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domingo, 2 de janeiro de 2022

Larry Bird, Magic Johnson e 2022 - Revista Oeste

Ana Paula Henkel

Best of Enemies não só mergulha na rivalidade que tornou os jogos entre os dois times espetaculares, mas mostra como a atual sociedade emburreceu

Mais um ano chega ao fim. Como de costume, durante a última semana do ano, meus filhos e marido perguntavam sem parar o que eu gostaria de ganhar de presente de Natal. Pensei, pensei e, finalmente, na sexta-feira dia 24 encontrei o presente perfeito. Depois de ligar para a minha família no Brasil na noite de Natal e desejar uma noite abençoada, desliguei o telefone. Não, não apenas me despedi e desliguei a chamada, desliguei o telefone. Deslizei o dedo pelo botão que aparecia para mim na tela: “TURN OFF”. Puf. Tela escura e desligada. E assim ela permaneceu — em OFF — até o domingo dia 26 à noite. Dois dias inteiros sem WhatsApp, sem redes sociais, sem notícias… Foi o melhor presente que eu poderia ter me dado nos últimos anos.

       Dividida entre Larry Bird e Magic Johnson - Foto: Reprodução/NBA 

Apostas sobre em quanto tempo eu ligaria o telefone foram feitas em casa e, diante da minha tranquilidade em não querer por um segundo ligar o telefone, no sábado à tarde, marido, enteada e filho resolveram fazer o mesmo. E a mágica aconteceu! Durante dois dias inteiros, o tempo pareceu passar mais devagar. Tortas de maçã, biscoitos e bolos foram feitos. Velas e mais velas cheirosas foram acesas, vinhos e bebidas foram degustados — e não apenas ingeridos —, jogos de tabuleiros foram jogados e muitas risadas foram dadas. 
E filmes, muitos filmes foram vistos, desde os clássicos It’s a Wonderful Life e Cantando na Chuva, até clássicos recentes como Gran Torino e Interestelar. E esse foi o melhor presente que os meus filhos e meu marido poderiam ter me dado nos últimos anos.

Dentre as muitas boas horas de filmes e séries a que assistimos juntos, um programa chamou a atenção de todos nós, e acabou alimentando um debate pertinente, saudável e importante em casa. A importância de dar importância ao que é realmente importante. Pode parecer uma frase redundante, mas um documentário sobre a clássica rivalidade entre Boston Celtics e Los Angeles Lakers, times da NBA, acabou trazendo uma boa reflexão a todos. Antes de mais nada, para os amantes do esporte, como eu, “Celtics/Lakers: Best of Enemies” mergulha na rivalidade que tornou os jogos entre os dois times nos anos 1960 e 1980 não apenas espetaculares, mas históricos.

Os rivais Larry Bird e Magic Johnson | Foto: Divulgação/NBA

A saga do “Fla x Flu” do basquete profissional norte-americano mostra como Magic Johnson, Larry Bird, Kareem Abdul-Jabbar, Cedric Maxwell, James Worthy, Kevin McHale e muitas outras lendas mudaram o jogo para sempre. No entanto, as quase cinco horas de pura imersão no universo do esporte profissional não contam apenas a história de uma rivalidade esportiva como outras pelo mundo. Para quem gosta de análises estratégicas detalhadas de jogos clássicos, Best of Enemies  preenche esse requisito com muitas imagens estonteantes e muitas entrevistas internas cheias de detalhes. Mas a série vai além disso.

Em muitos momentos, o documentário também desnuda várias nuances da psicologia humana e de como a atual sociedade, tão polarizada política e intelectualmente, emburreceu e retrocedeu no campo da civilidade e do amadurecimento emocional. Não sei se os mais jovens sentirão certa nostalgia doída de quem viveu nos anos 1980 e 1990, quando o esporte dividia as tribos pelas cores dos uniformes de seus times, e não pela cor da pele ou pelas posições políticas, mas há muito o que ser explorado ouvindo homens de fibra.

Obviamente, a questão racial não é excluída da série. Especificamente, Best of Enemies aborda o assunto, tanto no preconceito intelectualizado de alguns repórteres esportivos — que elogiavam as virtudes do “basquete fundamental” (dos brancos) versus o “estilo playground” (dos negros) —, quanto nas tensas relações raciais dentro de Los Angeles e Boston. O diretor, Jim Podhoretz, também não esconde os problemas do mundo real que obscureciam o jogo, como drogas, mas foca em sua maior atração: o Boston Celtics liderado por Larry Bird e o Los Angeles Lakers liderado por Magic Johnson. Entre 1980 e 1989, o Lakers chegou às finais do Oeste oito vezes e conquistou cinco campeonatos, enquanto o Celtics representou o Leste cinco vezes, vencendo três finais. As duas equipes se enfrentaram apenas três vezes — em 1984, 1985 e 1987 —, mas cada série cativou a nação de maneira marcante até hoje, gerando personalidades e histórias que ajudaram a estabelecer a NBA como um verdadeiro passatempo nacional, pouco antes da chegada de Michael Jordan ao Chicago Bulls, época em que o jogo e a liga foram catapultados para outro nível.

O documentário, além de apresentar um elenco fabuloso de personagens que mudariam a NBA e abririam a mente coletiva da América, revive a década de 1980 com Larry Bird, Magic Johnson e todo o drama dessa época de ouro da NBA. O Celtics de Bird e o Lakers de Magic se enfrentaram por quatro anos até o encontro épico da final em 1984. Sem maiores spoilers, a última parte da série mostra as páginas logo depois das emocionantes finais da NBA de 1984 e, em seguida, explora a saga de 1985 a 1987 e como a rivalidade acabou solidificando, gradualmente, o respeito entre seus personagens. Ao final da última batalha, em 1987, enquanto ainda havia muita animosidade, eles também desenvolveram uma reverência mútua e profunda.

Há momentos preciosos na série, de lições valiosíssimas de humildade, decepção, tristeza, superação. Há frases que, normalmente ditas por palestrantes ou os chamadoscoaches, caem numa certa pieguice das platitudes de autoajuda. Mas quando são ditas — e acompanhadas de imagens espetaculares — por Magic Johnson, por exemplo, a reflexão é inevitável: “Autoavaliação é difícil, mas você tem de ser honesto consigo mesmo. Tive de entender que não era tão bom quanto pensava que fosse”.

