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sábado, 16 de dezembro de 2023

Lula joga no incêndio - Revista Oeste

J. R. Guzzo

A dificuldade que o PT tem neste momento resume-se a um fato básico: a sua volta ao governo deu errado

 

Luiz Inácio Lula da Silva, durante o videocast Conversa com o Presidente, no Palácio da Alvorada, em Brasília (DF) | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Há pelo menos uma coisa que não muda nunca na vida do PT. 
A cada vez que encontra uma dificuldade prática, fica mais radical. 
Nunca procura uma solução construtiva para sair da dificuldade que encontrou. Não tenta construir uma proposta, ou apresentar uma ideia. Não aceita negociar nada — o único tipo de negociação que o PT entende é a compra e venda, e a única forma de negócio que conhece é dar dinheiro do Tesouro Nacional para os políticos profissionais que estão em oferta no mercado, os gatos gordos da máquina estatal e os servidores dos seus sistemas de propaganda. 
Em vez de mudar, melhorar seu desempenho ou trabalhar mais, corre automaticamente para a saída de incêndio que fica do lado esquerdo. 
Essa via de escape, a cada problema, leva o partido para decisões mais e mais extremistas
É o que está acontecendo de novo agora. 
Lula fala, com acessos de cólera, que o PT precisa ressuscitar a militância e fazer “alianças”. Mas fecha com as alas mais doentias da sua direção — e tenta mostrar que ninguém é mais radical do que ele. 

A dificuldade que o PT tem neste momento resume-se a um fato básico: a sua volta ao governo deu errado. 
Era óbvio, mesmo antes de assumir, que não podia dar certo, levando-se em conta que Lula jamais pensou em nada parecido com um projeto coerente para governar o Brasil. 
Tinha apenas um delírio e uma equipe de governo formada quase que unicamente por fugitivos do Código Penal, perdedores de eleição, parasitas irrecuperáveis e gente que passou a vida sem jamais ter nenhum contato com o trabalho, a produção e o mérito. 
Mas não faz mais diferença, a esta altura, examinar por que, exatamente, o governo Lula-3 fracassou tão rapidamenteo fato é que fracassou, e não tem a menor ideia viável para sair do fracasso. 
Lula sabe que não ganhou a eleição de 2022; só é presidente porque foi colocado na sua cadeira pela dupla STF-TSE
Mas a junta de governo que formou com o alto Judiciário lhe deu apenas a Presidência da República — e garante a execução de suas vontades, a proteção penal para os seus aliados e a sua própria imunidade perante a lei. 
Não o ajuda a governar.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Luís Roberto Barroso, presidente do STF, durante instalação da Comissão Nacional para a Coordenação da Presidência do G20, no Palácio do Planalto | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O STF simplesmente não consegue fazer nada de útil para resolver um único problema real do Brasil ou do governo — nem um que seja. 
Como Lula e o PT também não conseguem, fica tudo travado. 
A casa só não caiu, até agora, por causa da herança bendita que a economia de 2023 recebeu dos quatro anos de governo Bolsonaro e do ministro Paulo Guedes
Mas não pode viver desse capital para sempre, nem continuar utilizando a mentira, eternamente, como seu único mecanismo de gestão pública. 
As porcas começam a espanar, mais cedo ou mais tarde — no caso, já começaram. A economia não cresce. O emprego não aumenta. Os salários não melhoram. O que estava ruim continua ruim, e pode ficar pior.  
O que teria de acontecer de bom não aconteceu — nem vai acontecer. 
O crime organizado ganha cada vez mais espaço; o desorganizado, também. Há PAC, mas não há obra. As pesquisas de “intenção de voto” que dão a ele e ao PT 100% dos eleitores não servem agora para nada.  
A popularidade do governo começou a cair no primeiro mês, e não parou mais. Lula e o PT ficam doentes com essas coisas.
 
