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quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Moraes é sorteado para relatar pedido de registro de candidatura de Bolsonaro no TSE - Gazeta do Povo

O ministro Alexandre de Moraes foi sorteado para ser o relator do processo de candidatura do presidente Jair Bolsonaro (PL), que disputa a reeleição, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Moraes vai assumir a presidência da Corte em 16 de agosto. O ministro também será responsável por analisar eventuais pedidos de impugnação ao registro e posteriormente as contas de campanha.

Bolsonaro fez o pedido de registro da candidatura no TSE na terça-feira (9) e declarou ter patrimônio no valor total de R$ 2.317.554,73. O registro ainda aguarda o julgamento da Justiça Eleitoral. Esses dados foram incorporados ao sistema do TSE nesta quarta-feira (10).

Há uma série de episódios institucionais envolvendo Bolsonaro e Moraes. Em maio, por exemplo, o presidente protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF) uma queixa-crime contra Moraes por abuso de autoridade. A queixa foi rejeitada pelo relator, o ministro Dias Toffoli. No documento, o chefe do Executivo alegava que Moraes teria realizado "sucessivos ataques à democracia, desrespeito à Constituição e desprezo aos direitos e garantias fundamentais".

Na semana passada, o ministro negou o pedido para arquivar uma investigação contra Bolsonaro no Supremo. O caso é referente ao suposto vazamento de dados sigilosos de um inquérito da Polícia Federal sobre um ataque hacker contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2018. O pedido havia sido feito pela vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, em 1º de agosto.

Além de negar o pedido, Moraes também fez críticas à atuação de Lindôra Araújo e afirmou que o Ministério Público Federal (MPF) não tem atribuição constitucional para impedir a atividade da Polícia Judiciária. 

Outros candidatos
No caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que disputa a eleição presidencial pelo PT, o relator do processo de candidatura será o ministro Carlos Horbach. O pedido de registro da chapa no TSE foi feito pela representante da coligação e presidente nacional do partido, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), em 6 de agosto.

O ministro Carlos Horbach também foi sorteado para relatar o pedido de registro da candidatura de Ciro Gomes, que concorre ao Palácio do Planalto pelo PDT.

Já no caso do registro da presidenciável Simone Tebet (MDB), a relatoria ficou com o ministro Ricardo Lewandowski.

Eleições - Gazeta do Povo 


quarta-feira, 27 de maio de 2020

Lições de mais um dia intenso - Míriam Leitão

O Globo

No meio da confusão do dia, o discurso do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pareceu um oásis. Era alguém lembrando que líderes lideram e que as instituições têm papéis a cumprir nos momentos trágicos do país. Maia começou fazendo o que Bolsonaro nunca fez, demonstrou sentimento em relação aos que morreram, aos que não puderam cumprir o ritual do luto, aos que se afligem com os seus nas UTIs, e aos profissionais da saúde que lutam na frente de batalha, “verdadeiros heróis”.

Na véspera, em nota, o presidente Bolsonaro avisou que vai continuar saindo para as aglomerações. “Sinto-me bem ao seu lado (do povo) e jamais abrirei mão disso.” Bolsonaro tem uma visão reducionista do povo brasileiro. Para ele, só contam os que se juntam em manifestações dominicais, com suas faixas antidemocráticas, em grupos minguantes, é bom que se diga. Ou os que se reúnem na claque do Alvorada. No domingo, o presidente levou a tiracolo até o ministro da Saúde, general Pazuello. O interino que ficará muito tempo. O Brasil passa a ser aquele país em que o ministro da saúde descumpre as orientações da saúde para satisfazer o chefe. No mesmo domingo, Bolsonaro fez uma ameaça velada ao ministro Celso de Mello, postando uma mensagem de fácil decifração. E o ministro da Defesa avalizou a nota do general Heleno, que ameaçara o Supremo de “consequências imprevisíveis”.

Com o presidente tão ocupado com suas querelas, e os líderes militares dando sinais trocados, o espaço de falar como estadista estava vago. Na política, não existe espaço vazio. Foi esse que o deputado Rodrigo Maia [Rodrigo Maia, estadista? com todo respeito à ilustre colunista: ' a senhora pegou pesado.
O deputado carioca está mais para agitador - está mais devagar agora, por ter percebido que seu jogo duplo contra o presidente Bolsonaro não estava dando resultado.

Aliás, é conveniente que os inimigos do presidente Bolsonaro reinventem suas táticas contra o 'capitão'.
Apostaram no vídeo da reunião de 22 abril e conseguiram:
- mais pessoas na manifestação pró Bolsonaro do dia 24;
- dólar caindo no dia 25; e, 
- Bolsa subindo.
Aliás,  o vídeo da reunião se mostrou um excelente palanque pró Bolsonaro,  que agora tem novo marqueteiro - conforme piada que circula na internet.
Realmente o vírus derruba a pandemia - priorizar parar o país e com isso a economia cai.] ocupou com seu discurso em que deu vários recados, inclusive um para dirimir o falso dilema que opõe isolamento social e reativação da economia. “Quem derruba a economia é o vírus.” Maia trouxe a figura icônica de Ulysses Guimarães, sentado na cadeira que foi dele um dia, para lembrar solenemente o valor da democracia. Essa que temos e conquistamos. “Senhoras e senhores ministros do STF sabem que esse parlamento respeita e cumpre as decisões judiciais, mesmo quando delas discorda.” Na véspera, Bolsonaro, em nota, dissera que era preciso atuar “para termos uma verdadeira independência e harmonia entre as instituições da República”. 

O presidente acha [acha? é fato.]  que o Judiciário tem invadido suas prerrogativas, e seus ministros mais poderosos, militares ou não, concordam com ele.
Na segunda-feira, Bolsonaro criou um constrangimento institucional — mais um — quando desembarcou na Procuradoria-Geral da República (PGR). O investigado querendo confraternizar com o investigador. E num momento em que o país tem muita dúvida sobre a autonomia do PGR. O que se investiga é a suspeita de intervenção na Polícia Federal. Ele disse na reunião que iria interferir, demitiu o diretor-geral, trocou o superintendente do Rio. Sua deputada de estimação, Carla Zambelli, deu uma entrevista em que revelou: “alguns governadores estão sendo investigados.” O presidente já declarou guerra aos governadores em geral, aos do Rio e de São Paulo em particular. Por tudo isso, um manto de dúvida inicial cercou a operação contra o governador Witzel.[o comentário da deputada prova apenas que a maioria da população brasileira confia na Polícia Federal e sabe que a instituição, sem prejuízo de seus outros encargos, caça corruptos.
É público e notório que grande parte - há exceções, poucas, mas existentes - dos políticos brasileiros é formada por corruptos. E o que os corruptos mais gostam são de obras - quanto mais obras mais chances de lucros 'extras' - e, mais ainda, quando as contratações, englobando compras e serviços, são em caráter de urgência = os controles preventivos são reduzidos e se os tardios encontrarem alguns rastros de ilícitos, sempre pode funcionar o argumento: erro por pressa.
A citação de Bolsonaro tem amparo em dois pontos:
- não está envolvido em nenhuma negociata;
- desde o inicio da pandemia, quando deixaram com a União o ônus de bancar o combate à peste e com estados e municípios o bônus, o presidente alertou várias vezes para o risco de corrupção no combate à covid-19.]

Todo indício de corrupção tem que ser investigado, atinja quem atingir. O Rio é um estado politraumatizado. Já viu de tudo e não quer a repetição de um roteiro trágico bem conhecido, ainda mais no meio de uma pandemia. É preciso ser implacável com quem tramou contra os cofres públicos neste momento. Contudo, o temor que cercou a operação de ontem aumentou ainda mais a certeza de que a PF tem que ser autônoma. Exatamente para que não paire dúvida sobre as suas ações. Ela só pode ser polícia judiciária, jamais um braço do presidente.

Míriam Leitão, jornalista - O Globo - com Alvaro Gribel, de São Paulo


sábado, 16 de maio de 2020

A última de Bolsonaro: premiar quem deveria ser punido - VEJA - Blog do Noblat

Não se premia quem se revelou incompetente – no caso, o tal general. Não se pune inocentes – no caso o diretor-geral da Polícia Federal e o superintendente da Polícia Federal no Rio. O chefe do general supostamente relapso era o delegado Alexandre Ramagem, diretor da ABIN. Pois Ramagem foi justamente a escolha feita por Bolsonaro para substituir Valeixo. Não faz sentido. Não faz.

Quanto mais mente para se defender da acusação de que tentou intervir na Polícia Federal porque desejava tê-la diretamente ao seu serviço, obediente às suas ordens, a produzir relatórios diários com informações que por lei estava proibida de fornecer, mais Bolsonaro se arrisca a ser denunciado pelos crimes de obstrução à investigação de organização criminosa e advocacia administrativa.

Mentir é como puxar da caixinha um lenço de papel. Quando se puxa o primeiro lenço, apresenta-se o segundo. Na maioria das vezes, uma mentira requer outra para manter-se de pé. E assim vai até que a caixa se esvazia. Bolsonaro já deu provas de sobra de que é um mentiroso compulsivo. Mente e é desmentido. Mente por prazer, mente por descuido, mente para se safar, simplesmente mente. Em agosto do ano passado, ele quis trocar o superintendente da Polícia Federal no Rio. Alegou que sua produtividade era baixa. Mentiu. A produtividade era alta. O superintendente foi trocado, mas não pelo nome que Bolsonaro indicou. Inconformado, ele continuou a pressionar Moro e o diretor-geral da Polícia Federal. Deu no quê? Na grave crise política que o país assiste estupefato.

Na próxima segunda-feira, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, terá acesso ao vídeo com a gravação da reunião ministerial de abril. E decidirá se o libera na íntegra ou com cortes para que os brasileiros o vejam. Os poucos que conhecem o vídeo estão convencidos de que sua exibição varrerá o que ainda resta de credibilidade a Bolsonaro e à sua malta.

Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA



domingo, 17 de março de 2019

Bronca suprema é ferramenta de otário

O Supremo Tribunal Federal cometeu um erro estratégico imperdoável ao abrir um inquérito para investigar eventuais críticas ofensivas e supostamente criminosas contra a Corte, seus ministros ou membros do Poder Judiciário. STF não é delegacia de polícia de esquina... Até a Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, foi obrigada a reclamar que tal atribuição é descabida ao STF. A polêmica só aumenta a desmoralização do Judiciário brasileiro perante a maioria da opinião pública.



Autoridades brasileiras nos quatro poderes,[SIC] que se acham mais poderosas que qualquer cidadão, odeiam críticas. Todos preferem os elogios e afagos dos puxa-sacos e submissos. Quando as broncas falam mais alto, cada “alvo” sente, interpreta e reage de um jeito. Fica evidente que a diferença entre criticar e atacar é encarada de maneira claramente subjetiva ou interpretada de maneira corporativista. Em meio à guerra de todos contra todos os poderes, todo ato ou declaração é entendido como ofensivo. E o conflito se acirra...[atualização: são TRÊS os Poderes da República - o Ministério Público tem pretensões a ser o QUARTO , mas, a tendência é que continue pretensioso.
Quem ao assumir as funções de INVESTIGAR passou a ser, simultaneamente, os QUATRO PODERES foi o Supremo que mediante decreto de seu presidente emendou a Constituição ao criar, virtualmente, o QUARTO PODER = acusador.
O resultado é que o Supremo mediante decreto passou a ser quem denuncia, quem investiga, quem acusa, quem defende e quem sentencia.



Voltando à recente decisão do STF de radicalizar contra os críticos, vale a pena recordar um voto brilhante e decisivo do decano do Supremo, ministro Celso de Mello, no dia 21 de junho de 2018, na Ação Direta de Inconstitucionalidade 4.451. Um dos pontos mais relevantes: “O pluralismo político (que legitima a livre circulação de ideias e que, por isso mesmo, estimula a prática da tolerância) exprime, por tal razão, um dos fundamentos estruturantes do Estado democrático de Direito! É o que expressamente proclama, em seu art. 1º, inciso V, a própria Constituição da República”.



Outro argumento fundamental de Celso de Mello: “É por isso que se mostra frontalmente inconstitucional qualquer medida que implique a inaceitável “proibição estatal do dissenso” ou de livre expressão gráfica, oral ou pictórica do pensamento crítico. Cumpre por em evidência, neste ponto, a função contramajoritária do Supremo Tribunal Federal no Estado democrático de direito, estimulando a análise da proteção das minorias na perspectiva de uma concepção material de democracia constitucional”.