O esporte, assim como o mundo, mudou muito com a tecnologia, com o acesso em tempo real a informações que podem mudar o rumo de uma partida ou o destino de um atleta. Programas de computação aplicados a treinamentos e jogos podem fazer toda a diferença. O talento individual e a incansável dedicação não são mais as únicas vias para o sucesso no âmbito do esporte profissional. Muito pode ser ensinado e desenvolvido em tempo recorde nos dias de hoje. No entanto, há talentos incrivelmente pertinentes a esse mesmo âmbito que não podem ser ensinados. Eles normalmente são pontos genéticos ou traços que foram desenvolvidos por meio de experiências importantes ao longo da vida. Estou falando do que esses líderes e rivais tinham em comum: acessibilidade, carisma, determinação com os pés no chão. Mesmo que pudesse haver o debate racial entre negros e brancos, a NBA dos anos 1980 mostrou que isso era secundário, que a espinha dorsal de união e paixão pelo esporte seguia seu caminho com propósito, como lembra Cedric Maxwell, ex-jogador do Celtics no documentário: “Depois de seu terceiro campeonato e terceiro MVP, o respeito por Larry Bird não podia ser negado. Quando vi a foto de Larry em uma barbearia de negros, disse — ele realmente cruzou a linha! Você via Jesus, Malcom-X, mas não uma foto de Larry Bird em uma barbearia de negros!”.

Nos anos 1950, ainda sob as leis raciais em muitos Estados, foi o esporte que abriu portas para a extinção das vis políticas segregacionistas

Em 2021, vimos, mais uma vez, as plataformas sociais — mesmo com todo o apreço que podemos ter pela democratização de opiniões através delas — terem um papel vital na segregação vil e ignorante da atual sociedade. Vimos esses espaços supostamente democráticos usando o esporte, um campo em que diferenças são abandonadas, em especial durante os Jogos Olímpicos, sofrer incansáveis tentativas de sequestros e desvirtuações. Qualquer desavença política ou diferença religiosa sempre foram tratadas como coadjuvantes no campo esportivo. Não importa se na NBA ou nas Olimpíadas, o roteiro fiel ao esporte sempre foi de histórias de superação e respeito, recheadas de enredos dramáticos com derrotas e vitórias espetaculares. A celebração na excelência atlética.

Larry Bird, Michael Jordan e Magic Johnson | Foto: Divulgação/NBA

Mas o que mudou? Infelizmente, já há alguns anos, algo vem atingindo o espírito esportivo. E isso vem sendo demonstrado da maneira mais estúpida possível, por uma sociedade repleta de analfabetos olímpicos e personalidades hedonistas. Depois de alguns anos e uma pandemia global que trouxeram não apenas a banalização da história e suas palavras, até quando vamos seguir com a politização de tudo? O esporte já dava sinais de que não ia escapar à “idiotização” política, com frases do Black Lives Matter sendo repetidas por atletas importantes, ou a visão distorcida e triste de jogadores em campeonatos como a NBA se ajoelhando — literalmente.

Nos anos 1950, ainda sob as leis raciais em muitos Estados norte-americanos, foi o esporte — mais uma vez — que abriu portas para a extinção das vis políticas segregacionistas. E a NBA foi parte fundamental nisso. Em uma sociedade em que movimentos como o Black Lives Matter usam o terrorismo e a violência contra negros e brancos para propagar suas ideias e demandas, em que políticos plantam a segregação racial ou em que ligas esportivas e atletas são sequestrados por grupos ideológicos, é gratificante assistir a um documentário como Celtics/Lakers: Best of Enemies. Ver a magnitude de uma obra que aborda a divisão racial de maneira madura, mas que também traz o melhor de todos nós, independentemente da cor da nossa pele ou de como votamos, não deixa de ser um sopro de esperança para 2022. Divisões sempre existirão, mas a vontade de fazer o correto pode sempre ser exaltada.

Em um ano em que o politicamente correto avançou de maneira violenta, linchando médicos, jornalistas e atletas que ousaram pensar fora das linhas da turba;  
em que o politicamente correto sufocou atletas femininas para proteger a injustiça de apoiar homens biológicos competindo com mulheres
em que o politicamente correto tentou nos obrigar a aplaudir a fraqueza de atletas egoístas que abandonaram suas equipes na última hora porque não conseguiram se manter sob os holofotes e não souberam olhar de frente para as adversidades, despeço-me de 2021 neste último artigo do ano com uma das frases finais de Magic Johnson no documentário: “Eu odiava o Celtics. Mas amei jogar, porque pude jogar contra Larry Bird e o Celtics. Nunca teria sido o jogador mais valioso (MVP), nunca teria sido o jogador que fui se não fosse por Larry Bird e o Celtics. Eles me fizeram alcançar a grandeza, a excelência. Nos anos finais dessa rivalidade entre Celtics e Lakers havia tantos afro-americanos que ovacionavam Larry Bird. Eles sabiam quão grande ele era. Não era sobre cor, sobre raça, era puro respeito por um cara corajoso”.

Que a boa e saudável divisão em 2022 volte, aquela em que a única raiva que tínhamos um do outro era por perder para rivais históricos no esporte. Enquanto isso não chega, que tal, como presente de ano novo, dois dias sem telefone? Recarregar sem estar plugado pode ser uma maneira antiga — porém eficiente — de dar valor ao que realmente importa. Obrigada pela companhia em 2021 e desejo um próspero 2022, com menos redes sociais e mais clássicos na TV. Happy New Year!

Leia também “A guilhotina do bem”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste

 

 

sábado, 6 de novembro de 2021

EM 2022 TEREMOS UM PARTIDO DE DIREITA ? Roberto Motta

Não acredito que seja possível criar ou transformar um partido em direita “raiz” para as próximas eleições.

Na verdade, tenho dúvidas até se a existência de um partido assim é viável no ambiente político-eleitoral atual.

As razões são muitas.

Nosso sistema partidário coloca imenso poder nas mãos dos controladores dos partidos. Na maioria dos casos, esses controladores estão focados em seus interesses pessoais ou nos interesses de seu grupo político, relegando à ideologia um papel secundário. Os partidos são mecanismos de acesso ao poder, controlados por quem deseja conquistar o poder ou manter o poder que já tem.

Em geral, os partidos têm uma estratégia diferente em cada estado ou até em cada cidade, dependendo das lideranças locais. Não é raro que conveniências eleitorais levem a alianças de última hora que contrariam frontalmente a direção ideológica declarada dos partidos.

A preocupação principal dos partidos é com a formação da “nominata”, a lista de candidatos que disputarão a eleição. Essa lista é cuidadosamente equilibrada com alguns nomes de grande votação (os famosos “puxadores de votos”) e outros com expectativa de votos média ou baixa. Todo partido cria sua nominata com o objetivo de eleger determinados candidatos (o que nem sempre acontece).

Todos que já disputaram uma eleição sabem disso. Juntar todos os candidatos de direita em um mesmo partido significa colocar todos em uma mesma nominata, o que pode ser bom para alguns candidatos, mas péssimo para outros.

