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domingo, 28 de novembro de 2021

33 siglas infestam o deserto de partidos reais - Revista Oeste

Augusto Nunes
 

A farra das legendas irrelevantes também é financiada pelos pagadores de impostos

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Divulgação
Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Divulgação

Meu pai foi filiado ao PTB, ao PTN, ao MDB e ao PMDB. O resultado da eleição teria sido o mesmo caso fosse candidato pelo BNDES ou pelo FBI. Brasileiro não vota em partido, sobretudo em eleições municipais. Escolhe uma pessoa, seja qual for a sigla que habite. Foi assim antes do bipartidarismo inventado pelo regime militar. Continuou a ser assim nos tempos em que grupos distintos tiveram de espremer-se em sublegendas da Arena e do MDB. E assim será até que apareçam partidos de verdade, como os que existem nas democracias maduras. Nessas paragens, os que efetivamente importam são dois ou três. Nos Estados Unidos, por exemplo, o eleitorado se dá por satisfeito com o permanente duelo entre o Partido Democrata e o Partido Republicano — o que não exclui a existência de legendas liliputianas nem proíbe o lançamento de candidaturas avulsas. Democratas e republicanos abrigam correntes que disputam nas eleições primárias o direito de indicar o candidato à Presidência. Consumada a escolha, os grupos desavindos se unem no esforço para derrotar o inimigo principal na corrida rumo à Casa Branca.

Tanto o PT quanto o PSDB fracassaram por excesso de corporativismo e falta de vergonha

O Brasil é um deserto de partidos reais infestado por 33 siglas. Duas delas quase conseguiram tornar-se adultas: o PT e o PSDB. Tanto o Partido dos Trabalhadores quanto o Partido da Social Democracia Brasileira fracassaram por excesso de corporativismo, falta de vergonha e escassez de condutores de multidões. Depois que os militantes engoliram sem engasgos a roubalheira do Mensalão e a ladroagem do Petrolão, o PT virou uma seita cujos devotos enxergam seu único deus num corrupto condenado duas vezes em segunda instância. Como o chefe é maior que a legenda por ele cavalgada, já não existe o petismo. O que há é o lulismo, da mesma forma que houve o janismo, o ademarismo ou o getulismo. Esses ismos acabam quando morre quem os gerou.

O PSDB assemelhou-se a um partido de verdade nos trabalhos de parto e durante a primeira infância. A escolha do tucano como símbolo inspirou-se no elefante dos republicanos ianques e no burro dos democratas. Fundado em junho de 1988 por dissidentes de um MDB submerso no pântano da corrupção, a sigla resultante da diáspora de políticos honestos deixou o partido de origem com cara de Quércia — e transformou-se numa espécie de opção pela honradez. Fortalecido pelos dois mandatos presidenciais de Fernando Henrique Cardoso, o PSDB parecia a caminho da maioridade até dezembro de 2005, quando cometeu o primeiro de dois grandes equívocos que o tornariam igual a todos os outros. Confrontados com a descoberta do mensalão mineiro, os caciques do PSDB não tiveram suficiente coragem para afastar da presidência nacional do partido o ex-governador Eduardo Azeredo.

Dez anos depois, o desastre foi reprisado pela absolvição de Aécio Neves, no mesmo dia da divulgação da conversa telefônica com Joesley Batista que escancarou Mr. Hyde escondido sob o jaleco do Dr. Jekyll. Graças à desastrosa reincidência, o PSDB hoje é o partido que poderia ter sido e não foi. Jamais será, constatou-se neste 21 de novembro. Pode governar o país uma tribo incapaz de promover uma eleição doméstica com menos de 50 mil votantes? Não pode, responderia se soubesse falar qualquer tucano da linhagem que vive na mata e só abre o bico para alimentar-se. A variante loquaz e engravatada que é vista em cidades ainda acha que sim — e vai tentar concluir neste domingo a escolha do candidato ao terceiro lugar na eleição de 2022.

A votação foi interrompida ainda em seu início pelo colapso do aplicativo concebido por sumidades de uma universidade gaúcha. Nenhum dirigente fez a gentileza de esclarecer o que houve, ninguém tampouco procurou justificar o preço do fiasco: a modernidade consumiu R$ 1,5 milhão. Os grão-tucanos limitaram-se a encomendar um segundo aplicativo a outro especialista — e vida que segue. É compreensível que os partidos brasileiros torrem dinheiro sem remorso nem medo da polícia. Todas as contas são espetadas nos bolsos dos pagadores de impostos, forçados por lei a bancar também a farra das siglas inúteis.

Nas democracias modernas, partidos políticos e duelos eleitorais são financiados por eventos organizados pelos comitês e contribuições feitas às claras, sem truques nem camuflagens, por indivíduos ou empresas. O governo não desperdiça um único centavo. No País do Carnaval, duas brasileirices — o Fundo Partidário e o Fundo Eleitoral usam dinheiro dos pagadores de impostos para bancar as atividades e a sobrevivência de 33 sopas de letras. Entre janeiro e outubro, por exemplo, o Fundo Partidário distribuiu R$ 783 milhões entre 23 partidos. É compreensível que os tucanos, presenteados com quase R$ 49 milhões, não percam o sono com preços de aplicativos. A lista é liderada pelo PSL (R$ 93,5 milhões). Segundo colocado (com perto de R$ 80 milhões), o PT nem vistoriou a pequena fortuna que patrocinou o giro europeu de Lula, sua mulher e quatro companheiros. Sobra dinheiro. E em 2022 a verba anual do Fundo Partidário será engordada pelos bilhões doados a cada dois anos pelo Fundo Eleitoral.

Em 2020, uma chuva de mais de R$ 2 bilhões irrigou todas as siglas. A fila dos beneficiários foi puxada pelo PT (R$ 201 milhões) e molhou até o G-6 formado por meia dúzia de inutilidades, cada uma com direito a R$ 1,2 milhão. Nesse buquê de vogais e consoantes figuram o Partido da Causa Operária (PCO) e o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU), cujos simpatizantes, somados, caberiam numa van. Talvez até sobrasse lugar para os eleitores da Democracia Cristã (DC), controlada por José Maria Eymael — aquele mesmo da exasperante musiquinha ouvida no horário eleitoral nas cinco temporadas em que foi candidato à Presidência. Eymael já não sonha com o inquilinato no Palácio do Planalto. Agora prefere ficar em casa durante a campanha, decerto pensando na melhor maneira de gastar os R$ 4 milhões que o Fundo Eleitoral lhe reservou. Administrar partidos, reais ou inexistentes, virou um negócio e tanto.

Leia também “Lula inventou o impostour”

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 19 de março de 2021

Negacionistas são eles - Revista Oeste

Quem se nega a enxergar as bandalheiras de Lula tem sérias avarias na cabeça

Não existe a verdade de cada um. Há uma só: a verdade factual, que é o contrário da mentira. Não tenho compromisso com o erro: constatado o equívoco, trato de reconhecê-lo, peço desculpas ao leitor e sigo em frente, amparado na certeza de que nunca errei por má-fé. Depois de tantos anos lidando com notícias, aprendi a ver as coisas como as coisas são e a contar o caso como o caso foi. É falso que a história seja escrita pelos vencedores. A versão que difundem tem a duração da sua permanência no poder, porque os fatos não morrem. Frequentemente desmaiam. Às vezes, depois de submetidos a selvagens sessões de tortura, passam longos períodos em estado de coma. Mas acabam recuperando a saúde e acabam triunfando sobre falsidades inevitavelmente frágeis. Brigar com fatos é perda de tempo. É coisa para estrábicos por opção.

Suspendi o período de folga, fui para o hotel e, uma hora depois, enviei o comentário para a Jovem Pan. Num texto curto, incluí-me entre os brasileiros que votaram no risonho Dr. Jekill sem imaginar que havia o sombrio Mr. Hyde que acabara de aparecer. Surpreso com o linguajar de pátio de cadeia, afirmei que a forma era mais detestável que o conteúdo, embora o que Aécio e Joesley disseram recomendasse a retirada das crianças da sala. Encerrei o comentário com um lembrete sempre oportuno: para casos de polícia, o remédio é cadeia. Voltei às férias, comprei uma garrafa de vinho e, em silêncio, ergui um brinde aos seres humanos honestos. Parece mentira, mas são muitos.

Pouquíssimos — se é que existem — são os esquerdistas nativos dispostos a enxergar (e confessar que enxergaram) o que até um cadáver exumado pode ver nitidamente, e sem se dar ao trabalho de abrir os olhos. Como decifrar essa cegueira voluntária e irredutível? 
O que leva alguém a venerar um corrupto duas vezes condenado em duas instâncias? 
Como explicar o sumiço da autonomia intelectual em cérebros onde já houve vida inteligente? 
O fato é que os devotos da seita veem as coisas pelo avesso. Os reais negacionistas são os que negam que o chefão tenha cometido um único e escasso pecado venial. 
Negaram a existência do Mensalão, negam o Petrolão e negarão os escândalos ainda por devassar. 
Negam as bandalheiras do PT. 
Negam-se a contemplar o Himalaia de provas e evidências que instalou na cadeia o alto comando da quadrilha. 
Negam-se a reconhecer que, se Getúlio Vargas saiu da vida para entrar na História, Lula perdeu o rumo da História e caiu na vida. Numa vida bandida.

Eles qualificam de fascistas todos os que discordam do Evangelho segundo Lula

A cabeça avariada dos negacionistas produz imbecilidades que deixariam constrangido o cretino fundamental de Nelson Rodrigues. A tribo jura que há uma democracia em Cuba, recita que Nicolás Maduro transformaria a Venezuela numa potência mundial se os norte-americanos deixassem e ouve em silêncio de catedral Lula avisando que Napoleão invadiu a China. Os discípulos do mestre que não lê nem sabe escrever acreditam que Sergio Moro descobriu em 2015 que Jair Bolsonaro se elegeria presidente em 2018 e, para impedir que o maior presidente da História voltasse ao poder, juntou numa aliança de proporções siderais delegados da Polícia Federal, procuradores federais, desembargadores do Tribunal Regional Federal, ministros do Supremo, diretores da Petrobras nomeados por Lula e envenenados pela ingratidão, empreiteiros beneficiados por Lula também envenenados pela ingratidão, uma frente multipartidária de políticos dispostos a delatar inverdades, espiões treinados pela CIA e agentes do FBI fluentes em português, fora o resto.

Os pajés ensinam que Lula acabou com a pobreza em 2010 e Dilma erradicou a miséria em 2014, e que a multidão de andrajosos que seguem acampados nas ruas, praças e avenidas do país são brasileiros que subiram para a classe média durante os governos do PT e foram devolvidos às divisões inferiores por Michel Temer e Jair Bolsonaro. A esquerda negacionista também nega que seja orientada por uma cabeça baldia. Aprenderam com a filósofa Marilena Chauí que, “quando Lula fala, o mundo se ilumina”. E descobriram, graças ao professor Antonio Candido, que a fobia por bancos escolares não impediu que o gênio da raça aperfeiçoasse uma intuição mais aguda que a de Pelé invadindo a grande área inimiga. Está garantida a vaga na sala principal de um Museu dos Estadistas ainda à espera da fundação.

Eles acordam declarando amor à democracia e dormem declamando poemas que exaltam a liberdade. 
Mas negam o convívio dos contrários, não admitem opiniões divergentes e qualificam de fascistas todos os que discordam do Evangelho segundo Lula. 
Acham que o país é presidido por um genocida decidido a exterminar todos os brasileiros, inclusive os que o elegeram. 
Estão convencidos de que Bolsonaro não acredita na existência de pandemias.
 E que é por culpa dele que sobram mortos e faltam vacinas, que há mais doentes do que leitos de UTI, que o vírus chinês resolveu acampar no Brasil até morrer de velhice. Quem discorda dessas certezas é fascista, sonha com a ditadura e é negacionista.

Negacionista é marmanjo que se nega a pensar com independência, é ovelha que acompanha o sinuelo na trilha que conduz ao despenhadeiro. Para uma figura assim, aliás, negacionista talvez seja pouco. Eis aí uma perfeita besta quadrada.

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste