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quarta-feira, 18 de novembro de 2020

O futuro da Direita - Percival Puggina

É errado subestimar o estrago produzido no inconsciente coletivo dos brasileiros pelos longos anos em que lhes foram servidas doses diárias de veneração ao Estado como provedor de bem estar material mesmo que ele apenas disponibilize gotas diárias de esperança e placebo. Uma e outra não perdem validade ainda que nossas grandes cidades engrossem seus cinturões de miséria escalando morros e afundando em baixios insalubres.

 Ao longo das últimas décadas, a direita foi cooptada pelas duas esquerdas que repartiam entre si, e com ela mesma, o butim chamado Brasil. O trabalho em busca da hegemonia, no entanto, era consignado de modo quase exclusivo à esquerda. Eventos como os Fóruns da Liberdade promovidos pelo IEE circunscreviam-se a Porto Alegre e não se multiplicaram, como deveriam, em centenas de outros, Brasil afora. A formação de opinião é inconstante e dependente de iniciativas desconexas. Eventos conservadores são de inspiração e motivação recente, surgindo como tiros de pistola sinalizadora de afundamento da embarcação. Nacionalmente, partidos identificados com a direita pagavam caro pelos estigmas que incidiam sobre ela, mas se saciavam no centrão.

A vitória de Bolsonaro colocou na cabeça de muita gente que o terreno estava arado e semeado para que conservadores e liberais completassem, nas bases municipais, a transição do poder para outras mãos. Mas não é assim que a política funciona. Mesmo num arremedo de democracia como o nosso, o sucesso eleitoral, o voto na urna, multiplicado e transformado em fonte de poder político, demanda um conjunto indispensável de condições. Entre elas incluem-se lideranças reconhecidas, trabalho consolidado, arregimentação, captação de recursos, marketing político, mensagens sedutoras insistentemente repetidas, formação de dirigentes e de militância, candidatos preparados, conhecimento dos adversários e dos parceiros com suas forças e debilidades. E por aí vai.

Porque as coisas são assim, a decadência do PT não retirou substância da mensagem que logo foi apropriada pelo Psol, principal beneficiário do petismo desiludido. Esteve visível, durante os últimos anos esse processo crescente de transferência. O Rio Grande do Sul e sua capital, onde vivo e escrevo, é um palco onde esse show tem sido objeto de sucessivas reapresentações.

Eleger alguém pelo voto majoritário pode ter uma infinidade de causas, inclusive muitas meramente circunstanciais. No entanto, a formação de uma consistente representação parlamentar, verdadeira expressão de poder político, jamais será fruto da árvore do acaso. Quando o terreno do plantio está tomado pelo inço da mistificação e da demagogia, pelos chavões e narrativas semeados pelos adversários, o trabalho precisa ser ainda mais intenso.

Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.

 

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Enquanto o coronavírus mata, ... VEJA - Blog do Noblat

Cloroquina é a droga receitada pelo presidente para tratar doentes com coronavírus. [A cloroquina é usada, com êxito, no tratamento da malária.
Estudos realizados por várias instituições de pesquisa recomendam que a medicação só deve ser utilizada sob prescrição médica - portanto, a palavra final será dos médicos, da ciência.]Não há comprovação científica de que ela funcione, mas ele mandou que o Exército a produzisse em larga escala. Tubaína é um refrigerante de baixo custo à base de guaraná. Jair Bolsonaro é o presidente mais estúpido e ignorante da história do Brasil.
O presidente Jair Bolsonaro durante protesto realizado por seus apoiadores, em Brasília Adriano Machado/Reuters

O mundo em que ele vive não gira em torno do Sol. Não tem vida inteligente nem seres sensíveis. As espécies são as mais rudimentares. Chafurdam em pântanos que exalam odores apodrecidos e venenosos. Não sobrevivem por muito tempo. Mas enquanto duram, tentam capturar e destruir os seus semelhantes. O planeta da morte. 

Em menos de dois meses, o número de brasileiros vítimas fatais do coronavírus ultrapassará, hoje, a casa dos 18 mil. E o de infectados poderá chegar a 300 mil. A soma dos mortos já é maior do que a população de mais da metade dos municípios do país. O Brasil é o terceiro país com mais casos confirmados da doença e avança célere para a vice-liderança. [Situação complicada e que mostra que a decisão de deixar por conta de governadores e prefeitos o combate à pandemia não foi das mais felizes;
O primeiro decreto estabelecendo medidas para combater o coronavírus foi em São Paulo, estado onde foi constatada a primeira vítima do vírus, em fevereiro/2020 e que se mantém na liderança (certamente indesejável) do número de contaminados e de mortos.]  

O fato é que o Brasil perdeu a luta contra o Covid-19. Como poderia ganhar com um presidente da República que se recusou a lutar? Bolsonaro foi o maior aliado do vírus quando ele apareceu por aqui em meados de março último. E continua sendo aliado. Não parece possível que ao cabo da pandemia seja absolvido por crime tão monstruoso e premeditado.