Por último, vale a pena lembrar a vulnerabilidade que seria criada ao se colocar todos os candidatos de direita em um mesmo partido: qualquer incidente que afete a capacidade do partido de participar das eleições eliminaria todos os candidatos de uma vez

Por tudo isso, acredito que os candidatos de direita terão que se espalhar por todos os partidos (à exceção dos partidos de esquerda, é claro). 
Os eleitores de direita precisam entender esse cenário, e as entidades de direita - institutos, associações e movimentos - precisam orientar o eleitor. Esqueçam o partido. Votem no candidato, nas suas ideias, na sua história.

É claro que, como o nosso sistema é baseado no voto proporcional, os votos dados ao candidato podem ajudar a eleger outros candidatos da nominata, cujas ideias e propostas nada têm a ver com a direita. Esse risco, hoje, é inevitável.

É preciso parar de perseguir uma utopia. Precisamos trabalhar com os instrumentos e possibilidades disponíveis. É isso que nossos adversários estão fazendo. Ou seguimos esse caminho, ou corremos o risco de ver, em 2022, uma repetição do desastre que aconteceu nas eleições de 2020.

Livros do autor:

Ou Ficar a Pátria Livre, lançado em 2016, fala de política, economia e combate ao crime.

Jogando Para Ganhar: Teoria e Prática da Guerra Política foi lançado pela LVM Editora em 2018, e trata da guerra política e cultural, com foco nas ideias de Saul Alinsky, David Horowitz, Gert Hofstede e Yuval Harari.

A Destruição da Segurança Pública Brasileira, lançado em 2021, apresenta, em um texto curto, o cenário de destruição provocado pela infiltração ideológica no sistema de justiça criminal do país.

Os Inocentes do Leblon, também de 2021, conta a história da criação do partido Novo e de vários personagens anônimos que dela participaram.

Roberto Motta


segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Corrupção? Esquece - Lula está sem promessas e sem argumentos para derrotar Bolsonaro em 2022 - J. R. Guzzo

 Jovem Pan 
 

O  que o ex-presidente teria a dizer a favor de si próprio? A primeira ideia que ocorre é lembrar um tema que ele não vai poder aproveitar na campanha: o combate à corrupção

 A dificuldade de Lula é saber que ele não vai poder usar na disputa a 'pauta' da corrupção

 O que Lula vai dizer para o povo?

O ex-presidente Lula começa a armar a sua campanha para as eleições de 2022 e, naturalmente, tem diante de si o que deveria ser a pergunta-chave de todo o candidato na hora da largada: o que eu vou dizer para o eleitorado, de hoje até outubro do ano que vem? Não pode ser qualquer bobagem. Vai ser preciso, na prática e no fim das contas, dizer coisas que convençam o público de que ele, Lula, é melhor que o adversário, Jair Bolsonaro – sem isso, nada feito.

“A que novos desastres determinas de levar estes povos e esta gente?
(…)
Que famas lhes prometerás? Que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?”
– Os Lusíadas, O Velho do Restelo

Se você fosse o Lula e se quisesse, como ele está querendo, ganhar a eleição de 2022 para ser presidente do Brasil outra vez, seria preciso, tão logo possível, ter na ponta da língua uma porção de coisas para dizer ao eleitorado. Muito bem: que coisas, exatamente, você diria? É melhor não ir respondendo que “essa é fácil”, porque não é fácil – na verdade, é uma complicação de bom tamanho. Muita gente boa pode pensar que com um Jair Bolsonaro no governo, qualquer um teria, já de cara, um monte de argumentos para montar a sua propaganda eleitoral.  
Afinal, o homem não é o genocida? 
Não é o “miliciano” e sabe lá Deus mais quanta coisa horrível? 
Não é o pior presidente que o Brasil já teve em 132 anos de República? Se é mesmo assim, qual é o problema? 
Qualquer candidato vai dar um passeio nele, não é mesmo? 
Lula, então, que já está com 110% de votos no Datafolha, nem precisa se levantar da cama. É só pensar um pouco, porém, e fica claro que a coisa não é bem assim – na verdade, não é nada assim.
 
Os fatos, quando se olha com frieza para eles, mostram o contrário do que dizem as teorias apresentadas acima. O principal problema de Lula, que segundo a realidade visível é o único candidato real da “oposição” para a eleição do ano que vem, é justamente o contrário:  
não tem o que dizer para os eleitores – não o suficiente para demonstrar a eles que é melhor do que Bolsonaro para ser o novo presidente do Brasil. Pode ser, é claro, que venha a ter material de sobra para a sua campanha; essa vida costuma ser cheia de novidades. Pode ser, até mesmo, que acabe nem sendo candidato, e que a missão de derrotar Bolsonaro seja entregue a um outro qualquer – é difícil, mas não é impossível. Mas, pelo que temos no momento, é isso: Lula não tem muito o que declarar à população brasileira em sua campanha eleitoral para 2022. Está “sem discurso”, como se diz nas mesas redondas que os cientistas políticos fazem na televisão depois do horário nobre.

Bolsonaro é descrito aí, há três anos seguidos e sem descanso, como uma mistura de Calígula com lobisomem

Começando pelo começo: o que há, de fato, para falar contra Bolsonaro se o seu problema é ganhar dele numa eleição para presidente? 
Esta deveria ser a cereja no bolo, ou o bolo inteiro. Se Lula levasse a sério o que dizem a imprensa, os governadores de centro e as classes intelectuais, estaria com a vida ganha; Bolsonaro é descrito aí, há três anos seguidos e sem descanso, como uma mistura de Calígula com lobisomem – e um monstro desses não poderia ganhar de ninguém. 
Mas nada disso é cereja, nem bolo. O que a mídia, a elite e a oposição vêm falando não tem tido efeito nenhum na situação real do inimigo. Esqueça os “índices de popularidade” publicados pelos “institutos de pesquisa”. O único índice que vale nesse negócio é a capacidade de levar gente para a rua. Na última vez em que foi se medir isso, deu mais de 200 mil pessoas na Avenida Paulista a favor de Bolsonaro
Lula e a esquerda não conseguiram juntar nem 10 mil miseráveis gatos pingados no mesmo lugar na sua manifestação de resposta. 
Lula, aliás, nem apareceu na Paulista: o que mais se poderia dizer em matéria de desastre com perda total?
Lula, com um olho só ou mesmo sem nenhum olho, em geral enxerga o dobro do que a mídia, a elite e todos os intelectuais de esquerda juntos; já sabe por intuição que não adianta nada, para ele, ficar falando que Bolsonaro anda “sem máscara”, que patrocina “rachadinhas” e que comanda milícias no Rio de Janeiro. 
Sabe que não rende coisa nenhuma, do ponto de vista eleitoral, atacar o adversário porque ele foi contra o fechamento das escolas, disse que o “fique em casa” estava destruindo empregos ou comeu pizza de pé em Nova York. 
Lula não acredita, ao contrário do que acham os jornalistas, que Bolsonaro vai perder um único voto por ser inimigo declarado da pedofilia e da abolição, nas escolas, das diferenças de sexo entre as crianças. 
Está convencido de que não lhe rendem nada as sucessivas imagens, supostamente negativas, que socaram em cima do adversário: homofóbico, perseguidor de quilombolas, racista, contrário à distribuição de mais terras para os índios. Está convencido que a “CPI da Covid”, em matéria de eleição, não vai beneficiar a sua candidatura em absolutamente nada. Sabe muitíssimo bem que o apoio que recebe de gente como Renan Calheiros é imprestável – o que ele vai fazer com isso numa campanha eleitoral?
 