O que adianta, a esta altura, colocar Flávio Dino no Supremo?  
Qual das questões acima ele pode ajudar a resolver? 
Também não resolve nada ficar exibindo o ministro Alexandre de Moraes como um herói do governo e das massas populares. 
, por acaso, um único candidato do PT que queira o seu apoio no palanque, nas eleições municipais do ano que vem?  
É inútil falar ao povo se não há povo. Lula continua incapaz de andar 100 metros em qualquer rua do país; só fala para auditórios fechados e só para os mesmos militantes. 
Seu programa de televisão, no qual vinha tentando imitar as lives de Bolsonaro (com as despesas pagas com dinheiro público), teve de sair do ar por falta de audiência.  
O PT não tem candidatos para as prefeituras de São Paulo e do Rio de Janeiro, as duas maiores cidades do Brasil, e em várias outras capitais importantes. 
Suas lideranças começaram a falar abertamente que estão caminhando para uma derrota nas eleições de 2024. 
Lula exige que a militância diga ao eleitor, diante da nulidade do seu primeiro ano de governo, que os resultados vão acontecer no futuro — não houve até agora melhora nenhuma para o cidadão comum, mas vai haver.
Esta é a realidade dos fatos — o “sistema caiu” e os técnicos estão trabalhando junto com o STF-TSE para que o governo passe a operar quando possível. 
Enquanto isso, e sobretudo se as coisas continuarem do jeito que estão, o PT e o seu comandante apostam tudo em jogar gasolina na fogueira e fazer declarações de guerra; é sempre mais fácil do que trabalhar para a entrega de algum resultado, sobretudo quando o Exército está por trás deles para garantir que combatam sem risco nenhum. 
Lula, como sempre, corre para a frente da turma do linchamento. 
Em sua última fala pública, para mais uma plateia só de camisas vermelhas, fez um manifesto pela divisão do povo brasileiro, pelo confronto e pelo rancor; quem não está com o PT é um inimigo que deve ser destruído. “Essa eleição vai ser entre eu e o Bolsonaro”, disse ele na ocasião. Aí, resumiu o que acha do adversário — e, possivelmente, dos 58 milhões de eleitores que votaram nele em 2022. “Se um cachorro late para a gente,” disse o presidente da República, “a gente tem de fazer ele ficar com medo da gente”.

Para o partido do presidente, as finanças públicas do Brasil não são um assunto público, que interessa diretamente aos 200 milhões de brasileiros. São uma questão particular do PT; devem ser geridas com o objetivo exclusivo de servir aos interesses eleitorais do partido e de Lula

Lula, o PT e seus satélites da extrema esquerda sabem que todos os seus esforços para ter uma posição mais confortável no Congresso deram em água de bacalhau. 

Passaram o ano inteiro torrando bilhões de reais do orçamento para comprar o apoio dos deputados e senadores; eles recebem o dinheiro, mas no dia seguinte já estão querendo mais, e a coisa toda continua no mesmo lugar. Sua proposta para resolver o problema do Congresso é jogar ainda mais dinheiro em cima dele. 
A presidente do PT, em público, diz que o ministro da Fazenda está cometendo um “austericídio” com as suas tentativas de suavizar um pouco o déficit financeiro do governo. Exige, então, que o déficit vá para o raio que o parta — senão, diz ela, “esse Congresso engole a gente”.  
É assim que o PT trata o Legislativo, quando os parlamentares não obedecem a suas ordens: como uma ameaça, uma doença ruim que tem de ser combatida, e não como o Poder eleito pelos brasileiros para fazer as leis. “Esse Congresso” é o único que o país tem. O que o PT propõe? Que seja copiado o programa “Mais Médicos” — e que o governo crie um “Mais Deputados”, importando gente de Cuba para lhe dar a maioria de votos que não consegue ter no plenário?
Na mesma linha, o líder do PT na Câmara de Deputados diz o seguinte: “Se tiver que fazer déficit nós vamos ter que fazer. Porque, senão, a gente não ganha a eleição de 2024”. Para o partido do presidente, as finanças públicas do Brasil não são um assunto público, que interessa diretamente aos 200 milhões de brasileiros. São uma questão particular do PT; devem ser geridas com o objetivo exclusivo de servir aos interesses eleitorais do partido e de Lula. Isso não é fazer política. Não é apresentar propostas ou ideias. É extremismo. Não se pensa em diálogo, nem que o dinheiro do povo é propriedade do povo; para eles, o dinheiro é de quem manda no governo. Lula, aí, piora o que já está péssimo. 
Não lhe passa pela cabeça a responsabilidade que tem como presidente do Brasil — e que o obriga, num caso desses, a ter a coragem mínima de optar ou pela posição do seu próprio ministro da Fazenda ou pela posição da presidente do PT. 
Em vez de assumir o seu dever, finge que está dando razão para os dois — quando quer apenas atiçar um contra o outro para favorecer a opção mais extrema.
 