Celso de Mello acrescenta: “É preciso advertir, bem por isso, notadamente quando se busca promover, como no caso, a interdição da crítica ou da opinião veiculada pelos meios de comunicação social por emissoras de rádio e televisão, que o Estado não dispõe de poder algum sobre a palavra, sobre as ideias e sobre as convicções manifestadas pelos cidadãos em geral ou pelos profissionais dos meios de comunicação social”.



E tem mais: “O direito fundamental à liberdade de expressão, inclusive à liberdade de imprensa, é igualmente assegurado pelo Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (Artigo 19), adotado pela Assembleia Geral da ONU em 16/12/1966 e incorporado, formalmente, ao nosso direito positivo interno, em 06/12/1992 (Decreto nº 592/92)”.

     

Vale muito a pena ler a íntegra do voto de Celso de Mello, deixando claro que não pode haver censura, e, por extensão, perseguição aos críticos, sobretudo se eles empregarem o humor como favor de crítica. Assim, diante da decisão esquisita do Presidente do STF, o mais prudente e sábio é que optemos pelo legítimo poder da gargalhada. Afinal, o riso deve ser levado a sério, pois tem papel de poderoso instrumento de reação popular e resistência social a práticas que configuram ensaio de repressão governamental e opressão do poder político.



Melhor que pode fazer o Toffoli? Baixar a bola... Revogar a decisão incabível e mudar a postura do STF em relação às críticas, justas ou injustas... Um velho provérbio baiano proclama: “Bronca é ferramenta de otário”... Toffoli pode ser tudo, menos otário... O Judiciário está muito próximo de levar a pior na guerra de todos contra todos – ou dos tolos contra todos...   Neste domingão em que a Lava  Jato completa 5 anos de aniversário, o povo vai para a rua para exigir Justiça, combater a impunidade e cobrar uma postura do Judiciário, sobretudo do Supremo Tribunal Federal, efetivamente favorável à punição exemplar aos corruptos e ao mecanismo de corrupção sistêmica do Brasil.



Não importa o tamanho e a intensidade dessas manifestações iniciais. A gritaria popular tende a se amplificar, ainda mais se o STF se mostrar reacionário contra a vontade popular. O povo vai malhar, cada vez mais, o Judasciário... Também vai criticar as omissões e o rigor seletivo que a toga promove junto com segmentos do Ministério Público e a Polícia Judiciária, nos âmbitos estadual e federal.


A maioria do povo brasileiro clama por Justiça – e não por uma Ditadura Judiciária. Simples, assim... Aliás, qualquer autocracia de quaisquer dos poderes, sobretudo do Judiciário, inviabiliza a Democracia no Brasil. Como bem diz Ruy Barbosa, que toda hora se manifesta nas redes sociais, "a pior ditadura é a do Poder Judiciário; contra ela, não há a quem recorrer"...

Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net
Membro do Comitê Executivo do Movimento Avança Brasil



quarta-feira, 4 de maio de 2016

Segundo Carlos Velloso, ex-ministro do Supremo, a Constituição não impede um réu de assumir a prsidência da República


"Pode não ser ético, mas a questão jurídica é que importa"


Para Carlos Velloso, ex-ministro do Supremo, a Constituição não impede um réu de assumir a Presidência 

Por que presidentes da Câmara ou do Senado podem assumir a Presidência da República mesmo se forem réus no Supremo?

Carlos Velloso – Porque assim está na Constituição, isto é, estão indicados na linha de substituição. E estão em pleno exercício de suas funções. Se são réus no Supremo Tribunal, denunciados pela prática de crimes comuns, e não foram afastados de seus cargos e nem condenados, não há como dizer que não podem dar cumprimento ao que estabelece a Constituição relativamente à substituição mencionada.