Parece haver uma esperança, no momento, na piora da economia – se as coisas forem efetivamente para o diabo, com inflação de dois dígitos, juros em escalada e recessão, além de mais desemprego, comércio fechado e indústria quebrada, mais uma crise mundial para arredondar a desgraça, é claro que vai sobrar espaço para se falar mal do governo. Sempre há, também, as crises fatais fabricadas no complexo mídia-Ministério Público-STF e redondezas, com denúncias que vão levar, finalmente, à explosão da galáxia. Já se viu de tudo, aí. Houve a crise do falecido ministro Gustavo Bebianno. Houve “o Queiroz”. Houve o “quem matou Marielle?” Houve a “crise militar” na demissão do ministro da Defesa e dos comandantes das Forças Armadas. Houve as brigas com os ministros Barroso e Alexandre, com xingamento de mãe para baixo, ameaças de deposição imediata do presidente por descumprimento de ordens do STF e o drama terminal do “voto impresso”. 
 
Houve pelo menos uma boa meia dúzia de “golpes de Estado” anunciados, em modo de pânico, pela mídia, pelo Psol e pela Rede Globo. Houve o anúncio de “cadáveres” na manifestação do dia 7 de setembro em favor de Bolsonaro – ao final da qual não se quebrou uma única vidraça. Agora fala-se das “contas offshore” do ministro Paulo Guedes – e por aí iremos, até o dia da eleição. Sai alguma coisa de todo esse angu? Sai, mas some. Em comum, entre todos os episódios citados acima, há o fato de que estão mortos e sepultados no esquecimento. Alguém ainda se lembra do voto impresso?
 
É limitado, assim, o que Lula pode falar contra o governo – pois mesmo a crise econômica, que sempre é um problemaço, exige que o sujeito tenha ideias melhores que o adversário para resolver os problemas. Lula não tem ideia nenhuma ou, se tem, ainda não contou para ninguém. Resultado: crise econômica, sozinha, não é suficiente para ganhar eleição. E a favor de si próprio, então – o que Lula teria a dizer?  
A primeira ideia que ocorre é lembrar um tema que ele não vai poder aproveitar na campanha: o combate à corrupção. 
Candidato a qualquer coisa, no Brasil, tem de se anunciar como um marechal-de-campo da luta contra a ladroagem e os ladrões; sem isso, já se começa a campanha perdendo de dois a zero. Agora, honestamente: dá para alguém pensar a sério que Lula pode subir ao palanque em 2022 falando que ele, Lula, vai combater a corrupção? Não – não dá.  
Primeiro porque não vai colar a tentativa de dizer que Bolsonaro é ladrão. Segundo porque Lula é o último político neste país que pode falar sobre o assunto roubalheira.

Cuba, Venezuela e as ditaduras mais primitivas da África foram a base da nossa “política externa”

Não vai adiantar nada, a esse propósito, Lula dizer que foi “absolvido” e que a sua “inocência” foi “reconhecida” pela Justiça. Ele não foi absolvido de coisa nenhuma e ninguém, nem no Judiciário brasileiro, diz que ele é inocente: tudo o que os seus parceiros nas nossas cortes supremas fizeram foi dizer que Lula deveria ser julgado em outro lugar, e que o todo processo teria de começar de novo. 

De qualquer jeito, a última coisa que um cidadão decente pode querer no Brasil de hoje, sobretudo se for candidato a alguma coisa, é dizer que “o Supremo” está a favor dele. Supremo? Deus me livre. Quanto menos Lula falar no assunto, melhor para ele – ou menos pior.

E além da luta contra a corrupção – o que Lula poderia dizer de bom a respeito de si mesmo e sua capacidade de governar? Também aí é jogo duro. Ele legou o Brasil a Dilma Rousseff. Na economia, os seus momentos de crescimento foram voos de galinha. Bolsa Família? 
A de Bolsonaro está dando mais dinheiro. A educação pública, que deveria ocupar as dez prioridades de qualquer governo que se diz “popular”, foi uma calamidade: era péssima quando assumiu, estava pior quando saiu. O episódio mais marcante na área da saúde, em seu governo, foi o da Máfia dos Vampiros, criação da companheirada para roubar sangue dos hospitais públicos. O segundo, depois desse, foi a importação dos médicos cubanos para trabalhar em regime de semiescravidão. 
 
Durante os oitos anos em que ficou no Palácio do Planalto, o Brasil foi governado por empreiteiros de obras públicas que a Operação Lava Jato imortalizou, e por banqueiros, de esquerda e de direita, a quem obedeceu do primeiro ao último dia. Lula vai ter de jogar todas as suas esperanças nas mágicas do marketing eleitoral. Na última vez, com o seu “poste” de 2018, não deu certo. Ele reza, agora, para que volte a dar.
 
J. R. Guzzo, colunista - Jovem Pan

quarta-feira, 3 de março de 2021

Lei de Cotas acaba em 2022

Regra que reservou vagas para negros, indígenas e estudantes de escola pública perde a validade no próximo ano.

Criada em 2012, a Lei de Cotas das instituições de ensino federal (Lei 12.711/2012) perderá a validade em 2022, caso não seja renovada pelo Congresso. A revisão da lei sob o governo Jair Bolsonaro (sem partido) - que é antipático a ela e nega o racismo como um problema estrutural do Brasil - é fator de preocupação para o movimento negro, que teme retrocesso numa política amplamente avaliada como bem sucedida por estudiosos da educação e de políticas públicas. [chega de desprezar o mérito e privilegiar fatores que não tem a menor influência no desempenho dos estudantes.

A péssima qualidade do ensino público é que precisa melhorar - inaceitável, até criminoso,  é que a pretexto de compensar aquela falta de qualidade, o descaso, se abandone o mérito, permitindo que  alunos que são vítimas das falhas do sistema, iniciem cursos de graduação na condição de analfabetos funcionais.]

Além disso, o processo de revisão, previsto no artigo sétimo da própria lei, deve acontecer em pleno ano eleitoral, quando a polarização política estará ainda mais exacerbada."Não só temos um temor como, justamente por conta disso, já estamos, junto com outras instituições, criando uma grande frente de defesa da renovação da Lei de Cotas", diz José Vicente, reitor e fundador da Universidade Zumbi dos Palmares. Sociólogo e advogado, Vicente lembra que as cotas da magistratura, do Ministério Público e do serviço público federal também estão subordinadas à mesma legislação."Na hipótese de a lei não ser prorrogada, nós teríamos todas as políticas de cotas canceladas no nosso país, o que seria um absurdo, uma perda inominável, tendo em vista que as cotas não conseguiram dar conta ainda do que elas se propuseram", afirma o reitor. "Dos 20% de juízes negros que deveriam estar preenchendo as cotas do Judiciário, não chegamos ainda a 5%. Isso acontece também no Ministério Público, nos concursos federais e, mesmo na universidade, a ação afirmativa chegou aos bancos escolares, mas ainda não alcançou o corpo docente, a estrutura de gestão operacional do ambiente universitário e a ciência, nas bolsas de pós-graduação de mestrado e doutorado." [os que pleiteam concursos do nível dos citados e fracassam, não podem atribuir o mau resultado a cor da pele, raça,condição social - e sim, por uma certa inaptidão com o mérito.]

Vicente avalia que a conjuntura atual impõe um desafio adicional à revisão da política."Se a luta já estava difícil antes, agora com Bolsonaro e companhia vai ser uma pedreira", avalia. "A discussão pode perder seu caráter técnico para se transformar numa bandeira política, entrando para esse ambiente de conflito e confronto. Esse é um grande risco. E aí, os negros sozinhos não têm condição de fazer a defesa. Será preciso um grande concerto nacional, uma trincheira de defesa muito grande, que vai exigir esforço extraordinário."

(........)

 
Porte de armas e excludente de ilicitude
O reitor da Universidade Zumbi dos Palmares também vê com preocupação a agenda enviada pelo governo ao Congresso, por ocasião do início de mandato dos novos presidentes do Senado e da Câmara, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Arthur Lira (PP-AL).

Entre as 35 prioridades elencadas pela gestão Bolsonaro, estão uma proposta que amplia o acesso a armas e outra que prevê excludente de ilicitude para militares em operações de garantia da lei e da ordem. Isso num país onde as maiores vítimas de mortes por armas de fogo e por policiais são os jovens negros."São agendas fora de lugar e de hora, que colidem com a agenda da cidadania que o Brasil precisa", afirma. "Foi um esforço extraordinário tirá-las da pauta e agora elas voltaram, com sua capacidade destrutiva e de dano. Isso  significa que vai ser necessário novo esforço para retirá-las outra vez da cena, substituindo-as por questões mais prementes."

Na avaliação de Vicente, a resistência da sociedade civil brasileira ganha agora um reforço com a eleição do democrata Joe Biden nos Estados Unidos."A nova direção do governo americano é um fator moderador adicional. Isso deve refletir no Brasil, pois Bolsonaro vai ter que rever e reconstruir sua relação com o governo americano, que tem o meio ambiente e os direitos humanos como temas prioritários." 

[pretendíamos encerrar a transcrição da matéria no trecho em que o tema da extinção das cotas raciais  se encerrou. 
Mas o reitor da Zumbi dos Palmares trouxe à baila o  Porte de armas e excludente de ilicitude,   transmitindo a impressão - talvez estejamos incorrendo em equívoco - que ele é favorável à criação de  um sistema de cotas estabelecendo o máximo de afrodescendentes que podem ser abordados  em uma blitz policial.

O excludente de ilicitude é essencial para valorizar o trabalho policial - podem ocorrer casos excepcionais,  mas a quase totalidade dos abatidos em ações policiais são de transgressores da lei que resistiram  aos policiais. Aproveitamos o ensejo para lembrar aos esquecidos que a ficha criminal do senhor  João Alberto Silveira Freitas, suscita dúvidas sobre as razões dele não estar encarcerado.

'Nós continuamos sendo racistas'
Outro indicativo disso, na avaliação de Vicente, é o avanço da discussão sobre desigualdade racial no ambiente corporativo. Segundo ele, no entanto, não surpreendem reações como a da juíza do Trabalho Ana Luiza Fischer, que afirmou que o trainee exclusivo para negros do Magazine Luiza seria uma "discriminação inadmissível", ou a ação civil movida pelo defensor público federal Jovino Bento Júnior contra o mesmo programa.
"Nós continuamos sendo racistas. O Magalu ao longo de 15 anos fez processos de trainee, só se apresentavam brancos, e ninguém nunca contestou isso, porque é considerado como parte da normalidade", observa o reitor.[se só os brancos se apresentavam o problema estava no desinteresse dos que dispensavam a oportunidade.
Agora a conduta da Magalu representou um indiscutível caso de racismo às avessas - os brancos não deixaram de se apresentar, apenas não foi permitida que participassem.]

Em G 1 - Educação, leia MATÉRIA COMPLETA


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Frente anti-Bolsonaro remói nova derrota após eleição da Câmara e prevê obstáculos para 2022 - Folha de S. Paulo

Carolina Linhares

União da oposição já naufragou outras vezes, mas deputados são otimistas em relação ao diálogo entre partidos  

naufrágio do bloco que apoiava Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pela presidência da Câmara expôs os entraves para a formação de uma frente ampla de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na eleição de 2022. A união de diferentes ideologias, com caciques de MDB, PT, PDT, PSB, PC do B, Cidadania, Rede, PV, PSDB, DEM e PSL (os dois últimos acabaram abandonando o barco), foi vista como um ensaio da tal frente, que já fracassou outras duas vezes.

Na segunda-feira (1º), porém, quando o governista Arthur Lira (PP-AL) derrotou Baleia, contando com implosões e rachas nos partidos que apoiavam o emedebista, o recado foi que as siglas e os deputados definem seu lado mais com base em vantagens pragmáticas para se reelegerem, como verbas e cargos, do que pela convicção de derrotar Bolsonaro.  Deputados ouvidos pela Folha acreditam ser difícil uma união da esquerda, do centro e da direita moderada em uma candidatura presidencial única em 2022, mas avaliam que o eventual segundo turno, dependendo de quem nele estará, pode forçar isso.

Especialistas concordam que o sistema partidário e eleitoral não dá incentivos para que haja uma frente ampla, pelo contrário: o natural é que diferentes partidos lancem seus projetos ao menos no primeiro turno.  O consenso em Brasília e na academia é que os cenários para 2022 não podem ser cravados agora, pois tudo depende de como o governo vai se comportar e de como as crises econômica e sanitária irão afetar a popularidade do presidente.

A força ou fraqueza eleitoral de Bolsonaro, o tamanho da oposição e o nível de entendimento sobre ele representar uma ameaça à democracia são fatores que poderão unir os partidos para derrotá-lo ou, ao contrário, fazê-los seguir fragmentados. Parlamentares mais otimistas veem, sim, possibilidade de frente ampla em 2022, seja num segundo turno, seja numa redução de candidaturas no primeiro —uma de centro-direita, uma de centro-esquerda e Bolsonaro.

