabeça
Suspendi o período de folga, fui para o hotel e, uma hora depois, enviei o comentário para a Jovem Pan. Num texto curto, incluí-me entre os brasileiros que votaram no risonho Dr. Jekill sem imaginar que havia o sombrio Mr. Hyde que acabara de aparecer. Surpreso com o linguajar de pátio de cadeia, afirmei que a forma era mais detestável que o conteúdo, embora o que Aécio e Joesley disseram recomendasse a retirada das crianças da sala. Encerrei o comentário com um lembrete sempre oportuno: para casos de polícia, o remédio é cadeia. Voltei às férias, comprei uma garrafa de vinho e, em silêncio, ergui um brinde aos seres humanos honestos. Parece mentira, mas são muitos.
Eles qualificam de fascistas todos os que discordam do Evangelho segundo Lula
A cabeça avariada dos negacionistas produz imbecilidades que deixariam constrangido o cretino fundamental de Nelson Rodrigues. A tribo jura que há uma democracia em Cuba, recita que Nicolás Maduro transformaria a Venezuela numa potência mundial se os norte-americanos deixassem e ouve em silêncio de catedral Lula avisando que Napoleão invadiu a China. Os discípulos do mestre que não lê nem sabe escrever acreditam que Sergio Moro descobriu em 2015 que Jair Bolsonaro se elegeria presidente em 2018 e, para impedir que o maior presidente da História voltasse ao poder, juntou numa aliança de proporções siderais delegados da Polícia Federal, procuradores federais, desembargadores do Tribunal Regional Federal, ministros do Supremo, diretores da Petrobras nomeados por Lula e envenenados pela ingratidão, empreiteiros beneficiados por Lula também envenenados pela ingratidão, uma frente multipartidária de políticos dispostos a delatar inverdades, espiões treinados pela CIA e agentes do FBI fluentes em português, fora o resto.
Os pajés ensinam que Lula acabou com a pobreza em 2010 e Dilma erradicou a miséria em 2014, e que a multidão de andrajosos que seguem acampados nas ruas, praças e avenidas do país são brasileiros que subiram para a classe média durante os governos do PT e foram devolvidos às divisões inferiores por Michel Temer e Jair Bolsonaro. A esquerda negacionista também nega que seja orientada por uma cabeça baldia. Aprenderam com a filósofa Marilena Chauí que, “quando Lula fala, o mundo se ilumina”. E descobriram, graças ao professor Antonio Candido, que a fobia por bancos escolares não impediu que o gênio da raça aperfeiçoasse uma intuição mais aguda que a de Pelé invadindo a grande área inimiga. Está garantida a vaga na sala principal de um Museu dos Estadistas ainda à espera da fundação.
Negacionista é marmanjo que se nega a pensar com independência, é ovelha que acompanha o sinuelo na trilha que conduz ao despenhadeiro. Para uma figura assim, aliás, negacionista talvez seja pouco. Eis aí uma perfeita besta quadrada.
Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste