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sexta-feira, 12 de maio de 2023

A Constituição com tornozeleira eletrônica - Percival Puggina

         Leio na Constituição Cidadã de Ulysses Guimarães que “É livre a expressão do pensamento, vedado o anonimato”, mas sei que o texto constitucional foi capturado e está com tornozeleira eletrônica, custodiado pelo STF.

O ensino cristão – houve um tempo em que ele teve sua relevância – me levou a crer que Deus criou o ser humano para ser livre com Deus, sem Deus, e mesmo contra Deus (estou usando a imagem em sentido retórico, sem evocação a nenhuma Corte). A História me ensinou que peste alguma extinguiu mais vidas humanas do que a luta de indivíduos, povos, nações e alianças entre nações por Liberdade. Milhões foram às guerras e morreram por saber que a alternativa era servidão, ração e olhos no chão.

“Tudo no Estado, nada fora do Estado e nada contra o Estado”, exclamava o jovem Benito, o Mussolini, depois da Marcha sobre Roma. Sua emoção era sentir-se como um ícone, representando e significando a majestade estatal. Deve ser emocionante crer-se fonte de Direito e ter ao alcance da mão uma caneta com serventia para negar direitos. E “viva” Giovanni Gentile, filósofo do fascismo!

Lembro até hoje do que senti, lá pelos anos 50 quando o filme que iria assistir foi precedido, no cinema, por um documentário já antigo sobre os primeiros campos de concentração achados pelos Aliados ao entrarem na Alemanha derrotada. Covas rasas e farrapos humanos culpados de coisa alguma. E “viva” Carl Schmitt, o filósofo do nazismo!

Emoção muito forte me levou às lágrimas no dia 9 de novembro de 1989, vendo jovens alemães orientais dançando sobre o Muro de Berlim! Imagine a deles, depois de 28 anos ao longo dos quais a travessia dentro da própria cidade lhes foi interditada por um tipo de Direito que se deu o direito de confiná-los atrás de um muro.    

Em 1891, o papa Leão XIII, na encíclica Rerum Novarum, profetizou, referindo-se ao comunismo:

“Mas, além da injustiça do seu sistema, veem-se bem todas as suas funestas consequências, a perturbação em todas as classes da sociedade, uma odiosa e insuportável servidão para todos os cidadãos, porta aberta a todas as invejas, a todos os descontentamentos, a todas as discórdias; o talento e a habilidade privados dos seus estímulos, e, como consequência necessária, as riquezas estancadas na sua fonte; enfim, em lugar dessa igualdade tão sonhada, a igualdade na nudez, da indigência e na miséria” (RN nº 9).

Note bem: Leão XIII escreveu “veem-se bem as funestas consequências”, embora a encíclica fosse publicada 26 anos antes de o comunismo se tornar realidade e servidão impostas ao povo russo. Cem anos mais tarde, o Kremlin teve que mobilizar-se para que Mikhail Gorbachev fosse recebido entre 17 e 19 de julho de 1991, na reunião do Grupo dos Sete (EUA, Reino Unido, Canadá, Japão, Alemanha, França e Itália) realizada em Londres e, ali, formulasse um apelo à ajuda internacional a seu país, ameaçado pelo inverno e pela fome. E "viva" Karl Marx (com quem, “vivas" a todo um inesgotável catálogo de filósofos do comunismo!).

Só posso lamentar que nossos dias nos remetam às páginas mais tristes do século passado, por decisiva influência, também, dos que, em outubro, resolveram não decidir. Trinta e sete milhões de brasileiros lavaram as mãos como se o fizessem numa torneira do cais em vez de embarcados com todos no convés do navio que se perdia.

São verdades sofridas. Prometo escrever alegremente quando, com a graça de Deus, tiver motivo para isso. Por enquanto, sou testemunha da longa noite da estupidez.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

quarta-feira, 2 de junho de 2021

O COMUNISMO, O INTELECTUAL E O PROFETA - Percival Puggina

Em seu livro “Post-Capitalist Society”, Peter Drucker sustenta a ideia de que a derrubada do credo marxista significou “o final da fé na salvação pela sociedade”. Justificadamente convergem a esse autor o reconhecimento mundial como perito em Administração e como analista de seu tempo. Na nota introdutória da referida obra, Drucker afirma:

O comunismo faliu como sistema econômico. Em lugar de criar riqueza, criou pobreza; em lugar de criar igualdade econômica, criou uma nomenclatura de funcionários que gozavam de privilégios sem precedentes. Mas foi como credo que faliu porque não criou o homem novo; em seu lugar fez aparecer e reforçou tudo que havia de pior no velho Adão: corrupção, cobiça, ânsia de poder, inveja e desconfiança mútua, mesquinha tirania e “secretismo”; a mentira, o roubo, a denúncia, e, acima de tudo, o cinismo. O comunismo, o sistema, teve seus  heróis, mas o marxismo, o credo, não teve um único santo.

Essa exata descrição da realidade foi escrita três anos após os fatos de 1989, quando a abertura do Muro de Berlim suscitou o vendaval que pôs por terra todo o castelo de cartas a que estava reduzido o imperialismo soviético após quatro décadas de muita propaganda e ainda maiores e mais numerosas frustrações.

O que me chama atenção como leitor de Drucker é a semelhança existente entre essas considerações de seu livro e o que, cem anos antes, escrevera Leão XIII, em 1891, na Encíclica Rerum Novarum. Naquele pequeno documento, destinado à reflexão dos povos e dos governos da Terra, o admirável pontífice profetizara sobre o que aconteceria onde o comunismo viesse a ser implantado. Note-se que esse regime só teria testes de campo a partir de 1917, ou seja, um quarto de século após a publicação da encíclica. Vicenzo Gioachino Pecci, esse era o nome de batismo do sábio profeta, não pode ver em vida a perfeição de suas previsões, pois faleceu em 1903. É impossível lê-lo, porém, sem ser impactado pela lucidez com que abriu o véu do futuro e anteviu, no emaranhado de ciências sociais envolvidas, o desastroso produto final daquele regime. Eis suas palavras sobre o comunismo, escritas, repito, em 1889:

Mais além da injustiça de seu sistema, veem-se bem todas as suas funestas consequências, a perturbação de todas as classes da sociedade, uma odiosa e insuportável servidão para todos os cidadãos, porta aberta a todas as invejas, a todos os descontentamentos, a todas as discórdias; o talento e a habilidade privados de seus estímulos, e, como consequência necessária, as riquezas estancadas na sua fonte; enfim, em lugar da igualdade tão sonhada, a igualdade na nudez, na indigência e na miséria.

Cem anos inteiros separaram o consagrado analista Peter Drucker do profético Vicenzo Gioacchino Pecci (Leão XIII). Deste último, ninguém sabe o nome e poucos, muito poucos, têm notícia da admirável previsão disponibilizada por ele à humanidade que muito, dela, se poderia ter beneficiado.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

segunda-feira, 8 de junho de 2020

A INVEJA MATA - Percival Puggina

Na encíclica Rerum Novarum, publicada em 1891, época em que o comunismo era apenas uma tese ainda distante um quarto de século de sua primeira experiência, o papa Leão XIII, referindo-se a esse modelo, escreveu: “Além da injustiça do seu sistema, vêem-se bem todas as suas funestas conseqüências, a perturbação em todas as classes da sociedade, uma odiosa e insuportável servidão para todos os cidadãos, porta aberta a todas as invejas, a todos os descontentamentos, a todas as discórdias; 
o talento e a habilidade privados dos seus estímulos, e, como conseqüência necessária, as riquezas estancadas na sua fonte; enfim, em lugar dessa igualdade tão sonhada, a igualdade na nudez, na indigência e na miséria”. Foi profeta. A história veio lhe dar inteira razão.

 No entanto, se as previsões do sábio pontífice foram confirmadas e pouca gente esclarecida rejeita suas afirmações sobre a ineficácia do sistema comunista, tem passado meio despercebida a relação entre comunismo e inveja (e poderíamos acrescentar “entre os totalitarismos e a inveja”) cuja existência ele tão fortemente sublinhou. A inveja nasce da comparação e se afirma como um duplo sentimento negativo: a alegria pelo mal alheio e a tristeza pelo bem alheio. Os moralistas (estudiosos das questões relativas à moral) afirmam que o invejoso é a principal vítima desse sentimento. De fato, a inveja mata. Ela é um canhão que dispara para frente e para trás. Quando força motriz de um modelo político, ela se torna genocida e pode se voltar para a extinção de uma raça, de uma classe social ou da própria nação em nome de quem se expressa. Ao longo da história, centenas de milhões de seres humanos morreram em guerras e campos de concentração por conta do 5º pecado capital.

Foi esse pecado que deu causa ao holocausto. 
Foi ele que explodiu as Torres Gêmeas. 
É ele que hoje sai às ruas quebrando vitrinas. 
É ele que não consegue esconder o gozo perante tais fatos. 
É ele que nutre em tantos o ódio mortal aos Estados Unidos. 
Não podem os invejosos conviver com tamanha evidência dos equívocos em que se afundaram. O ódio que têm a Trump não guarda relação com humanismo e anseios de paz. Estiveram calados durante a Primavera de Praga, durante a invasão comunista do Tibet, assistiram desolados à queda do Muro de Berlim e só têm louvores aos regimes cubano, venezuelano e outros que tais. [esses baderneiros, marginais - alguns de torcidas organizadas que são em português claro gangues,  e em um mais rebuscado falanges - são movidos pela inveja.
Antes eram remunerados com sanduíche de mortadela e suco; agora nem isto recebem; assumem o papel de bucha de canhão em troca de um pão dormido com margarina,  um suco de saquinho e onze reais para a passagem.
Grande parte deles idiotizados, incutem neles ideias de defender supostos casos de racismo e uma democracia que sequer sabem o que significa. Aliás, acham que esquerda reúne os canhotos.
São agora inocentes úteis mas são considerados por seus manipuladores idiotas e babacas inúteis.] 

Há cerca de 15 anos, uma emissora de TV exibiu reportagem feita com jovens da periferia de Paris protagonistas de arruaças que, de lá para cá, foram mudando a face da capital francesa. Aquela matéria me explicou muita coisa. Inclusive sobre certo jornalismo militante que já ganhara força entre nós. Um dos jovens entrevistados levou a repórter para ver onde vivia. Era um edifício popular, muito melhor do que as moradias de qualquer favela brasileira. Sem muito que dizer, e percebendo a inconsistência das imagens para os fins a que se destinavam, a moça disparou: “Já se nota o contraste entre isto aqui e os palácios de Paris”. Acho que ela queria levar a rapaziada para morar em Versailles. Enquanto isso, seu revolucionário guia apontava as más condições do prédio: paredes tomadas por pixações, a sinalizarem o caráter pouco civilizado dos moradores, e um balde, no meio da sala, marcando a existência de uma goteira, como se fosse dever do morador do Palais de l’Élysée subir no telhado para reparar tão complexo problema. No fundo, é tudo inveja.
Explorando esses vícios da alma, alguns governos se instalam. Também assim se corrompem, conduzidos pelos mesmos sentimentos maléficos. É assim que não se conformam com a perda do poder.

Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.