De forma geral, porém, deputados avaliam como positiva a união em torno de Baleia. O episódio teve o mérito de criar um diálogo entre siglas distantes. Parlamentares ouvidos pela reportagem preveem que haverá no Congresso uma união da oposição ao governo, do PSOL ao PSDB, sobretudo para barrar pautas como ampliação do armamento, ensino domiciliar e brechas para violência policial. [uma união de nulidades para barrar pautas que levaram a eleição do presidente Bolsonaro - partidos sem valor, que entendem oposição consiste unicamente em atrapalhar o governo.]

Mais do que isso: creem que esse bloco vai crescer conforme Bolsonaro não consiga entregar cargos e emendas prometidas ao centrão ou enterre de vez sua popularidade com crises agudas. Já quando o assunto for economia e reformas, a esquerda deve ficar sozinha na oposição, com alas oposicionistas de partidos como PSL, DEM e PSDB aderindo à pauta do ministro da Economia, Paulo Guedes. O tema do impeachment só sai do banho-maria, dizem parlamentares, se a vacinação proporcionar mobilização de massa. [o êxito da vacinação, ou de qualquer outro caminho que reduza a pandemia (até o passar do tempo conspira a favor do capitão) mantém o impeachment no arquivo e seus apoiadores com o mesmo destino de deputado Maia = o ostracismo = morte política.] 

A frente ampla contra Bolsonaro já sucumbiu anteriormente devido a diferentes atores. A primeira tentativa foi ainda no segundo turno de 2018, mas Ciro Gomes (PDT) viajou a Paris, e João Doria (PSDB) aderiu ao voto Bolsodoria. Em meados de 2020, na pandemia, quando a postura de Bolsonaro já indicava prejuízo à saúde pública, foi a vez de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) jogar água fria nos manifestos contra o presidente afirmando não ser “maria vai com as outras” e se recusando a estar ao lado de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Na eleição municipal do ano passado, partidos de esquerda se uniram no primeiro turno somente em Florianópolis e Belém (sem o PSB); enquanto frentes contra bolsonaristas só se formaram no segundo turno no Rio de Janeiro e em Fortaleza. Na eleição da Câmara, o ônus ficou com DEM e PSL, que saíram do bloco de Baleia, rumo que o PSDB quase tomou. Na esquerda, o PSOL foi criticado por lançar candidatura para marcar posição, enquanto Baleia tinha chances reais de derrotar Bolsonaro. Agora, o partido reforça a opinião de que a esquerda tem que ter candidatura própria e não pode contar com a oposição de direita —o PT ainda defende a postura pragmática como a correta naquele momento.

O movimento do DEM o aproximou do governoÀ Folha, o presidente da sigla, ACM Netoafirmou que não descarta apoiar a reeleição de Bolsonaro em 2022. Mas se mantêm abertas as possibilidades de apoiar PSDB, MDB e Cidadania, com Doria ou Luciano Huck, ou PDT e PSB, com Ciro. O desafio da unificação existe também na esquerda, onde PSOL e PT podem não abrir mão de candidatura própria. Lula é ficha-suja, mas poderia ser candidato caso o Supremo Tribunal Federal julgue Sergio Moro parcial e anule suas condenações.

Entre os otimistas em relação à frente ampla está o deputado Júnior Bozzella (PSL-SP), que vê chance de que a união da oposição se estenda a 2022.  “Não é fácil unificar, mas se iniciou a discussão para o amadurecimento de que precisamos de uma alternativa. A candidatura do Baleia foi um marco, é uma chama que se acendeu e deve ser levada adiante."

O líder do PSDB na Câmara, Rodrigo de Castro (MG), afirma que o partido resistiu com Baleia apesar das pressões e que o movimento a favor de Lira se deve à sua boa articulação e ao pragmatismo de alguns deputados, mas não enfraquece a oposição.  Para ele, se os partidos não estarão juntos no primeiro turno, ao menos “quebraram o gelo” para um eventual segundo. “Há um ano não tinha esse diálogo e hoje tem.” Fora do campo eleitoral, os deputados já dão exemplos da manutenção da unidade da oposição, já que todos agiram em conjunto contra a determinação de Lira de deixá-los de fora da Mesa Diretora. [não  foi uma união formada entre opositores do capitão, e sim entre indivíduos que perderam cargos e prestígio.]

Carlos Zarattini (PT-SP) diz que as alas de DEM e PSDB fiéis a Rodrigo Maia (DEM-RJ) agora estão marcadas como oposição e que o autoritarismo de Lira exigirá que todos joguem juntos na Câmara —embora acordos para 2022 não sejam possíveis na visão dele.  Elmar Nascimento (DEM-BA), que aderiu a Lira, afirma que antecipar 2022 para a eleição da Câmara foi um equívoco e que o cenário das urnas só será discutido no ano que vem. Para ele, o discurso de que o bloco de Baleia era uma frente contra Bolsonaro foi uma estratégia de Maia para obter a adesão da esquerda.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, e o líder do partido na Câmara, André Figueiredo (CE), acham possível a adesão do DEM a Ciro, mas veem o PT fora da aliança.  Para o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), é necessário haver ações conjuntas de partidos e da sociedade civil contra Bolsonaro, “mas isso não projeta imediatamente soluções para 2022”.

A cláusula de barreira, a necessidade de fazer uma boa bancada de deputados, a eleição em dois turnos e a quantidade de partidos no país dificultam uma frente ampla, avaliam os professores Marta Arretche, da USP, e Felipe Nunes, da UFMG e diretor da consultoria Quaest. “Os incentivos institucionais obrigam os partidos a lançar candidatura no primeiro turno. É um atributo do próprio sistema”, diz Nunes.  “A ideia de formar uma grande frente contra Bolsonaro é inspirada em Joe Biden, nos EUA, mas nosso sistema é diferente. Bolsonaro montou uma coalizão de sustentação, mas não revelou até agora habilidade necessária para manter coesa a situação, e o tamanho da oposição vai depender dos movimentos que ele fizer”, afirma Arretche.

FRACASSOS DA FRENTE AMPLA
2º turno de 2018
A união em torno da candidatura de Fernando Haddad (PT) contra Bolsonaro não decolou. No segundo turno, Ciro Gomes (PDT) foi a Paris. Já João Doria (PSDB) aderiu ao 'Bolsodoria'

Manifestos suprapartidários
Em meados de 2020, quando o presidente chegou a participar de ato antidemocrático, surgiram manifestos suprapartidários. A iniciativa não teve o apoio de Lula (PT), que disse não ser "maria vai com as outras" e se recusou a estar ao lado de FHC (PSDB)
 
Candidatura de Baleia Rossi
A campanha do emedebista à presidência da Câmara teve o apoio de MDB, PT, PDT, PSB, PC do B, Cidadania, Rede, PV, PSDB, DEM e PSL, mas, na reta final, os dois últimos partidos desembarcaram da coalizão, e o candidato de Bolsonaro, Arthur Lira, venceu

 Carolina Linhares - Folha de S. Paulo

 

sábado, 30 de janeiro de 2021

Bolsonaro lidera em todos os cenários na corrida presidencial para 2022

Presidente oscila negativamente em relação a dezembro, mas tem índices superiores a 30% em três simulações de primeiro turno feitas pelo Paraná Pesquisas

[mantemos o nosso entendimento que ainda é cedo para pesquisas, especialmente quando se trata do presidente Bolsonaro, que tem muito espaço para crescer -  as condições adversas que no momento atrapalham seu crescimento, serão em breve neutralizadas, superadas. Haverá um interesse maior que contemple:  ele será reeleito no primeiro turno? ou será necessário o segundo?]

O presidente Jair Bolsonaro lidera com índices superiores a 30% das intenções de voto os três cenários de primeiro turno para a eleição presidencial de 2022 projetados em levantamento exclusivo feito pelo instituto Paraná Pesquisas entre os dias 22 e 26 de janeiro.

Embora o presidente tenha oscilado negativamente em relação à sondagem feita em dezembro, ele ainda segue líder fora da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Foi a primeira pesquisa feito pelo instituto após o fim do pagamento do auxílio emergencial e a primeira após o início da vacinação, dois temas que tinham potencial para desgastar Bolsonaro.

No cenário mais provável da disputa, Bolsonaro lidera com 30,5% das intenções de voto, seguido pelo ex-ministro Sergio Moro (12%), Ciro Gomes, do PDT (10,6%), Fernando Haddad, do PT (9,5%) e Luciano Huck (8,1%), todos empatados dentro da margem de erro.[esse ex-juiz, ex-ministro, ex-quase candidato, ainda está em na prancheta de pesquisas eleitorais?  - não faz nem um ano que ele foi defenestrado do governo Bolsonaro e já perde feio, tendo apenas 2/5 dos votos do capitão - imagine quando sua expulsão do governo completar dois anos; 
outra vergonha é o sempre candidato a ser derrotado, Ciro Gomes, 1/3; o 'poste' perde até para o Ciro; e o animador de auditório tem pouco mais de 1/4 dos votos do atual presidente.]

O cenário mais favorável a Bolsonaro é aquele em que Moro não disputa, no qual o presidente aparece com 33,7% contra 12,1% de Ciro na segunda colocação – a diferença entre eles é de mais de 20 pontos. Já a simulação mais apertada de primeiro turno é quando Bolsonaro enfrenta o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – nesse caso, a vantagem cai para menos de 14 pontos (31% a 17,3%. Vale lembrar que o petista está impedido de concorrer porque foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa após ser condenado em segunda instância em processo da Operação Lava Jato – ele ainda tenta reverter a situação.

arte pesquisa 1 turno

Em VEJA, pesquisa completa, incluindo eventual 2º turno


domingo, 27 de dezembro de 2020

Doria pavimenta apoio inédito no PSDB para 2022 - Pedro Venceslau

O Estado de S. Paulo

Bancadas do partido na Câmara e Senado, prefeitos e vereadores referendam nome de governador como eventual presidenciável

Depois de enfrentar prévias conturbadas para ser o candidato do PSDB à Prefeitura em 2016 e ao Palácio dos Bandeirantes em 2018, o governador de São Paulo, João Doria, entra em 2021 com o caminho já pavimentado para ser o candidato tucano na eleição presidencial de 2022. Enquanto conversa com outras forças políticas para tentar construir uma aliança contra o presidente Jair Bolsonaro [a quem traiu; só foi eleito devido o apoio do presidente Jair Bolsonaro.] e usa a vacina do Instituto Butantã com a fabricante chinesa Sinovac para se projetar nacionalmente, Doria conseguiu um apoio inédito das bancadas do PSDB na Câmara e no Senado, da Executiva Nacional tucana, além dos governadores e principais prefeitos da legenda, entre eles Bruno Covas, reeleito na capital paulista.

                                      Divulgação - Governo SP

[Deve ser alguma pegadinha - Doria presidenciável? o cidadão se elegeu  governador graças ao apoio do presidente Bolsonaro. Retribuiu o apoio recebido traindo o presidente.
Agora demonstra a maior irresponsabilidade ao se tornar caixeiro viajante de uma vacina que,  até o momento, furou  vários compromissos de apresentar dados que possam comprovar sua  eficácia e segurança - nem a documentação da FASE 3 de teste, foi apresentada. 
O não cumprimento de prazos fez com que o governador após dificultar a vida dos moradores do Estado que governa - medidas restritivas de isolamento, bloqueio, a pretexto de combater a covid-19 - 'fugisse' em uma viagem para Miami.
Ao descobrir que estava deixando claro sua fuga a mais um fracasso na apresentação da vacina, tornava  cristalino seu deboche ao povo paulista = 'tranca' seus governados e vai passear na Flórida, onde chegou a circular sem máscara. Decidiu voltar. 
Fechando: a foto (acima) que ilustra matéria do Estadão, mostra se tratar de alguma brincadeira = VACINA JÁ envolvendo o Doria, é gozação.

Pela relevância do cargo, o governador de São Paulo sempre foi considerado um candidato natural ao Palácio do Planalto, mas, em eleições anteriores, tanto José Serra quanto Geraldo Alckmin enfrentaram resistências internas antes de se lançarem na disputa. A única eleição presidencial na qual o candidato do PSDB não era um paulista foi em 2014, quando o senador mineiro Aécio Neves foi ao segundo turno contra Dilma Rousseff (PT). Em todos os pleitos desde 2002, porém, houve disputa interna no partido pela vaga de candidato.

Sem foco de resistência na legenda, Doria é até o momento o único pré-candidato que se coloca abertamente como presidenciável, apostando no contraponto ao presidente Jair Bolsonaro. “Doria é o nome mais forte que temos no PSDB, que mostrou em 2020 que está vivo. A vacina é um ativo de quem apostou na ciência e na saúde”, [vacina? qual vacina?]disse o deputado federal Rodrigo Castro (MG), novo líder do PSDB na Câmara. 

Além de Doria, outro nome considerado como um potencial um potencial “presidenciável” da sigla tucana é o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, eleito para o cargo em 2018 aos 33 anos. Ligado a movimentos de renovação política, Leite, no entanto, por enquanto não manifestou internamente interesse em entrar na disputa e sinaliza que deve tentar a reeleição daqui a dois anos. 