A mulher do presidente juntou-se ao bando que se especializa em ir ao campo de batalha para executar os feridos. “Se tudo der certo”, anunciou num desses comícios cada vez mais neurastênicos que viraram a grife do governo Lula, “o Bolsonaro logo vai estar na cadeia”. Que diabo ela quer dizer com isso? Que o marido já combinou com o STF a condenação do ex-presidente? 
Janja disse também que não se deve chamar mais ninguém de “bolsonarista” — a partir de agora tem de ser “fascista”, direto. 
E os deputados, senadores, governadores e outras autoridades que apoiam Bolsonaro em público — também são todos fascistas?  
E os brasileiros que votaram nele em 2018 e em 2022, exercendo seu direito constitucional ao voto livre? 
Para completar, disse aos que exercem outro direito fundamental, o de dar a própria opinião, e criticam o seu desempenho como a mais óbvia papagaia de pirata que a República já conheceu desde 1889: “Dane-se”. Declarou, enfim: “Eu conquistei este lugar”. É como se tivesse passado num concurso público, ou sido aprovada no exame do Enem.

Poucas cenas de neurose radical, nessa escalada toda, poderiam ser tão instrutivas como os esforços de Lula e do PT para transformar o ministro Alexandre de Moraes em Guia Supremo da esquerda nacional. O ministro, que está hoje nos Top Ten do extremismo político do Brasil, foi o astro do comício em circuito fechado que montaram há pouco para comemorar o “programa de proteção” ao morador de rua — o PAC dos Sem-Teto, exigido por ele e anunciado pelo governo. 

Não há notícia da participação de um juiz da “suprema corte”, como diz Lula, num projeto de propaganda como esse. Mas o pior foi o coro do auditório. Gritava-se ali, diante dos sorrisos do presidente da República e do seu ministro dos Direitos Humanos: “Sem anistia” anistia para os cidadãos que estão sendo condenados pelo STF a até 17 anos de cadeia por terem participado de um quebra-quebra em Brasília. 
É um prodígio, realmente, que se grite contra a anistia num ato de compaixão, como deveria ser qualquer tentativa genuína de apoio aos pobres — e ainda mais diante do ministro dos Direitos Humanos, logo ele. A anistia é um direito humano básico. No Brasil é uma “ameaça à democracia”.

É para onde nos conduziu o naufrágio do governo Lula. Sem solução para nada, num arco que vai do Congresso às eleições municipais, joga tudo o que tem em Alexandre de Moraes, Flávio Dino, cadeia para Bolsonaro, cassação de Sergio Moro, desordem nas contas públicas, STF, Exército, polícia. É assim que Lula, o PT e os seus satélites pretendem sobreviver.

 Leia também “O vício da liberdade"



quarta-feira, 28 de junho de 2023

O juiz Benedito Gonçalves deixou uma fresta para Jair Bolsonaro

Se confirmada inelegibilidade, Bolsonaro estará na planície por 8 anos, sem sucessor ou legado. Raros são os que sobreviveram ao naufrágio do esquecimento

Jair Bolsonaro apostou tudo, inclusive o que não tinha — sorte. Gastou cerca de R$ 300 bilhões além do limite orçamentário, entregou o governo ao Centrão, entrou em confronto aberto com o Judiciário, convocou multidões às ruas e provocou crise de hierarquia e disciplina nos quartéis.

Atravessou o mandato de quatro anos numa espécie de cruzada contra uma miragem de fraude eleitoral. Nunca apresentou uma única prova, mas isso, aparentemente, não tinha a menor importância. “Não estava perdido em autoengano”, apontou Benedito Gonçalves, juiz-corregedor do Tribunal Superior Eleitoral, acrescentando: “Estava fazendo política, estava fazendo campanha. A recusa de valor ao conhecimento técnico a respeito das urnas e a repulsa à autoridade do TSE foram manejadas como ferramentas de engajamento”

Gonçalves votou na noite de terça-feira (27) pela condenação de Bolsonaro por crime de abuso de poder em 18 de julho do ano passado, quando discursou diante de uma plateia de diplomatas estrangeiros sobre supostas manipulações no sistema de votação eletrônica. Mais uma vez, não tinha uma única prova para sustentar as acusações, mas divulgou a versão ao vivo num comício transmitido pela televisão estatal e redes sociais, “com uso da estrutura pública e das prerrogativas do cargo de presidente”.

Para o juiz-corregedor, ele “é pessoalmente responsável pela preparação, execução e transmissão do encontro e, sobretudo, pelos efeitos pragmáticos da mensagem que deliberadamente difundiu”.

Gonçalves isentou o candidato a vice-presidente Walter Braga Netto e propôs que Bolsonaro fique fora de qualquer disputa eleitoral por oito anos “seguintes ao pleito de 2022”. Isso deixa uma fresta.

Se for seguido pelos demais juízes do TSE, Bolsonaro tem chances reais de disputar as eleições gerais de 2030, quando estará com 75 anos de idade (Lula estará com 84).

Oito anos de inelegibilidade, pela proposta de Gonçalves, contam-se a partir do domingo 2 de outubro de 2022. Mantida a tradição, o primeiro turno eleitoral de 2030 acontecerá no domingo 6 outubro – quatro dias depois do término da sentença.

Até lá, Bolsonaro estará na planície, sem sucessor ou legado. Manter aglutinados dos aliados de hoje será o seu principal desafio. Raros são os políticos que sobreviveram ao naufrágio do esquecimento.[o detalhe é que Bolsonaro não será esquecido - não pode ser eleito mas pode eleger muitos - o histórico do ex-presidente mostra que a maioria dos candidatos apoiados por ele não costuma perder eleição.]

José Casado - Revista VEJA

 


domingo, 25 de junho de 2023

Mortos do Titan - Esquerda, especialmente comunistas, faz festa com vítimas de tragédia do submersível - Gazeta do Povo l

Eli Vieira - Ideias 

Ódio do bem

 

“Dando risadinhas involuntárias toda vez que lembro que quatro multimilionários, que não sabiam mais como torrar o dinheiro, estão perdidos no meio do Oceano”, Laura Sabino, influencer comunista, cujo objetivo, segundo sua conta no Instagram, é “tirar o jovem do seio do liberalismo e colocar na teta de Marx”. 

A declaração acima, motivada por ódio, ressentimento e inveja, foi a tônica da esquerda nas redes sociais: comemoração em êxtase da morte de cinco pessoas, que cometeram o “crime” de serem ricas. 

E a comunista Laura Sabino não foi a única. O editor Eli Vieira mostra como a tragédia que tirou cinco vidas foi exaltada pelos esquerdistas. 

Titan, Ocean Gate
Submersível Titan, da empresa Ocean Gate, vitimou cinco pessoas em expedição malfadada aos destroços do Titanic.| Foto: EFE/Ocean Gate

Resumo da reportagem

  • Tragédia submersível Titan: 5 pessoas, incluindo executivos ricos, morreram quando seu suprimento de oxigênio acabou a 3800 metros de profundidade do Atlântico.
  • Reação na internet: vários usuários, principalmente comunistas, ridicularizaram a tragédia, comemorando a morte de indivíduos ricos, evidenciando um discurso de desumanização.
    • Contexto histórico: a desumanização dos ricos é uma tradição em discursos de extrema esquerda, usada para justificar violência e repressão, com base em uma visão marxista da sociedade. [a maldita esquerda que inclui, sem limitar, o petismo, não tem competência para enriquecer - tem apenas para viver do empreguismo (grande parte deles) ou do desvio de recursos públicos {a quase totalidade - havendo uma ínfima minoria que consegue enriquecer por esforço honesto} - e sempre se regozijam com os desastres (desastres em sua maioria ensejam compras sem licitações, despesas urgentes = que são as maiores fontes dos que assaltam os cofres públicos), especialmente quando estes atingem pessoas que tiveram  êxito com o trabalho.]

Em algum lugar a 3800 metros de profundidade do Oceano Atlântico, nos arredores do que resta do navio Titanic, cinco pessoas presas por dias em um pequeno veículo submersível, o Titan, pensavam no que fazer nas últimas horas que tinham de vida, enquanto seu suprimento de oxigênio lentamente se esgotava. Estima-se que se esgotou na quarta (21). Nesta quinta, pedaços do submersível foram encontrados, confirmando as mortes.

Para muitos, a julgar pelas redes sociais, a situação é engraçada, pois as vítimas do desastre eram ricas. 
O grupo que está fazendo piadas e deboche a respeito se confunde, ao menos em parte, com o que aplaudiu a censura judicial ao humorista Léo Lins, no mês passado, por piadas supostamente insensíveis.

As vítimas são o engenheiro Stockton Rush, 61 anos, piloto do veículo e diretor executivo da empresa OceanGate, que oferecia as visitas aos destroços do famoso navio que naufragou em 1912; Hamish Harding, 58 anos, aventureiro britânico detentor de diversos recordes em voo e mergulho, que já foi ao polo sul acompanhado de um dos astronautas que pisaram na Lua; Shahzada Dawood, 48 anos, empresário britânico-paquistanês das indústrias têxtil, de construção e fertilizantes, e seu filho de 19 anos Suleman Dawood; e Paul-Henri Nargeolet, 77 anos, um ex-mergulhador da Marinha da França conhecido comosr. Titanic” pelo conhecimento que acumulou a respeito da embarcação — ele fez parte da primeira expedição aos destroços em 1987.

