Atos em defesa de Moro miram Congresso e STF
Mobilizações são registradas em ao menos 70 cidades dos 26 estados e no DF
Manifestantes saíram neste domingo às ruas em pelo menos 70 cidades dos
26 Estados, além do Distrito Federal, em defesa do ministro da Justiça,
Sérgio Moro, da Operação Lava Jato e da aprovação da reforma da
Previdência – uma das principais bandeiras do governo. Os atos também
foram marcados por novos ataques ao Congresso e a ministros do Supremo
Tribunal Federal. No Twitter, o presidente Jair Bolsonaro citou a
“civilidade” e “legitimidade” dos movimentos, enquanto o ministro-chefe
do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general Augusto
Heleno, discursou em um carro de som ao lado do deputado Eduardo
Bolsonaro (PSL-SP) em Brasília.
Quatro bonecos foram inflados em frente ao Congresso Nacional, em
Brasília. Dois deles simbolizando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Lula (ambos com roupa de presidiário), um de Moro vestido de super-homem
e o último unindo Lula, o ex-ministro do PT José Dirceu e o ministro
Gilmar Mendes, do STF. Na avenida Paulista, lugar escolhido pelos
manifestantes em São Paulo, bonecos e faixas também traziam críticas ao
Supremo e ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Os protestos foram convocados depois que o site The Intercept Brasil
passou a divulgar supostas trocas de mensagens entre Moro e procuradores
da Lava Jato em Curitiba. Essas mensagens sugerem a intervenção do
então juiz federal na condução da operação, inclusive com a indicação de
possíveis testemunhas. A iniciativa dos atos coube a grupos como o MBL e o Vem Pra Rua.
Atuantes durante o processo de impeachment da presidente cassada Dilma
Rousseff, eles não participaram das manifestações pró-Bolsonaro de maio
passado – marcadas, como neste domingo, por ataques ao Supremo e ao
Congresso. O Nas Ruas, criado pela deputada federal Carla Zambelli
(PSL-SP), também teve participação ativa na organização.
Tumulto
Integrantes do MBL chegaram a ser hostilizados por
outros ativistas, por um discurso de “independência” em relação a
Bolsonaro. Em São Paulo, cerca de 20 integrantes do DireitaSP foram até o
caminhão do MBL estacionado em frente ao Masp para gritar contra o
grupo. Houve um princípio de tumulto e a Polícia Militar teve de agir
para evitar uma briga generalizada. No Rio de Janeiro, também houve
ataques entre integrantes de grupos diferentes. “A gente não puxa o saco
do Bolsonaro e somos críticos ao governo”, disse Renato Battista,
coordenador nacional do MBL.
Na avenida Paulista, que teve quatro quadras ocupadas por manifestantes
vestindo principalmente verde e amarelo, o carro de som do Nas Ruas foi o
ponto de encontro mais “governista” do ato. Entre os oradores, além de
Zambelli, estavam o empresário Luciano Hang, dono da Havan, o senador
Major Olimpio (PSL) e o cantor Latino. “Nós apoiamos o ministro Sérgio
Moro, o pacote anticrime e o governo Bolsonaro”, afirmou Tomé Abduch,
porta-voz do Nas Ruas.
‘Eu vejo’. Após a publicação das supostas mensagens pelo The Intercept
Brasil, Moro se apresentou em audiência no Senado. Com isso, ele buscou
esvaziar articulação de partidos de esquerda que falavam em criar uma
CPI. O ministro nega qualquer interferência nas investigações quando era juiz e coloca em dúvida o teor das mensagens. Ele usou o Twitter para se referir às manifestações. “Eu vejo, eu ouço,
eu agradeço. Sempre agi com correção como juiz e agora como ministro”,
escreveu ele, em uma das mensagens. Em outra, agradeceu o apoio de
Bolsonaro. “Sou grato ao PR (presidente da República) e a todos que
apoiam e confiam em nosso trabalho. Hackers, criminosos ou editores
maliciosos não alterarão essas verdades fundamentais. Avançaremos com o
Congresso, com as instituições e com o seu apoio.”
No Rio, o ato chegou a ocupar cerca de seis quadras da Avenida
Atlântica, em Copacabana. O ato teve o Hino Nacional e palavras de ordem
como “O STF é uma vergonha”, “Rodrigo Maia se acha 1.º ministro”, “Fora
PT e a velha política”.
Em Porto Alegre, o ato foi realizado no centro, apesar da chuva e do
frio de 16 graus. Foram registradas ainda manifestações em capitais como
Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Goiânia (GO) e Curitiba (PR), e
cidades do interior paulista, como Campinas e Sorocaba. Em Boston (EUA),
o ato reuniu cerca de 20 pessoas. A frase “In Moro We Trust” (Em Moro
nós confiamos) apareceu em cartazes. /
PEDRO
VENCESLAU, DENISE LUNA, RENATO ONOFRE, EDUARDO RODRIGUES, GABRIELA BILÓ, JOSÉ
MARIA TOMAZELA e LEONARDO AUGUSTO, RITA SOARES, PEDRO MOREIRA, LUCIANO NAGEL,
JULIO CESAR LIMA E MARÍLIA NOLETO, ESPECIAIS PARA O ESTADO