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O Estado de S. Paulo - Pedro Venceslau - MATÉRIA COMPLETA

 

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Em 2022 - Eleição não aponta ninguém capaz de rivalizar com Bolsonaro - J.R. Guzzo

Vozes - Gazeta do Povo

Jair Bolsonaro sai desta eleição mais forte do que nunca, sem um adversário capaz de lhe fazer sombra

Os resultados do segundo turno das eleições municipais confirmaram praticamente tudo, ou quase tudo, o que foi previsto ao serem concluídas as apurações do primeiro: o crescimento eleitoral, em matéria de prefeitos por partido, sobretudo nas capitais, encheu a bola dessa nebulosa que por falta de uma definição melhor costuma ser chamada de “centro”. É aquela pasta disforme de sempre: PSD, DEM, PP, e mais o resto da farinha que sai do mesmo saco.

Muito vai se ouvir falar, daqui para frente, da necessidade de se construir uma aliança entre isso aí e o PSDB, agora escalado para representar o papel de “esquerda” – e mesmo os perdedores do PT e outros fracassados do “campo progressista”.  Vão lhe dizer, naturalmente, que esse acordo deve ser procurado em nome dos mais altos interesses da nação brasileira – e não, como alguém poderia suspeitar, para atender aos interesses materiais dos políticos; como é do conhecimento comum, nossa classe política é altruísta, honesta e patriótica demais para isso. Qual a seriedade – e, mais ainda, qual a viabilidade concreta – de se armar um acerto desse daqui até 2022, quando vai se disputar a Presidência da República? Pois é isso, a partir de agora, que vai ser a única preocupação real da política brasileira.

Os próximos meses terão de apontar um nome mais forte que todos os outros pretendentes e detentor de força política própria para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro na sua tentativa de reeleição. É o trabalho mais importante, e mais urgente, que esse “centrão-esquerda” terá de fazer no futuro próximo para ter chances reais de sucesso. No momento, citam um arco de nomes espantosos como Luciano Huck, Rodrigo Maia, João Doria e outros colossos que parecem destinados a um desempenho de Cabo Daciolo em 2022. Vai ser preciso encontrar coisa melhor do que isso.

Parece, vendo-se as coisas como elas são hoje, que essa campanha, pela primeira vez desde a supressão do AI-5 e a volta das eleições diretas ao Brasil, não terá um nome de esquerda. Lula e o seu PT, as forças perenes de qualquer quadro eleitoral, viraram paçoquinha nessas últimas eleições – conseguiram o prodígio de não eleger um único prefeito de capital e, mais ainda, de perder todas as eleições, sem nenhuma exceção, nos grandes centros operários da região metropolitana de São Paulo, onde sempre esteve a alma do partido.

Parece sobrar à esquerda brasileira, agora, a comemoração das derrotas que sofreram os "primos" de Lula e do PT dos quais tanto se falou nesta campanha – os Psol, PCdoB, etc. Festejam o segundo lugar nas disputas finais como uma espécie de “vitória moral”, ou como o triunfo do time que perdeu, mas “merecia ganhar”. Fazer o quê? É o que existe no momento.

Começaram a dizer que as eleições municipais revelaram o grande competidor de Bolsonaro em 2022: o candidato do Psol que perdeu em São Paulo, e cujo partido governa apenas uma capital e mais três ou quatro municípios, entre os 5.600 que existem no Brasil. Se é isso mesmo, a campanha da oposição está começando mal.
Veja Também: O Psol e a empreiteira



J.R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - Vozes

 

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

As dúvidas sobre o frentismo em 2022 - Alon Feuerwerker

Confirmou-se que o primeiro turno das eleições municipais trouxe a capilarização dos partidos da base do governo, e que por isso tinham, e aproveitaram melhor, o acesso ao orçamento federal. Viu-se também um certo movimento de continuidade, natural e esperado em meio a uma pandemia. Notou-se ainda a resiliência da esquerda, fenômeno facilmente detectável na manutenção dos votos para vereador e na votação significativa nos grandes centros.

O debate agora é sobre o que o resultado de 2020 projeta para 2022. Com os necessários cuidados, pois não há transposições mecânicas. E falta muito tempo político. Feitas as ressalvas, a dúvida que fica é sobre os possíveis blocos e alinhamentos. E para esse debate é útil a observação do que vai se dar no segundo turno, daqui a uma semana. Pois ficará claro o estágio atual da disposição dos diversos atores para alianças e formação de coalizões. Informação essencial para definir a tática.

Já está explícito, por exemplo, que mesmo as frações mais resistentes a alianças e frentismos na esquerda estão dispostas a votar em qualquer candidato não bolsonarista para derrotar o bolsonarismo. A opção do presidente da República por manter o discurso e a prática alinhados ao que podemos chamar de núcleo ideológico facilita um agrupamento quase automático de forças contrárias quando só há duas opções.

Mas, atenção, desde que o adversário seja palatável aos que em 2018 votaram Bolsonaro ou se abstiveram, e agora procuram outro caminho. E se em 2022 o presidente for ao segundo turno contra alguém da esquerda? Neste momento, não é excessivo supor que ele deverá arrastar de volta pelo menos uma parte dos arrependidos. Ou será que não? Duas das disputas neste segundo turno são um termômetro para tirar a dúvida. Vitória (ES), onde o PT está no segundo turno, e Belém, onde o adversário do candidato bolsonarista é do PSOL.

Em Fortaleza, o cirismo parece ter formado com facilidade a frente antibolsonarista. Veremos o resultado na urna. Mas, e em Vitória e Belém, o autonomeado centrismo ficará de que lado? De todo modo, 2022 projeta forte pulverização de candidaturas majoritárias, pelos menos das forças com pouco acesso a orçamentos públicos. Porque o voto majoritário é uma ferramenta preciosa para puxar o voto proporcional, e não custa lembrar sempre que daqui a dois anos a cláusula de desempenho na votação para a Câmara dos Deputados estará colocada alguns centímetros acima do que em 2018.

E a votação para deputado federal, além de definir se o partido fica na Série A ou cai para a B, acaba também definindo quanto a legenda terá de espaço no horário eleitoral e verba do fundo eleitoral em 2024 e 2026. Não é pouca coisa em jogo.

Portanto, é ilusão imaginar alianças muito amplas na largada. Cada um precisará caminhar com suas próprias pernas. Talvez haja alguma convergência entre MDB, PSDB e Democratas, notam-se ensaios. E entre as legendas do chamado centrão, estrito senso, e talvez em torno do presidente da República. O que dependerá, obviamente, da popularidade de Jair Bolsonaro quando chegar a hora de tomar as decisões. [nós que queremos em 2022 a consolidação do melhor para o Brasil = reeleição do presidente Bolsonaro = precisamos focar em 2021 por uma melhora na economia ´- o bastante para asfixiar a turma do quando pior, melhor.

Apesar dos  maus brasileiros que torcem por uma segunda onda, esqueçam o repique da covid-19, neste mês foi fruto de uma excessiva flexibilização no feriadão do inicio do mês e do represamentos de dados devido problemas com o sistema do Ministério da Saúde.]

 Alon Feuerwerker, jornalista e analista político