O Globo
A pressão sobre o Brasil aumentou ontem com outros governantes do G7
apoiando a ideia de que a Amazônia seja assunto da reunião de cúpula, e
líderes europeus querendo que se rediscuta o acordo UE-Mercosul. Nas
redes, a campanha é por boicote ao produto brasileiro. O dólar disparou
batendo o maior valor em um ano, e a bolsa caiu abaixo de 98 mil pontos,
porque houve uma grave escalada do conflito EUA-China. O mercado
brasileiro também teme o atraso na reforma da Previdência, com o
adiamento da leitura do relatório. Como já escrevi aqui, o risco é a
tempestade perfeita que misture a crise externa com barreiras aos
produtos brasileiros por razões ambientais.
[Detalhes que não podem ser esquecidos:
- os franceses não são confiáveis; em 1982, na Guerra das Malvinas, (Argentina x Inglaterra) a França forneceu misseis Exocet aos 'hermanos' e os argentinos afundaram navios ingleses.
Só que, traiçoeiramente, os franceses passaram para os ingleses os códigos dos 'exocet' e com isso deixaram os argentinos totalmente incapacitados de se defender e atacar os ingleses, tanto que perderam a guerra.
- Ameaça militar não impressiona o Brasil;
nossas FF AA não estão bem preparadas, bem equipadas - o descaso com o poderio bélico tem sido uma constante no Brasil, mas, a vastidão territorial favorece ações de defesa e eventuais agressores não podem usar armas nucleares (querem preservar a Amazônia e isto os impede de utilizar armamento nuclear ou mesmo bombardeios convencionais de grande intensidade). Não é um bom caminho para os 'donos' do Mundo.
- parar de comprar produtos brasileiros - carne e alimentos do agro negócio - não é tão simples para os boicotadores. Vão comprar de quem? se seus agricultores tivessem condições imediatas de atendê-los, de há muito não comprariam do Brasil. E,. caso vendam toda sua produção para os países que boicotarem o Brasil, vai ser insuficiente e mais grave é que outros países terão que buscar novos fornecedores e o Brasil tem
Todos tem que comer todo dia (é um 'hábito' que não pode deixar de ser cumprido, até por nós, brasileiros, imagine os europeus e outros.), assim, terão que se curvar, mais rápido do que imaginam, diante do Brasil. Poder militar não funciona quando há interesse em preservar o alvo = Amazônia, rebanhos brasileiros e grãos.
Temos que preservar a Amazônia e todo o meio ambiente, mas, sem aceitar regras impostas pelos estrangeiros e cujo objetivo é: impedir que o Brasil alcance o primeiro lugar no mundo como fornecedor de alimentos.]
Adianta pouco acusar o mundo como tem feito o governo. Muito mais
produtivo é se entender e negociar. Foi por este caminho que o governo
acabou anunciando ontem, no meio da crise, o acordo do Mercosul com a
Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. O presidente quis mostra ração
contra o desmatamento e no pronunciamento à noite em cadeia nacional
disse que proteger a floresta é nosso dever. Se tivesse agido diante do
primeiro alerta do Inpe, teria ganhado tempo.
Quando o quadro econômico internacional está pior há menos espaço para
errar, e o Brasil tem errado muito. A China e os Estados Unidos tiver
amontem mais um dia de ataques mútuos. Trump criticou o Fed, chamando-o de “inimigo dos Estados Unidos”. Isso não tem precedentes. Mas tem
motivo: Trump quer um bode expiatório para a desaceleração da economia
americana. Os erros da política ambiental permitiram que se formasse esse movimento
contra os produtos brasileiros. O Brasil é grande exportador de
proteína animal, para ficar só num exemplo. A Europa consome 10% de tudo
o que o Brasil vende de carne bovina, mas é mercado de maior valor
agregado e havia expectativa de aumento das compras após o acordo
UE-Mercosul. É grande comprador também de outros alimentos. No caso da
carne, a Irlanda também é exportadora. Fora da Europa outro produtor é o
Canadá. E os Estados Unidos. A França é conhecida pelos eu
protecionismo.
O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que a França é contra o
acordo UE-Mercosul. O primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, disse
que não há maneira de o seu país apoiar o acordo. A convocação de Macron
de discutir a Amazônia no G 7 foi apoiada pelo primeiro-ministro
canadense, Justin Trudeau. “Eu não podia concordar mais”, disse Trudeau.
Todos eles têm interesses comerciais envolvidos? Têm sim, mas isso não
explica tudo. Até porque a Inglaterra do conservador Boris Johnsns e
juntou ao clamor. A chanceler Angela Merkel aceitou a proposta de
Macron. A Finlândia também se manifestou. Bolsonaro só teve o afago, já
no fim do dia, de Donald Trump. Queira ou não, o mundo tem o direito de
se preocupar com o futuro da floresta que está tão ligada ao destino do
planeta. A Amazônia pertence a nove países, ainda que seja 60%
brasileira.
Na dinâmica hoje dos mercados o consumidor tem voz ativa. O embaixador
Sérgio Amaral, que já comandou as embaixadas em Londres, Paris e
Washington, explicou essa nova categoria de proteção que não depende dos
governos: —São padrões de consumo, que se um supermercado puser um produto que
resulta de desmatamento ele não vai vender. Os distribuidores já retiram
das prateleiras. Da mesma forma que não compram produtos que engordam,
que derivam de trabalho infantil. Existe o compromisso da sociedade.
Esse é o ponto. É o risco que estamos correndo. [O boicote pontual a um produto é fácil;
mas, quando o produto falta em todos os pontos de venda e milhões o querem, a coisa fica feia para quem boicota.]
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse que é preciso
diferenciar queimada de incêndio. E que é comum acontecer isso nesta
época do ano: —Queimada tem todo ano. Tem que se fazer uma diferença
entre os dois acontecimentos. Este ano está mais seco e as queimadas
estão maiores. Eles precisavam saber do Brasil o que está acontecendo
antes de tomar qualquer tipo de medida.
Ao contrário do que disse a ministra, este ano está havendo uma estiagem
mais suave, como mostrou a nota técnica do Instituto de Pesquisas
Ambientais da Amazônia (Ipam). Queimadas acontecem todos os anos, mas,
como disse a ex-ministra Marina Silva, “nunca incentivadas pelo discurso
de um presidente”. [essa Marina ainda existe? ela calada não fazia falta, agora que falou, o silêncio dela passou a fazer falta.] A ministra faria melhor se ecoasse o que estão
falando os líderes do agronegócio: eles estão condenando fortemente o
desmatamento. E é o aumento do desmatamento que está alimentando as
queimadas.
Blog da Míriam Leitão -Alvaro Gribel, de São Paulo - O Globo