A OceanGate estava cobrando US$ 250 mil (R$ 1,2 milhão) de cada passageiro. O serviço comercial fora aberto em 2021. Mas o interesse de Stockton Rush não era apenas financeiro: sua esposa, Wendy, é tataraneta de Isidor e Ida Straus, casal vítima do naufrágio do Titanic.

O Titan partiu para a expedição no domingo (18) por volta das 9h da manhã, no horário de Brasília.  
Uma hora e 45 minutos depois, interromperam-se as comunicações com seu navio acompanhante de superfície, o Polar Prince. 
Um submersível, ao contrário de um submarino, depende de comunicação com sua nave-mãe. Sem o contato, o veículo ficou sem conhecimento de sua própria posição e não apareceu na superfície no horário combinado, 16h.

Quando o Polar Prince comunicou o desaparecimento às autoridades canadenses e americanas, 10 horas desde a submersão já haviam passado. A autonomia de oxigênio era de 96 horas no máximo a partir de segunda-feira. Na terça, a equipe canadense detectou sons de “batidas” a intervalos de 30 minutos próximo do local do sumiço. Desde o começo das buscas, contudo, especialistas alertaram que as chances de um resgate de sucesso eram mínimas. Se bem-sucedido, o resgate bateria recorde de profundidade. As mortes foram confirmadas horas depois que os destroços foram localizados.

Torcida de tragédia

Laura Sabino, uma youtuber comunista com 240 mil seguidores no Twitter, comemorou a tragédia na terça: “Dando risadinhas involuntárias toda vez que lembro que quatro multimilionários, que não sabiam mais como torrar o dinheiro, estão perdidos no meio do Oceano”. A publicação obteve 21 mil curtidas. Quando usuários responderam mostrando que ela própria relatou, em 2020, ter perdido uma tia para a Covid-19, que também mata por sufocamento, Sabino riu e questionou a inteligência da comparação.

Gustavo Pedro, dirigente nacional de organização de jovens do Partido Comunista Brasileiro (UJC, PCB), residente no Rio de Janeiro, publicou um meme de um tubarão prometendo comer “três burguês em lata”, comentando “eat the rich” (“coma os ricos”), expressão comum dos socialistas americanos.

Na mesma rede social, “menos 5” se tornou uma das expressões mais usadas pelos usuários nesta quinta-feira, com mais de 15 mil ocorrências. Entre os resultados há comentários como “menos 5 milionários no mundo”, “menos 5 potenciais Elon Musk no mundo”, “menos 5 bilionários no mundo... infelizmente, morre um, nasce um herdeiro”.

O músico e apresentador João Gordo republicou um desenho do submersível no Instagram com legenda “Quantos ‘mini submarinos’ são necessários para sumir com todos os bilionários do mundo?” e acrescentou um comentário: “Ótimo investimento”.

Não é verdade, contudo, que todos eram bilionários. Isso se aplica somente a Hamish Harding e a Shahzada Dawood. Stockton Rush, o piloto, tem patrimônio estimado em US$ 12 milhões, o menor do grupo.


Tradição de desumanização dos ricos, motivação comprovada de inveja
“Burguês” e “capitalista” foram os termos escolhidos por Karl Marx para descrever a suposta classe dominante das sociedades de economia baseada no livre mercado. Mas também se tornaram xingamentos desumanizantes entre os revolucionários. No mínimo, continha uma acusação, derivada de uma conclusão falsa de Marx: que os que tinham muito só poderiam ter roubado dos que tinham pouco.

A ideia foi desmistificada na própria época, por socialistas “revisionistas” como Eduard Bernstein, que apontou em um livro de 1899 que o “capitalismo”, ao contrário do que alegava Marx, estava melhorando a vida dos trabalhadores — um sinal de relação harmônica do trabalho, em vez de apenas de exploração. 
Bernstein preferia atingir o socialismo pela via das reformas, em vez de revolução violenta. Marx condenou os reformistas e optou explicitamente pela violência no Manifesto Comunista escrito com Friedrich Engels, herdeiro rico que o sustentava em Londres com uma mesada.

Como em outros casos históricos, a desumanização acontece na forma de demonização, estereótipo, uso de grupos como bodes expiatórios para erros dos próprios acusadores, e propaganda.

Em 1849, Engels publicou um artigo no jornal de Marx, Neue Rheinische Zeitung, estereotipando povos inteiros: “A próxima guerra mundial resultará no desaparecimento da face da Terra não apenas das classes e dinastias reacionárias, mas também de povos reacionários inteiros. E isso, também, é um passo à frente”, escreveu o comunista.