Quantas vezes você já o ouviu dizer: “Fiquem em casa, se protejam, é uma doença perigosa”? Nunca disse. Parece absurdo, mas ele nunca disse. Quantas vezes você ouviu Bolsonaro lamentar as mortes? Duas ou três vezes, se tanto. E sempre de maneira apressada. Quantas vezes você o ouviu dizer: “Precisamos salvar a Economia”. Ah, dezenas! São poucos no mundo os chefes de Estado que se comportam dessa maneira. Conta-se nos dedos de uma mão o número deles. Bolsonaro é um dos dedos. E é também o mais importante dado ao tamanho do país que preside, e ao tamanho de sua população. É por isso que o mundo olha para o Brasil com assombro e não quer acreditar no que vê. 
Como foi possível a eleição de um tipo tão primitivo como é Bolsonaro?
[o presidente Bolsonaro foi eleito com quase 60.000.000 de votos para  moralizar o Brasil, restabelecer a LEI e a ORDEM, jamais, se esperava uma pandemia que está derrubando toda a economia mundial e já causou mais de 300.000 mortes e milhões de infectados.
Agora é rogar a DEUS para que a epidemia seja contida, a economia se recupere logo e o presidente Bolsonaro volte ao seu programa original de governo - mesmo que para executá-lo necessite de mais de uma reeleição.] Como é possível que os militares batam continência para ele e o apoiem com entusiasmo depois de tê-lo afastado do Exército no passado por indisciplina e conduta antiética? Até quando esse sujeito se manterá no poder apesar de todo o mal que causa ao país?

VEJA - Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - MATÉRIA COMPLETA



terça-feira, 26 de maio de 2015

Faca amolada

E a vida vale cada vez mesmo. Num sintoma de raiva/ódio, o agressor fura o agredido – uma, duas, três, N vezes

Não deu certo. Ainda não sabemos exatamente porque, mas, do ponto de vista do ser humano, o mundo anda tenebroso. Assustador. Aqui e planeta adentro, intolerância e violência são crescentes e permanentes. A vida virou um exercício cotidiano de escapar das muitas formas de agressão, sem seleção idade, sexo, classe social ou crença.

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Aqui, na África, no Oriente e até nos países ditos civilizados da Europa e América do Norte, por exemplo, voltar vivo e inteiro para casa é quase como tirar sorte grande. Escapei. Só por hoje, como costumam celebrar os integrantes de grupos tipo alcoólicos anônimos. A violência urbana, antes característica das metrópoles, marca presença aqui, ali e alhures. Em todo lugar.

Nos últimos dias, a sensação de pânico está reforçada pelo crescimento de crimes com faca arma branca que, surpreendentemente, não tem porte proibido por lei. Além de ser mais barata e facílima de ser adquirida. Está disponível em toda e qualquer cozinha. 
Assalto com faca virou hit. (Perdão pelo mau gosto da expressão). Mais que tendência é o modismo consagrado deste outono brasileiro. Faca na mão é up to date.

E a vida vale cada vez mesmo. Num sintoma de raiva/ódio, o agressor fura o agredido – uma, duas, três, N vezes. Em alguns casos, não só fura como roda a faca no buraco feito no corpo da vítima, como se quisesse a certeza de que o estrago será grande, mortal de preferência. Impressionante (para mim) nos ataques por faca é a proximidade exigida do agressor. É real corpo a corpo. Como nas antigas guerras. Como que representando também a cada vez maior proximidade da violência em nossas vidas.

A faca faz com que a violência não esteja mais “em cada esquina”, como costumávamos apontar, mas colada em nós - feito sombra (macabra). Exagero? Nem tanto. Quem pesquisa ou, por força de profissão e atividade, acompanha o estrago que a violência faz na psique coletiva sabe como o medo anda espalhado entre nós – crianças, jovens, adultos, idosos. Tenho lembrança que, na infância, tínhamos medo de escuro, de fantasma e de loucos - aqueles que, perdendo a razão, eram capazes de “judiar” ou matar alguém. (Não sou uma centenária, só gente que nasceu nos anos 50).

Pois é. Hoje as assombrações das crianças são sequestros, assaltos, bala perdida, tiros, facadas, tortura e assassinatos – dos pais, particularmente.  Mesmo que elas, felizmente, nunca tenham vivido ou assistido qualquer dessas situações.  É a era do medo. Reforçado 24 horas por dia pelo noticiário que, quase on-line, faz o mundo pequeno no bem e no mal. Há a tese de que a humanidade sempre foi violenta, mas só neste século temos acesso constante – e a quente – de tudo que acontece em cada canto do planeta. O que faz crescer a sensação de violência.

Explica, mas não justifica.  Verdade que, entre os humanos, somos os que não matam só para comer. Verdade também que matamos mais.  Matamos principalmente por intolerância às diferenças. Todas – sociais, religiosas, sexuais, raciais, todas essas juntas, ou nenhuma delas específica, mas algum sentimento difuso que reúne e transforma frustrações da vida em explosões de ódio.

Possuídas por elas matamos cada vez mais. E assim nos vingamos (?) por alguma diferença ou indiferença sentida ou pressentida, mal digerida. Boko Haran, EL, Al-Qaeda.  Guerras. Gangues. Milícias. Violência urbana. Armas de fogo. Armas brancas.

Não há lei ou prisão que resolva isso. A reforma (reumanização) possível tem que ser pelos sentimentos. Como? Adoraria saber.

Fonte: Blog do Noblat - Tania Fusco