ÉPOCA – Um presidente eleito deve deixar o cargo ao se tornar réu no Supremo Tribunal Federal, de acordo com o Artigo 86 da Constituição Federal. É coerente o presidente da Câmara ou do Senado, réu na mesma Corte, poder assumir a Presidência?
Velloso –
Um presidente da República, no exercício de seu cargo, está sujeito ao impeachment, seja por crime de responsabilidade, seja por crime comum. No primeiro caso, na Câmara e no Senado, na forma do disposto no Artigo 86 da Constituição. No segundo caso – crime comum –, na Câmara e no STF, também na forma do Artigo 86. É coerente, indaga-se, o presidente da Câmara ou do Senado, réu na mesma Corte, poder assumir a Presidência. Pode não parecer coerente, mas o que deve ser considerado é que a Constituição e a lei não o impedem. Pode não ser ético, mas a questão jurídica é que importa.



ÉPOCA – O presidente da República tem poderes que poderiam comprometer uma investigação?
Velloso – Não.
A investigação fica a cargo da Polícia Federal, Polícia Judiciária, num inquérito policial criminal sujeito ao controle externo do Ministério Público (CF, Art. 129, inciso VII), uma instituição que prima pela independência funcional, e sob a supervisão do juiz, não sujeito, portanto, a intervenções de autoridades outras. Isto são conquistas da Constituição de 1988.


ÉPOCA – A condição de réu de um presidente, sob julgamento dos ministros do STF, prejudica o equilíbrio entre os Três Poderes?
Velloso – Absolutamente.
Tem-se, na hipótese, medida prevista na Constituição e na lei, que se enquadra no denominado “checks and balances”, ou o sistema de freios e contrapesos teorizado por Montesquieu e que foi aperfeiçoado pela Suprema Corte americana. A Constituição brasileira o adotou em extensão até maior do que sua criação original. Ademais, o Judiciário brasileiro detém o monopólio da jurisdição. Quando o Senado julga o presidente da República por crime de responsabilidade, o faz, também, nos termos da doutrina dos freios e contrapesos, assumindo, excepcionalmente, a jurisdição.


ÉPOCA – O que aconteceria ao processo no STF contra um presidente da Câmara ou do Senado se ele assumisse a Presidência?
Velloso –
A Constituição não dispõe a respeito. Em minha opinião, enquanto durar a substituição ocorrerá a suspensão da ação penal. Voltando o presidente do Senado ou da Câmara a seus cargos, dá-se continuidade à ação penal.


ÉPOCA – A possibilidade de condenação de um presidente tornaria instável a Presidência?
Velloso – Não, tendo em consideração que esse julgamento se faz com base na Constituição e na lei.


Fonte: Revista Época 
 

domingo, 4 de janeiro de 2015

"Assassinato de Reputações - Um Crime de Estado"

Abaixo um pequeno trecho extraído do livro “Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado de autoria de Romeu Tuma Junior, que foi Secretário Nacional de Justiça no governo Lula:

“(...) Lula instrumentalizou a Polícia Federa e agregou nela o que chamo “poder de informação”; não é o da informação, é o “de informação” mesmo, no mau sentido. Os informes dos agentes do SNI passaram por uma metamorfose. Tudo foi deslocado para a PF após a constatação de que na Abin não daria resultado, simplesmente por falta de poder de polícia. Daí, sob Lula, a Polícia Federal passou a fazer os informes sob o título de “Relatório de Inteligência”, ou de ‘Relatórios Circunstanciados de Inteligência”, que são depois juntados a inquéritos e a processos.

Os informes passaram a ter poder de polícia judiciária, e. portanto, converteram-se em substrato material para indiciamentos, acusações e condenações. Nem a ditadura tinha pensado nisso. As pessoas hoje podem ser condenadas pelo que agentes federais, diga-se, sem atribuição legal para fazer “Relatórios de Inteligência”, simplesmente acham ou deduzem.

Tudo é maravilhosamente maquiavélico e esdrúxulo: Lula, com a douta colaboração de Marcio Thomaz Bastos, aparelhou a Polícia Federal para seus propósitos partidários. A etapa que não deu certo foi estender isso ao Judiciário como um todo, ao Superior Tribunal de Justiça e, principalmente, ao Supremo Tribunal Federal.
Sob Lula a PF teve tantas e tamanhas operações porque a lógica foi invertida: ela estipulava primeiro o “alvo” e depois passava a gerar supostas informações sobre ele. Sempre com dossiês ou grampos.

Só o vocábulo “alvo”, em si, já induz que ninguém mira em algo para errar.
Sob Lula, tivemos, industriosamente, a junta de relatórios do bunker da PF em inquéritos, e pior: sem qualquer compromisso cronológico com a realidade dos fatos. Aí, antes de qualquer coisa, você vaza na imprensa esses relatórios, e condena o acusado no tribunal em que os sites de pesquisa se transformaram. Sob Lula, passa-se a investigar “alvos”. Não crimes, e cria-se uma polícia de Estado totalitário.

Não é para menos que Marcio Thomaz Bastos me sugeria, antes mesmo que eu assumisse, a idéia de se criar a Super Secretaria Nacional de Justiça, absorvendo a Senad, o Coaf, o Arquivo Nacional e, a depender das condições políticas, até a Abin, além de criar o documento único de identidade, sob o nome de Registro de Identidade Civil-RIC. Eu não viabilizei as mudanças porque temia a aglomeração e a concentração demasiada e absoluta de Poder num mesmo órgão. Parece até que eu já pressentia os riscos e acontecimentos futuros.

“Eles” já vinham tentando fazer algumas dessas mudanças antes da minha chegada (...) mas quem tinha conhecimento técnico e força política para isso era eu. Voltando ao ponto: justamente por conhecer a matéria e poder fazer é que não fiz! Podem ter certeza de que prestei um relevante serviço ao estado de direito e à democracia deste país. Imaginem um aloprado comandando uma estrutura dessas?
Ademais, no meu ponto de vista alguns deles funcionavam adequadamente e na estrutura correta, e a idéia do RIC, que recusei, acabou indo para a PF: CPF, RG, CNPJ, carteira nacional de habilitação, título de eleitor, tudo num número só, num só documento, num único arquivo ou banco de dados.

Era a forma da PF totalitária do Lula poder armar inquéritos contra “alvos”, bastando um único “clique” para levantar toda a vida de qualquer cidadão (ou “alvo”) sem controle judicial; sobre esses retalhos de atropelos da lei foi construída a bandeira da PF “republicana” do Barba (*) e do Marcio Thomaz Bastos.
A PF é o braço armado e indispensável do projeto de Poder. Ela opera com fachada de legalidade, como os núcleos e aparelhos da subversão na clandestinidade. Subverte a ordem, aproveitando-se, na maioria das vezes, da leniência e tibieza da Justiça, especialmente no primeiro grau de jurisdição.

Eu também estou afirmando isso não só como vítima. Já o fazia no governo quando discordava desses métodos, pois como policial estou acostumado a investigar, aliás, a usar tirocínio. É uma profissão emocionante, onde você parte do crime para o criminoso, aprende a conversar com o corpo de delito, a observar o local do crime, a ouvir o corpo da vítima do homicídio, a dialogar com o silêncio, enfim, a investigar. Não a apontar “alvos” para acertar em alguma coisa. Dá até vergonha de se dizer policial com esses métodos.

(...) A verdade nua e crua é que o governo – que se diz de esquerda, democrático, social, preocupado com os direitos humanos e que repudia a “ditadura” – tem sob seu comando uma polícia que grampeia as pessoas, seleciona trechos de conversas, pinça frases, descontextualiza diálogos, cria enredos e manda gente para a prisão por achismo e dedução.

(...) A PF como instrumento do governo e braço armado do Poder, também e sobretudo nas investigações, é usada seletivamente ao fazer seus inquéritos. Depende de quem está do outro lado da escrivaninha. Quando se trata de adversário e este for inocente, o inquérito fica aberto, tramitando ad eternum pra se dizer: “Ele está sendo investigado”; ou seja, a pessoa estará sempre sob suspeita.
Quando se trata de aliado e ele for culpado, também o inquérito se arrasta, só que engavetado com outro propósito, o de permitir que digam: “Ninguém pode ser acusado antes do final das investigações; enquanto não houver condenação em última instância, transitada em julgado, todos são inocentes”.         
                                                              
(*) “Barba”: codinome de Luiz Inácio Lula da Silva, quando informante do delegado Romeu Tuma, pai do autor do livro. Lula quando X9 do Romeu Tuma, pai, também era conhecido como 'boi'.

Comentário do autor do texto: essa é a nossa Justiça e a nossa Polícia...aparelhada pelo partido dito dos trabalhadores...

Por: Carlos I. S. Azambuja é Historiador.