Na tomada de poder dos bolcheviques na Rússia em 1917, o líder Vladimir Lênin seguiu os passos de Marx e Engels. Como a sociedade vítima de sua revolução era pouco industrializada, os estereotipados foram os “kulaks”, camponeses marginalmente mais confortáveis que a maioria. Em uma carta aos camaradas do partido de agosto de 1918, Lênin manda enforcar em público “100 kulaks conhecidos, homens ricos, sanguessugas”. Antecipando ações de seu herdeiro político Josef Stálin nos anos 1930, já no primeiro ano da revolução, na mesma carta, Lênin dá uma ordem: “Tomem todos os grãos deles”.

Stálin, perseguindo os kulaks, perpetrou contra o povo ucraniano o Holodomor, um genocídio reconhecido pelo Senado brasileiro no ano passado, com estimadas 12 milhões de vítimas entre 1932 e 1933. O instrumento de morte foi uma fome artificial, para a consecução da qual o confisco de grãos foi um dos principais métodos.

O ditador comunista do Camboja, Pol Pot, foi além, perseguindo não só os ricos, mas quem tivesse marcas de intelectualidade, nem que fosse apenas o uso de óculos. Já o ditador comunista Mao Tsé-tung estigmatizou tudo o que fosse associado às tradições antigas chinesas — velhas ideias, velhos costumes, velhos hábitos e velha cultura — na Revolução Cultural de 1966, também deixando milhões de mortos pelo caminho. Em Cuba, quem era rotulado como “contra-revolucionário”, “reacionário” e membro da classe burguesa era executado, aprisionado ou posto em campos de trabalhos forçados, junto com homossexuais. Já na Coreia do Norte, o regime mais fechado do mundo até hoje, o regime comunista criou uma espécie de religião de Estado em que a linhagem Kim é cultuada e fez inúmeras vítimas entre os rotulados burgueses.

Os paralelos com nazistas não são acidente. Os nazistas inspiraram seus campos de concentração nos gulags soviéticos, como conta o nazista Rudolf Hoess, que teve o mandato mais longevo como diretor do campo de extermínio de Auschwitz, em sua autobiografia. Hoess relata que os nazistas sabiam do programa de extermínio em campos de trabalhos forçados dos inimigos da ditadura soviética desde 1939.

Como a Gazeta do Povo informou, a ideologia daqueles que querem usar o poder do Estado para fazer “redistribuição” foi mostrada, em estudos científicos, como motivada importantemente pela inveja maliciosa, que é o tipo de inveja que deseja punir os ricos em vez de elevar os pobres. Além disso, novos estudos em autoritarismo de esquerda mostram que a violência anti-hierárquica é uma das marcas mais distintivas dessa postura.

Atualização: pouco depois da publicação desta reportagem, surgiu como mais plausível a hipótese de que o submersível implodiu, por causa do material impróprio escolhido por Rush, que não aguentou a alta pressão da coluna d'água. 
A informação é da Guarda Costeira americana. 
Houve aviso de inadequação do veículo, mas a empresa ignorou. 
Militares americanos teriam detectado a implosão dias atrás. 
Os cinco, portanto, teriam morrido de forma mais rápida que a sugerida na reportagem.
 
Eli Vieira, colunista - Gazeta do Povo - Ideias
 
 

quinta-feira, 22 de junho de 2023

Destroços são encontrados em área de busca por submarino, diz Guarda Costeira dos EUA - O Globo

Submarino que realizava uma expedição até os destroços do Titanic desapareceu nesta segunda-feira Divulgação

Um campo de destroços perto dos escombros do Titanic foi descoberto dentro da área de busca pelo submarino desaparecido, anunciou a Guarda Costeira dos Estados Unidos. Especialistas do comando do órgão estão avaliando as informações, encontradas por um dos robôs controlado remotamente (ROV) empregados nos esforços de busca. As autoridades americanas anunciaram uma coletiva de imprensa para 15h, no horário local (16h em Brasília).

A intensa operação de busca do submersível Titanic, que desapareceu no domingo com cinco pessoas a bordo quando se dirigia para os destroços do Titanic no Atlântico Norte, entrou esta quinta-feira numa fase crítica, à medida que as reservas de oxigênio se esgotam. Uma flotilha de aviões e embarcações e tecnologias especializadas participam das buscas pelo submersível turístico.

"Um campo de destroços foi descoberto dentro das áreas de busca por um ROV perto do Titanic. Especialistas do comando unificado estão avaliando a informação", diz o comunicado da Guarda Costeira dos EUA.

Mais cedo, a Guarda Costeira americana havia anunciado que um robô canadense chegou ao fundo do oceano na região em que o submersível desapareceu. Também confirmou o início da operação do robô Victor 6000, que tem um cordão umbilical de oito quilômetros e pode atingir uma profundidade mais do que o suficiente para chegar ao local do naufrágio do Titanic no leito marinho, a quase quatro quilômetros de profundidade.

A comunicação com o pequeno submersível Titan foi perdida no domingo, quase duas horas depois de o equipamento iniciar a descida em direção ao que restou do famoso transatlântico, a quase 4.000 metros de profundidade e a cerca de 600 quilômetros de Terra Nova.

Viajam no submersível o bilionário e aviador britânico Hamish Harding, presidente da empresa de jatos particulares Action Aviation; o empresário paquistanês Shahzada Dawood, vice-presidente do conglomerado Engro, e seu filho Suleman; o mergulhador francês Paul-Henri Nargeolet, e Stockton Rush, CEO da OceanGate Expeditions, a companhia que opera o Titan, que cobra US$ 250.000 (aproximadamente R$ 1,2 milhão) por turista.

Mundo - O Globo


domingo, 17 de outubro de 2021

Soropositivos 'indetectáveis' reescrevem história do HIV - O Globo

Adriana Mendes

Diferentemente dos pacientes que nos anos 1980 e 1990 viam o vírus como sentença de morte, eles levam uma vida saudável, mas ainda precisam lidar com estigmas 

A escritora Thaís Renovatto, de 38 anos, trabalha na área de marketing de uma multinacional. DJ nas horas vagas, ela se apaixonou pelo marido em uma das festas que organizou para os amigos do escritório. Em pouco tempo, estavam casados e eram pais de duas crianças. Hoje, Thaís se divide entre tarefas profissionais, da casa e da vida em família. Uma vida que pode parecer comum, mas traz uma história especial narrada em seu livro “Cinco anos comigo”: Thaís faz parte da geração de “indetectáveis” que carregam o vírus do HIV, mas em carga tão baixa que a infecção não se manifesta nem é transmissível. Diferentemente dos pacientes que, nos anos 1980 e 1990, viam o vírus como sentença de morte, eles levam uma vida com cuidados, mas saudável e, sobretudo, feliz.

Após descobrir que havia sido infectada pelo ex-namorado, em 2014, Thaís transformou sentimentos de revolta e medo em perdão. A terapia fez voltar a confiança. Um comprimido ao dia mantém o resto de sua rotina normal. Thaís e o marido Rodrigo são “sorodiferentes” — ela tem o vírus; ele não —, mas a diferença nunca foi problema. Os filhos, nascidos após a infecção, não são soropositivos.  — Engravidei de forma natural. Procurei me aceitar e comecei a me abrir para as pessoas. Daí, já não estava mais preocupada com o preconceito — diz a escritora, que na gestação tomou cuidados especiais e não amamentou, seguindo o protocolo médico.

Naufrágio no Pantanal:  Sobe para seis número de mortos

Hoje, além de tomar regularmente medicamentos antirretrovirais, garantindo que a carga viral se mantenha indetectável, ela se examina a cada oito meses, para acompanhamento: — Hoje em dia não uso preservativo com meu marido. A gente tem um relacionamento fechado, fomos ao médico, que nos orientou, e decidimos isso.

(...........) 

 Os “indetectáveis” escrevem um novo capítulo na história da doença. Cada vez mais o HIV é tratado como uma patologia crônica. Em 1977, a médica dinamarquesa Margrethe Rask, que esteve na África investigando o Ebola, foi a primeira a morrer com uma pneumonia após desenvolver “quadro clínico estranho”. A epidemia explodiu nos anos 1980. No Brasil, uma imagem marcante foi a de Cazuza, levado pela doença aos 32 anos, no auge da carreira musical. Casos eram associados erroneamente à sexualidade.

Em O Globo - Brasil - MATÉRIA COMPLETA

 

sexta-feira, 3 de abril de 2020

A epidemia pelas ventas - Nas entrelinhas

”É genocida a ideia de que a epidemia tem baixa letalidade e, por isso, é preferível que tenha um ciclo curto, para que a economia se recupere rápido”

Todo velejador sabe que diante da tempestade é melhor prevenir do que remediar. Quando não é possível chegar a um porto seguro antes da borrasca, isso significa rizar bem as velas, ou seja, diminuir a área vélica proporcionalmente à força do vento, e enfrentar as ondas longe da costa. Em situações limites, pôr o barco em capa, aquartelando as velas no sentido contrário ao leme, até o mau tempo passar; ou correr com o tempo, em árvore seca, isto é, sem as velas, firme no leme para manter o barco longe dos arrecifes. No desespero, muitas vezes, a saída é encalhar o barco numa praia.

Em quaisquer circunstâncias, o timoneiro tem que saber posicionar o barco corretamente em meio às ondas, para não naufragar. Em capa, é preciso aguentar o aguaceiro pelas ventas, ou seja, a onda batendo na proa da embarcação, sem deixar o barco virar. Em árvore seca, ou seja, sem as velas, com a onda batendo na popa, o risco de virar também existe, a saída é reduzir a velocidade e não deixar o barco atravessar. Mesmo os grandes navios estão sujeitos a ter que fazer essas manobras nas grandes tempestades.

É válida a analogia das manobras de mau tempo com o combate à epidemia de coronavírus, que parece uma mistura de tsunami com tempestade tropical
O presidente Jair Bolsonaro não é um velho marujo. Não consegue entender o risco de seu próprio naufrágio.
 A pandemia começou como uma pequena ondulação, mas está crescendo como um tsunami que se aproxima da costa; para piorar, vem acompanhada de ventos equivalentes a uma tempestade tropical, a recessão da economia mundial. São dois fenômenos conjugados, sem precedentes desde a gripe espanhola, em 1918, e a Grande Depressão de 1929, sem esse intervalo de tempo.

O que o Ministério da Saúde, os governadores e os prefeitos fizeram até agora foi tentar preparar o Sistema Único de Saúde (SUS) enquanto o tsunami não chega à praia, o que vai acontecer mais cedo ou mais tarde. A Saúde é um sistema federativo, financiado 40% pelo governo federal, 40% pelos estados e 20% pelos municípios, mas assimétrico no atendimento à população: 15% a cargo da União, 35% dos estados e 50% dos municípios. A União só gasta 5% com hospitais, 50% dos custos são arcados pelos estados e 45%, pelos municípios.

Ultimato
É preciso levar o barco devagar, como lembrou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, citando o samba famoso de Paulinho da Viola. Não há outra maneira de manter esse sistema operacional sem reduzir a circulação de pessoas e garantir os meios para que suas necessidades básicas possam ser atendidas, em termos de recursos financeiros, serviços e abastecimento. Trata-se de evitar o naufrágio dos hospitais no meio da tormenta, mantendo o maior número possível de pessoas longe da costa, para quando a onda chegar à praia os estragos serem menores.


O colapso do sistema de saúde pública somente poderá ser evitado diluindo a demanda de leitos e equipamentos ao longo do tempo. O preço disso é a redução da atividade econômica, com o que o presidente Jair Bolsonaro não concorda, porque deixa grande parte da força de trabalho sem renda. Mas, se isso não for feito, o custo humano e econômico será muito maior, advertem os economistas. A saída é governo garantir uma renda básica para todos e financiar a inatividade das empresas.

É genocida a ideia de que a epidemia tem baixa letalidade e, por isso, é preferível que tenha um ciclo curto, para que a economia se recupere mais rápido, mesmo com a morte de idosos. Sim, a sobrevivência da espécie estará garantida por aqueles que são mais jovens, com maior resistência ao vírus, mas o cálculo econômico desse “darwinismo social” é completamente equivocado: os prejuízos serão muito maiores se os hospitais entrarem em colapso e houver mortes em massa. A perda de recursos humanos também prejudica a economia.

Ontem, Bolsonaro voltou a questionar a política de isolamento social no Twitter e, em entrevista à Jovem Pan, disse que sua relação com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, está desgastada. “O Mandetta já sabe que a gente está se bicando há algum tempo. Eu não pretendo demiti-lo no meio da guerra. Agora, ele em algum momento extrapolou”, declarou. Bolsonaro já demitiu cinco ministros e advertiu que também pode exonerar Mandetta, se o ministro não flexibilizar o isolamento social na próxima semana. [Não defendemos o isolamento - opção preferencial do ministro Mandetta - mas destacamos que a maior parte do isolamento vigente  é consequência de atos de alguns governadores - sendo que alguns destes alguns são movidos por interesses não republicanos.

Só para registro informamos que o jornalista Luiz Carlos Azedo, segundo o portal dos jornalistas, nasceu em: Luiz Carlos Azedo, ou simplesmente Azedo, nasceu em São Paulo (SP), em 18 de novembro de 1952.]

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense



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