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terça-feira, 2 de novembro de 2021

Hipócritas unidos jamais serão vencidos: desfile de exageros na COP26 - Vilma Gryzinski

Mundialista

 Declarações apocalípticas e engarrafamento de jatinhos mostram que muitos querem pegar carona na onda salvacionista

Mesmo quem acha a  pregação exagerada e catastrofista, tem que concordar: o nível de conversa mole, já muito alto, atingiu novos patamares com a conferência climática em Glasgow.

Um exemplo estarrecedor: Justin Welby, o arcebispo de Canterbury, ou Cantuária, principal autoridade eclesiástica da Igreja Anglicana, teve que pedir desculpas pela “ofensa causada aos judeus” quando disse que a inação dos líderes mundiais levaria a um genocídio muito maior do que o provocado pelo nazismo. “Estava tentando enfatizar a gravidade da situação com que nos defrontamos na COP26”, alegou. Detalhe: antes de se tornar padre, ele foi executivo da indústria petrolífera.

Por que um religioso que segue todo o manual politicamente correto faria uma comparação dessas?  Porque está havendo uma espécie de competição de declarações apocalípticas sobre a situação ambiental do planeta.

“Chega de tratarmos a natureza como um vaso sanitário”, exaltou-se António Guterres, o secretário-geral da ONU que fala constantemente que a humanidade é “viciada em combustíveis fósseis”, como se usar transportes, alimentar-se, aquecer-se e desfrutar da ampla cadeia de produtos provenientes do petróleo fosse uma escolha doentia resultante da toxicomania, não da necessidade.

Boris Johnson, o primeiro-ministro que quer parecer mais verde do que Greta, comparou a situação climática a uma “máquina do fim do mundo” como nos filmes de James Bond. Outra comparação absurda, embora menos ofensiva do que a do arcebispo. Ele também justificou o uso de um jatinho particular para a viagem a Glasgow.

Tal como o príncipe Charles, Boris está usando “combustível de aviação sustentável”, uma mistura de gasolina comum de avião com materiais reciclados a partir de óleo de cozinha e outros. Custa cinco vezes mais.

Pelo menos Boris e Charles estão fazendo um esforço, o que não pode ser dito sobre os outros 50 aviões particulares que estão congestionando as pistas de Glasgow e arredores. No total, são esperados 400 aviões. De Jeff Bezos a Evo Morales, ninguém quer voar em aviões comerciais. Só  os quatro utilizados pela comitiva de Joe Biden, mais o helicóptero Air Force One e mais 85 veículos geram mil toneladas de dióxido de carbono.

É hipocrisia ir para uma conferência ambiental com seu próprio jatinho? Sem dúvida, se for para pegar carona no marketing que a imagem de preocupação com o meio ambiente gera. 
Ninguém, obviamente, imagina o presidente dos Estados Unidos pegando um avião de carreira da American Airlines. 
Mas por que o príncipe Albert de Mônaco não pode dar um bom exemplo? Ou sua ausência causaria danos ambientais irreparáveis?
Jeff Bezos foi para a Escócia direto da festa de aniversário no iate de Bill Gates, em águas cristalinas da Turquia, ao qual chegou de helicóptero.
De que adianta ser o homem mais rico do mundo – ou o segundo entre os mais mais, lugar que alterna com Elon Musk – se você não pode viajar no seu próprio Gulf Stream? A hipocrisia pode ser a homenagem que o vício presta à virtude, mas ser ambientalmente virtuoso exige muito mais do que promessas vazias e jatinhos cheios.
 
 Vilma Gryzinski, colunista - MUNDIALISTA - VEJA 

domingo, 11 de outubro de 2020

Mentir é de praxe - Maria Helena RR de Sousa

Blog do Noblat - Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa 

Kássio Nunes é o campeão dos currículos cheios de “exageros” 

Não creio que seja possível acreditar que currículos prenhes de mentiras possam passar por verdadeiros nesta era da Internet. É facílimo consultar as universidades citadas e ficar sabendo se aquele título, ou aquele curso, ou aquela graduação, foram verdadeiros. Nada mais fácil. 

Este ano está sendo rico em patranhas curriculares.  Já tivemos um ministro da Educação que entrou e saiu do ministério por conta de um currículo cheio de falsidades. E agora estamos com um indicado  ao STF, Kássio Nunes, que apresentou um currículo que mais parece escrito por um dos irmãos Grimm. Kássio Nunes até agora é o campeão dos currículos cheios de  “exageros”: cursos que não existem, universidades que só o viram a passeio, doutorados e pós-doutorados inexistentes. Como isso não é mais segredo para ninguém e ainda não ouvi uma voz a dizer que o  presidente deveria recuar dessa indicação, estou convencida que o currículo exagerado não o impedirá de usar a toga do STF. O mais curioso: Kássio está mais preocupado com o que vão pensar e dizer  as autoridades do país do que seus futuros examinadores, os senadores. 

Diz ele que o STF não exige formação em Direito para ser juiz do STF. [Apenas esclarecendo o óbvio: É a Constituição Federal que  dispensa  indicado para ministro do STF de  exigência de ser bacharel em Direito.

Exige um notável saber jurídico,  que comporta várias interpretações. Exige a reputação ilibada - que nos parece não combinar com a mentira.

Uma certeza existe, pena que a teimosia do presidente Bolsonaro o impeça de aceitar: um indicado ao STF que, com absoluta certeza, possui o NOTÁVELSABER JURÍDICO e a REPUTAÇÃO ILIBADA é IVES GANDRA MARTINS FILHO.]  A exigência maior é a da reputação ilibada. Perfeito. A reputação conspurcada tem que impedir a nomeação de um indivíduo para membro do Supremo. Isso é fundamental. O diabo é que parece que mentir não conspurca a reputação de ninguém. Além do currículo fantasioso, o senhor Kássio foi indicado ao  Bolsonaro por ninguém menos que Flávio Bolsonaro e seu amigo Wassef, o antigo hospedeiro do Queiroz, e ex-advogado da família Bolsonaro. 

Continue lendo.......Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA