Não se premia quem se
revelou incompetente – no caso, o tal general. Não se pune inocentes –
no caso o diretor-geral da Polícia Federal e o superintendente da
Polícia Federal no Rio. O chefe do general supostamente relapso era o
delegado Alexandre Ramagem, diretor da ABIN. Pois Ramagem foi justamente
a escolha feita por Bolsonaro para substituir Valeixo. Não faz sentido.
Não faz.
Quanto mais mente para se
defender da acusação de que tentou intervir na Polícia Federal porque
desejava tê-la diretamente ao seu serviço, obediente às suas ordens, a
produzir relatórios diários com informações que por lei estava proibida
de fornecer, mais Bolsonaro se arrisca a ser denunciado pelos crimes de
obstrução à investigação de organização criminosa e advocacia
administrativa.
Mentir é como puxar da
caixinha um lenço de papel. Quando se puxa o primeiro lenço,
apresenta-se o segundo. Na maioria das vezes, uma mentira requer outra
para manter-se de pé. E assim vai até que a caixa se esvazia. Bolsonaro
já deu provas de sobra de que é um mentiroso compulsivo. Mente e é
desmentido. Mente por prazer, mente por descuido, mente para se safar,
simplesmente mente. Em agosto do ano passado,
ele quis trocar o superintendente da Polícia Federal no Rio. Alegou que
sua produtividade era baixa. Mentiu. A produtividade era alta. O
superintendente foi trocado, mas não pelo nome que Bolsonaro indicou.
Inconformado, ele continuou a pressionar Moro e o diretor-geral da
Polícia Federal. Deu no quê? Na grave crise política que o país assiste
estupefato.
Na próxima segunda-feira,
o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, terá acesso ao
vídeo com a gravação da reunião ministerial de abril. E decidirá se o
libera na íntegra ou com cortes para que os brasileiros o vejam. Os
poucos que conhecem o vídeo estão convencidos de que sua exibição
varrerá o que ainda resta de credibilidade a Bolsonaro e à sua malta.
Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA