Vaga no STF teria sido objeto de compromisso entre presidente eleito e o então juiz?
Na ficção, Sergio Moro brilha em “O Mecanismo”, a versão romanceada da
Lava Jato, cuja segunda temporada acaba de sair na Netflix. Na vida
real, o ex-juiz protagoniza atualmente o episódio “O Compromisso”, não
menos interessante. Jair Bolsonaro não poderia ter sido mais claro: disse ter firmado com
Moro o compromisso de indicá-lo à primeira vaga que surgir no Supremo
Tribunal Federal, a mais alta corte do país, provavelmente em 2020.
O ministro da Justiça também foi assertivo: sem nem pedir a tradicional
vênia, desmentiu o chefe imediatamente, dizendo que não colocou nenhuma
condição —como indicação ao STF— para abandonar 22 anos de toga e
ingressar no governo.
Façamos então a carinha do emoji com a mão no queixo e olhar intrigado. Quem está mentindo e, mais importante que isso, por quê?
Dificilmente alguém —que não os dois ou quem testemunhou a conversa—
terá resposta. E viva a nova política, quando ou presidente ou seu
ministro está mentindo descaradamente e cada um deles sabe exatamente
quem é e por qual razão. Bolsonaro levou para seu governo um auxiliar dito “indemissível”, hoje
seu ministro mais bem avaliado. Que outra brilhante solução haveria,
então, que não a de retirar do jogo um concorrente em 2022 despachando-o
para debaixo de uma nova toga?
Do ponto de vista de Moro, o ex-juiz vem passando por percalços no
Congresso e tenta olimpicamente se desviar de temas que vão do
Queirozgate aos infames decretos bangue-bangue. Parece ter assumido o
Ministério do Não É Comigo. Para sua carreira jurídico-política, não resta dúvida de que há dois
horizontes: o STF ou a vaga de Bolsonaro. Logo, não seria de bom tom
excluir de cara um desses cenários. Além do mais, a confirmação do
“compromisso” mobilizaria por antecipação tropas contrárias e daria mais
substância à percepção de que ele conduziu a Lava Jato com alguns
objetivos políticos bem delineados.
Quem está mentindo? E por quê? Com a palavra, Bolsonaro e Moro.